EXPRESSO - ECONOMIA, 05/11/2011, página 3 |
Foto Rádio Hertz |
Já aqui foi referido anteriormente o respeito, a consideração, a amizade e a admiração que há pelas senhoras que numa sociedade entranhadamente machista e retrógrada têm a coragem de participar activamente nos assuntos políticos da comunidade. Sabe-se que não é fácil, não só devido a milenares preconceitos, mas também e sobretudo por ser bem complicado o dia-a-dia das mães/donas de casa/trabalhadoras/cidadãs/políticas. Postas assim as coisas no seu sítio, chega a altura de referir ter sido penoso ler o mais recente resumo do programa "À mesa com elas", uma feliz iniciativa da Rádio Hertz. Não porque o texto tenha uma escrita difícil ou incorrecta; tão pouco porque não apresente de forma cabal o resumo do programa. Apenas devido aos dois temas discutidos pelas intervenientes.
Vivendo num quotidiano em que cada vez são mais as solicitações, o que torna difícil "ir a todas", todo o cuidado é pouco quando se trata de seleccionar assuntos para debate, bem como de elaborar argumentação favorável ou não sobre os mesmos. Leitor, ouvinte ou tele-espectador "escaldado" é menos um cidadão que toma conhecimento do que dizemos. E a política -sobretudo a nível local- já está tão desacreditada...
Desta vez, Anabela Freitas, Graça Costa e Rosa Santos, apesar da danada da crise que não mostra sinais de nos vir a largar tão cedo, resolveram enveredar pelo debate de dois temas "manuelinos" -as portagens na A13 e a atitude dos autarcas nabantinos perante esse assunto e em relação ao governo.
Quanto à portagem, convém desde já frisar que estamos a falar de um máximo de 80 cêntimos, numa via concessionada, com uma alternativa em bom estado, paralela e gratuita. É portanto despropositado perder muito tempo com questões de "falta de respeito", de "promessas" e de eventuais isenções para os habitantes das redondezas. Desde logo porque, como já aqui se explicou antes, não houve qualquer falta de respeito do governo em relação às autarquias da zona. Houve, isso sim, uma concessionária privada que resolveu implementar as suas prerrogativas, sem se preocupar com o sector de relações públicas. Culpar o governo pelo que fazem os privados, só num país como o nosso, onde a maioria pensa Estado = pai de tudo e de todos, logo único responsável. Depois, é sempre conveniente procurar que haja coerência entre as ideias e os comportamentos, e bem assim entre os diversos posicionamentos. Neste caso, resulta caricato insurgir-se contra a falta de equidade no que toca aos subsídios que foram cortados só à função pública no activo e na reforma, ao mesmo tempo que se pretendem isenções para uma situação de perfeita justiça equilibrada, ao cobraram-se portagens a todos os utilizadores por igual.
Há ainda a lamentável e folclórica farpa acusando Relvas de ter mandado implementar as portagens de forma brusca na A13, para dar o exemplo. Além de ser extremamente duvidoso que o atarefado ministro adjunto, multipastas e bombeiro de turno, tenha tempo para tais minudências, assinale-se que, se o não fizesse, o argumento seria o inverso: "pois, mas lá na zona dele..." Preso por ter cão, preso por não ter.
O outro tema discutido, de resto em estreita relação com o anterior, foi a questão da actuação dos eleitos locais em relação aos respectivos líderes de facto e de jure. Nos tempos que correm, passados mais de 35 anos de democracia, fará algum sentido acusar quem quer que seja de subserviência em relação ao respectivo líder político? Será proveitoso revolver a faca na ferida, relembrando aos descontentes eleitores que vivemos numa república partidária, onde cada rebanho tem naturalmente o seu pastor? Corvêlo, Carrão e Rosário seguem as orientações de Relvas, ou de alguém a mando dele? Mal seria que assim não sucedesse, pois nesse caso os partidos e outras formações políticas serviriam para quê? Qual seria a utilidade prática de celebrar convénios, caso não houvesse a certeza de que os elementos da outra parte cumprirão o acordado?
Anabela Freitas e Graça Costa não seguem também as orientações dos grupos a que pertencem? Então para que serve acusar os outros daquilo que nós próprios praticamos? É assim que se contribui para credibilizar a política? Ainda não ultrapassámos a velha e relha situação "Chama-lhe... ...minha filha, chama-lhe! Antes que ela te chame a ti!"?
Uma nota final amistosa para a posição de Rosa Santos, procurando esquivar de alguma maneira as acusações de subserviência dos seus companheiros laranjas. Trata-se de uma posição que revela fraqueza, pusilanimidade e falta de frontalidade. A atitude correcta seria uma atitude do tipo: Somos partidariamente subservientes sim senhor. E daí? Nas vossas formações é diferente? A Anabela não segue as grandes orientações de Luís Ferreira, da CP à qual preside e de A.J. Seguro? Graça Costa não coordena os seus conteúdos com Pedro Marques e restantes parceiros de lista?
Vai sendo tempo de deixar de brincar à política e de começar a trabalhar a sério. O desenho supra mostra como é possível ser corrosivo e fazer rir mesmo os adversários, graças à chamada ironia da enormidade. Todos sabemos que não corresponde à realidade, nem lá perto; mas denuncia uma tendência bem real e visível, um sulco profundo, por assim dizer...
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