ALERGIA AOS NOVOS TEMPOS

De uma coisa não podem ser acusados os eleitos locais do PSD  -a de  não estarem muito bem afinadinhos. Ainda há poucos dias, dois presidentes de junta juraram em público que, enquanto ocuparem os cargos, continuará a haver passeios comezaina/tintol/bailarico, à custa dos contribuintes. Esqueceram-se, cuido eu, de acrescentar uma frase condicional: Se houver dinheiro para isso.

Agora foi a vez do ilustre vice-presidente Carrão vir com a mesma música: "A aposta no  desporto é para continuar, apesar da crise".  Tal como os seus companheiros laranjas, esqueceu-se de acrescentar SE HOUVER DINHEIRO PARA ISSO.

A partir do montante por ele indicado -um milhão de euros anualmente gastos pela autarquia tomarense, com desporto e cultura- fiz umas contas de merceeiro à antiga (daqueles sempre com o lápis atrás da orelha), concluindo que, caso todos os municípios gastem proporcionalmente o mesmo montante anual, são 244 milhões de euros. Sem contar com as despesas do governo central. Temos de convir que é muita fruta. E de concordar que a argumentação do autarca Carrão e do mesmo tipo daquela que há anos atrás levou à construção dos estádios para o euro, que agora algumas autarquias até pretendem demolir. Aveiro, por exemplo.Provavelmente sem disso se dar conta, o vice-presidente Carrão incorreu em pelo menos dois erros monumentais, ao proferir as declarações acima reproduzidas. Por um lado, revelou uma evidente alergia aos novos tempos de austeridade, poupança, competência, modéstia, humildade, respeito pela realidade, tornando assim muito mais difícil e problemático o seu eventual futuro político. Com efeito, é muito provável que já em 2012 não haja cabimento para despesas com desporto, cultura e passeios. Quanto a 2013, se calhar nem para pagar atempadamente aos funcionários.Tudo indica que, seguindo directivas europeias, a partir de Janeiro próximo, o ministério das finanças atribuirá a cada município um "envelope global", correspondente a 90% das receitas arrecadas no concelho no ano anterior. Com essa verba cada autarquia fará o que muito bem entender, com apenas duas ressalvas: A - Empréstimos com aval o Estado, nem pensar; B - Em caso de insolvência, o município será colocado sob tutela, nomeando o governo um ou mais administradores, após a A.R. ter pronunciado a suspensão dos eleitos.Nestas condições, que são novas por estas paragens, bem podem os autarcas do PSD ou de outras formações continuar a pensar que o futuro será uma repetição do passado. O empreiteiro da Rua de Coimbra já abandonou a obra, por falta de pagamento atempado. Julgo poder pensar que o da Estrada do Convento, e sobretudo o da Levada, não tardarão a seguir o mesmo caminho. Acabada a obra da Nuno Álvares Pereira, logo veremos. Em qualquer caso, os tempos da fartura, do facilitismo e do deixa gastar, já foram. Agora exige-se rigor. Já não é sem tempo!