No reduzido meio político citadino tem-se por adquirido que a actual maioria coligada, que domina mais ou menos a autarquia, irá até ao fim do mandato, em Janeiro de 2014. Tenho as minhas dúvidas e boas razões para as ter. Desde logo porque antes do fim do corrente ano haverá nova versão da Lei das autarquias locais, a qual, em conformidade com os compromissos assumidos para com a troika, comportará obrigatoriamente a) - Redução de chefias, b) - Redução de pessoal, c) - Redução de despesas, d) - Simplificação acentuada dos circuitos burocráticos. Incluirá também, como é lógico, maior controlo do governo na área das despesas, dos empréstimos e das contratações, tanto mais que o primeiro-ministro já foi assaz explícito ao afirmar que o governo tenciona ir além do exigido pela troika.
Numa câmara sem perspectivas geradoras de futuro e singularmente endividada como a de Tomar, cujo défice crónico medra à média de 1,5 milhões de euros por mês, o clima de implacável austeridade que vai caracterizar 2012 e 2013 pode bem representar algo de insustentável. Sendo certo que alguns membros do executivo não conseguem sequer entender cabalmente a situação de certa forma caótica em que agem, por nítida falta de utensilhagem teórica e de ausência de vontade de a adquirir, outros há (um ou dois) que já perceberam o essencial: A autarquia está praticamente falida (tal como a Madeira) e portanto atada de pés e mãos. Segue-se que, quando e se perceberem que assim é, os habituais fornecedores e prestadores de serviços do município, antevendo que nunca poderão ser pagos em tempo razoável, passarão a trabalhar apenas com dinheiro à vista. Fatal como o destino! Sem consumíveis, sem fornecedores de serviços e sem funcionários motivados, que poderão fazer os integrantes da actual maioria coligada?
Acresce que, por herança sociológica que seria inadequado esmiuçar aqui, todos temos uma ou mesmo várias "costelas manuelinas": não ligamos às principais características de uma dada situação, mas adoramos empolar um ou outro detalhe. Veja-se o caso dos militares que em boa hora tiveram a coragem de desencadear um golpe que veio a culminar numa mudança de regime. Ao cabo de 12 anos de guerra em condições extraordinariamente difíceis e perigosas, os capitães não se agregaram para exigir reforços humanos ou materiais, para obter aumento do soldo ou sequer para reivindicar a abertura de negociações com o inimigo. Conluiaram-se tendo como único ponto de partida o caso dos "capitães espúrios", os milicianos que nunca tendo seguido o cursus normal da academia, estavam então a começar a ultrapassar os do quadro permanente na escala de promoções. O resultado é conhecido de todos.
Da mesma forma, é meu entendimento que daqui até ao lavar dos cestos, no final de 2013, algo de importante na área política terá de acontecer em Tomar. Sob pena de voltarmos a perder o comboio da história. Que só passa uma vez em cada estação...
1 comentário:
A maioria dos membros do executivo não parece preocupada com o endividamento monstruoso do município; suponho que devem estar a seguir a mesma linha de pensamento de Alberto João Jardim: assim como o Presidente do Gov. Reg. da Madeira acredita que os problemas de falta de liquidez do arquipélago serão resolvidos com uma ajudinha, de licitude duvidosa, por parte do Governo da República (que tem a mesma cor política), assim também os aludidos autarcas estarão à espera que Miguel Relvas use a influência que tem junto de Pedro Passos Coelho em benefício de Tomar.
É possível que eles pensem que conseguirão assim obter ajudas e soluções concebidas ad hoc para Tomar, vindas expressamente do Terreiro do Paço de uma forma mais ou menos nebulosa.
Todavia, talvez se enganem.
Nesta República, ainda há leis a cujo cumprimento não há como fugir.
E a troika aí está, sempre vigilante e atenta, e cada vez mais a determinar que se acabe de vez com os desmandos e desvarios orçamentais e financeiros praticados pelos autarcas.
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