Numa prosa percutante e bem documentada, o jornalista António Freitas publica no CIDADE DE TOMAR de hoje uma reportagem sobre o problema da Estação de Fátima. Trata-se de mais um caso de manifesto desmazelo por parte da autarquia de Tomar, a exemplo do que vem sucedendo há dezenas de anos.
Há (ou havia) no concelho de Tomar três estações de caminho de ferro: Fátima/Chão de Maçãs, Paialvo /Porto da Laje e Tomar. Se não erro, a de Paialvo, a apenas 6 quilómetros da cidade, já foi despromovida para simples apeadeiro. Pelo caminho que as coisas levam, o mesmo vai acontecer mais cedo ou mais tarde à de Fátima/Chão de Maçãs. Tudo porque os autarcas que temos tido e continuamos a ter parecem adorar dormir à sombra da gloriosa herança, que vão degradando o melhor que sabem e podem.
No que concerne à estação de Paialvo/Porto da Laje, que foi até à inauguração do Ramal de Tomar, nos anos 30 do século passado, a gare que servia Tomar, definhou devido a um erro crasso da autarquia, nos idos anos 50, quando se aprovou o plano de urbanização. Em vez de projectarem o desenvolvimento do aglomerado urbano para poente, de modo a situá-lo entre a estação de Tomar e a de Paialvo/Porto da Laje, na Linha do Norte, prevaleceram interesses particulares nunca depois disso denunciados, os quais levaram a que as novas construções, na zona de expansão a nascente, se situem cada vez mais longe da via férrea, o meio de transporte menos poluente, de maior capacidade e o mais barato. Com cada vez menos passageiros a partir da inauguração do Ramal de Tomar e com o encerramento da fábrica do álcool, não restou à então CP outra alternativa senão despromover a até então estação de Paialvo.
Outro tanto acabará por suceder com a actual Estação de Fátima/Chão de Maçãs/Vale dos Ovos. Enquanto o automóvel se não transformou no meio de transporte preferido pelos portugueses e Tomar se manteve como o mais importante centro urbano da região, a Estação de Fátima conheceu dias gloriosos, apesar de situada a 20 quilómetros do Santuário. Com a extraordinária difusão do automóvel e a evidente despromoção de Tomar, essa época está a chegar ao fim. Tal como no caso de Paialvo, os autarcas que temos vão-se mantendo mudos e quedos sobre o assunto, naquela conhecida atitude de quem apenas aspira a sopas (quantas mais melhor) e descanso (idem, idem). Provavelmente nem se dão conta de que Ourém é já o primeiro município do norte do distrito em habitantes, em telefones, em automóveis, em actividades comerciais, em indústrias, em IVA e em IRS. E dispõe, para azar dos tomarenses, de uma estação e de um apeadeiro, ambos mais próximos do Santuário de Fátima do que Chão de Maçãs. Estou a falar da Estação de Caxarias (a dos emigrantes da mala de cartão, que agora já chegam de avião ou de automóvel) e do Apeadeiro de Seiça. É portanto natural que os autarcas de Ourém procurem valorizar o que está no seu concelho, em detrimento de Tomar. Até agora já conseguiram que o autocarro que antes assegurava a ligação Chão de Maçãs/Santuário faça Caxarias/Santuário. Só falta transformar a antiga estação principal da zona em apeadeiro de Vale dos Ovos, perante a indiferença dos autarcas nabantinos, que ainda não terão percebido uma verdade elementar: hoje em dia, o passado pouco ou nada conta; trabalha-se com percentagens, tendências, lucros, facilidades, desenvolvimento, futuro.
Resta-nos o Ramal de Tomar, o qual, vítima do mesmo desinteresse dos eleitos tomarenses, tão maltratado tem sido. Até já se chegou ao cúmulo de haver composições ditas do "Ramal de Tomar" que se ficam pelo Entroncamento. Noutros termos, mais directos, desde há muito que os comboios do Ramal de Tomar estão ao serviço quase exclusivo dos funcionários da CP/REFER. Para disso ficar ciente, basta analisar com atenção os horários afixados nas estações e apeadeiros. Mas se os eleitores e os eleitos tomarenses parecem satisfeitos com a situação, quem sou eu para reclamar?
2 comentários:
Os autarcas que temos vão-se mantendo mudos e quedos sobre este assunto, porque sabem que a população tomarense atingiu um estado em que já deixou de reivindicar ou exigir o que quer que seja aos seus eleitos.
Para os tomarenses, se os autarcas tomarem alguma boa decisão para o concelho, isso é considerado como um favor ou uma esmola que os eleitos concedem aos munícipes.
Os nabantinos não têm a noção de que os eleitos têm o dever de exercer uma governança diligente e proficiente, porquanto é para isso que são pagos - e bem pagos - com o dinheiro dos nossos impostos.
E assim, neste clima de conformismo local, os nossos autarcas estão certos de que nas próximas eleições autárquicas o povo voltará a votar nos mesmos de sempre. Por isso, não se preocupam nem tentam tirar o concelho da miséria em que está. Não se sentem obrigados a isso.
Os tomarenses dão-lhes bons motivos para continuar a pensar e a agir assim...
Estimados amigos
Julgo que em abono da verdade, seria de mencionar a minha intervenção na ultima reunião de Câmara de 4/8/2011, a qual teve chamada de primeira pagina no CT da passada semana.
Já no mandato passado, quer em 2006, quer em 2008, tive oportunidade de questionar os respectivos Presidentes de Câmara (Paiva e Corvelo) sobre o assunto.
Já agora posso informar que no decurso das minhas anteriores funções, às de Vereador, tive oportunidade de reunir a sós, em 2007, com o Presidente da CP ao tempo em que foi abordada a questão quer do ramal de Tomar, quer da Estacao de Fátima.
Por isso permitam-me que dizer que os autarcas estão "alheados" do problema não é correcto. Inclusivé o Sr.Presidente da Junta da Sabacheira (PS) tem lutado insistententemente para que o assunto não fique esquecido, quer na Assembleia Municipal, ao longo dos últimos mandatos, quer no interior do PS.
Quando se fala em autarcas, convém destrinçar entre o trigo e o joio. Há quem fale, quem faça e quem se alheie dos problemas, por isso importa discernir neste, como noutros contextos, quem é quem!
Com as melhores saudações Tomarenses
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