quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Temas quentes

A ordem de trabalhos da reunião de hoje do executivo autárquico comporta dois temas que noutras cidades seriam quentes, mas que aqui na capital do Nabão passarão como cartas nos correios. O habitual, porque como quase ninguém sabe contra-argumentar de improviso, o melhor é fazer de conta, para evitar meter a pata na poça. Já basta o que basta! Falo do Projecto de regulamento dos TUT e da contratação de mais empréstimos, para pagamento do remanescente da participação europeia nas estapafúrdias adjudicações da autarquia.
Sabe-se que os transportes urbanos de Tomar, com quatro linhas, custam aos contribuintes à roda de 400 mil euros anuais = 80 mil contos = 219 contos por dia, de prejuízo + custo e manutenção dos autocarros, com cada passageiro a desembolsar apenas 70 cêntimos por viagem, ou menos ainda, no caso do passe mensal.
Um tomarense daqueles que, embora contrariados e com o coração a sangrar, já trocaram a adorada terra natal pelo Entroncamento -por ser nitidamente mais barato e ter mais qualidade de vida, por exemplo no domínio dos transportes- desabafou a Tomar a dianteira que isso acontece porque os políticos tomarenses em geral parecem papagaios, quando afinal não passam de araras. E deu o exemplo da cidade dos comboios. Os mini-autocarros são a biodiesel, tendo sido pagos em partes iguais, não pela autarquia mas pelo governo e por um hipermercado local, que também assume os custos de funcionamento, na condição de que os percursos tenham paragem à sua porta. Aqui em Tomar, pelo contrário, os veículos são a gasóleo e foram custeados pela autarquia, não beneficiando de qualquer comparticipação dos três hipermercados locais, apesar de pararem junto de todos eles. Negociar dá muito trabalho, cansa e obriga um eleito a rebaixar-se, indo falar com representantes de simples merceeiros... Era difícil  fazer pior! Pois mesmo assim, em vez de ter a coragem de debater, de forma séria e profunda, toda a questão dos transportes públicos, o executivo opta por discutir apenas um "Projecto de Regulamento". Que será naturalmente aprovado, como quase tudo o que vai à reunião. Depois só falta saber para que servirá...
O outro tema é a contratação de empréstimos, cujo montante não consta da convocatória, se calhar para evitar assustar prematuramente os indígenas e sobretudo a pequena, mimada e sensível tribo dos eleitos. Trata-se, uma vez mais, de obter junto da banca, com juros dos quais também nem convém falar, dinheiro para pagar a parte que cabe à autarquia (geralmente 20% + IVA) nas célebres obras "pagas pela União Europeia". Desta feita são contempladas a Mata dos 7 Montes (já concluída), a envolvente ao Convento (já em curso há meses), a estrada de Coimbra até à Rotunda do 15 (em fase de conclusão), a mesma estrada, a seguir ao 15 até ao entroncamento IC3/IC9 (em curso) e o Museu João de Castilho (a iniciar).
Daqui resulta, mais uma vez, que quem nos devia governar tem o lamentável hábito de limpar o dito antes de fazer o serviço. Já aconteceu o mês passado com a "nomeação" de João Victal para mordomo da festa dos tabuleiros de 2015, antes de conhecer o resultado das autárquicas de 2013 (uma maçada, pelos vistos!), ou sequer a opinião do "povo", reunido para o efeito nos Paços do Concelho. Repete-se agora com este projecto de contratação de empréstimo. Na prática, considera-se que a votação favorável, tanto no executivo como na assembleia municipal, não passa de simples formalidade, uma vez que se trata de  meras "câmaras de registo" das decisões da minoria PSD. Criadagem, em suma. Ao mesmo tempo, usa-se do milenar estratagema do facto consumado. Aquilo a que mais tarde se veio a chamar chantagem: o executivo já assumiu as responsabilidades, bem antes de ouvir os outros representantes dos eleitores, pelo que agora resta apenas votar favoravelmente, sob pena de se incorrer em incumprimento, coisa que ninguém deseja. Quanto a saber para que servem as onerosas obras a pagar, todas executadas por empresas do mesmo grupo, ou por ele subcontratadas, isso daria muito trabalho e viriam a causar prejuízos de toda a ordem...
Ganda terra! Ganda país! Mas como os tomarenses continuam mudos e quedos...

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