quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Espectacular é que é bom!


Espectacular é que é bom! O resto que se lixe. Na Levada, ainda o Elefante Branco não está concluído e já começa a dar chatices aos tomarenses. Interrompeu-se o trânsito durante um dia inteiro e instalou-se um dos maiores camiões-grua que existem no mercado, tudo para descarregar e instalar uma dúzia de asnas metálicas e respectivo travamento na velha central eléctrica. Como é costume, houve muito público a assistir. A pergunta que se impõe é esta: Não teria sido possível usar uma grua mais pequena, instalada em cima da ponte, e dividir a tarefa em duas, descarregando primeiro as asnas e o restante material, e instalando tudo depois? Podia, claro! Mas teria sido muito mais simples e portanto menos espectacular. E que diabo! A empreitada custa 6 milhões! É preciso que os eleitores tenham consciência disso! Dividindo o trabalho, a Levada acabaria por estar fechada ao trânsito só durante duas ou três horas, o que levaria os transeuntes e os automobilistas a pensar que no fim de contas aquelas obras, se calhar, já estariam bem pagas por menos de metade. Ignorantes, claro! Tudo aquilo é muito complexo e assaz demorado, exigindo técnicos e técnicas na vanguarda da inovação. Tudo espectacular, para fazer de conta. Pois...
A outra foto dá-nos o exemplo inverso. Aquela indicação devia dar nas vistas, ser espectacular em suma, mas não. É discreta e inadequada. Discreta porque letras brancas ou pretas em fundo azul estão longe de ser a escolha mais "legível" para os presuntivos destinatários. Inadequada porque, feito em cartão, o pequeno painel dificilmente resistirá às chuvadas invernais.  Inadequada também, porque num país onde nem a sua população escolar domina o suficiente a sua língua materna, teria sido muito mais simples pôr lá a silhueta de uma pessoa, em vez daquele pretencioso "acesso pedestre". Como é que disse? Acesso pedestre?!? Que é isso? Não seria melhor "Convento de Cristo - peões", com a tal silhueta? Demasiado simples, não era? Assim, além dos muitos portugueses que ficarão a ver navios por ignorarem o que significará "acesso pedestre", os estrangeiros vão ficar contentíssimos, uma vez que lêem e percebem perfeitamente a língua que já foi de Camões e de Pessoa. Os portugueses é que nem tanto.
Quando é que deixaremos, nesta terra que já foi templária, de andar a caminhar ao lado dos sapatos, sem disso nos darmos conta?

2 comentários:

joana disse...

Se é na divergência de opinião, na multiplicidade de ideias, na disparidade de interpretação, em suma: “da discussão nasce a luz” que a coisa pode ter qualquer piada e, também, de alguma maneira contribuir para o agitar do denso marasmo em que estamos atulhados, meu caro amigo (desculpe tratá-lo assim, mais sendo (eu) mulher…) queira ouvir-me se assim o entender – porque o espaço é seu e poderá arrazoar: quem quiser tocar que compre o instrumento – , este seu lápis censor e inibidor do botafaladura a cada um como apetece, veio transformar este pequeno postigo, num mínguo, desencantado e asfixiante buraco!...
Poderá, como ao verbo vem mostrando, estar a seu agrado, satisfazer o seu ego do tamanho da Charola do Convento de que tanto diz saber, conhecer e divulgar mas…mas, não passará disso!
Está, tal qual, como se o meu querido amigo fosse empoleirar-se no alto do Aqueduto dos Pegões, bradasse aos ventos do vale em frente, e, do lado de lá, respondia uníssono o seu
eco ; o meu querido e preocupado homem de Tomar regressava satisfeito, mentalmente saciado, sentava-se em frente ao espelho quando a casa chegado, e, satisfeito desvanecia: TÓ o povo está contigo! Como anseias, em breve, estarás transformado no que (em silêncio…) angustiosamente cobiças!
Desculpe a anedota, mas com franqueza: a coisa assim não tem piada nenhuma!
Saudações cordiais e um abraço em prol da discussão e divergência de opinião naquele que já tendo sido postigo ou, vá lá pequena janelita, está a transformar-se num buraco escuro de breu, nem debatido, nem espairecido.

(Quanto ao convencionado papiro, deixe-me segredar-lhe ao ouvido, naturalmente será a anedota de verão! Numa terra que, à evidência, é toda ela já uma laracha, alimentadora dos mais dispares dichotes e chalaças, será mais uma, proveniente de sábias cabeças, ricas em fantasia e com pés nos anjos!)

joana

Anónimo disse...

Obrigado pela sua opinião, que respeito, mas da qual divirjo. Não recuso a ideia de mais lá para diante poder regressar ao modelo anterior. Por enquanto, porém, ficamos assim. Dá-me muito menos trabalho ingrato e aqui o escritório já não necessita de desodorizante hiperactivo.
Num país cujo jornal com maior tiragem é um desportivo (A Bola), logo seguido por um de estilo tabloid (Correio da Manhã, é natural que as pessoas gostem de textos vicentinos ou rabelaisianos. Eu é que tenho coisas mais interessantes a fazer do que perder tempo a enviá-los para o classificador redondo. Além de que convém usar tanto quanto possível os mesmos parâmetros da informação sobre papel, para não prejudicar os semanários locais, cuja situação, como decerto sabe, já conheceu melhores tempos.
Nada tenho a dizer sobre aquilo que pensa de mim -designadamente a dimensão do meu ego. Já quanto aos meus hipotéticos conhecimentos sobre a Charola e o Convento, reparou de certo que nunca falo de tal coisa. As pessoas (algumas) é que insistem em pôr esses boatos a circular. Não faça caso!

Cordialmente,

António Rebelo