quinta-feira, 25 de agosto de 2011

OUTRO ATENTADO DE LESA-PATRIMÓNIO NO CONVENTO DE CRISTO?

Foto 1 - Aspecto da parte superior da fachada sul do Coro Alto, no sentido sudeste/noroeste
Foto 2 - Aspecto da parte superior da fachada sul do Coro Alto, no sentido sudoeste/nordeste
A destruição de parte importante da sapata do Castelo dos Templários, originada pela deficiente elaboração do projecto da empreitada "Envolvente ao Convento de Cristo", causou algum alarme entre os tomarenses e a população em geral, apesar de se tratar de vestígios cuja importância é sobretudo histórica, porque praticamente sem valor arquitectónico. Acontece porém que tal dislate está longe de ser filho único dos tempos que vivemos, em que o mais importante parece ser "amanhar-se" o melhor possível, e bico calado. O post anterior expõe o indispensável sobre o tema, mas não tudo nem lá perto.
Conforme já referido antes, o actual IGESPAR tem a sua origem no IPPAR, criado no seio do ministério da cultura, por sua vez instituído no tempo de Lucas Pires, nos idos de 80 do século passado.  A sua principal missão é, ou devia ser, proteger e gerir o património que lhe está confiado, nomeadamente cinco conjuntos "Património da Humanidade", a saber: Alcobaça, Batalha, Gravuras do Coa, Jerónimos/Torre de Belém e CONVENTO DE CRISTO. Para isso teve o ano passado uma dotação orçamental de 16 milhões de euros + o produto das entradas nos monumentos (que não é tão insignificante quanto isso). Pois  os dirigentes do IGESPAR, à cabeça de centenas e centenas de funcionários, cuja competência profissional e/ou utilidade real está em muitos casos por demonstrar, têm denotado uma evidente e estranha apetência pela lavagem dos monumentos à sua guarda, que apelidam de limpeza e requalificação. Tais empreitadas, além de bastante onerosas, por ajuste directo e a pedir um olhar atento do Tribunal de Contas, já causaram prejuízos irreparáveis, nomeadamente no Convento de Cristo, na Ermida da Conceição, na Matriz da Atalaia e nos Jerónimos. Neste último, segundo os jornais da época, até houve necessidade de recorrer logo a seguir a especialistas holandeses para tentar reparar (ou pelo menos disfarçar) os estragos causados pela anterior "requalificação".
Temos por conseguinte que o IGESPAR apresenta uma folha de serviços na área do património que envergonharia qualquer governo lá mais para o miolo da Europa. Em Portugal, como é sabido de brandos costumes, siga o baile, que a música é muito agradável...para alguns.
No caso da sapata/alambor, tratou-se portanto, na interpretação "igespariana", ao que parece logo partilhada pelos senhores autarcas tomarenses da maioria relativa, de uma importante descoberta e não de mais um atentado contra património do século XII. Façamos de conta que assim foi. Amen. No caso dos autarcas tomarenses, deve-se ser indulgente, posto que quem mais não sabe, a mais não é obrigado. 
Agora, tenha quem isto lê a gentileza de analisar com atenção as duas fotos supra, que não foram retocadas nem de alguma forma modificadas. A primeira é do século passado; a outra é de ontem (24/08/2011). Ambos retratam o Coro Alto, ou Coro Manuelino do Convento de Cristo, o expoente máximo do manuelino, que valeu ao conjunto Castelo dos Templários/Convento de Cristo a atribuição do título de "Património da Humanidade", ou "Património Mundial", na reunião magna da ICOMOS, um organismo da UNESCO, na sua reunião celebrada em Friburgo (Suiça), em Dezembro de 1983. Duas perguntas parecem indispensáveis: Que aconteceu e onde está a parte do coroamento entre os coruchéus, que desapareceu nos últimos anos, como se vê na foto2? No fim de contas, os funcionários bem pagos do IGESPAR (os outros não passam de paus mandados) servem para proteger ou para ajudar a degradar o nosso melhor património?
No caso do alambor/sapata, houve segundo o IGESPAR uma importante descoberta. Oxalá não se trate desta vez de um milagre de subida ao céu de partes importantes do coroamento do Coro Alto.

2 comentários:

Ana Vieira disse...

Não falta uma única peça... está lá tudinho no telhado... deitadas abaixo pela fúria do tornado que por lá passou e que também arrasou tanta outra casa...
O que realmente faz falta a muita gente é informar-se devidamente antes de começar a fazer as afirmações que faz. Só mostra o quão ignorantes podem ser e o mais grave são os ainda mais ignorantes que os seguem sem questionar. Lá diz o ditado: "quando apontas 1 dedo a algém lembra-te que tens 3 a apontar para ti"

Anónimo disse...

Senhora Dona Ana:
Bem haja pelo seu bem informado comentário. Não adianta tentar desencorajar-me. Tendo,no quadro do serviço militar obrigatório, participado numa guerra, como operacional de terreno e gatilho, deixei de me impressionar com opiniões que valem o que valem. Se isto fosse mesmo uma cidade europeia a sério de um país europeu um pouco mais a norte, a população local já teria sido informada sobre o assunto, como reza o artigo 37º da Constituição: O cidadão tem o direito de informar-se, informar e ser informado. Não me vai decerto responder que ainda não tiveram tempo... A verdade, quando inconveniente, tem sempre tendência a aleijar.

Cordialmente,

António Rebelo