quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A VERDADE SOBRE A DESTRUIÇÃO DA SAPATA

Vista parcial do conjunto Castelo/Convento de Cristo, a partir do satélite. Copiado do Googlemaps. O norte fica para baixo
Foto 1 - O local do incidente no passado domingo, 21/08/2011, no sentido sudeste-noroeste, entretanto a  árvore em primeiro plano já foi abatida.
Foto 2 - O mesmo local, na mesma data, no sentido este-oeste
Foto 3 - Sapata dos Paços do Infante, no sentido sudeste/noroeste
Foto 4 - Detalhe do lado direito da foto 2
Foto 5 - Outro aspecto do local, no sentido nascente-poente, em 21/08/2011
Foto 6 - O mesmo local, no sentido norte-sul, em 24/08/2011
Foto 7 - O mesmo local na mesma data e no mesmo sentido, vendo-se em cima parte da Torre de Menagem e da Alcáçova
A imprensa local a sair amanhã dá algum destaque ao grave atentado contra o património, cometido por culpa da autarquia, do IGESPAR, de quem fez e de quem aprovou o projecto da "Envolvente ao Convento de Cristo". Com efeito, tudo parece indicar que a ânsia de sacar fundos europeus obstou a que fossem tomadas elementares precauções prévias, como por exemplo sondagens e esclarecimentos sobre os locais a surribar. O desastre não tardou. E está bem documentado nas fotos supra, que serão comentadas mais adiante.
Confrontados com uma argolada de todo o tamanho, os senhores políticos locais e os senhores do IGESPAR, depois de terem debalde tentado atribuir culpas ao empreiteiro, recorreram ao estratagema usual. Como ignoravam completamente as características do local, foi para todos eles uma grande descoberta a  sapata entretanto destruída em parte, como se pode constatar do lado esquerdo das fotos 6 e 7. Daí à descarada negação da verdade, foi um passo. Têm assim os leitores duas versões  do mesmo caso. A inicial, difundida por este blogue, que se mantém integralmente, e a conveniente, a dos políticos e outros instalados, segundo a qual não houve qualquer destruição, mas uma importante descoberta, que naturalmente vai ser preservada.
Ensinaram-me, lá pelas Gálias, que a opinião é livre mas os factos são sagrados. Sucede que neste lamentável incidente de lesa-património não há espaço para duas verdades. Vejamos. A imagem de satélite permite aferir o local da destruição, em A, a sapata dos Paços do Infante, em B, a portaria do século XVII, em C, a enfermaria conventual, em D, a Charola em E e o limite poente da sapata ainda soterrada, em F. A partir destes dados, o leitor poderá constatar sem qualquer dificuldade, na foto 2, que já no domingo passado era evidente a destruição da parte mas a nascente da sapata ou alambor, à esquerda na foto. A foto 4 mostra bem o detalhe dessa destruição voluntária, que agora se pretende camuflar, com algum cinismo, reconheça-se.
As fotos 6 e 7, tiradas hoje, mostram que se intenta uma vez mais enganar os eleitores, iludindo-os com o anúncio de uma pretensa descoberta e da sua preservação, sendo evidente que o troço escavado a nascente já não poderá ser reconstituído e vai dar lugar a mais um inestético paredão de betão
Pretensa descoberta porquanto quem conhece realmente o Convento sabe bem que há um alambor do século XII, posteriormente soterrado, no século XVII, aquando da construção da enfermaria conventual, entre o dos Paços do Infante (foto 3) e o ponto F na vista de satélite. E sabe igualmente que até há importantes vestígios da muralha e de alguns cubelos, no subsolo do ex-Hospital Militar, escavado no século passado pelos militares, nomeadamente no ponto D, que tive a ocasião de visitar duas vezes, uma delas a convite do Dr. Duque Neves, na altura médico militar, que sabendo do meu interesse pelo assunto, teve a gentileza de me convidar. Aqui fica o registo, para que conste onde convier. A história tomarense não começou na semana passada. Nem nada que se pareça. Mesmo que isso incomode cada vez mais gente... 
Tendo em conta o que antecede, vir agora falar de "descoberta importante", como forma de tentar sacudir a água do capote, é de uma falta de vergonha que mostra bem o estado a que isto já chegou. Diziam os antigos que "A ignorância é atrevida". Convirá acrescentar "E pouco ou nada respeitadora da verdade e dos outros."
Ou como por aí constou a semana passada: Nove em cada dez tomarenses não gostam de trabalhar. O décimo detesta. Donde...começa a valer tudo, menos tirar olhos. 
Pobre terra! Tão bonita e tão maltratada por quem dela devia cuidar!

Post scriptum
Agradeço à LUSA a bondade de novo baptismo, com um nome semelhante ao de um conhecido apresentador/escritor português. José Rebelo dos Santos até era capaz de ser mais conveniente, mas ainda assim, se não se importam, continuo a preferir António Francisco Rebelo. É mais tomarense. Acho eu!

4 comentários:

Sigillum disse...

Excelente explicação.
Muito grata.

RUI GONÇALVES disse...

Gostei.
Usei fotos sua num artigo no nosso blog dos Cavaleiros. Quis publicar o artigo rapidamente e eram altas horas das amanhã para tentar um contacto. Esperamos ter a sua benção.
Grato

Unknown disse...

Pode usar sempre todo o material do blogue que entender, bastando indicar a origem. Boa sorte!

Cordialmente,

António Rebelo

RUI GONÇALVES disse...

Assim procedemos. Obrigado
Bem haja
Degraconis