EXPRESSO-Caderno Economia, 06/08/2011, página 10
A notícia caiu como uma bomba na habitual pasmaceira estival: Portugal vai ser obrigado pela conjuntura económica a abandonar o euro. Di-lo um conceituado economista americano, ex-maioral do FMI. E o estrondo foi de tal forma inusitado que o planeta informativo nacional ficou atordoado. Quase nenhum outro órgão de informação destacou o assunto.
Mas então, perguntará o leitor, em que se baseia o ilustre professor para afirmar assim com tanta certeza que estamos no fim da aventura europeia? Sobretudo no estado anémico do nosso aparelho produtivo e na assustadora dívida externa portuguesa, da ordem dos 230% do PIB, bem como no défice orçamental que rondará neste momento os 10%. O que o leva a uma raciocínio inatacável: "Portugal não vai aguentar as políticas do FMI, sem deixar o euro. Mas, se isso é inevitável, porquê esperar dois anos, que se adivinham de recessão profunda? Não percebo como é que o país conseguirá, em simultâneo, pagar a dívida e resistir a um programa de austeridade, imposto pelo FMI, que resultará em contracção económica e em deflação, o que aumentará o problema da dívida pública."
Sustentando que a nossa situação é pior do que a grega, prevê para os próximos seis meses a bancarrota de Atenas, seguindo-se o fim do euro em menos de dois anos: "Nunca vi nada assim! Os dias do euro estão contados. Na minha opinião, desaparecerá dentro de seis a doze meses. Pode levar mais algum tempo, mas será fatal."
O nó do problema (provavelmente perceptível só por economistas-macro) reside nos inevitáveis reembolsos obrigatórios, coincidentes com um período de acentuada recessão (que já atingiu 9% na Grécia, nos últimos 18 meses), tornando impossível qualquer excedente primário (antes do pagamento de juros), sem o qual obviamente os obrigatórios juros+reembolsos só poderão ser saldados recorrendo a novos empréstimos. Pagar dívida com mais dívida. Uma variante da "pirâmide de Ponzi", ou de Dª Branca...
Vamos ter, por conseguinte, mais tarde ou mais cedo, um regresso ao escudo, às desvalorizações competitivas, aos generosos aumentos para iludir os salariados, logo anulados pela inflação galopante. Os saudosistas terão ganho a partida. E ficarão muito satisfeitos até (e se) perceberem o logro.
E em Tomar? Como vai ser?
Na orgulhosa capital nabantina -que não é capital nem tem qualquer motivo para estar orgulhosa- a coisa está tão ou mais preta do que a nível nacional. Sobretudo durante os mandatos de António Paiva e agora com os seus herdeiros, tornou-se habitual empolar consideravelmente os orçamentos municipais, pretextando ser uma maneira habilidosa de "cabimentar" candidaturas vultuosas a fundos europeus. Temos tido assim, praticamente sem protestos da oposição, receitas orçamentadas da ordem dos 70 milhões de euros, que no final do ano não chegam a atingir sequer metade. O que os senhores autarcas nunca esclareceram é que tal prática, do domínio da chamada "contabilidade criativa", tem permitido também camuflar tant bien que mal uma realidade alarmante: as receitas efectivamente arrecadadas pela câmara municipal, exceptuando o FEF, não chegam sequer para pagar ao pessoal da autarquia. Dado que o governo será forçado a reduzir cada vez mais as transferências, o tal FEF, não se vislumbra onde irá o município conseguir recursos para constituir um excedente primário, sem o qual nunca poderá haver pagamento da dívida galopante (cerca de + 2 milhões por mês), a não ser com o tal método "pagar dívida com mais dívida". A tal prática que levou Madoff e Dª Branca para trás das grades, com cama e mesa e roupa lavada à custa dos papalvos.
Se os membros do actual executivo fossem pelo menos sofríveis em economia política e se, por outro lado, salvo algumas excepções, tivessem fora da política profissões de remuneração equivalente à que auferem na autarquia, de certeza que já há muito teriam renunciado, entregando aliviados a incómoda encomenda aos vencedores de novas eleições. Mas assim... são tipo pilhas Duracell "e duram, e duram, e duram!"
1 comentário:
Onde é que está a novidade?
Um conceituado economista PORTUGUÊS,João Ferreira do Amaral,já teorizou,detalhadamente,há mais de um mês,sobre a inevitabilidade da saída do euro e de a mesma dever ser preparada atempadamente,desde já,antes de termos de o fazer já com "as calças na mão".
Como a opinião vinha de um verdadeiro independente de esquerda,português e não "estranja",foi olhado de soslaio e com desprezo.
O blog "Ladrão de Bicicletas", onde pontificam economistas como Castro Caldas e João Rodrigues, tem promovido um largo debate sobre a situação económica e financeira do país.
Infelizmente ignorado e silenciado pelos "media", integralmente dominados por grupos económicos,que apenas dão voz aos habituais "gurus" que dominam o comentário político/económico e vão modelando/deformando as cabeças do pouco esclarecido e informado cidadão comum:
- o beato João César das Neves;
- os cavaquistas Vitor Bento e João Duque;
- o inefável e polivalente Marcelo Rebelo de Sousa.
Trata-se de uma verdadeira central de intoxicação num país ainda fortemente influenciado por quase 50 anos de ditadura e obscurantismo.
Agora,à pressa,é vê-los,quase todos,incluindo o Sr. Aníbal,a vir zurzir sobre os mercados (leia-se agências de rating americanas)que ontem endeusavam e defendiam.
É ouvir o João Duque,ontem,a reboque do "conceituado economista americano",dizer que tudo o que ele prevê será inevitável se...se...se...
Não sei o que virá a seguir mas são evidentes os sinais que podem conduzir à implosão do sistema capitalista,tal qual existe.
Parece só faltar saber como tudo se passará, onde começará o "rebentamento" - EUA ou União Europeia,qual a sequência.
E o que acontecerá à China e ao resto do mundo?
Aconteça o que acontecer,alguém tem dúvidas de que estamos na antecâmara de rupturas brutais e de consequências imprevisíveis?
As contradições do liberalismo e do neo-liberalismo entraram numa espiral de auto-destruiçao.
Os problemas do mundo não são os interesses dos poucos milhares de bilionários que se apropriaram de todos os poderes.São antes os de centenas de milhões de milhões que tudo produzem e pouco ou nada têem.
Perguntar-se-á: e o que é que isto tem a ver com Tomar?
Eu tenho a minha opinião.
Cada um que pense e responda...
Porque é disso que precisamos - que os tomarenses pensem e respondam.
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