"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/Muda-se o ser, muda-se a confiança/Todo o mundo é composto de mudança/Tomando sempre novas qualidades. ... ... ...E, afora este mudar-se cada dia/Outra mudança faz de mor espanto/Que não muda já como soía" [soía = costumava].
Após o título citando Gedeão, pareceu-me adequado este troço de Camões, com mais de quatro séculos, à guisa de intróito. Para dizer o quê? Infelizmente nada de muito encorajador. Pelo contrário. Intentando levar os leitores a entender que os membros do actual executivo, todos eles, são excelentes cidadãos, mas não entendem cabalmente a dramática situação do município tomarense, muito menos as gravosas consequências para todos os habitantes do concelho. Basta com efeito ouvir a perlenga de Corvêlo de Sousa aos microfones da Rádio Hertz, para concluir que a maioria relativa continua convencida de que está a ter um excelente desempenho, pelo que não antevê qualquer necessidade de mudar. Muito menos de renunciar, para provocar uma eleição intercalar que atrairia finalmente sobre Tomar as atenções do país. Um presidente que confessa estar bem, entusiasmado e persistente (ver post anterior) no actual contexto de todos os perigos, demonstra viver num mundo virtual, de sonhos azuis e cor-de-rosa.
Quanto aos restantes membros dos "Sete magníficos", se excluirmos as ocasionais e percutantes farpas de Luís Ferreira e Graça Costa, nada mais aponta no sentido de entenderem a actual envolvência nabantina. Nem sequer consta que alguma vez tenham avançado com a ideia de uma urgente e indispensável alternativa, a surgir naturalmente de eleições livres e justas, como sempre acontece em democracia.
Estão pois todos em posições semelhantes à do inefável João Jardim, que segundo uma fonte governamental, citada pelo EXPRESSO (página 6 da edição de hoje), "Achou que podia vir cá só para apresentar a conta". Habitualmente era assim e os hábitos têm a vida dura. Desta vez, contudo, Alberto João retornou ao Funchal com a incumbência obrigatória e urgente de indicar cortes, percentagens e datas, tudo devidamente quantificado. Algo de totalmente novo para ele, que em economia política, ao que soa por aí, está como o nosso elenco autárquico -praticamente a zero.
Se prestassem alguma atenção à blogosfera tomarense, os senhores eleitos já teriam concluído que o contexto político mudou radicalmente em relação ao tradicional. A tal ponto que os usuais "músicos de serviço" foram forçados a meter os instrumentos nos estojos, nitidamente desorientados com a cada vez mais rápida evolução da nossa tragédia. Restam apenas quatro ou cinco resistentes, por sinal todos com estilos cordatos.
Significa isto que o grosso da tropa já nem sequer sabe a que santo deve rezar, tantos são os sinais da hecatombe política, social e económica que nos vai enfraquecendo enquanto comunidade.
Procurando inculcar alguma esperança, alvitro que o melhor nas actuais circunstâncias será orar a S. Miguel, tanto mais que é também patrono oficial da freguesia de ...S. Miguel de Carregueiros, ex-S. Miguel de Porrais. No próximo dia 25 há reunião do parlamento local e com alguma sorte, pode ser que se aproveite para celebrar um requiem por alma de uma autarquia desgraçada, forçando de algum modo a ansiada eleição intercalar. Se assim vier a acontecer, será uma decisão que só pecará por tardia. Penso eu.
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