sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Bairro 1º de Maio - Uma pequena aldeia numa aldeia maior

Construído no final da primeira metade do século passado, como "Bairro para famílias pobres", o actual Bairro 1º de Maio é por assim dizer uma pequena aldeia no seio de outra um pouco maior...
Denominado Bairro Salazar, foi rebaptizado logo a seguir ao 25 de Abril, numa prática que já era conhecida no antigo Egipto, há mais de quatro mil anos: quando falecia um faraó, o sucessor mandava imediatamente substituir todos os emblemas do anterior.
Bairro 1º de Maio, portanto, desde 1974 e graças aos bravos militares de Abril. Bairro para pobres e  operários, mas nalguns casos com ar condicionado, como mostra a fotografia. Já Maurice Thorez, secretário-geral do Partido Comunista Francês logo a seguir à segunda guerra mundial, proclamava que "nada é demasiado bom para a classe operária", quando lhe apontavam a contradição de andar num belíssimo automóvel com motorista, sendo o dirigente máximo de um partido de trabalhadores.
Aqui temos, graças à preciosa colaboração do conterrâneo e grande artista marceneiro Abel da Silva Vieira, que publicamente se agradece, a lista completa dos primeiros habitantes do bairro. Foi publicada  no CIDADE DE TOMAR de 23 de Outubro de 1949, com a devida autorização, que o regime da época não era para brincadeiras. Como se pode constatar, só polícias eram sete, mas também havia um fabricante...e até um professor de trabalhos manuais da então Escola Industrial e Comercial Jácome Ratton.  (Os então "mestres" ainda não tinham sido equiparados aos outros docentes, como agora veio a acontecer depois do 25 de Abril) .Em muitos casos, os actuais moradores são os descendentes daqueles primeiros ocupantes, dando razão àqueles sociólogos que dizem ser a pobreza ao mesmo tempo a falta de recursos, um estigma social e uma mentalidade...
E aqui temos a fachada do nº 7 da Rua de Santo António, onde habita o mais recente morador do bairro - O nosso conterrâneo José Carlos Sousa, ex-ocupante das retretes de S. Gregório, realojado pelos serviços sociais da autarquia, após muita pressão da opinião pública. 
A fachada já se encontra devidamente decorada à sua moda, tal como acontecia junto à Capela de S. Gregório, mas o próprio mostrou o quintal, limpo de ervas mas, tal como toda a casa, bem recheado de objectos vários recolhidos nos contentores da cidade. As guerras africanas foram uma desgraça para muitos...
Logo à entrada, em sinal de reconhecimento a todos os que contribuíram para a melhoria das suas condições de alojamento, um altar rudimentar e até uma bíblia. Tudo recolhido no lixo doméstico da cidade...

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