quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O charco tomarense

Muitas décadas de conformismo dão nisto: gente que julga ter o rei na barriga; que o facto de ser tomarense constitui uma vantagem; que pertencemos a uma tribo superior; pobres criaturas, (intelectualmente falando) convencidas de que o tempo lhes vai dar razão, quando é exactamente o contrário; uma gritante incapacidade de reacção e a recusa absoluta de opiniões diferentes. Donde, incapazes de contra-argumentar com seriedade, um longo rol de inanidades, do tipo o gajo divaga, má-língua, ressentimento, diferendos pessoais, etc. etc. Nem sequer se dão conta, ou fingem que assim acontece, de factos cada vez mais gritantes: falências em série, população a partir, desertificação e ruína do centro histórico, degradação dos serviços prestados pela autarquia, roubos, assaltos, incêndios e um clima de recalcada angústia, quase "de cortar à faca". Tudo obra do acaso? Ou simples resultado de uma ultra-deficiente actuação política? Da ausência de projectos e de vontade de os mandar elaborar?
A comédia autárquica nabantina -porque afinal é disso mesmo que se trata- já atingiu tais extremos de irrealismo que os seus próprios progenitores e protagonistas, sentindo-se incomodados, começam a tentar alijar a carga negativa, naturalmente tendo em vista as autárquicas de 2013. Já tínhamos o método usado pelos IpT - sistematicamente uma tripla, como no velho totobola: vota-se a favor, faz-se uma declaração de voto contra e ameaça-se com uma abstenção na próxima vez. Pois agora temos também a dupla linguagem do vereador Luís Ferreira. Num comentário intitulado "Ainda há razões para acreditar no futuro do nosso Concelho?", publicado no blogue esquerdo capitulo em 11/07/2011 (em plena Festa dos Tabuleiros, o que tem a sua importância) faz um implícito diagnóstico sucinto e certeiríssimo da nossa triste condição: "Pois eu continuo a acreditar e a lutar todos os dias para que aqueles meus colegas na Câmara percebam que o tempo é outro e que urgem medidas concretas que ajudem, que facilitem, que responsabilizem e não assobiemos colectivamente para o alto, como se nada pudesse ser feito."
Desgraçadamente, trata-se do mesmo tipo de discurso usado em qualquer circunstância por Corvêlo de Sousa: bem elaborado, agradável ao ouvido, mas sempre inconsequente. Se em vez de alardear disponibilidade filosófica para aconselhar os seus parceiros, o mentor do PS local lhes colocasse condições drásticas, cuja falta de aceitação implicasse o imediato fim da coligação, outro bem diferente e bem melhor seria o nosso futuro. Assim, resta-nos aguardar Outubro de 2013, para então ajustar contas.
O que não vai ser fácil. Há quase uma semana que o empreiteiro do troço Bonjardim/Rotunda do 15 abandonou a obra (só um subempreiteiro continua a calcetar os passeios) e, até hoje, apenas Tomar a dianteira teve a coragem de noticiar o facto insólito e prenunciador da tragédia local que se avizinha a passos largos. Cidade de Tomar, Templário, Rádio Hertz, Mirante e Ribatejo, para já não falar nos meios de difusão nacional, vão mantendo o silêncio nas suas páginas electrónicas. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, sendo igualmente certo que o Calado foi a Lisboa e veio sem pagar bilhete no comboio.
Se até a comunicação social  já deixou de cumprir cabalmente a sua missão, havemos de ir longe, havemos!!!

2 comentários:

João Gomes disse...

A imprensa local tem medo de publicar o abandono da obra por parte da empresa encarregue de construir o troço rotunda do Bonjardim / rotunda do 15, bem como outras notícias que evidenciam os desmandos e a negligência de quem governa a autarquia. Isto acontece, desde logo, porque os jornais locais receiam que, se praticarem uma informação isenta e independente, a Câmara Municipal deixará de os escolher para a publicação de anúncios institucionais - com a consequente perda das respectivas receitas; depois, porque as pessoas que exercem o poder no Município fazem questão de, nas suas relações com os directores e redactores dos jornais em causa, fazer-lhes ver, de forma subtil e subreptícia, que não toleram que seja contada a verdade aos tomarenses; ora, os redactores e dirigentes da comunicação social local bem sabem que, numa comunidade pequena e enredada em laços de vassalagem como é Tomar, conquistar a antipatia do Presidente e vereadores com pelouro significa meio caminho andado para a insolvência e extinção. Neste sentido, pode dizer-se que não há qualquer possibilidade de haver em Tomar uma imprensa isenta, enquanto os actuais dirigentes do Município permanecerem no poder.
Nos últimos tempos, só através do blogue Tomar a Dianteira é que tem sido possível aos tomarenses ficar a saber os erros e as trapalhadas do executivo municipal, porquanto o seu autor é uma pessoa que não está dependente de peias nem de vínculos face a quem exerce o poder em Tomar.

FSM disse...

Tomar, porquem os sinos dobram...