quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Afirmações despropositadas do SEC

Tencionava comentar "O clamor do alambor", que Luís Ferreira publicou no seu blogue vamosporaqui.blogspot.com.  Acontece, porém, que entretanto o SEC visitou o Convento de Cristo e produziu declarações de tal modo despropositadas e mesmo infelizes (ver post anterior), que não consigo calar a minha indignação. Acresce que há uma evidente sintonia entre as posições do governante PSD e do autarca PS. A evidenciar uma prévia afinação pelo mesmo diapasão. Exigências da coligação, penso eu. Passo  assim a rebater as declarações do SEC Francisco José Viegas, tal como noticiadas pelo portal da Rádio Hertz.
1 - "Estou de visita a Tomar para conhecer o magnífico trabalho de restauro que está a ser feito no Convento." Não é verdade, ou não é toda a verdade, na melhor das hipóteses. O governante sabe muito bem porque veio tão lesto a Tomar. O respeito pela amizade força-me a não dizer mais por agora, esperando não ser constrangido a ir mais longe sobre o assunto.
2 - "Houve de facto a descoberta de um fragmento do alambor." Também não corresponde à realidade. Só pode haver descoberta de algo desconhecido e o troço do alambor agora posto à vista sempre foi do conhecimento dos que realmente conhecem o monumento, sem todavia andarem a apregoar a sua autoproclamada qualidade de "especialistas". De especialistas desses está o país infelizmente bem fornecido.
3 - "Desta forma, o cenário de qualquer tipo de crime contra o património é para afastar, ou melhor: nem se pode colocar." E porquê?  Doravante deve considerar-se que destruir cerca de 25 metros quadrados de um alambor templário do século XII é uma boa acção? Como qualquer cidadão, um governante tem liberdade de opinião, mas os factos são sagrados. Ou já deixaram de ser, com a mudança de governo?
4 - "Aconteceu esta importante descoberta. Agora há que classificar, há que inventariar, há que recuperar..." O em princípio ilustre visitante terá pensado estar a falar com criancinhas? Ou com labregos? Não se trata de entreter o povoléu  com a usual burocracia de faz de conta. Simplesmente de respeitar uma herança comum com mais de oito séculos, nunca procurando adulterá-la com muros de betão, como se está a fazer, à vista de todos e, ao que agora se constata, com o beneplácito do SEC.
5 - "Manifesto a minha confiança pela forma como têm decorrido os trabalhos e não tenho que duvidar das qualidades e das intenções dos técnicos do IGESPAR, que irão esclarecer este processo, nem das partes envolvidas. Ninguém está a esconder o que seja."
Óptimo! Assim, na devida altura, se for caso disso, já se saberá quem é o responsável máximo. Por agora, o que se continua a estranhar é que os"técnicos do IGESPAR irão esclarecer este processo", mas entretanto a directora do Convento foi proibida de prestar declarações sobre o assunto, segundo as suas próprias palavras. Sendo a senhora arqueóloga profissional e não havendo nada a esconder, segundo o SEC, porquê e para quê tal proibição?
Conclusão provisória muito franca: Se é só para fazer declarações infelizes e despropositadas sobre assuntos que preocupam os tomarenses e os portugueses defensores do património, na minha humilde opinião de bom pagador de impostos, não adianta que venham cá mais governantes. De blábláblá inconsistente estamos todos fartos. Ou não?

PERDEMOS A PRIMEIRA MÃO!!!

O ilustre senhor  Secretário de Estado da Cultura disse tudo. Resta-me um só comentário mais: Irmandade do Betão 1, Defensores do Património 0. A luta cívica deve continuar. Lá mais para diante, no final da obra, cá estaremos. Atentos como sempre.

Na foto o senhor SEC, o senhor presidente da Câmara de Tomar, o senhor presidente do IGESPAR e a senhora directora do Convento de Cristo, arqueóloga de profissão.

UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ NEM POR MERO ACASO



Conforme testemunha a reprodução acima, três profissionais da informação local viram-se forçados a solicitar ao presidente da autarquia a organização de uma visita guiada às obras da edilidade, na Levada e na Estrada do Convento. E resolveram igualmente dar conhecimento do pedido aos restantes membros do executivo. Este documento vem provar que em Tomar, infelizmente, os jornalistas profissionais e até um ou outro amador, são impedidos de exercer os seus direitos de cidadania.
Traduzindo o documento, que por força das circunstâncias está escrito em "tomarês", um dialecto envergonhado, invertebrado e de meias-tintas, muito praticado por estas bandas para se poder governar a vidinha, o que se dá a entender é que o conclave municipal, na sua totalidade mas com especial responsabilidade para o seu presidente, em vez de zelar pelo cumprimento da Constituição, nomeadamente dos seus artigos 37º e 38º, procura por todos os meios ao seu alcance, incluindo os ilegais, cercear o direito à informação e, aos jornalistas, a sua liberdade profissional. Chegou-se até ao desplante de insinuar junto dos responsáveis pelas obras que devem procurar afastar quem tente fotografar ou obter informações. Como em tempo oportuno escrevi neste blogue, sou disso testemunha, pois fui ameaçado de forma velada. Cuidei na altura que seria por não possuir carteira profissional nem trabalhar para um jornal. Verifico agora com bastante mágoa que afinal se trata de uma deliberada política de silenciamento, que sempre acontece quando se está a caminhar paulatinamente para uma ditadura de facto. 
Quando gente escolhida em eleições livres começa a trair de forma deliberada a Lei Fundamental do país, que é de cumprimento obrigatório para todos, mais ainda quando se trate de profissionais do foro, resta-lhes apresentar a renúncia aos cargos, uma vez que estão a enganar quem neles confiou, ao não fazerem o que disseram, nem dizerem o que fazem, ou sequer consentirem que se procure saber.
Quanto à Assembleia Municipal, ou reage energicamente e em tempo útil, exigindo que o executivo ou mude de comportamento ou saia, ou então não se vê o que possam estar lá a fazer.
Com a petição nacional para salvar o alambor templário já nas trezentas assinaturas, em pouco mais de três dias, começamos a ser alvo da chacota dos nossos compatriotas de outras paragens. Saberemos finalmente reagir? Ou até gostamos de ser representados por gente incapaz de se adaptar aos novos tempos, que procura camuflar a sua inépcia e falta de envergadura com o silenciamento forçado? Uma desgraça nunca vem só. Nem surge por mero acaso. O  tempo acaba sempre por responder a todas as perguntas. Mesmo às mais incómodas.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Alambor templário: por enquanto nada de irremediável

Foto 1 - Alambor templário do sector mais tarde ocupado pelos paços sucessivamente do Infante D. Henrique, de D. Manuel I e de Dª Catarina. 
Em primeiro plano o corte feito no século passado, aquando da instalação da rampa de acesso à nova entrada da enfermaria conventual, entretanto transformada em hospital militar.
Foto 2 - Junção entre os Paços de Dª Catarina (Século XVI), à esquerda, e a enfermaria conventual, (Século XVII), à direita.
Foto 3 - Vestígios do primitivo alambor templário, sob o logradouro da entrada do hospital,  feita no século passado.
Foto 4 -  Detalhe do alambor templário vítima do atentado. Em cima é perfeitamente visível que o mesmo se prolongava para a esquerda, tendo sido deliberadamente arrancado. É por conseguinte de um sádico cinismo vir dizer agora que se trata apenas de meio metro quadrado, como alguém declarou sob anonimato à Rádio Hertz. Eles não desarmam, eles não desarmam...
Foto 5 - Aspecto do local, às 19H30 de hoje. No primeiro plano o alicerce de cimento. Ao fundo, a cofragem do muro, de 5 metros de altura nalguns trechos. Entre os dois, a parte do alambor que pretendem preservar. Dizem eles, para ver se conseguem desmobilizar os defensores do património.
Foto 6 - À direita, em primeiro plano, o muro de betão recém-edificado do lado norte da via. No segundo plano a cofragem para o futuro muro de 5 metros de altura e o ângulo nordeste do ex-Hospital Militar. Ao fundo a Torre de Menagem do Castelo Templário. Lindo panorama em perspectiva, não haja dúvidas!
Foto 7 - Para os que insistem em não acreditar no futuro muro em betão de 5 metros de altura, aqui temos uma foto de perfil. Os leitores farão o favor de aferir pela envergadura da máquina escavadora, em 3º plano. À esquerda, em primeiro plano, um pequeno troço do alambor, afinal com a base no mesmo sítio onde agora pretendem erguer o muro. Há coisas que só vendo!

Sinais dos tempos de crise




Sinal evidente dos novos tempos de penúria e de inevitável comedimento nos gastos, este "hotel rolante" para vinte clientes + motorista + guia. De um país com dificuldades? Que não, que não! Da Alemanha, sem problemas de crise e que lidera a União Europeia. Alguns leitores, mais viajados por essa Europa fora, mais "blasés" em suma, exclamarão -Mas isso já é velho! Pois é. Mas antes iam para os parques de campismo.  Agora onde estacionam? Frente ao LIDL, por mero acaso também germânico e com preços muito mais em conta...
Outra novidade na área urbana. Furos artesianos para abastecimento de água. Compreende-se. Com taxas que correspondem a quase 50% da factura, e que aumentam consoante o consumo de água, começa a valer a pena tomar providências no sentido de encontrar fornecimento mais barato. Como não há concorrência...
A alternativa seria os senhores autarcas e funcionários, particularmente os que dirigem os respectivos serviços municipalizados, convenceram-se finalmente, e de uma vez por todas, que os municípios são para servir os munícipes-contribuintes-eleitores, não para assegurar empregos bem pagos e geralmente com pouco trabalho. Visto que muito dificilmente alguma vez isso virá a acontecer, vai sendo tempo de começar a pensar na reutilização dos poços tradicionais. Na cidade aquém da ponte (Freguesia de S. João Baptista), há um em cada quintal. Poderá ter sido tapado em tempos, mas está lá. E nunca é tarde para demonstrar a certos dirigentes de faz de conta ser sempre possível encontrar formas de escapar à tirania do monopólio. Depois queixem-se!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ainda há esperança...

Voltei hoje ao Convento, como costumo fazer quase todos os dias úteis, desde que começou a empreitada agora em curso. É que a organização dos trabalhos me pareceu desde o início -a mim que sou leigo na matéria- algo caótica. Em vez de procederem por sectores, não senhor; começaram em todo o percurso, que continua impraticável, causando assim graves problemas aos turistas pedestres. Só me lembro de algo semelhante nas obras da rotunda, que deram água pela barba a moradores, transeuntes, empreiteiro e autarcas.
De forma algo surpreendente, resolveram agora incrementar o ritmo de trabalho na cofragem e armação de ferro do inaceitável muro de betão de quase cinco metros de altura, conforme se vê na foto, tirada a partir da entrada moderna do ex-Hospital Militar, implantada no século passado. Algo de inconcebível.
Julgo saber o que terá levado o subempreiteiro em questão a aumentar o ritmo de trabalho, de forma a poder encher a cofragem, erguendo assim a barreira de betão, esta noite ou amanhã. Por isso alertei quem me pareceu mais aconselhável, no sentido de evitar o facto consumado. Logo veremos se com sucesso.
De qualquer modo, só quarta-feira próxima, julgo eu, poderá haver uma solução definitiva e esclarecedora. Ou favorável aos vorazes adeptos do betão, ou beneficiando o património tomarense e todos aqueles que teimam em defendê-lo contra ventos e marés. Sobretudo contra as marés, como esta da ganância perante os fundos europeus, que leva pessoas geralmente sensatas, cultas e cordatas a embarcar em projectos que até no Casal Ventoso ou no Bairro de Aldoar eram bem capazes de destoar. Quanto mais agora rente ao Castelo dos Templários/Convento de Cristo, a nobre Casa da Ordem, Património da Humanidade desde 1983. Resta por conseguinte aguardar, acreditando que ainda há esperança. Digo eu, com boas razões para tanto.
Entrementes, está na Internet uma petição a favor da reabilitação do alambor involuntariamente destruído em parte. Está em http://www.peticaopublica.com/?pi=THOMAR 1 Não estive entre os seus iniciadores, mas já a subscrevi e recomendo a todos os leitores de Tomar a dianteira que também subscrevam e difundam, para que se saiba ser impossível destruir património de todos nós sem incorrer no opróbio geral.
Tenho bons motivos para pensar que, apesar das crescentes dificuldades, continua a haver muitos portugueses honrados, que não se vendem por um prato de lentilhas, uma suculenta gamela ou fins de mês sem angústia. Para algo de útil servem as infelicidades...

IMPLACÁVEL, A CRISE AGRAVA-SE...




Quem cuidou e continua a julgar que a crise é coisa passageira, deve a esta hora estar a dar voltas à cabeça, na mira de um explicação. Os dois recortes acima não permitem dúvidas. Estamos mesmo na contagem final. Ou nos adaptamos quanto antes ou seremos varridos sem contemplações. E quanto mais tarde, pior. Já não é só o país que está falido, as câmaras também e os vários organismos públicos idem, idem. Nem poderia ser de outro modo. É o chamado efeito cascata. Secando as nascente, as várias bicas vão deixando de correr uma após outra. Até o inefável três "émes", o manhoso megalómano madeirense, já chegou a essa conclusão. Perito em vernáculo e em perifrástico, desta vez recorreu a este para anunciar o que já era bem conhecido: a Madeira está falida ou, na tal linguagem perifrástica jardinista, "está com falta de liquidez". Da mesma doença se queixam os milhares de portugueses, que não conseguem pagar a prestação da casa, ou são forçados a recorrer à caridade alheia.
Quanto a Tomar, a situação não é melhor. Os senhores autarcas que temos, em vez de procurarem uma solução ou moderarem os gastos, insistem na dissimulação e na basófia. "Vai tudo bem, a autarquia continua solvente, estamos a trabalhar, não liguem aos profetas da desgraça". E ali no café da Corredoura, que já foi em tempos o centro do poder local, a auto-nomeada nata local gosta do estilo. Só não gosta é que lhe mostrem a realidade nua e crua, a que nos conduziram os seus sucessivos representantes nas cadeiras do poder.
Para que não possam restar dúvidas originadas por falta de informação, publica-se um quadro assaz elucidativo. Nele a câmara de Tomar faz figura de rica. Tem mais autarcas a tempo inteiro do que outras maiores, algumas das quais até são capitais de distrito. Na nossa caricata situação de fidalgos falidos, somos acompanhados apenas pela Guarda, que não é propriamente uma referência, desde que em tempos um seu autarca PS foi severamente condenado por peculato. Apesar disso, não consta que por aquelas bandas espatifem milhões em obras inúteis. Ou que o presidente se desloque num BMW em fim de vida, com bem mais de 300 mil quilómetros, enquanto o seu vice usa um OPEL INSÍGNIA novo, pelo qual a autarquia paga 614 euros mensais de leasing = 122.800 escudos + o combustível. Gente rica é outra coisa! Como dizia o outro: Para ir a Lisboa pedir dinheiro, não convém ir de carroça. Dá mau aspecto, lá isso dá!
Ou me engano muito, ou está cada vez mais próximo o dia em que terão de usar o comboio. Como sempre deveria ter sido. Porque não é a população que está ao serviço dos autarcas e funcionários, mas exactamente o inverso. Valeu?

Nota final: 
No que concerne a Torres Novas, não foi possível obter informação sobre os autarcas a tempo inteiro. Nem por mail, nem por telefone, nem no site da autarquia. O sr. Rodrigues, apoiado na sua confortável maioria, governa aquilo como se fosse o seu quintal. Que rodeou de um alto muro de incomunicabilidade, para que de fora ninguém consiga lobrigar o que por lá se passa. Bom proveito!

domingo, 28 de agosto de 2011

TOMAR NA IMPRENSA DE DIFUSÃO NACIONAL...


Após porfiados esforços, que duraram semanas e meses, foi finalmente possível conseguir uma foto da dívida da autarquia. De costas, como convém, pois como é sabido os credores = especuladores = grande capital, nunca têm rosto. Há, é certo, os eleitores que somos todos nós, habituados a dar crédito mediante papel na urna e a benefício de inventário. Infelizmente, a presente situação prova que somos culpados de deixar o nosso crédito por mãos alheias e sem credibilidade. Somos ostracizados, abandonados e mal tratados, sem que isso nos leve  reagir. Se calhar para evitar maçadas inúteis. Ou represálias de toda a ordem. Já aconteceu...
A aguardar que algum executivo tome finalmente medidas tendentes a adelgaçar-lhe um pouco a cintura, a nossa Dona Dívida foi logo aconselhada a sentar-se, pois para medidas de poupança por parte da autarquia, não será seguramente amanhã a véspera de tal acontecimento. E como não havia cadeira adequada -que as da câmara são todas de braços, para dar estatuto e evitar eventuais dores de cotovelo- houve necessidade de se importar uma dos States, mais igualitários porque com menos pruridos sociais. 
Seria de toda a conveniência que doravante, na mas mesas da sala de reuniões dos 7 magníficos, cada um tivesse à sua frente esta foto, com a indicação DÍVIDA MUNICIPAL - CADA VEZ MAIS COLOSSAL. Cá por coisas... (Foto copiada do jornal I, edição de 27/08/2011)
Quem diria! Numa terra tão pacata e virada para o passado, que os seus habitantes até são capazes de morrer de sede ao lado de uma bica, só para não terem o trabalho de virar a cabeça, quem diria! Uma manifestação com funcionários tomarenses. Um a fazer de Cristo crucificado, o outro com um tosco cartaz a lembrar as conhecidas palavras do filho de Deus, que muito bem se aplicam à presente situação nabantina. E para mais, a manif foi em Lisboa, o que deve ter dado cá uma trabalheira, com deslocações e tudo... Faço uma pequena ideia. Se não uma odisseia ulissiana, pouco terá faltado.
É certo que se tratou de uma actividade sindical, enquadrada por quem tem uma experiência acumulada de dezenas anos nestas coisas da agitação social. Mesmo assim, trata-se de um precedente perigoso ou promissor, consoante os pontos de vista. Perigoso, pois como nestes ajuntamentos raramente ou nunca se passa das chamadas reivindicações "alimentares", há o risco de as coisas descambarem, mais tarde ou mais cedo, uma vez que segurança de emprego, aumento de salários, promoções por antiguidade ou contratos colectivos, estão a passar à história a um ritmo infelizmente cada vez mais acelerado, desaparecidas para sempre as condições que os haviam tornado possíveis. Frustradas nas suas expectativas, nunca se sabe o que as diversas categorias laborais podem vir a fazer...
Promissor também, posto que a experiência sindical e partidária podem muito bem levar a entender finalmente que são sempre os cidadãos em conjunto que fazem história, quando conseguem definir objectivos e meios para os alcançar, antes de passarem à acção, naturalmente  no âmbito da mais estrita legalidade. Continuar fiados na vinda de um qualquer novo D. Sebastião é que só nos pode levar à ruína final. Já faltou mais! (Foto copiada do jornal I, edição de 27/08/2011)

sábado, 27 de agosto de 2011

Bairro 1º de Maio - Uma pequena aldeia numa aldeia maior - 2

Foto 1- Aspecto do quintal de uma habitação devoluta.

Foto 2 - Outro aspecto do mesmo quintal.

Foto 3 - Um veículo estacionado há anos no mesmo sítio.

Foto 4 - Aspecto do logradouro de outra habitação sem inquilinos.

Foto 5 - Construções ilegais para todos os gostos nos quintais do bairro.

Foto 6 - Outro quintal com construções clandestinas.

Foto 7 - Terrenos confinantes com as ruas do bairro, há anos que não sabem o que é limpeza.

Foto 8 - Habitantes de prédios próximos do bairro aproveitam o deixa andar para mandarem fazer algumas construções curiosas, naturalmente sem projecto nem  licença.

Foto 9 - Mesmo no próprio bairro, há quintais de casas habitadas cuja limpeza não se pode dizer que seja muito esmerada.
Se, como já vimos por diversas vezes, a autarquia não respeita os tomarenses nem o património construído, mesmo que seja igualmente monumental e da humanidade, não é de estranhar o estado em que se encontra o Bairro 1º de Maio, património da municipal, cujo prazo de validade há muito que expirou. Por essa Europa fora, bairros inteiros de habitação social, edificados bem mais tarde, nos 60, 70 e 80 do século passado, já foram demolidos, dando lugar a outros mais, de acordo com a época que atravessamos em termos de condições de habitabilidade. Em Tomar, porém, mercê de um processo conhecido, preferiram-se obras supérfluas, de que são exemplo o Mouchão, a Várzea Pequena, o ex-estádio, o pavilhão, a ponte metálica as pretensas docas do Flecheiro, a Rotunda do paredão-mijatório, o caminho pedonal da mata e a casa do guarda, etc. etc. etc.
Entretanto no bairro, há gente que já não devia lá estar, casas devolutas, outras que servem de armazém, ou até de local para outras actividades que é melhor nem mencionar, no dizer de um morador dos antigos. As rendas são baixas? Pois são. Mas mesmo assim existe quem aproveite o tradicional e conhecido desleixo camarário para não pagar. E tudo indica que os senhores autarca que temos, não se tendo comovido com tais ninharias enquanto havia vacas gordas, agora que até as cadavéricas começam a ser raras, nem pensar nisso é bom.
Numa outra ponta da cidade, os moradores queixam-se do barulho e outros incidentes diurnos e nocturnos nos dois acampamentos ciganos, sem qualquer resultado. Falou-se a dada altura em realojar toda aquela população ex-nómada na Zona Industrial, uma palermice de todo o tamanho, que provocaria imediatamente acusações de "guetização", de racismo e de segregação, com a consequente devolução compulsiva dos fundos europeus. Atarantados com tal perspectiva, os nossos eleitos reagiram tal como aquando do encerramento do mercado pela ASAE e subsequente instalação da tenda/sauna: As coisas complicam-se? Vamos enfiar a cabeça na areia e esperar que tudo regresse à normalidade tomarense. E assim se mantêm. E assim nos mantemos. Mudos, quedos e aparentemente satisfeitos. Até quando?

UMA POLÍTICA MUNICIPAL SUICIDA

Le Monde, 24/08/2011, página 14
Le Monde, 25/08/2011, página 15

No sentido de situar cada leitor no Mundo e no momento que se está a viver, por vezes sem disso termos consciência, impõe-se uma breve abordagem a três níveis: Europa, Portugal, Tomar. No que concerne ao nosso continente, onde desembarcámos tão tarde, a primeira ilustração quase dispensa comentários. Refere-se ao sistema de ensino francês, mas também ficaria bem em relação a Portugal.
Quanto às declarações reproduzidas na outra ilustração, são do economista alemão Henrik Enderlein, 36 anos, professor catedrático na Hertie School of  Governance, de Berlim, conselheiro do Partido Social Democrata alemão. Respondendo a uma pergunta sobre as vantagens das obrigações europeias (os chamados eurobonds), afirmou que: "Constituem uma solução eficaz  para resolver os nossos problemas. A Grécia, sem dúvida Portugal e talvez a Irlanda encontram-se já em bancarrota soberana. Não vamos conseguir resolver os problemas deles unicamente com planos de austeridade, pois isso provocaria uma recessão que acabaria por afectar a Espanha, a Itália e se calhar até a França e a Alemanha. Obrigar esses países a abandonar o euro é politicamente e economicamente irrealista.
Para reduzir a dívida soberana desses estados, sem colocar demasiado em perigo os bancos, proponho a troca de duas obrigações do tesouro gregas por uma europeia. Os detentores de dívida grega perderiam assim 50% do seu investimento, mas receberiam em troca títulos muito sólidos. Para evitar o contágio, poder-se-ia propor aos detentores de dívida dos outros países europeus a sua troca por eurobonds, com taxas diferentes da taxa grega."
A nível nacional não são necessárias ilustrações. Todos sabemos bem que o governo está obrigado pela troika a cortar quanto puder, onde puder e logo que puder. E o empenho dos governantes nessa tarefa é tanto que, pelo menos alguns, até aceitaram perder dinheiro, só para cumprir as suas obrigações de cidadania. É nomeadamente o caso dos ministros da saúde, da economia e das finanças. Por outro lado, são cada vez mais os presidentes da câmara, a começar pelo presidente da Associação Nacional de Municípios, que se queixam de estar em situação de ruptura financeira.
Enquanto isto, como se vivessem no célebre oásis em tempos anunciado, os autarcas tomarenses insistem pesadamente na sua política suicida. Parecem aqueles viciados dos casinos, que já com os bolsos vazios resolvem apostar tudo o que lhes resta numa última jogada, com o conhecido argumento-tipo "Que se lixe! Perdido por cem, perdido por mil!"
Já atascados em dívidas, insistem em obras cuja utilidade e urgência só eles vêem, como por exemplo as da sede do turismo municipal, do caminho pedonal da Mata + casa do guarda, ou da envolvente ao Convento, que não vai resolver nada. Pelo contrário, como a seu tempo se verá.
Claro que uma vez feitas, as asneiras têm de ser pagas. E como os cofres municipais há muito que estão exaustos, embora se tente fazer crer o contrário, há que solicitar mais empréstimos, aumentando a dívida global, já na casa dos 50 milhões de euros (10 milhões de contos). Na reunião do passado dia 4 de Agosto, o executivo aprovou por unanimidade dos presentes (Corvêlo e Vitorino estavam de férias) mais três empréstimos, cujo montante, se calhar à cautela, nem foi comunicado aos órgãos de informação locais. Soma 2 milhões, 15 mil, 460 euros + as respectivas alcavalas, caso os bancos vão na conversa. Grosso modo é mais um encargo de 400 mil contos = 10 contos por cada habitante do concelho. Ah valentes! Sejamos grandes! Pelo menos nas dívidas, já que no resto...
Uma vez que com os tomarenses não se pode contar, salvo muito improvável surpresa, quem nos acode?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Agrava-se o problema do alambor do Castelo dos Templários

Ao contrário do que afirmou Corvêlo de Sousa, presidente da edilidade tomarense, as obras da envolvente ao Castelo e Convento de Cristo não dão mostras de vir a respeitar o alambor já em parte destruído, como se pode ver nesta foto. Tão pouco parecem respeitar -minimamente que seja- a estética anterior do local, na periferia imediata de um monumento classificado a pedido da autarquia como Património Mundial desde 1983. Situação particularmente delicada, dado que ao apresentar o seu requerimento na reunião de Friburgo, o Município de Tomar se comprometeu a respeitar e proteger o referido património.
Neste momento o estado da obra é este. Arma-se uma estrutura em ferro e instala-se uma cofragem para posterior enchimento, o que dará origem a um muro em betão com cerca de cinco metros de altura, a menos de dez metros da fachada norte do Convento, do século XVII. Se num qualquer arrabalde de uma grande cidade semelhante mostrengo já seria algo de insólito, agora imagine-se mesmo rente ao Convento de Cristo, Património Mundial.
A ajuizar pelas dimensões da nova sapata em betão, uma vez concluído o novo, inestético e inqualificável paredão tornará impossível, ou pelo menos extremamente difícil, reparar o alambor e refazer a parte destruída, contrariando por conseguinte a promessa feita anteontem.
De sudeste para noroeste, o aspecto actual é este. Inquietante, como se vê.


Eis o panorama a oferecer  aos futuros visitantes que cheguem pela estrada nacional, o principal acesso uma vez as obras concluídas. A menos que ainda se consiga parar a obra neste sector, pensar e modificar o projecto, de forma a respeitar o passado, a decência, o bom gosto, a estética, a história, o monumento e a sensibilidade de todos aqueles que gostam do património de todos nós. Um muro de betão de 5 metros de altura, com a Torre de Menagem Templária em fundo, como mostra a foto, é algo inaceitável na Europa do século XXI. E pode até implicar a anulação do actual estatuto de Património da Humanidade, uma vez que a autarquia tomarense, com a conivência do IGESPAR, contrariando aquilo que subscreveu em Friburgo em 1983, está a patrocinar um grave atentado de lesa-património, ainda por cima financiado com fundos europeus. Oxalá este alerta ainda vá a tempo de evitar o desastre!

Estatísticas de Tomar a dianteira


  1. Alguns leitores observaram que Tomar a dianteira tem agora bastante menos comentários, o que o torna menos interessante e deverá ter reduzido de forma considerável a audiência. Trata-se de opiniões respeitáveis, que todavia estão longe de corresponder à realidade, excepto no que concerne aos comentários, agora muito menos desde que resolvi apurar quem eram os emissores do lamentável esterco que aqui chegava com grande regularidade, tanto no tempo como no estilo. O que indica tratar-se de dois ou três sabujos (as), quando muito, às ordens de quem eles (as) bem sabem. Fica assim esclarecido, espero que de uma vez por todas: Tomar a dianteira terá de certeza os seus defeitos; não é contudo nem a sanita nem a sarjeta cá do sítio. Para conspurcar, farão os respectivos amadores o favor de procurar outros suportes mais acolhedores.

Estatísticas do blogue

Total de visitas desde 09 de Março de 2009 .............342.363
Total de visitas de ontem..................................................503
Total dos últimos 30 dias.............................................11.242

Posts mais lidos de sempre

Simplesmente lamentável, 21/08/11..................................858
Cartas de amor..., 14/04/10.............................................473
O mestre apresenta..., 16/08/09.......................................205
Tabuleiros 2011..., 07/09/10............................................141
A patranha do fórum, 03/08/09........................................138

Visitas nos últimos 30 dias, além das referidas acima

A verdade sobre a destruição da sapata, 24/08/11............68
Olhar Tomar a afundar-se, 29/07/11.................................65
Poupar no farelo..., 20/08/11............................................35
Cinco séculos depois..., 22/08/11.....................................33
As mesmas causas..., 24/08/11.........................................29

Bairro 1º de Maio - Uma pequena aldeia numa aldeia maior

Construído no final da primeira metade do século passado, como "Bairro para famílias pobres", o actual Bairro 1º de Maio é por assim dizer uma pequena aldeia no seio de outra um pouco maior...
Denominado Bairro Salazar, foi rebaptizado logo a seguir ao 25 de Abril, numa prática que já era conhecida no antigo Egipto, há mais de quatro mil anos: quando falecia um faraó, o sucessor mandava imediatamente substituir todos os emblemas do anterior.
Bairro 1º de Maio, portanto, desde 1974 e graças aos bravos militares de Abril. Bairro para pobres e  operários, mas nalguns casos com ar condicionado, como mostra a fotografia. Já Maurice Thorez, secretário-geral do Partido Comunista Francês logo a seguir à segunda guerra mundial, proclamava que "nada é demasiado bom para a classe operária", quando lhe apontavam a contradição de andar num belíssimo automóvel com motorista, sendo o dirigente máximo de um partido de trabalhadores.
Aqui temos, graças à preciosa colaboração do conterrâneo e grande artista marceneiro Abel da Silva Vieira, que publicamente se agradece, a lista completa dos primeiros habitantes do bairro. Foi publicada  no CIDADE DE TOMAR de 23 de Outubro de 1949, com a devida autorização, que o regime da época não era para brincadeiras. Como se pode constatar, só polícias eram sete, mas também havia um fabricante...e até um professor de trabalhos manuais da então Escola Industrial e Comercial Jácome Ratton.  (Os então "mestres" ainda não tinham sido equiparados aos outros docentes, como agora veio a acontecer depois do 25 de Abril) .Em muitos casos, os actuais moradores são os descendentes daqueles primeiros ocupantes, dando razão àqueles sociólogos que dizem ser a pobreza ao mesmo tempo a falta de recursos, um estigma social e uma mentalidade...
E aqui temos a fachada do nº 7 da Rua de Santo António, onde habita o mais recente morador do bairro - O nosso conterrâneo José Carlos Sousa, ex-ocupante das retretes de S. Gregório, realojado pelos serviços sociais da autarquia, após muita pressão da opinião pública. 
A fachada já se encontra devidamente decorada à sua moda, tal como acontecia junto à Capela de S. Gregório, mas o próprio mostrou o quintal, limpo de ervas mas, tal como toda a casa, bem recheado de objectos vários recolhidos nos contentores da cidade. As guerras africanas foram uma desgraça para muitos...
Logo à entrada, em sinal de reconhecimento a todos os que contribuíram para a melhoria das suas condições de alojamento, um altar rudimentar e até uma bíblia. Tudo recolhido no lixo doméstico da cidade...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Principais temas da semana

Tema importante desta semana tem sido a cada vez mais acentuada degradação da liderança camarária. Conquanto não  mencionada na imprensa local, foi e é tema de muitas conversas. A tal ponto que o deputado municipal e ex-presidente do PS local, Hugo Cristóvão, um dos signatários do acordo de coligação ainda e vigor, compara no seu blogue alguresaqui esta gaivota naufragada e em risco de cair no abismo, ao barquito autárquico tomarense...pelas mesmas razões: "Falta de liquidez", para usar a feliz expressão jardinista.
Por sua vez, o vereador Pedro Marques, citado no site da Rádio Hertz, não tem papas na língua, até certo ponto. Disse em plena reunião do executivo que "Há rebaldaria nalguns sectores. Se não há capacidade política para gerir alguns sectores, então que se assuma isso !" E noutro passo: "Senhor presidente, ponha mão nisto! Já pactuámos com algumas coisas, mas isto chegou a um ponto que não dá para mais! Alguém tem que actuar!"
Fica por saber com que coisas pactuaram, quantos, quando, como e porquê, sendo que, para já, a continuar semelhante massacre político, a actual maioria relativa não poderá durar até final do mandato. E Corvêlo de Sousa só completará 65 anos em Julho de 2012. Até lá, terá de suportar tudo e mais alguma coisa. Se conseguir resistir à actual campanha demolidora...
"Em Tomar a câmara complica a vida aos cidadãos", "Tanto dinheiro gasto para agora estar tudo ao abandono" e "Pavilhão gimnodesportivo da EB 2/3 D. Nuno Álvares Pereira não estará disponível no arranque do ano lectivo", são temas de capa no CIDADE DE TOMAR. Todos apontam no mesmo sentido: Em vez de facilitar a vida aos cidadãos, a autarquia tomarense está transformada num sério empecilho, que tudo dificulta. Além disso, não consegue sequer cumprir as suas principais obrigações, como por exemplo a manutenção dos espaços verdes na Choromela, que tanto dinheiro custaram há bem pouco tempo, nem mesmo assegurar a pontualidade por parte dos empreiteiros, apesar das declarações sempre optimistas de Corvêlo de Sousa, para quem as coisas estão sempre a decorrer dentro da normalidade. Até um dia...
Outro tema de capa, neste caso em ambos os semanários tomarenses, foi o grave atentado contra o património, cometido quando, devido a lacunas do projecto, uma máquina escavadora destruiu cerca de 25 metros quadrados do alambor do ângulo nordeste do Convento de Cristo, sector em tempos ocupado pelo Hospital Militar. Os leitores interessados pelo assunto farão o favor de ler os posts anteriores, que aprofundam o tema. Entretanto, de acordo com site da Rádio Hertz, Corvêlo de Sousa lá acabou a muito custo por admitir que afinal também houve destruição, além da pretensa descoberta. Quando e se um dia se vier a efectuar um cuidado trabalho de recuperação de todo o alambor actualmente soterrado, entre a parte noroeste da sapata dos Paços do Infante e o lado nascente da Portaria Filipina, concluir-se-à ter ocorrido um infeliz incidente, no qual desapareceram os tais 25 metros quadrados, logo substituídos por um muro de betão armado (mais um!) de que os ilustres senhores autarcas, tomarenses neste caso, tanto parecem gostar. Vá-se lá saber porquê!
Como observação final, anote-se um curioso e muito significativo detalhe, na primeira página dos dois semanários nabantinos. Apesar de ambos terem usado, embora em percentagens diferentes, Tomar a dianteira como referência, O TEMPLÀRIO não teve dúvidas: "Destruiram alambor do castelo". Já CIDADE DE TOMAR optou pela dúvida prudente: "Destruído troço da sapata do século XII?" O dia de amanhã ainda ninguém o viu, cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém e o seguro morreu de velho. Assim vamos indo! Ou vamos apenas estando?! That is the question!

VIVER EM TOMAR?

Recebeu-se este email, devidamente identificado e com o título "VIVER EM TOMAR", que se publica na íntegra, visto que apresenta problemas que exigem solução urgente por parte das entidades competentes. Se isso não vier a acontecer a curto prazo, corre-se o risco de convulsões sociais, sempre de lamentar e que ninguém sabe até onde podem ir. Poderão os senhores autarcas nabantinos ter por uma vez a humildade e paciência necessárias para acabar com os desmandos aqui denunciados? É certo que participar em passeios tintol+comezaina+animação dá muito menos trabalho, mas também deve haver tempo para outras tarefas, que 2013 é já ali adiante. E os tomarenses são como os nobres gauleses que fugiram a partir de 1789. Quando anos mais tarde regressaram ao seu país de origem, constatou-se que, apesar da revolução entretanto ocorrida, não tinham aprendido nem esquecido nada. Foi há mais de dois séculos, mas em Tomar ainda é actualidade...
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A destruição da sapata na imprensa de referência

PÚBLICO, 25/08/2011, página 19

Defender o que é nosso, nomeadamente o património construído, vale sempre a pena. Pode ser que assim os tomarenses em geral se decidam a participar mais activamente nos assuntos que a todos dizem respeito. A versão de Corvêlo de Sousa e do IGESPAR não corresponde inteiramente à verdade, mas pelo menos já se conseguiu que uma parte da sapata fique doravante à vista, quando até agora nem a autarquia nem os responsáveis pelo Convento sabiam sequere que ela existia. Tanto assim que falam de descoberta...

OUTRO ATENTADO DE LESA-PATRIMÓNIO NO CONVENTO DE CRISTO?

Foto 1 - Aspecto da parte superior da fachada sul do Coro Alto, no sentido sudeste/noroeste
Foto 2 - Aspecto da parte superior da fachada sul do Coro Alto, no sentido sudoeste/nordeste
A destruição de parte importante da sapata do Castelo dos Templários, originada pela deficiente elaboração do projecto da empreitada "Envolvente ao Convento de Cristo", causou algum alarme entre os tomarenses e a população em geral, apesar de se tratar de vestígios cuja importância é sobretudo histórica, porque praticamente sem valor arquitectónico. Acontece porém que tal dislate está longe de ser filho único dos tempos que vivemos, em que o mais importante parece ser "amanhar-se" o melhor possível, e bico calado. O post anterior expõe o indispensável sobre o tema, mas não tudo nem lá perto.
Conforme já referido antes, o actual IGESPAR tem a sua origem no IPPAR, criado no seio do ministério da cultura, por sua vez instituído no tempo de Lucas Pires, nos idos de 80 do século passado.  A sua principal missão é, ou devia ser, proteger e gerir o património que lhe está confiado, nomeadamente cinco conjuntos "Património da Humanidade", a saber: Alcobaça, Batalha, Gravuras do Coa, Jerónimos/Torre de Belém e CONVENTO DE CRISTO. Para isso teve o ano passado uma dotação orçamental de 16 milhões de euros + o produto das entradas nos monumentos (que não é tão insignificante quanto isso). Pois  os dirigentes do IGESPAR, à cabeça de centenas e centenas de funcionários, cuja competência profissional e/ou utilidade real está em muitos casos por demonstrar, têm denotado uma evidente e estranha apetência pela lavagem dos monumentos à sua guarda, que apelidam de limpeza e requalificação. Tais empreitadas, além de bastante onerosas, por ajuste directo e a pedir um olhar atento do Tribunal de Contas, já causaram prejuízos irreparáveis, nomeadamente no Convento de Cristo, na Ermida da Conceição, na Matriz da Atalaia e nos Jerónimos. Neste último, segundo os jornais da época, até houve necessidade de recorrer logo a seguir a especialistas holandeses para tentar reparar (ou pelo menos disfarçar) os estragos causados pela anterior "requalificação".
Temos por conseguinte que o IGESPAR apresenta uma folha de serviços na área do património que envergonharia qualquer governo lá mais para o miolo da Europa. Em Portugal, como é sabido de brandos costumes, siga o baile, que a música é muito agradável...para alguns.
No caso da sapata/alambor, tratou-se portanto, na interpretação "igespariana", ao que parece logo partilhada pelos senhores autarcas tomarenses da maioria relativa, de uma importante descoberta e não de mais um atentado contra património do século XII. Façamos de conta que assim foi. Amen. No caso dos autarcas tomarenses, deve-se ser indulgente, posto que quem mais não sabe, a mais não é obrigado. 
Agora, tenha quem isto lê a gentileza de analisar com atenção as duas fotos supra, que não foram retocadas nem de alguma forma modificadas. A primeira é do século passado; a outra é de ontem (24/08/2011). Ambos retratam o Coro Alto, ou Coro Manuelino do Convento de Cristo, o expoente máximo do manuelino, que valeu ao conjunto Castelo dos Templários/Convento de Cristo a atribuição do título de "Património da Humanidade", ou "Património Mundial", na reunião magna da ICOMOS, um organismo da UNESCO, na sua reunião celebrada em Friburgo (Suiça), em Dezembro de 1983. Duas perguntas parecem indispensáveis: Que aconteceu e onde está a parte do coroamento entre os coruchéus, que desapareceu nos últimos anos, como se vê na foto2? No fim de contas, os funcionários bem pagos do IGESPAR (os outros não passam de paus mandados) servem para proteger ou para ajudar a degradar o nosso melhor património?
No caso do alambor/sapata, houve segundo o IGESPAR uma importante descoberta. Oxalá não se trate desta vez de um milagre de subida ao céu de partes importantes do coroamento do Coro Alto.