No meu entendimento, que vale o que vale, esta semana temos apenas dois temas para comentar: As declarações do vice-presidente Carlos Carrão e a entrevista do funcionário municipal e mordomo da Festa dos Tabuleiros, João Victal. Com o devido respeito por quem faz a comunicação social local, o resto basta-se. Não carece de mais abordagens. O leitor, porém, melhor ajuizará, como sempre acontece.
As informações prestadas à Rádio Hertz por Carlos Carrão são de incontestável interesse, ao revelarem mais alguns detalhes que permitem perceber melhor para onde vai o dinheiro dos nossos impostos: Um milhão e trezentos mil euros (260 mil contos!!!) anuais, só para a gestão corrente dos equipamentos desportivos da autarquia. Uma vez que os mesmos apenas facultam um retorno anual de 400 mil euros (80 mil contos), os impostos de todos nós garantem o restante = 900 mil euros (180 mil contos!!!) só para desporto.
Como muito bem diz o próprio autarca (ver ilustração supra) "As autarquias aproveitaram os fundos comunitários para construir um conjunto de equipamentos desportivos, mas hoje não há financiamento para o funcionamento das estruturas e daqui se explica o défice." Caso para perguntar o que levou os autarcas de então, por sinal praticamente os mesmos de hoje, a não equacionarem esse problema em tempo útil. Em vez disso, lançaram-se alegremente no Elefante Branco da Levada, outro sorvedoiro do dinheiro dos impostos de todos nós. Praticamente para nada.
Haveria, é certo, a possibilidade de os utentes arcarem com os custos reais, uma vez que se trata de actividades não essenciais, cuja oferta gratuita não se acha sequer constitucionalmente garantida. Por razões que se esqueceu de fundamentar, Carlos Carrão exclui liminarmente tal hipótese: "Os utilizadores não podem pagar o custo real". Mas podem pagar a água, o gás, a electricidade, os medicamentos, as portagens, as licenças, as taxas e os impostos, que são coisas básicas e praticamente obrigatórias?
Termina o ilustre autarca com uma nota que seria para rir, não fora a situação trágica em que cada vez mais nos encontramos: "Iremos procurar, dentro do possível, reduzir os gastos". Infelizmente para ele e para nós, esse seu voto de poupança, a fazer lembrar os alcoólicos, quando proclamam que "a partir de amanhã vou deixar de beber, mas entretanto venha mais um copo", chega demasiado atrasado. Agora já não se trata de economizar na medida do possível. Trata-se, isso sim, de administrar as verbas disponíveis, que serão cada vez menos, posto que recessão = menos actividade = menos retornos = menos impostos =menos transferências = menos despesas ou mais dívidas. Se houver quem forneça a crédito...
Entretanto, nas gritantes prioridades do concelho, tudo como dantes. Mercado? Na mesma. Bairro 1º de Maio? Na mesma. Ciganos? Na mesma. ParqT? Na mesma. Bairro da Senhora dos Anjos? Na mesma. Mercado abastecedor? Na mesma. Parque de Campismo? Na mesma. Burocracia municipal? Na mesma, com tendência para piorar. Limpeza urbana e rural? Cada vez pior. Dívidas a fornecedores? Cada vez mais. Défice autárquico? Cada vez mais elevado. Um projecto articulado para a cidade? Nem pensar em semelhante coisa!
Resumidamente, temos por conseguinte: Desporto 900 mil euros, subsídios a colectividades 300 mil euros, TUT 400 mil euros, segurança nos dois parques de estacionamento municipais 300 mil euros, Boletim municipal 280 mil euros, juros à ParqT 280 mil euros. Total 2 milhões 460 mil euros anuais = 492 mil contos. Crise?! Qual crise?!?
Tal como Carlos Carrão, puro produto exclusivo da educação e da vivência tomarenses, o mordomo João Victal insiste nas suas opiniões sobre a Festa dos Tabuleiros, em entrevista que pode ser lida no TEMPLÁRIO. De modo sucinto, essas posições são as seguintes: 1 - Cumpriu-se a tradição; 2 - Profissionalização nunca; 3 - Só é possível fazer a festa de quatro em quatro anos; 4 - A festa não deu prejuízo.
Como nenhum destes pontos assenta em quaisquer alicerces sólidos, o melhor será aguardar simplesmente que a inexorável evolução societal destrua um a um os pretensos óbices avançados por Victal, o que vai acontecer quase de certeza antes de 2015.
Não se trata de negar qualidade, honestidade nem dedicação ao trabalho de João Victal e de todos os que por amor a Tomar o secundaram. Tão pouco é questão de pretender inovar pelo simples prazer da mudança. Apenas se procura evitar que mais uma vez Tomar chegue ao futuro com demasiado atraso, como desde há décadas vem sucedendo. Mas isso já é outra história, para outras ocasiões e noutros locais. Para já, resta lembrar que também o futebol, o fado, as corridas de automóveis ou o atletismo foram durante muito tempo actividades amadoras. Até que se chegou à conclusão de que poderiam gerar milhões e milhões, alcançando ao mesmo tempo outros patamares, em termos de qualidade e de beleza. Os tempos da carolice já foram e os amadorismos provocam regra geral múltiplos problemas em todos os domínios. Como aconteceu uma vez mais durante a recente edição da festa. Convém pensar nisso, enquanto é tempo e na autarquia ainda há algum dinheiro...
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