Daniel Bessa, EXPRESSO - Economia, 05/11/2011, página 3, dois últimos parágrafos
Três recortes relacionados com a minha principal preocupação desde há muitos meses -a crise. Que veio para ficar, enquanto os tomarenses -tal como os outros europeus do sul- não assimilarem mesmo que não podemos continuar a viver a crédito. Que não adianta tentar arranjar desculpas ou alternativas, porque não há volta a dar-lhe. O mundo que conhecemos e ao qual nos habituámos já foi. Agora, como proclamava o cartaz do G20 em Cannes "Mundo novo/Ideias novas". Ou como é referido no primeiro texto "Nunca fazer durante o dia negócios que te tirem o sono durante a noite". O primeiro recorte explica de forma abreviada e clara o que está em causa. Duas idiossincrasias muito diferentes, uma compatível com a mudança permanente, a transparência e a honestidade subjacente; outra condenada pelo mundo moderno. Por outras palavras, os países europeus mais acossados pelos mercados são aqueles em que impera a ética católica ou ortodoxa. Pelo contrário, os de ética protestante (calvinistas e luteranos) continuam a sua marcha para o futuro, pouco ou nada sofrendo com a crise. Mesmo quando integram a zona euro, como a Holanda ou a Finlândia. Qual a diferença fundamental entre os dois grupos? Enquanto para católicos e ortodoxos ganhar dinheiro é algo pouco digno, donde resulta uma relação assaz complicada com a transparência económica e política, para calvinistas e luteranos ganhar dinheiro é uma forma de honrar a Deus, por isso mesmo algo que dignifica quem trabalha, quem produz, quem ganha, pelo que convém mostrar sempre, todavia sem ostentação, o que se consegue graças ao trabalho. Não será certamente mero acaso se na Holanda as habitações não têm cortinas nas janelas, mesmo que sejam no piso térreo... O segundo recorte informa a respeito de mais uma autarquia a braços com a congénita incapacidade portuguesa para gerir dinheiros alheios. Falou-se há tempos na câmara de Valongo. Agora é a de Faro. Com 55 mil eleitores inscritos, o município procura 30 milhões de euros, para compromissos de curto prazo, não conseguindo vender património nem obter os empréstimos já negociados com a banca. Enquanto isto, a autarquia tomarense, com apenas 38 mil eleitores, compromissos de curto prazo superiores a 20 milhões de euros, não procura vender património nem obter empréstimos para solver os seus débitos. Limita-se a adiar, adiar, adiar...pensando que alguém irá pagar. Quanto ao último recorte, coloca uma dúvida que no caso tomarense faz todo o sentido. Um município que nunca mandou auditar as suas contas por uma entidade externa, ao arrepio do estipulado na lei; que procura esconder tudo o que pode; que só presta informações a saca-rolhas; que aprova orçamentos muito criativos; um município assim deve, ao que tudo indica, ter muitos esqueletos nos armários. E credibilidade nula. Por isso a banca já lhe exige um spread de 7,5%, o que somado aos 2% básicos, resulta em empréstimos a 9,5%. Com uma inflação da ordem dos 3%, não é mau negócio, não senhor. Para os bancos, claro! E os tomarenses, calados como sempre, ensimesmados, na expectativa da vinda de algum D. Sebastião, capaz de resolver em pouco tempo o problema da dívida, do desemprego, do alojamento, da crise, dos ciganos, das portagens, do Ramal de Tomar, do Hospital, do Politécnico, do Convento, da ParqT, da PSP, da reabilitação urbana, do canil, do rio, do campismo, do mercado, do mercado abastecedor, do estacionamento para autocarros, do turismo, da Feira de Santa Iria, da sinalização, da Estalagem, da limpeza, do excesso de chefias e de pessoal de gabinete... O que lhes vale, aos nabantinos tradicionais, é terem as cadeiras da Festa dos Tabuleiros para irem esperando sentados. |
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