quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Nós, a crise, a mudança e o futuro

Na sequência do escrito desta manhã, surgiram dois obstáculos teóricos à concretização da ideia aqui avançada de eleições intercalares, como solução parcial para o gravíssimo problema nabantino. Um deles foi apresentado pelo leitor Alfredo Caiano Silvestre. Refere a hipótese de os resultados poderem voltar a colocar exactamente os mesmos nas mesmas cadeiras do poder local. Trata-se de um risco real. Em eleições livres e genuínas, tudo pode acontecer. Porém, seguindo essa ordem de ideias, também não valerá a pena gastar dinheiro com as autárquicas de 2013 em Tomar, visto que o perigo será idêntico -eleger as caras do costume para os lugares que agora ocupam.
O outro obstáculo parece-me mais difícil de transpor. Trata-se da congénita resistência à mudança, sobretudo por parte dos instalados. Tendo alcançado as posições que ocupam num determinado contexto, e sabedores de que essa envolvência não voltará a existir, temem perder os lucrativos mandatos em que foram investidos. São posicionamentos tanto mais lógicos quanto é certo ser pouco provável que as diversas formações políticas os voltem a candidatar, com alguma possibilidade de sucesso.
Basta pensar no que acaba de acontecer -a outro nível, é certo- na Grécia, em Itália e em Espanha. Para não alongar demasiado, refira-se apenas que, caso Sapatero tivesse aproveitado a breve trégua, obtida na sequência das primeiras medidas de austeridade, não teria arrastado o PSOE para a esmagadora derrota agora verificada. Da mesma forma, já Sócrates perdera uma excelente ocasião de se retirar em tempo oportuno, sem necessidade de ser arrastado pela derrota evidente e humilhante.
É opinião praticamente unânime entre os analistas financeiros de renome que "a Grécia e Portugal não vão aguentar". O que vai implicar, na melhor das hipóteses, que em 2012 a situação vai piorar e em 2013 agravar-se-à ainda mais. Sem projectos nem recursos para financiar mais obras de fachada, daquelas previstas no "Tomar 2015 -Uma nova agenda urbana", a bíblia deixada por Paiva e religiosamente seguida pela actual maioria relativa; com o Município atascado em dívidas de curto e longo prazo; forçados a reduzir pessoal e a destituir chefias; com cada vez mais problemas a aguardar solução; não se pode dizer que a relativa maioria venha a ter um futuro brilhante, ou mesmo qualquer vantagem em manter-se até ao final de 2013, a não ser para continuar a auferir aquilo que, salvo uma excepção, não conseguem amealhar fora da política. Para além disso, o facto de não entenderem cabalmente o mundo em que vivem e o que aí vem inevitavelmente, leva-os a idealizar impossíveis amanhãs risonhos.
Outro tanto acontece com os eleitos socialistas e os IpT. Aqueles, caso não arranjem coragem para romper a coligação enquanto é tempo, abordarão a futura compita eleitoral como sócios dos culpados pela miserável situação em que estamos e estaremos então. Estes, os IpT, que já são conhecidos no microcosmo político tomarense como moços de fretes do PSD, "que os ajudou substancialmente na campanha eleitoral", têm ainda outro problema, e que problema: Como não fará grande sentido avançar pela terceira vez com o mesmo cabeça de lista, quem vão arranjar? Com que hipóteses? Se mesmo com um candidato que já desempenhou dois mandatos como presidente, não conseguiram vencer por duas vezes, porque hão-de conseguir à terceira tentativa?
Pelo que antecede e o mais que se calou por decência, todos gravemente feridos de asa pela crise que julgaram passageira, mas não pára de se agravar, os sete magníficos -caso queiram pensar com alguma racionalidade- facilmente concluirão ter todo o interesse em renunciar quanto antes, sob pena de ficarem definitivamente carbonizados, tão trágico é o que aí vem.
Claro que vão sentir-se perseguidos, à boa maneira nabantina. Alegarão que lhe querem é roubar os lugares para irem para lá. Balelas. Estão apenas a simular não verem a triste realidade: os eleitores estão fartos e querem outra gente. Que não tenha a presunção implícita de pertencer a uma tribo de gente superior. Sem cagança, se me é permitido usar linguagem vicentina.

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