segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Política, políticos e credibilidade

EL PAIS, 14/08/2011, Caderno Domingo, página 12

Intimidados pela crise, os tomarenses assumem por vezes atitudes curiosas. Uma delas é detestarem más notícias, mas só quando contrariam  aquilo que pensam. Se por exemplo alguém ousar dizer que estamos a caminhar para o abismo, avançarão logo com um  chavão: Não precisamos de quem nos ande a denegrir, a deitar abaixo. É preciso puxar isto para cima. Uma pessoa ouve e não acredita: Puxar isto para cima, mas o que será isto? A cidade? O concelho? Ambas as coisas? E o que há para puxar para cima? Por favor, abram-me os olhos, caros e esclarecidos conterrâneos. Porque eu amo de forma apaixonada esta terra. E bem gostaria que houvesse aspectos a realçar. Infelizmente, para além do património natural e construído, temos de reconhecer que o panorama é cada vez mais desolador.
Ainda hoje, um patrício se me lastimava que já nem no Mouchão se pode estar descansado. Os mal orientados aspersores de rega têm o hábito lamentável de dar banho gratuito e inopinado a quantos por ali estejam sentados. E os senhores autarcas, ao que me foi dito, mostram-se indiferentes. Deve ser da força do hábito...
Outra actividade que os nabantinos detestam são as sondagens, logo que os resultados lhes sejam desfavoráveis, a eles e/ou às suas opiniões. Deve ser por isso que a imprensa local se abstém cuidadosamente de enveredar por tal prática. Menos atreitos a semelhante idiossincrasia, os nossos vizinhos do lado não estão com meias medidas: todos os meses vão actualizando o índice de confiança dos cidadãos em relação a pessoas e instituições. A pergunta é sempre a mesma: "Em que medida lhe inspiram confiança, isto é, sensação de poder confiar nelas, as seguintes pessoas e instituições". Na sondagem de Julho, foram obtidos os resultados supra, numa escala de zero a 10, em que zero = nenhuma confiança e dez = confiança total.
Como se verifica, nuestros hermanos estão mesmo desalentados: justiça, sindicatos, bispos, governo, bancos, partidos e políticos ocupam a cauda do pelotão, por esta ordem. Exclamará o leitor que isto aqui não é Espanha. Pois concerteza que não! Não obstante, em 1581 foi lá em cima no Convento que aclamaram um luso-holandês -Filipe II de Espanha- como Filipe I de Portugal. Mero acaso? É o que falta demonstrar. Tanto mais que Frei António de Lisboa, no século o tomarense António Moniz da Silva, reformador da Ordem de Cristo, que transformou numa congregação de frades de cógula, uma vez expulsos os comendadores e cavaleiros, também por mero acaso, sem dúvida, professou e foi formado (actualmente dir-se-ia "formatado") nos jerónimos espanhóis. Acasos da história, em suma... O que não significa de modo algum que os tomarenses tenham os políticos em grande conta. Julgo eu...

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