quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ENSINO: FINALMENTE O PISA!


A comunicação social portuguesa, na senda da televisão, como é habitual, deu destaque ao PISA, o estudo comparativo dos resultados práticos do ensino nos países da OCDE. Baseado em testes semelhantes, resolvidos por alunos de 14/15 anos,  numa amostra representativa de escolas (em Portugal 220), permite aferir por comparação a evolução de uma para outra série de provas. Os resultados agora divulgados correspondem à sessão de 2009. Bem à maneira portuguesa, que como se sabe consiste em passar muito rapidamente da depressão para a euforia, e vice-versa, houve muita gente instalada, a começar pelo primeiro-ministro, que embandeirou em arco, porque os resultados portugueses foram excelentes. 
Se calhar com receio de estragar a festa, colocando as coisas "en su sítio", tanto quanto sabemos, a imprensa portuguesa absteve-se até agora de publicar o já famoso PISA. Preenchendo a lacuna, ele aí está. Na primeira série, a amarelo, a classificaçãio em LEITURA, na segunda, a verde, a MATEMÁTICA, finalmente, a azul, as CIÊNCIAS. Como decerto o leitor já intuiu, quanto mais à direita, melhores são os resultados.
Feita a respectiva interpretação, conclui-se que realmente Portugal -ao contrário do que é costume acontecer noutras áreas- não está nada mal acompanhado. E na verdade, os resultados dos nossos alunos até melhoraram sensivelmente. Mais precisamente, Portugal subiu 17 lugares a leitura (estando agora à frente da Itália, da Espanha ou da Grécia, entre outros), 21 lugares em Matemática (empatado com os Estados Unidos e a Irlanda) e 19 lugares em Ciências (ultrapassando Israel, Luxemburgo, Espanha, Itáli e Eslováquia). É um grande sucesso? É sim senhor! É uma façanha histórica? Certamente que não. Ainda há muito caminho a percorrer para chegar ao nível da Coreia do Sul, da Finlândia ou do Japão, todos pelo menos 50 pontos mais acima.
É nosso entendimento que não vai ser nada fácil continuar a progredir, porquanto há uma enorme diversidade de modelos educativos e nós, neste cantinho periférico, temos o hábito de importar e aplicar tudo e mais alguma coisa, porque o que vem de fora é que é bom. Poderá ser. Mas por vezes os modelos não são nada    consensuais, antes pelo contrário. 
No sentido de facultar aos que nos lêem uma ideia fundamentada dessa diversidade, iniciamos aqui uma série de reportagens sucintas sobre sistemas de ensino básico, na Alemanha, Canadá, Coreia do Sul, Finlândia, Itália, Japão e Portugal, embora não por esta ordem. Cada um desses textos é assinado por um correspondente estrangeiro, residente num país vizinho. O de Portugal, por exemplo, é da autoria de Maryline Baumard, correspondente do Le Monde em Madrid.
A abrir, o país classificado em 1º lugar neste ranking - a Coreia do Sul:

COREIA DO SUL
Um ritmo infernal

"Primeiro país da OCDE em leitura, 2º em matemática e em ciências. É certo que o evidente sucesso dos alunos sul-coreanos nos testes internacionais enche de orgulho o seu país. Não consegue todavia escamotear a dureza de um sistema educativo caracterizado por uma competição desenfreada entre eles.
As aulas começam às 7H30, prolongando-se até às 15 ou 16 horas. Todavia, a constante busca do êxito força os alunos a continuar na escola, para frequentar as "aulas permanentes", por vezes até às 23 horas. Contas feitas, os alunos sul-coreanos podem passar na escola até 15 horas por dia, o que, tendo em conta o tempo gasto nos transportes, reduz sistematicamente as horas de sono -dormindo os jovens em geral apenas 4 a 5 horas por noite. Tudo justificado por uma máxima repetida de geração em geração: "Se dormes 5 horas por noite, não consegues. Se dormes quatro, triunfas."
Mesmo durante as férias é indispensável continuar a ir à escola, cujo ritmo não permite qualquer actividade extra-escolar. As aulas são dadas a turmas de 40 alunos, por um professor autoritário, com poder para aplicar castigos físicos. É obrigatório decorar, o que não permite qualquer liberdade individual.
Este tipo de ensino parece estar para durar, mesmo se o sector "professores e outros trabalhadores escolares", do sindicato coreano KCTU reivindica  a "evolução de um sistema característico de uma sociedade industrial, para um outro fundado no saber e na informação".
O ministro da educação, Lee Ju-ho, vai dizendo ser necessária e urgente uma reforma do exame de admissão à universidade, mas a opinião pública maioritária acha que ainda é demasiado cedo. O sucesso a todo o custo continua a ser uma obrigação, neste país submetido à cultura da classificação até à obsessão."


Philippe Mesmer, Le Monde, Tóquio, Japão, 15/12/10
Tradaptação de António Rebelo

4 comentários:

Anónimo disse...

Educação musclada.
Em cada escola secundária um quartel.
Em cada professor um sargento de infantaria.
Vamos recuperar a lei do chicote para melhorar o ensino neste país.

Mas, será que vão deixar de existir as "passagens administrativas" que têm contribuído para o sucesso do nosso ensino nas estatísticas mundiais?...

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

É, de facto, um grande sucesso. E também é uma façanha histórica em Portugal. Essa é que é essa!

Este José Sócrates (especialmente a NATA dos professores portugueses), brinda-nos com surpresas agradáveis, decepcionando muita gente... Não somos os melhores, mas para lá caminhamos a um ritmo nunca visto em Portugal nas áreas do conhecimento e da ciência. Nunca visto!

Não é o Ideal, o Ideal a que a realidade deva obedecer, como muitos, erradamente, alimentam; mas ainda assim resultados positivos numa realidade objetiva nacional, onde prevalecem interesses corporativos e de classe que se angustiam com estes sinais de progresso na nossa sociedade, porque põem em perigo os seus tradicionais privilégios - fingirem que são da "frentex" e usufruirem da estagnação, mais ainda, porque estas significativas vitórias anunciam forte concorrência aos instalados...

Não fossem os desmandos do capitalismo especulativo internacional e a estratégia das grandes potências europeias, Alemanha à cabeça, em forçarem os países periféricos europeus a manterem-se na retaguarda...

Estes passos positivos são estímulos importantíssimos e não para, persistentemente, nos lembrarem que ainda não estamos no top, como acontece nos meios futebolísticos.

Anónimo disse...

EDUCAÇÃO
Há uns anos fiz um trabalho sobre a Educação em Portugal. Concluí que as Escolas Secundárias eram como os Conventos Beneditinos, viviam fachadas sobre si próprias e fora da realidade, aliás como todo o País.
O PISA da OCDE não merece grande confiança. Os relatórios da OCDE são elaborados com dados cedidos pelos governos. O problema do ensino em Portugal, como em todos os sectores, é muito mais profundo e exige uma revolução.
O Vereador Luís Ferreira costuma criticar as exigências de mudança, imperativas, entre nós, afirmando que já não estamos nso anos 60 para se exigir o impossível, slogan de Herbert Marcuse que então orientou os estudantes em todo o mundo.
No "Jornal de Negócios" de hoje, Luís Pais Antunes, ex-membro do Governo do PSD, titula o seu texto com "Sejamos realistas: exijamos o impossível". Por baixo está uma grande foto de José Sócrates...
Dep0is de o CDS ter, ontem, ombreado com o Bloco de Esquerda na crítica às novas medidas de austeridade, agora será a vez do PSD ultrpassar o PS pela esquerda ?

Questão: por acaso já pensaram como as novas medidas de austeridade podem afectar Tomar e a região ? há anos que venho a falar no assunto...

CARLOS PINTO COELHO
Faleceu o grande jornalista e homemde cultura.
Conheci Carlos Pinto Coelho em 1988.
Em Outubro de 1987, ofereci à Câmara Municipal de Tomar, na pessoa da Veredora da Cultura, srª Maria Augusta, uma exposição que me fora pora proposta por Rainer Daenhart. Passaram os meses, e nada. Em Abril de 1988, a Vereadora pediu a exposição. Segundo ela, a Associação Amizade Portugal-URSS queria fazer uma exposição de tapetes do Kazaquistão no Convento de S. Francisco. Para não ceder o espaço a Câmara precisava de uma alternativa. Pediram-me a exposição, que foi feita com o nome:"Tomar Milenário". Rainer aceitou. Começámos, em dois meses, a preparar a sua realização e divulgação. Fomos à RTP, eu e a Vereadora, falar com Carlos Pinto Coelho, que ajudou imenso. No final a Vereadora agredeceu a pessoas que pouco ou nada tiveram aver com a exposição, mas não me dissse nada a mim... As atitudes ficam para quem as pratica. Mais tarde Maria Augusta pediu-me apoio para outa iniciativa, a que não respondi.
O Partido Socialista atacou-me por ter oferecido a exposição a Tomar... A maior exposição realizada no País sobre os 500 anos da Celebração dos Descobrimentos.
No acto de inauguração da exposição o presidente de então da concelhia do Partido Socialista criticou o protocolo das inaugurações (Governador Civil seguido pelos convidados), sem cachimbo, pegou na mulher e começou do fim para o príncipio...
Quando escrever as estórias que sei sobre Tomar vai ser engraçado.
SÉRGIO MARTINS

Bravura Lusitana disse...

Isso é que queremos ! Lei do chicote ou lei do esforço ? As coisas são diferentes...

PNR SEMPRE