quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Principais temas da semana

 A crise política nabantina é naturalmente o principal assunto da semana, ao qual CIDADE DE TOMAR consagra 3 páginas e parte da capa, particularmente apelativa. O semanário da Praça da República cinge-se aos factos, não fornecendo qualquer análise ou opinião sobre a ruptura do acordo bi-partidário que agora acabou..
Também o tornado de há um ano ocupa várias páginas, em geral para lamentar que auxílios então prometidos ainda não tenham sido entregues.
Outro tema quente é a agitação que vai pela irmandade da Misericórdia, com os irmãos João Baptista, Luís Salazar e Sérgio Martins a informar que tencionam impugnar as eleições marcadas para o próximo dia 15 de Dezembro, por considerarem que não são justas nem livres.

N'O TEMPLÁRIO a manchete é também sobre a crise política local, com os títulos a denotar, quiçá involuntariamente, alguma esperança e boa vontade. Informar que "Carrão lidera por 12 dias" ou que "PSD governa em minoria" tem algo de abuso de linguagem, sobretudo em relação a esta última. Se nem coligados conseguiram governar capazmente durante mais de dois anos, agora em minoria é que vão começar a governar? Tenho as minhas dúvidas. Tanto mais que, como bem demonstraram na recente Assembleia Municipal, PS e IpT não parecem dispostos a tolerar certas práticas autistas da relativa maioria. E como há cada vez mais dossiers escaldantes...
Para quem aprecie textos satíricos, recomenda-se a leitura da página 18: "O nosso triste fado autárquico". Por ser um estilo muito raro por estas bandas, pareceu-me extremamente saboroso.

O MIRANTE não foge à regra e trata também com algum relevo o actual momento político tomarense, conquanto o título de primeira página não seja dos mais felizes. Na verdade, a coligação acabou com  os parceiros a agredirem-se oralmente, e não por consentimento mútuo. Mas o principal interesse do semanário editado na Chamusca reside nas habituais crónicas "Última página", "Cavaleiro Andante", "Mirante Cor de Rosa", "Cartoon da notícia" e "Emails do outro mundo", todas total ou parcialmente dedicadas a Tomar e, salvo a primeira, aos seus políticos. O que mostra bem que no domínio do patusco estamos bastante bem servidos. Valha-nos isso, pois quanto ao resto...

Destrava-línguas e ilusões

Use a sua principal arma política! Vote! Aqui » » » » » » » »

O repentino agudizar da crise política local, para além de constituir um sempre benéfico safanão na rotina, já evidenciou uma vantagem: destravou a veia crítica de alguns intervenientes. Um deles apresenta um balanço sucinto da contabilidade autárquica. O outro alarga-se em opiniões, das quais se destaca a sua oposição a eleições intercalares. Deixemos desta vez a questão dos números. Fixemo-nos na repentina e inusitada crise política tomarense, cujas causas são por demais conhecidas.
Como é sabido e bem disse o poeta espanhol Miguel Herdandez, "o futuro é o único sítio para onde podemos ir". Por outras palavras, não adianta tentar travar o tempo, que ele não se compadece com infantilidades ou patetices. Donde resulta que, no estado actual do charco político nabantino, não é difícil perspectivar as várias hipóteses: A - Arrastar as coisas, engonhar, queimar tempo, para que tudo continue mais ou menos na mesma até Outubro de 2013; B - Tentar governar em minoria, graças à abstenção de pelo menos uma das componentes oposicionistas; C - Governar com maioria caso a caso; D - Negociar um executivo de unidade local; E - Renunciar e convocar eleições intercalares.
A primeira hipótese, se for tentada, terá vida breve, uma vez que depende quase inteiramente da passividade da oposição. Com uma urgentíssima e indispensável revisão orçamental a aprovar na AM e o orçamento para 2012 a debater no executivo, nunca chegará a meados de 2012, por falta de "combustível", quanto mais  até Outubro de 2013. A segunda possibilidade padece da mesma debilidade temporal. Poderá durar um mês ou dois, caso a oposição se deixe "adormecer" mediante contrapartidas, mas nunca até finais de 2013. Governar em minoria caso a caso, exige um esforço negocial constante, bem como uma destreza política que a relativa maioria laranja nunca demonstrou até agora. Negociar um executivo de unidade local poderia ser a melhor solução para Tomar, caso houvesse disponibilidade de parte a parte. Infelizmente não há. O PSD nunca praticou o diálogo com os seus parceiros de coligação, apesar de ter subscrito um documento onde se compromete nesse sentido; o PS não teria denunciado o acordo, se estivesse interessado em continuar coligado com a relativa maioria, com todos os inconvenientes daí resultantes; os IpT não negoceiam com o PS nem querem comprometer-se, seja de que forma for, com as numerosas "alhadas" que a maioria relativa tem pela frente e às quais se não pode eximir.
Por conseguinte, tendo também em consideração que o executivo está impossibilitado de governar durante muito tempo em regime de duodécimos, dada a sua dramática situação perante os fornecedores, a hipótese de eleições intercalares aparece no estado actual das coisas como a menos má de todas. Diria até a única realmente viável até às autárquicas de Outubro de 2013. 
E que ninguém venha com quimeras ou com desculpas de circunstância. É dispendiosa uma eleição local? Pois é! E então? Acaba-se com a democracia porque é cara? Não vale a pena convocar eleições intercalares, porque ano e meio mais tarde haverá novas eleições? Não brinquem com coisas sérias! Seguindo semelhante raciocínio, também não valeria a pena celebrar este Natal, uma vez que para o ano há outro e assim sucessivamente. O mesmo se diga, aliás, de qualquer outra actividade humana: almoçar, tomar banho, ir de férias, acasalar...
Quando será que os nabantinos se habituam a encarar as coisas como elas são realmente e a agir em consequência, em vez de insistirem em fantasias pessoais sem qualquer base sociológica?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...





As cinco fotos acima, obtidas esta manhã, narram uma história cujo cabal entendimento exige um preâmbulo. Antes porém, perdoe a insistência. Já votou aqui do lado direito? Já incitou os seus amigos a votar? Bem haja!

Nos idos de 60 do século passado, havia na Mata Nacional dos 7 Montes 16 funcionários e um parque infantil com uma funcionária municipal. Havia baloiços, escorrega e cavalinhos. Havia um quiosque a vender bebidas e um armário biblioteca aos dispôr das crianças e dos respectivos acompanhantes. Já depois do 25  de Abril, acharam que o equipamento até aí existente estava ultrapassado, tendo procedido à sua substituição por coisas mais radicais. Manteve-se o quiosque, mas fechado e a mini-biblioteca deixou de estar acessível.
Numa terceira fase, desmantelaram o Parque Infantil, alegando que havia o municipal, junto ao agora ex-estádio, com mais e melhor equipamento.
E chegamos à dita história, que é mais uma historieta. Numa Mata Nacional gerida pelo Instituto de Conservação da Natureza, através do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, o Município de Tomar, que não tem dado conta do recado no que concerne às suas normais atribuições, decidiu investir em obras de vulto. Já tínhamos as novas instalações sanitárias, com recepção e manutenção diária, o muito publicitado percurso pedonal requalificado e o arranjo da casa do guarda. Pois agora temos também uma estranha e decerto onerosa estrutura, com reprodução da Janela do Capítulo e tudo, para divertimento da petizada. Para além do gosto duvidoso, da oportunidade muito contestável e da prioridade inexistente, duas perguntas se impõem: Qual o interesse de um município praticamente falido em continuar a fazer filhos em mulher alheia? Haverá previsão de retorno por baixo da mesa?
À mulher de César, não lhe basta ser séria; tem de parecê-lo, tanto mais que -como disse um dia o Botas de Santa Comba- em política, o que parece é!

Incúria, desmazelo, incapacidade...

Foto 1
Foto 2


Foto 3
Foto 4

Foto 5

O leitor que me desculpe a insistência, mas é por uma boa causa. Já votou na consulta pública, do lado direito destas linhas? Já incitou os seus amigos e conhecidos a fazerem o mesmo? Bem haja pela sua participação.
Como vimos nos dois escritos anteriores, há em Tomar, apesar da crise e das avultadas dívidas, que ninguém sabe com hão-de ser pagas, mas que terão de o ser, uma evidente estragação de recursos, nomeadamente em energia eléctrica, parte da qual é importada. Todavia, além desse imoral esbanjamento, assistimos também, incomodados, à praticamente total incapacidade da autarquia para assegurar a manutenção do seu/nosso património. Mesmo quando se trata de pequenas reparações, de poucas dezenas ou centenas de euros.
As ilustrações supra mostram alguns aspectos lamentáveis dessa inépcia local. A fazer lembrar algumas prendadas criaturas, cuja cuidada maquilhagem esconde uma usual falta de higiene. A foto 1 mostra a janela lateral da capela do cemitério velho, sem vidros há mais de dez anos. O interior da capela está no estado que se vê na foto 2, há pelo menos vinte anos. Trata-se portanto de verdete que já merece ser classificado como património municipal.
Provavelmente, os senhores autarcas, com a sua proverbial capacidade de raciocínio (salvo erro...) já concluiram que como os falecidos não votam, "não vale a pena gastar cera com defuntos". Estão enganados! Os que já nos deixaram não votam, mas os seus descendentes e amigos não perdoam.
As fotos 3 e 4 documentam o estado em que estão as paredes interiores da Sinagoga, património municipal. Atacadas pelo salitre, não têm quem as proteja e mande reparar. Nem a proprietária, nem a recém criada liga de amigos. Até quando semelhante falta de dignidade, num monumento visitado anualmente por perto de 20 mil turistas?
A quinta e última foto é da Capela de S. Gregório, que os leitores conhecem bem, nomeadamente de protestos anteriores, que possibilitaram o realojamento do nosso infeliz conterrâneo José Carlos Sousa, vítima da guerra. Após o que a autarquia mandou entaipar os sanitários e instalar aquelas talhas. O pior é que não cuidaram de reparar algo que o próprio ocupante ilegal denunciou bastas vezes -quando chove, aquilo transforma-se num vasto lamaçal, porque o sumidouro está entupido. Resultado: quando há umas bátegas assim mais fortes, peões e automobilistas têm de transpôr mais uma inopinada piscina. E quando faz sol, faz também pena olhar para o estado de evidente desmazelo de tudo aquilo, a começar pelo lixo que se vai acumulando em plena calçada. A lembrar aos eleitores mais dados à meditação que não compensa ter uma autarquia que nos custa tão caro mas faz tão pouco. E daí à abstenção...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Orgia luminosa -2- Paisagens urbanas

 Salta aos olhos o charme discreto e a rusticidade deste trilho a norte da Ponte Nova. Não tem saída nem é limpo há muitos meses, mas está devidamente iluminado. Dada a falta de WC, é mesmo o sítio ideal para umas mijas urgentes. Ou algo mais sentimental... Vivó progresso! Vivam os fundos europeus!

 E esta obra de arte, este elogio ao betão? Sem a muito oportuna iluminação, lá se perdia a visão de uma obra-prima. Ou será apenas sobrinha dos tios de Bruxelas?

Muito útil também esta profusa iluminação da via central do cemitério velho. Não só para os crisântemos, mas sobretudo para os defuntos, que assim podem aproveitar as noites para se irem formando e informando a ler. Quando chegar a minha vez, quero que me tragam para aqui, onde poderei dedicar-me às leituras nocturnas sem ter de pagar à EDP. Finalmente! 

Com as noites quentes tão habituais nesta época do ano, de tal forma que até a água do Nabão deita fumo, não há nada mais adequado que estes repuxos, cada um com o seu projector privativo, para dar uma ideia de frescura...  Só falta o habitual conjunto central a mudar de cor, que já deve estar avariado... Azares!

 E esta hein?! Será da minha vista, ou aqui aqui luzes a mais?

Como se vê, compensa exagerar um bocadinho na iluminação da Praça da República. Tanto os residentes como os forasteiros são aos magotes nesta altura do ano e quem quem lucra são os comerciantes, para compensar as taxas e impostos mais elevados da região. Gente rica é outra coisa!

Na envolvência da manuelina Capela de S. Gregório, se não me engano, avulta um painel publicitário muito mal colocado, pontos de luz mal regulados e evidente falta de limpeza. Tudo à ilharga do Hotel dos Templários, onde se aloja grande parte do turismo de elite, tão do agrado de António Paiva e dos seus discípulos. Uma péssima imagem. Ou estarei a ver mal, apesar da abundante iluminação?

Orgia luminosa - 1 - Monumentos






Vá lá! Antes de prosseguir, tenha a bondade de votar, na consulta pública aqui do lado direito do ecrã. Já votou? Então incite os seus amigos e/ou colegas de trabalho a votar também. Bem haja!


Abundam em Tomar e tendem ainda assim a aumentar os aspectos chocantes. Que vão dos sem abrigo aos "acampados do Flecheiro" e do evidente desleixo à falta de uma orientação. Alguns passam até despercebidos, pois o ser humano é assim -com o tempo habitua-se praticamente a tudo.
Como é agora do domínio público, causando a irritação dos senhores camaristas, a autarquia está atascada em dívidas. Só as de curto prazo -que nenhum eleito faz ideia como liquidar- vão já nos 19,5 milhões de euros = 3,9 milhões de contos = 3.900.000.000 escudos!
Pois mesmo assim, a relativa maioria, em vez de procurar poupar, só não estraga mais porque não pode. No domínio da iluminação pública, por exemplo, é uma autêntica orgia, como mostram as fotos obtidas a noite passada. É sabido que deve haver iluminação, tanto por razões de segurança como de conforto. Mas o que é demais parece mal. Mesmo aceitando-se que o Castelo dos Templários e a Igreja de S. João estejam iluminados à noite para agradar aos eventuais visitantes, qual a utilidade dos projectores acesos em Santa Maria dos Olivais e, sobretudo, debaixo das duas pontes? Será para os cada vez menos peixes do Nabão poderem estudar à noite? Não seria melhor mandar desligar, pelo menos no Inverno? Com a poupança assim conseguida até podiam mandar afinar de novo a iluminação do castelo, que está uma vergonha, a denotar desmazelo. Em matéria de turismo e de promoção, as coisas ou se fazem com a melhor qualidade possível, ou mais vale estar quedo, para não causar má impressão.

domingo, 27 de novembro de 2011

Cada vez pior...


 Alcobaça antes dos Fundos europeus
Alcobaça após os Fundos europeus


 Batalha antes de 1974
Batalha após 1978
 Convento de Cristo antes dos Fundos europeus
Convento de Cristo após os fundos europeus

É uso dizer-se, mais vale uma boa imagem que mil palavras. Pois aqui temos não uma mas sete fotos, documentando a tendência geral: afastar o trânsito e o estacionamento dos principais monumentos. Já foi feito em Alcobaça, na Batalha, nos Jerónimos, em Mafra... Só em Tomar é que quanto mais dinheiro europeu se espatifa, pior ficamos. Não lembrava a ninguém, pensava-se, mas lembrou à actual gerência autárquica. Enquanto se vão queixando de que os turistas visitam o Convento mas muitos não vêm cá abaixo, resolveram instalar mais dois parques de estacionamento lá em cima. Um para 24 ligeiros, a meia encosta, outro para nove autocarros, encostado à fachada norte do Convento de Cristo. É como quem tenta apagar um incêndio com gasolina. Valha-nos Nª Srª d'Agrela, que não há santa como ela!!!

Mandar os turistas dar uma volta...


Seja um bom tomarense. Participe na vida política da sua terra. Honre a sua cidadania. Antes de continuar a leitura, vote na consulta à direita do ecrã e/ou diga aos seus amigos para votarem. Só com a ajuda de todos vamos conseguir sair do charco.


Pelo caminho que as coisas levam, durante os próximos anos o turismo será uma das nossas principais exportações, das quais precisamos como de pão para a boca. Que não haja ilusões porém, a indústria turística é muito particular, uma vez que exportações = importação de turistas, importações = saída em turismo de cidadãos residentes. Os profissionais usam terminologia inglesa: turismo income para as exportações, turismo outgoing para as importações.
De qualquer modo, é do senso comum, fazendo parte da educação e boas maneiras, a tradicional hospitalidade portuguesa. Por isso, caiu mal entre os tomarenses quando António Paiva resolveu arranjar um pretexto para encerrar o parque de campismo, tendo como objectivo real afastar o por ele designado "turismo de pé descalço". E fez escola. Anos após ter abandonado a autarquia, as suas directrizes continuam a ser religiosamente seguidas, com os resultados que todos conhecemos.
No caso da ligação entre a cidade e o Convento, a autarquia tem feito grande promoção do "novo" percurso pedonal pela Mata dos 7 montes. Se o projecto de recuperação do dito caminho tem sido feito por ou com a assistência técnicas de tomarenses conhecedores da sua terra, o percurso seria o indicado pelo tracejado na foto supra, com entrada no Castelo dos Templários pela Porta da Almedina ou do Sangue, que foi durante quatro séculos a principal entrada na povoação nabantina. Como tal não aconteceu e o IGESPAR, agora já defunto, nunca decidiu manter aberta a porta da Torre da Condessa, os infelizes visitantes percorrem o longo caminho a vermelho, entre A, à direita, e B, ao centro, em cima. Após a visita, saem em X, à esquerda. Se tiveram a boa ideia de perguntar o melhor caminho para o regresso à cidade, vão indicar-lhes a calçada de S. Tiago. Uma vez de novo na parte antiga da urbe, concluem que foram enganados. Que os mandaram dar uma"ganda" volta. E ficam naturalmente mal impressionados.
Mas os senhores autarcas que vamos tendo continuam a garantir que o futuro de Tomar reside no desenvolvimento da sua vocação turística. Pelos jeitos, desde que os turistas não andem a pé, porque esses, coitados...

Mancebia à antiga e herança inassumível

Assinatura do enlace - Foto Rádio Hertz

Faça o favor de votar, aqui do lado direito do ecrã, antes de começar a ler o que segue. Recomende aos seus amigos que votem também. As aparências iludem. Apesar da anunciada ruptura, continua tudo como dantes. Desgraças só em Abrantes. Vamos todos fazer os possíveis para regenerar Tomar, a nossa terra bem amada.

A foto não engana. Foi uma união de papel assinado e tudo. Mas ainda assim uma mancebia à moda antiga. A noiva toda convencida que ia viver um quotidiano de diálogo e de partilha; o futuro "chefe de família" já sabedor de que quem paga é que manda e o resto é música. Durou 25 meses, com a manceba socialista visivelmente incomodada desde o início, todavia sem aparentemente ter em conta o tradicional rifão "quando a esmola é grande, o santo desconfia". Neste caso, a esmola demasiado generosa visava obter muletas para poder carregar uma herança inassumível -as sucessivas e nunca resolvidas rapaziadas de António Paiva. Uma delas de tal calibre que nem mesmo os seus apaniguados de então se querem arriscar a assumi-la sozinhos.
Trata-se, claro está, do intrincado processo ParqT. Tão opaco e complicado que acaba de provocar a ruptura da mancebia PSD/PS. Apesar de já ter havido entretanto pelo menos uma reunião sigilosa, com a presença de todo o executivo. O que significa que, além dos social-democratas, pelo menos os vereadores socialistas e os IpT já conhecem o cheiro do perfume. Só que deve ser tão incomodativo que decidiram seguir o exemplo dos três laranjas -moita carrasco, que o eleitorado não tem nada que meter o nariz nestas coisas, só para gente crescida.
Vai daí, embalado por tal prova de compadrio e tácito apoio, a relativa e transitória maioria deliberou como habitualmente -colocou os da mancebia e os IpT perante o facto consumado. Ou votam a favor, ou contra, ou abstêm-se. Assim do tipo ou vai ou racha. Logo no executivo, os socialistas engelharam o nariz e resolveram abster-se, que o assunto é demasiado melindroso. Já os IpT não estiveram para meias tintas: votaram contra, o que neles não é muito habitual.
Face à intransigência do "chefe de família", totalmente alérgico ao diálogo frutuoso, na Assembleia Municipal foi o que se viu e que os laranjas julgavam impossível -toda a oposição votou unida, tendo rejeitado a inclusão do imbróglio com a ParqT na revisão orçamental. Estupefacção nas hostes laranjas, ameaças, e o PS disparou primeiro. Anunciou o fim da mancebia, era já mais de meia-noite quando o passarinho cantou.
Tudo resolvido, portanto? Nem coisa parecida! Por um lado o manhoso caso ParqT continua por explicar aos tomarenses, sem o que persistirá um trauma profundo, susceptível de vir a provocar outros dramas. Porque o assunto é extremamente sensível. Quem aprovou a adjudicação inicial com a Bragaparques? Houve  prévio concurso público? Quais foram os concorrentes vencidos? Quem foi o júri do concurso? Em que se baseou para escolher o vencedor? Quem votou favoravelmente a deliberação para a construção do parque de estacionamento do ex-estádio, que foi depois o argumento utilizado pela Bragaparques para alegar ruptura do acordo? Porque não se tentou um acordo extra-judicial? O que levou Corvêlo de Sousa a nunca responder a uma proposta de negociação de base zero? Qual a fundamentação da actual posição de aceitação da irreversibilidade da decisão arbitral?
Mais cedo ou mais tarde, todas estas perguntas e algumas outras terão de ser respondidas publicamente, para tranquilidade do microcosmo político nabantino. Caso assim não seja, quando menos se espere haverá derrocadas inopinadas, mesmo nas coligações aparentemente mais sólidas. Entretanto a vida continua. Nova coligação PSD/PS? Executivo de salvação local? Eleições intercalares só para a Câmara e para a Assembleia Municipal? Imobilismo total, até ver em que param as modas? Nesta amada terra, infelizmente tudo é possível. Para desgraça nossa e gáudio dos nossos vizinhos dos outros concelhos.

sábado, 26 de novembro de 2011

Realidade virtual



Já votou, na consulta à opinião pública, à direita do ecrã?

Num recente evento para empresários da região, organizado pela NERSANT no Hotel dos Templários, compareceu o Secretário de Estado adjunto do Primeiro-Ministro, Carlos Moedas, acolhido pelo vice-presidente Carlos Carrão. No uso da palavra, o eleito tomarense debitou as habituais frases de circunstância:"É bom que haja articulação entre as autarquias e o mundo empresarial. Vivemos dias difíceis e Tomar não foge à regra. Estamos numa situação complicada, conforme demonstram as inúmeras insolvências. Tem de haver consciência, por outro lado, que as crises devem ser momentos de oportunidade. A autarquia irá apostar em criar as melhores condições para os nossos empresários." (Rádio Hertz)
Aceita-se o "Tomar não foge è regra", conquanto haja bastantes excepções e cinco autarcas a tempo inteiro num município falido, tal como a ideia de que "as crises devem ser momentos de oportunidade", quando bem sabemos que todas as crises, mesmo as mais breves, duram sempre uma eternidade. E então esta que atravessamos... O que já não pode deixar de causar um sorriso condescendente é a afirmação de que "A autarquia irá apostar em criar melhores condições para os nossos empresários." Com efeito, todos os geralmente bem informados sabem que Tomar tem a mais complicada e chatérrima burocracia da zona centro do país, as taxas e regulamentos mais desfavoráveis ao investimento, casos de projectos que levaram mais de dez anos a ser aprovados e, garantem alguns investidores escaldados, sem mais detalhes, um nível de corrupção que custa o dobro do usual na zona, incluindo mesmo Leiria.
Tendo em conta que a autarquia nabantina é dominada há 14 anos pelo PSD, torna-se evidente que o vice-presidente Carrão, tal como quase todos os outros eleitos, vive numa bolha de realidade virtual. Infelizmente para ele e para os tomarenses.
Outro exemplo de semelhante alheamento do mundo real foi dado por uma senhora eleita laranja na mais recente sessão da Assembleia Municipal. Debatia-se a contratação de meia dúzia de cantoneiros de limpeza, técnicos de salubridade urbana além-Pirinéus, engenheiros do ambiente para as bandas escandinavas. João Simões disse que os IpT votariam a favor com satisfação, pois a cidade bem precisa, porque está suja, causando má impressão a quem nos visita. Logo a senhora retorquiu que discordava de tal afirmação, pois a cidade não está suja. As fotos supra mostram que a distinta eleita PSD, ou não vive cá, ou não circula pelas artérias da cidade antiga, aquelas que os visitantes procuram. É, por conseguinte, mais um caso de evidente realidade virtual.
Como dizia o meu avô, na primeira metade do século passado, "Esta gente não se enxerga!" Porque será?

Brusca e vertiginosa aceleração política em Tomar

Foto copiada do blogue O Jumento
Metáfora do poder autárquico nabantino. A relativa maioria de capacete e a oposição de sapatilhas, finalmente unida e cheia de coragem. (Mas abaixo a violência! Somos um povo ordeiro e pacífico!)

Brusca e vertiginosa aceleração política nas margens do Nabão. Na Assembleia Municipal a oposição finalmente unida (e concertada?) rejeitou a revisão orçamental que inclui o medonho caso ParqT. Pouco tempo depois, o presidente em exercício, Carlos Carrão, declarou à Rádio Hertz que a pelos vistos inesperada traição do PS iria ter consequências, conforme noticiado no nosso post anterior.
Mais tarde, às 23H31, a Hertz lançou uma última hora, com o PSD nabantino a declarar que a coligação com o PS será denunciada no sábado pela manhã (hoje, portanto).
Sempre em cima do acontecimento, o socialista Luís Ferreira foi mais lesto. Cerca da uma da manhã colocou no seu blogue a participação do aguardado falecimento da coligação com o PSD, vítima de doença prolongada e incurável: "Comissão Política do PS Tomar decidiu hoje terminar a partilha de poder que tinha com o PSD, por 30 votos a favor, 1 contra e 1 abstenção". Está assim dada a machadada final na estranha mancebia, cuja morte prematura aqui se anunciou desde o início do mandato.
E agora? -Tudo depende da oposição, maioritária tanto no executivo como na Assembleia Municipal. Se tiverem a coragem e o bom senso de se manterem unidos, o futuro pertence-lhes. Indicarão à actual maioria relativa que, tendo em conta o actual contexto local e nacional, o único caminho benéfico para os tomarenses é a demissão em bloco, seguida da convocação de eleições intercalares.
Naturalmente, essa consulta eleitoral, se vier a realizar-se,  visará escolher quem exercerá o poder apenas até às próximas autárquicas "normais", em Outubro de 2013. Donde resulta que deverá ser circunscrita ao Executivo e à Assembleia Municipal. Àquele, uma vez que o problema reside aí e só aí. A esta, uma vez que o tipo de eleição adoptado é proporcional, condicionando assim, de facto, o número de representantes de cada força política  ao resultado obtido para o executivo. Já os presidentes de junta não são abrangidos, visto que, não havendo coligação em qualquer daquelas entidades, todos estão bem e se recomendam. Será, por conseguinte, caso venha a ter lugar (e oxalá que sim!) um escrutínio simplificado. Falta apenas saber se os eleitos da oposição irão ter a coragem de percorrer unidos e até ao fim o caminho que agora parece terem começado a trilhar. Coragem pessoal irmão! Tomar precisa! Tomar merece! Ontem já era tarde!

(Queiram desculpar, mas o verde é esperança!)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ÚLTIMA HORA

Acabo de tomar conhecimento, nomeadamente pela Rádio Hertz e pelo vereador Luís Ferreira, que a revisão orçamental apresentada pela Câmara foi esta tarde chumbada na Assembleia Municipal, com 14 votos PSD a favor e 21 votos contra do PS, IpT, CDU e BE. Segundo posteriores declarações de Carlos Carrão à Rádio Hertz, esta votação do PS irá ter consequências, uma vez informado o presidente Corvêlo de Sousa, que faltou à reunião do parlamento municipal, alegadamente por se encontrar doente, tal com já sucedeu na passada quarta-feira com a reunião da Comissão Política do PSD.
Julgo ser a primeira vez que toda a oposição vota unida, incluindo o coligado PS. E logo numa matéria tão sensível como a indispensável revisão orçamental, sem a qual a autarquia pouco ou nada pode fazer. Excelente ocasião, por conseguinte, para a oposição unida comunicar à relativa maioria laranja que deve demitir-se em bloco e quanto antes, pois todas as suas decisões futuras serão bloqueadas pelo voto maioritário oposicionista. Após o que terá de haver eleições intercalares, e que ganhem os melhores! 
Estarei apenas a sonhar? Ou a tradicional apatia conformista está mesmo a mudar nas margens do Nabão? Terão os tomarenses concluído finalmente que o problema da relativa maioria PSD não é político-partidário, nem de divergência ideológica, mas simplesmente funcional, uma fez que o executivo é inoperante?

"Isto está mesmo a mudar"

"Todos protestam. Protestam os trabalhadores, protestam os patrões, protestam os banqueiros, protestam os comerciantes, protestam os juízes, protestam os médicos, protestam os diplomatas, protestam os militares, protestam os polícias e os guardas prisionais.
Na primeira fase do governo Sócrates também assistimos a muitos protestos, chegando algumas manifestações a juntar 200 mil pessoas. O governo foi muito criticado -mas Sócrates disse que preferia perder as eleições a deixar de fazer as reformas de que o país carecia. E com esta obstinação ganhou uma justa fama de reformador. Só foi pena que mais tarde desse o dito por não dito e entrasse numa espiral de endividamento que não podia acabar bem.
Passos Coelho comprometeu-se a cumprir o programa da troika e está a cumpri-lo. Acontece que não há mudança sem dor e por isso toda a gente se queixa. As centrais sindicais organizaram uma greve geral e Carvalho da Silva chegou a dizer que as medidas da troika são uma "malvadez".
Os patrões também protestam e o presidente da CIP, António Saraiva, ataca o ministro da economia, Álvaro Santos Pereira, e diz que o governo "esgotou o capital de confiança", enquanto Belmiro de Azevedo confessa que o governo o "desiludiu" e que os políticos não têm coragem para fazer o que é preciso.
Os banqueiros protestam porque os obrigaram a uma recapitalização que não queriam, e Fernando Ulrich chamou aos representantes da troika "funcionários de 5ª ou 7ª linha". Os juízes protestam porque acham que não deviam perder regalias, os médicos porque entendem que o ministro da saúde tem uma perspectiva economicista, os diplomatas porque há embaixadas que vão fechar, os artistas porque não há dinheiro para a cultura, os militares porque não querem ser tratados como "escuteiros", os polícias e os guardas prisionais por causa das horas extraordinárias, etc.
As pessoas sentem que estão a perder regalias e protestam. Mas isso é um bom sinal: é sinal de que as coisas estão mesmo a mudar. A questão crucial é saber se as receitas que estão a ser aplicadas vão no sentido certo. 
As críticas dividem-se em dois grandes grupos: enquanto as centrais sindicais, os partidos de esquerda e as corporações contestam as metas impostas pela troika e as medidas de austeridade, os patrões preocupam-se com a falta de incentivos para o relançamento da economia. Assim, para uns o mau da fita é o ministro das finanças (o desconcertante Vítor Gaspar), para outros é o ministro da economia (o despassarado "Álvaro")
Sobre as medidas de austeridade decorrentes das metas impostas pela troika, não há nada a fazer. Se não as cumprirmos não virá mais dinheiro. Claro que poderíamos fazer como Salazar, que em 1928 recusou um empréstimo da Sociedade das Nações por considerar as condições vexatórias para Portugal. Só que a seguir impôs uma rigorosa ditadura financeira, com duríssimas medidas de contenção da despesa, dispondo ainda de instrumentos como o controlo das importações, a possibilidade de cunhar moeda e de desvalorizar o escudo.
Além disso, as greves e as manifestações eram proibidas, os partidos políticos também, havia censura à imprensa e o país dispunha, não o esqueçamos, de um vasto império colonial. Mas hoje não há nada disso.
Existe uma democracia, com liberdade de imprensa, com greves, com manifestações, com fronteiras abertas -e sem império. É muito mais difícil. Deste modo, gostando-se mais ou menos da austeridade e das imposições da troika, não se vê maneira de fugir a elas. Quanto ao relançamento da economia, que suscita queixas de Belmiro de Azevedo e António Saraiva, é preciso dizer que os empresários sempre se queixaram do governo. Só que o crescimento da economia é essencialmente uma tarefa da sociedade civil. Depende dos investidores, dos empresários, dos agentes financeiros.
O governo pode facilitar, criar incentivos, baixar os impostos quando tem folga para isso. Mas não se pode substituir ao capital privado. E aqui entra também em jogo o capital estrangeiro. Se os estrangeiros não investirem fortemente em Portugal, não sairemos da cepa torta, pois não dispomos  de capital suficiente para relançar o que quer que seja. Ora para isso é preciso recuperar a imagem do país, já que Portugal está com uma péssima imagem lá fora. E aí voltamos ao princípio. Temos de ser "bons alunos", pois a nossa imagem externa passa em grande parte pela avaliação que a troika for fazendo do nosso desempenho.
Não sei se os funcionários da troika que cá vêm são de 5ª ou de 7ª linha, como disse Ulrich. Mas sei que não podemos fugir à sua avaliação, e que ela é decisiva. Ou melhor: poderíamos pôr esses senhores na rua e não os deixarmos cá voltar a pôr os pés, se recuássemos no tempo, aos tempos de Salazar, aos tempos do império, aos tempos das fronteiras fechadas, da cunhagem de moeda, do escudo ajustável, da proibição de greves, da censura à imprensa. Só que esse tempo acabou."


José António Saraiva, Política a sério, Sol, 25/11/2011, página 3

Falta de liderança

Bom dia! Antes de começar a percorrer a crónica de hoje, não se esqueça de votar,  na consulta à opinião pública, do lado direito destas linhas. Já votou? Então recomende aos seus amigos que votem também, em prol da amada terra tomarense. Bem haja e boa leitura!

Quando aqui e noutros suportes se escreve que o actual executivo não tem ideias nem dispõe de um projecto ou plano de actuação, está-se apenas a sintetizar uma situação bastante complexa. Na realidade, entre vários outros, há um indigente Plano Director Municipal - PDM e até um outro com um título muito promissor - Tomar 2015 - Uma nova agenda urbana - Documento de trabalho - Janeiro de 2008. São ambos fraquérrimos, dada a evidente falta de fôlego conceptual de quem os elaborou. Ainda assim, uma vez que é o que há, vejamos o que consta do segundo, um documento de acção.
Na página 11, ponto 26, afirma-se taxativamente que "Tomar necessita de um NOVA AGENDA URBANA que, em coerência com a sua vocação e com as linhas de orientação seguidas até aqui, defina a acção a seguir até 2015 de modo a se cumprir o objectivo máximo de se tornar mais competitiva, mais atractiva, mais sustentável e mais solidária, valorizando um património notável, criando novos referenciais de qualidade urbana e afirmando-se como um espaço de oportunidade para viver, para investir e para trabalhar." Nem mais, nem menos.
Perante isto, diga lá o leitor se não temos imenso jeito para "encher chouriços" em prosa, para mais usando um notável estilo empolgante e triunfalista.
Numa outra parte do documento referido que, recorde-se, é de Janeiro de 2008, há um capítulo intitulado Tomar 2015: Cidade Coesa. Engloba três pontos: Linha estratégica nº 1 - Inclusão Social; Linha estratégica nº 2 - Conectividade urbana/regional; Linha estratégica nº 3 - Sistema de transportes públicos.
Na primeira consta que "Tomar apresenta níveis elevados de habitação precária, comparativamente com os concelhos do Médio Tejo. Estas formas de exclusão social assumem particular expressão na Zona do Flecheiro/Entrada da Cidade (Avenida D. Nuno Álvares Pereira) sendo urgente a resolução deste problema, tanto na óptica da inclusão social, como da requalificação urbana e ambiental das margens do Rio Nabão. O realojamento da população cigana localizada neste espaço deverá ser uma das acções prioritárias a empreender no futuro próximo."
Apesar de designado como problema urgente e prioritário, este conjunto de acções nunca foi foi levado à prática, continuando os ciganos a estar localizados no mesmo espaço, onde "vivem" há mais de 30 anos. Em contrapartida, as outras duas linhas estratégicas, embora não  prioritárias, já foram implementadas parcialmente (eixos de entrada na cidade) ou na totalidade (transportes urbanos). Porque será?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Principais temas da semana




O destaque desta semana vai para O MIRANTE, onde Tomar tem direito a quatro temas de capa, prova do excelente trabalho da sua correspondente local. Dos quatro temas, aquele que me parece mais importante em termos de futuro diz respeito à autarquia. "PSD pressiona Corvêlo de Sousa a deixar presidência da câmara", titula o semanário, assim mostrando que afinal não se tratava apenas de "invenções de gente que não tem mais nada que fazer", conforme foi dito pelo senhor alcaide, em declarações à Rádio Hertz. Para quê? Será que ainda não percebeu que a mentira tem a perna curta? 
Faltando ainda saber se desta vez é mesmo o final da novela "Sai ou fica", ou apenas mais um lamentável episódio, cabe esclarecer que já antes houve reiteradas tentativas da Comissão Política laranja, todas em vão.
De acordo com uma notícia mais recente da Rádio Hertz, pode mesmo haver renúncia desta vez, embora de momento haja apenas indisponibilidade por alegada maleita, pelo que será Carlos Carrão a representar o executivo na Assembleia Municipal de amanhã.
As eleições na Misericórdia e no CIRE são notícia comum aos três semanários. Trata-se de escrutínios que se prevêem animados, porquanto em ambos os casos há forte descontentamento entre os eleitores e por razões similares: erros de gestão e abuso de posição dominante.
Referência especial para dois excelentes textos de Luís Maria Graça, um no Templário, outro no Cidade de Tomar, bem como para a sempre bem escrita e bem disposta crónica de Carlos Carvalheiro, no semanário sediado além-rio.
Ainda n'O Templário, uma lamentável prática, que se julgava de outro tempo. Na página 37, SC subscreve duas curtas irónicas, ambas começando por "Segundo dados divulgados". Onde terão sido divulgados? Durante a missa do meio dia? Na parede da biblioteca velha? Ou estavam numa página de jornal que vinha a embrulhar sardinhas? Semelhante falta de respeito pelo trabalho alheio só pode resultar de evidente grosseria de quem subscreve e de distracção do director do jornal, que em circunstâncias normais não deixaria publicar semelhante exemplo de ausência de boas maneiras. Se a moda pega, um dia destes até eu começo a publicar trabalho de outrem sem indicar a origem, limitando-me ao lacónico "Segundo dados publicados". Era bonito, não era?

Afundar o euro para salvar o dólar

De acordo com as estatísticas do Google, Tomar a dianteira registou 563 páginas consultadas de anteontem para ontem, mas apenas 361 de ontem para hoje. Sinal de que os leitores tendem a diminuir quando os temas abordados são mais generalistas, por assim dizer. Indicação clara, também, de que muitos leitores ainda não se decidiram a votar, na consulta à opinião pública, à direita do ecrã. Vá lá minha gente! Está em causa o futuro desta nossa querida terra, dos nossos filhos, dos nossos familiares, dos nossos amigos! Vote e aconselhe os seus amigos a votarem! O voto é livre e totalmente anónimo.

Ao que nos tem sido dito, garantido e repetido, a nossa crise tem como causas principais a elevada dívida pública (106,5% do PIB segundo o FMI), o preocupante défice orçamental que urge reduzir, e sobretudo a má notação financeira daí resultante, que nos foi atribuída pelas agências especializadas, por acaso todas americanas. Estamos assim condenados a cada vez mais severas medidas de austeridade, enquanto o governo paga juros da ordem do 9%, nos empréstimos a 10 anos.
Sendo assim, uma vez que Alemanha, líder da zona euro, tem uma dívida pública de apenas 82,6%  do PIB, enquanto que a do Japão alcança os 225% do PIB, os alemães deveriam obter para os seus empréstimos taxas de juro comparativamente mais favoráveis que os japoneses. Pois é exactamente o oposto que se verifica. Enquanto o Japão obteve, no início de Novembro, o equivalente a 19,3 mil milhões de euros, a 1,025% (Le Monde - Economie, 22/11/2011, página 5), a Alemanha foi obrigada a aceitar 1,91% quinze dias mais tarde. Há aqui portanto algo que não bate certo com o que nos é dito e redito na comunicação social. Nitidamente em pior situação face à Alemanha, em estagnação há mais de vinte anos, o Império do Sol Nascente devia ser mais penalizado do que os germânicos, o que não está a acontecer. Que se passa então? A notação das agências financeiras não serve para nada? Andam a enganar-nos? O consagrado comentador Jean-Maria Colombani, antigo director do Le Monde, fornece uma explicação bem diferente:

"Os Estados Unidos pretendem afundar o euro para salvar o dólar

"Nicolas Sarkozy e Barack Obama lado a lado, para um quarto de hora de televisão, assim como quem reenvia o ascensor. À saída do recente G20, o presidente francês até estava agastado com tantos elogios prodigados pelo seu homólogo americano. Com um termo mágico "leadership"! E o aumento de popularidade nas sondagens não tardou, graças à hábil encenação.
Semelhante bênção pode levar a pensar que americanos e europeus enfrentam a crise unidos e solidários. A realidade é contudo mais brutal: na guerra das divisas que decorre, estão em causa  as posições respectivas do dólar, do euro e do yuan, que o mesmo é dizer dos Estados Unidos, da Europa e da China. Acontece que a combinação de uma ideologia e de um certo número de interesses (adiante referidos pelos termos genéricos de "Wall Street" e "City"), tudo fará para se ver livre da Zona Euro. Primeiro nunca acreditaram que o euro fosse possível, agora pensam que o fim da moeda europeia não deve tardar, fazendo todos os possíveis para acelerar a sua morte prematura. Trata-se, no fundo, de preservar o dólar americano como  moeda de reserva, repetindo práticas já conhecidas. No tempo de Georges Bush (pai), quando os Estados Unidos estavam traumatizados pela fulgurante ascensão comercial japonesa, acompanhada por uma cada vez maior importância do yen como moeda de reserva, desencadearam uma política de dólar fraco e uma contra-ofensiva comercial, que conduziram o Japão a um longo período de estagnação. Paralelamente, o yen deixava de existir enquanto moeda de reserva.
É um cenário como o japonês que espera os europeus, caso percam a batalha em curso. E quando respondem com a perspectiva de governança franco-alemã da zona euro, tocam no ponto mais sensível da City: o espectro de uma Europa-potência dominada pelo par franco-alemão, uma vez que os ingleses nunca aceitaram  a Europa senão como uma simples zona de comércio livre. Compreende-se assim muito melhor a recente peixeirada entre Sarkozy e o seu amigo David Cameron, por ocasião do recente G20, em Cannes.
No Verão passado, repentinos levantamentos nos bancos franceses, praticados pelos congéneres americanos, ameaçaram aqueles de falta de liquidez e provocaram uma aceleração da crise. A seguir, como nem a Grécia nem Portugal bastaram, surgiram os ataques contra a Itália. "Uma vez que a Itália está com dificuldades, a França também", disseram na Merrill Lynch. Foi aliás uma outra agência americana, Clearnet, que no princípio de Novembro desencadeou o  aumento das taxas de juro dos títulos da dívida pública italiana.
Vão-me responder que esta é apenas a tese-alibi da banca francesa. Será. Mas lá porque os bancos estão mal vistos, isso não significa que estejam enganados.
Oficialmente, tudo está óptimo entre Obama e Sarkozy. Este deverá contudo pensar duas vezes, antes de apoiar os Estados Unidos noutros terrenos estratégicos, tais como o Irão ou o Afganistão. Mas também é verdade que o próprio Obama perdeu a batalha contra Wall Street, que lhe é hostil e a cuja regulamentação já renunciou. Para a City como para Wall Street, a regulamentação é o inimigo principal!
Temos assim um Obama praticamente desarmado e agora mais preocupado com a zona Ásia/Pacífico, onde se situa o grande desafio: o frente a frente com a China. Quanto à Europa e para agradar à opinião pública americana, não hesitou em designar a zona euro com responsável pela persistência da crise. E quando apelou ao seu amigo Giorgio Napolitano (presidente Italiano) para o incentivar a ver-se livre de Sílvio Berlusconi, aproveitou para lhe aconselhar cautela em relação ao duo Merkel-Sarkozy.
Assim, a atitude americana é pelo menos ambígua. É do seu interesse que a Europa volte a crescer economicamente. Mas também que tal aconteça só dentro de alguns anos. Enquanto o dólar continuar a ser a principal moeda de reserva, o resto do mundo terá de continuar a financiar os abissais défices americanos..."

Jean-Marie Colombani, L'EXPRESS, 22/11/2011, página 33

Nota final de Tomar a dianteira

Enquanto isto, Martin Wolf, o conhecido colunista do Financial Times, pensa que até agora a dupla Merkel-Sarkozy se tem limitado a "fazer apenas o necessário, só quando necessário", o que doravante é pouco. Conclui dizendo que "A época do demasiado pouco, demasiado tarde, acabou. Agora o que se impõe é "demasiado e imediatamente". A potência implica responsabilidade. A Alemanha é uma potência. Tem de assumir as suas responsabilidades". (Le Monde Economie, 22/11/2011, página 2)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Nós, a crise, a mudança e o futuro

Na sequência do escrito desta manhã, surgiram dois obstáculos teóricos à concretização da ideia aqui avançada de eleições intercalares, como solução parcial para o gravíssimo problema nabantino. Um deles foi apresentado pelo leitor Alfredo Caiano Silvestre. Refere a hipótese de os resultados poderem voltar a colocar exactamente os mesmos nas mesmas cadeiras do poder local. Trata-se de um risco real. Em eleições livres e genuínas, tudo pode acontecer. Porém, seguindo essa ordem de ideias, também não valerá a pena gastar dinheiro com as autárquicas de 2013 em Tomar, visto que o perigo será idêntico -eleger as caras do costume para os lugares que agora ocupam.
O outro obstáculo parece-me mais difícil de transpor. Trata-se da congénita resistência à mudança, sobretudo por parte dos instalados. Tendo alcançado as posições que ocupam num determinado contexto, e sabedores de que essa envolvência não voltará a existir, temem perder os lucrativos mandatos em que foram investidos. São posicionamentos tanto mais lógicos quanto é certo ser pouco provável que as diversas formações políticas os voltem a candidatar, com alguma possibilidade de sucesso.
Basta pensar no que acaba de acontecer -a outro nível, é certo- na Grécia, em Itália e em Espanha. Para não alongar demasiado, refira-se apenas que, caso Sapatero tivesse aproveitado a breve trégua, obtida na sequência das primeiras medidas de austeridade, não teria arrastado o PSOE para a esmagadora derrota agora verificada. Da mesma forma, já Sócrates perdera uma excelente ocasião de se retirar em tempo oportuno, sem necessidade de ser arrastado pela derrota evidente e humilhante.
É opinião praticamente unânime entre os analistas financeiros de renome que "a Grécia e Portugal não vão aguentar". O que vai implicar, na melhor das hipóteses, que em 2012 a situação vai piorar e em 2013 agravar-se-à ainda mais. Sem projectos nem recursos para financiar mais obras de fachada, daquelas previstas no "Tomar 2015 -Uma nova agenda urbana", a bíblia deixada por Paiva e religiosamente seguida pela actual maioria relativa; com o Município atascado em dívidas de curto e longo prazo; forçados a reduzir pessoal e a destituir chefias; com cada vez mais problemas a aguardar solução; não se pode dizer que a relativa maioria venha a ter um futuro brilhante, ou mesmo qualquer vantagem em manter-se até ao final de 2013, a não ser para continuar a auferir aquilo que, salvo uma excepção, não conseguem amealhar fora da política. Para além disso, o facto de não entenderem cabalmente o mundo em que vivem e o que aí vem inevitavelmente, leva-os a idealizar impossíveis amanhãs risonhos.
Outro tanto acontece com os eleitos socialistas e os IpT. Aqueles, caso não arranjem coragem para romper a coligação enquanto é tempo, abordarão a futura compita eleitoral como sócios dos culpados pela miserável situação em que estamos e estaremos então. Estes, os IpT, que já são conhecidos no microcosmo político tomarense como moços de fretes do PSD, "que os ajudou substancialmente na campanha eleitoral", têm ainda outro problema, e que problema: Como não fará grande sentido avançar pela terceira vez com o mesmo cabeça de lista, quem vão arranjar? Com que hipóteses? Se mesmo com um candidato que já desempenhou dois mandatos como presidente, não conseguiram vencer por duas vezes, porque hão-de conseguir à terceira tentativa?
Pelo que antecede e o mais que se calou por decência, todos gravemente feridos de asa pela crise que julgaram passageira, mas não pára de se agravar, os sete magníficos -caso queiram pensar com alguma racionalidade- facilmente concluirão ter todo o interesse em renunciar quanto antes, sob pena de ficarem definitivamente carbonizados, tão trágico é o que aí vem.
Claro que vão sentir-se perseguidos, à boa maneira nabantina. Alegarão que lhe querem é roubar os lugares para irem para lá. Balelas. Estão apenas a simular não verem a triste realidade: os eleitores estão fartos e querem outra gente. Que não tenha a presunção implícita de pertencer a uma tribo de gente superior. Sem cagança, se me é permitido usar linguagem vicentina.

E nós, tomarenses da cidade e do concelho?

Para começar, a pergunta que se impõe: Já votou, na consulta à opinião pública, do lado direito do seu ecrã? Já está? Então vamos ao prato de resistência.
A crónica anterior, citando dois excelentes jornalistas gauleses, um dos quais -Jean Daniel- grande amigo de Portugal e de Mário Soares, desde os tempos do exílio parisiense deste, mostra que:

  • Fomos admitidos na União Europeia e na zona euro "pelo amor de Deus".
  • Há pouquíssimas e muito fracas hipóteses de escaparmos à bancarrota.
  • A austeridade é necessária e indispensável, mas inútil se entretanto não voltar a haver crescimento.
  • Estamos a assistir ao fim de um ciclo do capitalismo.
  • Sem novas soluções políticas, sociais e económicas não vamos conseguir dar a volta por cima.
E nós, tomarenses da cidade, do concelho, espalhados pelo país e pelo Mundo? Estamos mal, mas estamos vivos, que é o que conta. Além dos cinco pontos supra, temos mais os seguintes óbices:


  • Uma autarquia falida, com um passivo da ordem dos 70 milhões de euros.
  • Uma autarquia cuja dívida a fornecedores já vai nos 19,5 milhões de euros.
  • Uma maioria relativa sem projecto, sem liderança e sem credibilidade.
  • A economia local em acentuada recessão.
  • Um péssimo enquadramento para residentes e investidores.
  • Má relação preço/qualidade, tanto nos serviços públicos como nas prestações privadas.
  • Funcionários desmotivados.
  • População fortemente desmoralizada.
  • Executivo incapaz de prover eficazmente às tarefas básicas, como por exemplo a limpeza ou a manutenção do património municipal.
Neste contexto, pode afirmar-se sem exagero que ou mudamos rapidamente ou estamos perdidos. Em linguagem médica, estamos com um "pé diabético", que já não reage aos antibióticos e cuja gangrena vai alastrando. Por conseguinte, apesar de muito incapacitante, vai ser inevitável amputar o pé quanto antes. Caso se espere demasiado, a amputação já terá de ser até ao joelho.

Para os tomarenses, compreensivelmente assustados com o evoluir da crise, o executivo que temos é o "pé diabético", porque nada tem a propor no campo das soluções, porque gasta demasiado, porque cada vez enterra mais o Município e porque desde há muito que perdeu toda a credibilidade. Assim sendo, é óbvio que há uma só solução digna, proveitosa e promissora para todos: DEVOLVER A PALAVRA AO POVO SOBERANO, CONVOCANDO ELEIÇÕES INTERCALARES NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2012. Têm a palavra as formações oposicionistas, que dispõem de maioria, tanto no executivo como na Assembleia Municipal.
Vantagens das eleições, qualquer que venha a ser o resultado:

  • Pela primeira vez em muitos anos teremos Tomar na comunicação social nacional.
  • Serão uma excelente ocasião para apresentar e discutir projectos novos.
  • Darão um novo alento e uma nova esperança aos tomarenses.
  • Permitirão definir as novas regras do jogo.
  • Acabarão com a escandalosa situação de uma autarquia falida pagando a cinco vereadores em regime de permanência.
  • Obrigarão as várias formações a apresentar soluções substantivas e adequadas.
  • Constituirão um corte salutar no pestilento clima político local.
Também está de acordo com tudo isto, ou pelo menos menos com grande parte? Então vamos à luta, que a greve geral de amanhã só serve para mobilar a paisagem política. Como de resto você sabe muito bem, mas não tem coragem para o dizer.
Vote e peça aos seus amigos para votarem na nossa consulta à opinião pública, do lado direito do ecrã. Está em causa a nossa querida terra! Temos de fazer tudo o possível e legal para a salvar! Vamos a isso!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A crise vista do centro

Antes de mais, uma pergunta: Já votou, na consulta à opinião pública tomarense, aqui à direita do seu ecrã? Ainda não?! E está espera de quê? Olhe que o primeiro dever de qualquer cidadão responsável é participar activamente nos assuntos locais. Não me diga que não é um cidadão exemplar...

Agora que a crise que nunca mais acaba já começa a atingir os países do centro, do chamado "núcleo duro" da União Europeia (os 6 países do início: Alemanha, França, Itália, Bélgica Holanda e Luxemburgo), julgo ser oportuno dar a conhecer aos leitores os pontos de vista de comentadores de além-Pirinéus. Para evitar futuros mal entendidos...

"A fraca memória do Ocidente"

"A respeito da crise da Grécia, país agora unanimemente condenado em virtude da sua anterior política, considerado actualmente como um leproso e colocado sob tutela, tenho algumas recordações que talvez permitam corrigir um pouco a acusação. Por exemplo, todos dizem que  antes de aderir à União Europeia e mais precisamente à Zona Euro, os gregos aldrabaram as contas e dissimularam que não preenchiam as condições requeridas para a adesão. Acontece que, se a memória me não falha, ainda oiço François Mitterrand, Claude Cheysson, Jacques Delors, e mesmo Jean-Claude Trichet dizer que não se tratava naturalmente de acreditar nos gregos e nos dados fornecidos, mas de agir de maneira que acolhendo-os, pudéssemos ajudá-los a transformar em verdade as aproximações por eles fornecidas. Tratou-se em suma de um grande gesto de solidariedade. De um acto de fé, numa altura em que ainda não se duvidava da Europa nem havia interrogações sobre o euro.
E tinha-se feito a mesma coisa deixando aumentar os membros da União Europeia de nove para vinte sete, o que era naturalmente excessivo, mesmo podendo esperar, como sugeria Jacques Delors, que acabaria por se constituir um "núcleo duro", reunindo os países economicamente mais fortes.
Sendo assim, tenham dó, não se pretendam agora surpreendidos quando a Grécia -e se calhar Portugal, um dia destes- declarar bancarrota. Já se sabia, quando os aceitámos na Europa, que lhes estávamos a fazer um favor, como países irmãos em quem apostávamos."

Jean Daniel, Editorial, Nouvel Observateur, 16/11/2011, página 3

O mito da "governança"

"Numa perspectiva histórica, acabamos de viver algumas semanas assaz barrocas, para não dizer ridículas. Num dia o euro está salvo, no dia seguinte está no fundo do poço, no outro conclui-se um "acordo decisivo", mas na semana seguinte recomeça o pânico. A inteligência democrática acha-se assim indexada aos altos e baixos da Bolsa e à disposição execrável  dos mercados. E cada novo dia, um fluxo de textos sábios cai sobre os cidadãos. Regra geral "explicações" tão pouco duradoiras como uma salada fresca.
No meia desta confusão, no âmago do nevoeiro sem visibilidade (como se diz por aí), algumas ideias, verdadeiras ou falsas, lá vão ficando. A mais recente diz respeito à "governança da zona euro". De um certo ponto de vista, já não é sem tempo que se preocupam. Mais "federada", a Europa económica, segundo nos prometem, será capaz de vencer as próximas tempestades vindas da Itália, de Espanha ou de Portugal.
Naturalmente, esta questão da "governança" é tudo menos banal. Porque sempre é melhor ter um piloto no avião europeu. Mas têm a certeza que é suficiente? Tenho aqui um recorte muito interessante. Publicado no jornal "Parisien Liberé" de 3 de Novembro, dá a conhecer dados estatísticos oficiais, facultados pelo Eurostat. Visualiza com clareza a percentagem de endividamento dos vários países do Velho Continente. Surpresa: salvo algumas excepções (Inglaterra, Finlândia e Estónia), os da zona euro estão bastante mais endividados que os outros. A Polónia, a Bulgária e a República Checa, todos fora da zona euro, estão menos endividadas.
Há portanto um problema "global" ligado ao euro. A crise da dívida não é imputável unicamente à prodigalidade dos italianos ou às batotices dos gregos. Consultando outras fontes, depressa se conclui qual é o problema: o muito fraco crescimento económico da zona euro, que se vai prolongando. Esta "avaria" provoca o aumento mecânico da dívida, com ou sem "governança", com ou sem gestão rigorosa. Bem podemos impôr às populações todos os sacrifícios imagináveis; esse sofrimento (perigoso para a democracia e para a paz civil) não evitará o aumento da dívida. E a equação torna-se absurda: a austeridade é indispensável, mas não serve para nada!
Quanto aos resgates sucessivos da Grécia, da Itália ou de Portugal, não vão servir para grande coisa. No fim de contas a "governança" prometida, se chegar a ser efectiva, assemelhar-se-à à chegada tardia de um piloto para um avião sem combustível.
Ninguém gosta de falar de tudo isto. Nenhum governo vai ter coragem para reconhecer que está a findar uma sequência histórica. O crescimento robusto que lubrificava as nossas democracias, tornando geríveis as desigualdades, foi-se e não voltará. Tanto mais que deixámos desindustrializar parcialmente a Europa, abrindo-a às tempestades da competição planetária, ao mesmo tempo que a impedíamos de recorrer à inflação. A este respeito, ainda há quem se admire de ver popularizado o refrão apaziguador que serviu de alibi a tal imprevidência: Aos chineses a fabricação das meias, para nós europeus as tecnologias de ponta, a higth-tec ou a aeronáutica! Foi mais uma orgulhosa patetice "ocidental". Já não falta muito para os chineses fabricarem aviões, conceberem programas informáticos e mesmo alta costura.
O verdadeiro desafio é por isso o seguinte: De que modo reconfigurar as nossas democracias para as adaptar a esta perspectiva de crescimento fraco ou mesmo nulo? Já sabemos haver necessidade de mais ética, mais partilha, mais justiça, mais coesão social. Em suma, outro mundo. Os indignados e os ecologistas, tão incompreendidos, já há anos que perceberam. E os outros?"

Jean-Claude Guillebaud, Nouvel Observateur, 16/11/2011, página 5
O negrito e a cor são de TaD.

Afinal quem embirra com quem?!?!

 JORNAL DE LEIRIA, 17/11/2011, página 6


 JORNAL DE LEIRIA, destaque da página mencionada acima

 Largo fronteiro ao Mosteiro de Alcobaça. Foto A.R.

Largo fronteiro à fachada norte do Convento de Cristo, onde vai ser instalado o parque de estacionamento para autocarros. 


Já aqui foi escrito anteriormente, mas é sempre conveniente repetir -os senhores autarcas nabantinos são muito comichosos, muito susceptíveis, têm uma pele demasiado sensível. A qualquer reparo que se lhes faça respondem logo, (privadamente, que a coragem não chega para mais) que estão a embirrar com eles. Será mesmo assim? Ou será exactamente o inverso?
Faça o leitor o favor de ler as ilustrações supra, copiadas do Jornal de Leiria. Constatará que o governo até mandou fazer uma auto-estrada, a A 19, para desviar o trânsito da Nacional 1, que passa em frente do Mosteiro da Batalha, Património da Humanidade, tal como o Convento de Tomar. 
Repare a seguir na foto do largo em frente ao Mosteiro de Alcobaça, também Património da Humanidade, no local onde antes havia um parque de estacionamento para ligeiros e autocarros, um jardim e a Nacional 1, a via pedonal que se vê no primeiro plano.
Finalmente, aprecie a foto tirada junto à fachada norte do Convento de Cristo há apenas algumas semanas, exactamente no local onde se pretende instalar o parque de estacionamento para autocarros.
É agora claro no seu espírito que em Tomar, como aliás é habitual, andamos ao arrepio da História. Enquanto por esse país e por essa Europa fora se gastam fortunas para afastar o trânsito e o estacionamento dos principais monumentos, uma vez que o CO2 ataca a pedra e as pinturas, em Tomar a autarquia que temos faz exactamente o oposto. Gasta um balúrdio para facilitar o trânsito e o estacionamento junto ao nosso Património da Humanidade. E depois ainda têm a distinta lata de se lastimarem publicamente que os turistas vão ao Convento, mas não descem à cidade. Pudera! Com autarcas e acolhimento assim... 
Perante isto, não me levarão a mal que pergunte: Afinal quem é que embirra com quem? Eu com os senhores autarcas transitórios? Ou estes com os eleitores, com o progresso, com o futuro, com a lógica, com a coerência, com o bom senso e com a protecção do património?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Boa pergunta!!!

Segundo um despacho da agência Lusa, o Secretário de Estado da Administração Local e da Reforma Administrativa, Paulo Júlio, já determinou que as autarquias que não usem a verba proveniente da supressão do 13º e do 14º meses para liquidar dívidas com mais de 90 dias, terão no Orçamento de Estado do ano seguinte um corte equivalente às somas usadas para outros fins.
Segundo a mesma fonte, o conjunto das autarquias tem neste momento dívidas de curto prazo na ordem dos sete mil milhões de euros. Deste total, 13 milhões são da autarquia tomarense, cujos pagamentos a fornecedores ultrapassam neste momento os quatro meses e meio de espera. Em média...
Pergunta-nos um amigo: -E em Tomar, vão pagar? Boa pergunta!!! Certamente que sim. Falta saber é quando. Tanto mais que temos um vereador da área grande apreciador da conhecida expressão idiomática "Procuraremos cumprir na medida do possível", uma frase que praticamente dá para tudo e mais alguma coisa.
É certo que, a julgar pelas aparências, a autarquia nabantina nada em dinheiro: 5 vereadores a tempo inteiro, 123 telemóveis distribuídos, dois autocarros, admissões de pessoal, ampliação recente do quadro de chefias, iluminações de Natal, Elefante Branco da Levada, Obras no Turismo Municipal, Obras na Estrada de Coimbra, Obras na Mata, Obras junto ao Convento, Festa dos Tabuleiros, Festival de Estátuas vivas... Agora só resta apurar se não se tratará apenas de ignorância e inconsciência. Já faltou mais!

Pensam que a luz se come?



Jornal i, 21/11/2011, páginas 18/19

Percorrendo o jornal i de hoje, veio-me à memória uma velha anedota, quando lia o excelente trabalho de Sílvia Caneco sobre os municípios, a crise e as iluminações de Natal. A bem dizer, um trabalho da Caneco!
Ao constatar que vários municípios, nomeadamente o do Entroncamento, deliberaram suprimir as tradicionais iluminações da quadra e com o dinheiro assim poupado distribuir comida aos pobres, concluí que a autarquia nabantina deve estar convencida de que a luz se come. Que outra explicação plausível para o facto de manterem as iluminações habituais, apesar da crise e de tanta miséria, explícita e escondida, que por aí há? Foi nesta parte do raciocínio que rememorei a tal chalaça.
Noutros tempos não ousaria publicá-la aqui, uma vez que se tratava de conversa só para cavalheiros e adolescentes já vividos. Hoje porém, com a brutal liberalização dos costumes, julgo que passaria por bota de elástico se me abstivesse de a contar, alegando o seu carácter assaz picante. Ela aí vai. Se quem lê aprecia o puritanismo, fará o favor de passar adiante, a outra leitura mais banal.
Em determinada família da classe média alta, um menino de 4 anos faz inesperadamente uma pergunta insólita à mãe: -Oh mamã, a luz come-se? -Olha que pergunta mais parva! Claro que não, menino! Porque é que pergunta? -Porque ontem o papá fechou-se com a empregada no quarto e ouvi-o dizer-lhe -Apaga a luz e mete na boca!
Os senhores autarcas executivos nabantinos da relativa maioria também devem estar convencidos, tal como o menino da história, de que a luz se come. Só que, como já são adultos e bem vacinados, dúvidas é coisa que nunca têm, pelo que nunca fazem perguntas para se esclarecer. É pena! Sempre iam aprendendo alguma coisinha...

PORCA MISÉRIA! Nova desilusão





Mais uma desilusão! O PÚBLICO de ontem insere, nas páginas 4, 5, 6 e 8, um interessante e bem documentado estudo sobre as autarquias, os respectivos orçamentos, as despesas sociais e as difíceis relações com o governo, no actual contexto de crise. Como é do conhecimento geral, o governo reduziu num primeiro tempo a margem de endividamento autárquico para metade dos actuais 125% do orçamento (grosso modo), vindo a reconsiderar após conversações com o social democrata e presidente da câmara de Viseu, Fernando Ruas, líder da ANMP. O principal argumento avançado foi o insubstituível apoio social prestado pelos municípios às populações carenciadas.
Tendo em conta o excerto supra, pensei para comigo: Bem, como em Tomar ainda não cortaram na "iluminação pública, nas manifestações culturais, no que parece menos importante"...nem no ar condicionado dos Paços do Concelho, não deve haver problemas de dinheiro no sector autárquico de ajuda social. Erro meu, do qual me penitencio desde já. Com uma percentagem de apenas 4,4 do orçamento = 1.283.000 euros, ocupamos um pouco honroso 163º lugar no ranking nacional, abaixo da média geral que é de 4,8%. À cabeça está o Município de Cascais, que destina 15,5% do seu orçamento ao sector social = 26.583.000 euros. Na cauda da tabela, o Porto = 6.133.000 euros = 3%, Miranda do Corvo = 291.000 euros = 3% e Terras de Bouro = 324.000 euros = 3%.
Conclusão minha: Porca miséria! Nova desilusão. A autarquia tomarense tem um passivo de quase 70 milhões de euros = 14 milhões de contos, e uma dívida de curto prazo de 19,5 milhões de euros = 3,9 milhões de contos, MAS ONDE É QUE FOI GASTO TODO ESSE DINHEIRO? QUEM BENEFICIOU? QUE RETORNO FACULTA À AUTARQUIA? COMO E QUANDO TENCIONAM PAGAR?
Parafraseando uma bem conhecida balada: Que quem é pecador/Sofra tormentos, enfim/ Mas os tomarenses senhor/Porque lhes dais tanta dor?/Porque padecem assim?