quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Recortes e temas da semana

Este anúncio publicado n'O TEMPLÁRIO é um exemplo acabado do português tal e qual se usa. Quanto mais complicado melhor. Mesmo num texto estilo "a despachar".

Eis uma ocorrência que não prestigia ninguém. E até devia envergonhar os seus comparsas. Um presidente de  câmara no seu concelho e nessa qualidade, ou preside e integra a mesa de honra, ou abandona a celebração. Não porque seja uma afronta pessoal, mas porque constitui uma ofensa protocolar à dignidade do órgão e de quem ele representa. Achincalha a democracia e denota ruralismo da parte de quem a consentiu activa ou passivamente. Em democracia é sempre condenável e muito perigoso avacalhar as instituições ou quem as representa. Sobretudo quando esse representante desagrada. Porque há um protocolo e há boas maneiras, cujo abandono só pode redundar em progressivo caos social.


O início da cobrança de portagens no ex-IC 3, agora A 13 (Nem nisso tivemos sorte. Calhou-nos logo o 13!) faz manchete em ambos os semanários, mas O TEMPLÁRIO trata o tema com mais profundidade. A posição geral entre os eleitos locais parece ser de protesto e repúdio pela medida implementada, com duas ordens de argumentos. Por um lado, são contra as portagens porque aquele troço nem era auto-estrada e passou a sê-lo de uma momento para o outro. Por outro lado, porque a governo nem sequer ouviu os autarcas. Lamento desiludir, mas creio que não têm razão.
No âmbito das suas competências, o governo entendeu a dada altura haver necessidade de  concessionar todo o IC3, incluindo os troços já abertos ao trânsito. A empresa concessionária efectuou a alterações que lhe foram exigidas e desencadeou a respectiva cobrança quando julgou apropriado. Não vejo em tudo isto qualquer erro, ilegalidade ou indelicadeza por parte do governo. Avisar ou conversar com os autarcas? Para quê? O poder local teve ou tem alguma competência específica na área das auto-estradas? A idade média já findou há mais de cinco séculos e com ela os feudos, os senhores feudais, a vassalagem e as cerimónias de beija-mão. Em democracia, os eleitos nunca devem considerar-se senhores de quaisquer povoações ou regiões. Apenas humildes representantes transitórios dos eleitores e jamais caciques jardinistas.
O IC 3 virou A 13 de um momento para o outro? E os senhores autarcas? Não passaram de simples cidadãos a eleitos, também de um momento para o outro? Julgam pertencer a alguma tribo, casta ou escol particular? Estão equivocados. O poder político democrático é sempre precário, provisório...
Indo ao âmago da questão. O governo da nação -seja ele qual for- está obrigado pelas contribuições e impostos que cobra a facultar aos cidadãos um certo número de estruturas e de serviços, uns totalmente gratuitos, outros apenas parcialmente. Entre os gratuitos está uma rede de estradas nacionais em condições aceitáveis. A dada altura, em clima de euforia, vacas gordas e bacalhau a pataco, julgou-se ser possível, com a ajuda de Bruxelas, implementar uma rede de auto-estradas sem custos para o utilizador, bem como vários IPs e ICs à borla. Como agora se sabe, foi sol de pouca dura. Cedo se concluiu que era impraticável, devido aos elevados custos de construção e de manutenção. Passou-se às concessões a privados, com as consequentes portagens. No que se refere a Tomar, qual é a argumentação reivindicativa? Não há uma estrada nacional paralela, em bom estado e gratuita? Então pretendem o quê? Continuar a iludir os eleitores com promessas irrealistas? Pensam realmente que se o governo pudesse evitar esta e outras medidas de austeridade, todas gravosas e muito impopulares, não o teria já feito?


O outro tema local é a algo agitada situação na Misericórdia de Tomar. Após a recente assembleia da irmandade, logo seguida de um pedido de providência cautelar por parte de alguns irmãos, nomeadamente Luís Salazar e Sérgio Martins, Corvêlo de Sousa convocou, conforme previsto, nova assembleia para o próximo dia 14. Contudo, ao tomar conhecimento da citada providência cautelar, decidiu suspender o ponto da ordem de trabalhos referente à eleição do corpos gerentes, conforme notícia o CIDADE DE TOMAR. 
Sobre o mesmo diferendo, mas na página 14 d'O TEMPLÁRIO, publica Sérgio Martins um belo texto, intitulado "Provedor desmesurado", no qual responde a recentes acusações do actual provedor Fernando Jesus. Trata-se de uma excelente peça, na forma, no fundo e no intuito, que denota uma cidadania genuinamente empenhada na sã ultrapassagem de transitórias divergências e vaidades bacôcas.

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