quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Crise: Vamos mal, mas tudo bem...

Sente-se por aí uma angústia difusa, sobretudo naqueles espíritos mais artilhados em termos de uso adequado e profícuo da massa cinzenta. O caso não é para menos. Contrariando tudo e todos, a crise prolonga-se e ninguém sabe quando se conseguirá lobrigar luz ao fundo do túnel do nosso descontentamento. Num país pouco habituado a pensar, à excepção de reduzidas elites esparsas, a relativa desorientação era inevitável. Relativa desorientação porque, embora não sabendo muito bem o que pensar, a "opinião pública" e alguma da publicada não conseguem cortar as amarras com os esquemas do passado.
Nesta altura, o grande temor para uns, ao mesmo tempo esperança para outros (os especuladores), parece ser a inevitável saída da Grécia e de Portugal da zona euro. Cenário praticamente improvável, não só pelo efeito dominó que desencadearia, cujas consequências ninguém actualmente consegue antever, mas também e sobretudo porque essa solução no fim de contas não solucionaria nada. A Inglaterra, a Suiça, a Polónia, os Estados Unidos e dentro destes a Califórnia, não fazem parte da zona euro, o que não lhes tem permitido escapar à crise e às respectivas medidas de austeridade, excepto na Suiça.
No país do gruyère, dos relógios e dos Alpes, o problema é de sinal contrário: está a ser vítima do seu "modelo económico virtuoso". Considerado moeda-refúgio, devido à tradicional solidez helvética, o franco suiço tem-se valorizado de tal forma em relação ao euro e ao dólar que neste momento um motorista dos transportes públicos de Zurique, por exemplo, ganha o equivalente a 5 mil euros mensais. Ainda bem, exclamarão as mentes gananciosas. Ainda mal, respondem os suiços, porque assim a economia deixa de ser competitiva e quanto ao caso particular do turismo, nem é bom falar. O que leva o governo federal a encarar a hipótese de arrimar temporariamente o franco suiço ao euro, como forma de acabar com a sua imparável ascensão. Temos assim que não há só quem queira sair da zona euro, também existe quem queira entrar.
Entrementes, com o fogo da especulação a alastrar, de tal forma que até a Itália, a Bélgica e a França, fundadores da Europa dos 6, já sentem as barbas a arder, a patroa Merkel e o seu adjunto Sarkozy lá acabaram por concluir que "para grandes males, grandes remédios" -vamos mesmo ter uma "governança" europeia e, a prazo, os tais eurobonds, os desejados bilhetes do tesouro europeus, em princípio com juros iguais para todos. Tanto melhor. Na véspera do encontro franco-alemão, uma grande sondagem difundida além-Reno mostrava que os alemães gostariam de ver os gregos fora do euro, mas mantendo os portugueses na situação presente. Obrigado irmãos saxónicos! Que alívio!
Em Portugal, com o governo na boa direcção e as suas inevitáveis decisões a aleijarem cada vez mais, a maior parte da população, e mesmo muitos políticos eleitos, ainda não perceberam que o apreciado "modelo social europeu" tem infelizmente os dias contados, não por opção política, mas sim pela cada vez mais nítida falta de "oxigénio".
Para não alongar demasiado, eis o que me parece que terá forçosamente de ocorrer nos próximos tempos, neste agradável jardim à beira-mar plantado: Inclusão na Constituição da República de um tecto para o défice admissível; cortes no FEF para todas as autarquias que não procedam a severas reduções de despesas, incluindo despedimentos; Orçamento de Estado elaborado em conformidade com as normas europeias; Orçamentos municipais com aprovação prévia pelo Ministério das Finanças; Colocação temporária sob tutela das autarquias fortemente endividadas; interdição de recurso à banca, salvo autorização prévia, por parte das autarquias e/ou governos regionais; supressão da empresas municipais não rentáveis.
Num tal contexto, perguntará quem lê, que deve fazer a autarquia tomarense para inverter a tendência. Para deixar de definhar e começar a crescer? Na minha tosca opinião, deve começar por inventariar de forma séria a actual situação. Depois, em função do apurado, proceder de modo a baixar taxas e preços, simplificar processos, facilitar investimentos e elaborar um roteiro consistente rumo ao futuro. Acabar quanto antes com a actual situação, do mais caricato que se conhece: A carripana tomarense rolando rumo ao futuro, conduzida por uns motoristas praticamente cegos, uma vez que não têm rumo certo, não conhecem o percurso, não dispõem de qualquer "mapa", não sabem qual o destino final, nem mesmo as etapas intermédias.
Haja santa paciência!



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