terça-feira, 23 de agosto de 2011

Recortes da imprensa de hoje


Este postal de Jaime Antunes, na última página do I de hoje, vem na hora certa, assim como uma espécie de epitáfio antecipado do Senhor da Madeira. Talvez não por mero acaso, o vice-presidente tomarense Carlos Carrão convidou em tempos o senhor feudal da Pérola do Atlântico para visitar Tomar. É que, excluindo a longa permanência no poder e a sempre oportunista chantagem aos governantes, também denominados "cubanos do contenente" em linguagem jardinista, o problema insular tem grande similitude com o de Tomar -falta de liquidez crónica. Pois se o vereador Luís Ferreira até costuma temperar os seus posts sobre a dívida municipal com a indicação do valor global do património autárquico, está tudo dito! Ou não?
Como muito bem viu e escreveu o nosso leitor João Gomes (ver comentário no post Até ao lavar dos cestos..."), mal acostumados e alérgicos à mudança, os membros mais influentes da nabantina maioria relativa devem ter como certo um milagre da multiplicação dos milhões de euros, conseguido por intermédio de orações a S. Miguel Relvas. E nem sequer lhes passará pela cabeça que, por muito boa vontade que tenha, o dito patrono nada poderá fazer, pois se enveredasse por esse caminho, nas semanas seguintes teria de providenciar no mínimo mais 307 edições do mesmo milagre, em virtude do velho e bem conhecido adágio "Ou há moralidade, ou comem todos!"
Conforme já aqui foi dito anteriormente, Relvas poderá ajudar de forma profícua e decisiva, desde que para tanto lhe apresentem projectos bem elaborados, bem fundamentados e com pernas para andar, sem necessidade de muletas ou de cadeiras de rodas... Não é fácil e por isso não tem sido o caso. É pena!


Este outro recorte, do jornal I como o anterior, noticia uma realidade curiosa: O Castelo de S. Jorge é gerido pela Câmara de Lisboa e até dá lucro! Vejam lá e vejam bem! E aqui no Vale do Nabão, no mesmo país, a menos de 150 quilómetros, a situação é totalmente diferente: o Castelo dos Templários é gerido pelo IGESPAR, com sede no Palácio da Ajuda, em Lisboa, e dá prejuízo! Parece anedótico mas é o que temos. A cem metros dos Paços do Concelho, o castelo templário tomarense transitou em 1982 da responsabilidade do chefe da Repartição de Finanças de Tomar para a do antecessor do actual IGESPAR, criado pouco antes no seio do Ministério da Cultura, na altura tutelado por Lucas Pires.
Transformado pouco a pouco em armazém de funcionários bem pagos, o IGESPAR custou o ano passado aos contribuintes portugueses a ninharia de 16 milhões de euros = 3,2 milhões de contos + a receita das entradas nos monumentos sob sua tutela, que são sete: Alcobaça, Batalha, Jerónimos, Tomar, Torre de Belém, Foz Coa e Santa Engrácia - Panteão Nacional. Se o Castelo de S. Jorge até dá lucro, como se explica que monumentos Património da Humanidade (Tomar, Alcobaça, Batalha, por exemplo), não sejam rentáveis? Algo estará errado no Reino da Dinamarca!
Como estamos em maré de cortes drásticos -necessidade a quanto obrigas!- pode ser que se consiga finalmente acabar com semelhante absurdo, transferindo para os municípios o que por direito lhes pertence, ou seguindo o exemplo espanhol dos patronatos. Como está é que não pode continuar. Porque pagar 6 euros e nem sequer ter uma visita guiada, quer-me parecer que configura um caso de abuso de confiança.
Eis uma prosa do I de hoje que mostra a cada vez maior distância a que vamos estando da Europa da cultura e dos novos. Um respeitável professor catedrático de uma das mais conceituadas universidades do país, nitidamente vítima de umbiguismo, disserta sobre o ultraje que constitui para nós a atitude do duo franco-alemão, sem se dar conta de que a árvore do direito lhe está a esconder a floresta da realidade envolvente. O que o impediu de formular e responder à pergunta metódica: É assim, mas porquê? Se a tivesse feito, de certeza que concluiria rapidamente ser a nossa  actual situação em termos de soberania, praticamente homóloga em relação ao estatuto das mulheres casadas portuguesas, na primeira metade do século passado, salvo raríssimas excepções. Dado que era o "chefe de família" que providenciava o sustento da casa, a esposa-mãe-fada do lar obedecia, calava-se e nunca levantava ondas. Exactamente o mesmo que faz o actual governo. E ainda bem, porque é a única atitude diplomaticamente aceitável pelos nossos credores. Se começarmos a levantar ondas, suceder-nos-á algo semelhante à Grécia: Vão-se aumentando as exigências na área da austeridade e deixando marinar o governo e povo grego, como forma de os amaciar... O resto é poesia lírica.

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