É opinião praticamente unânime, aqui pelas margens nabantinas, que quase tudo o que nos acontece se deve ou é acentuado pela crise. Sendo certo que as galopantes transformações em curso no mundo inteiro, particularmente na Europa e nos USA, precipitaram o agravamento das nossas maleitas locais, não convém exagerar. Outras há que não resultam nem foram ampliadas pelos actuais solavancos do progresso. Pode-se até afirmar que há no concelho de Tomar problemas especificamente locais, a começar por uma flagrante ausência de projectos adequados à realidade envolvente e um vazio de liderança.
Quanto à falta de leadership, (que já ninguém nega, tão evidente se tornou) estamos perante o clássico movimento balanceiro -a um período de excesso (consulado Paiva) segue-se sempre um outro de carência (o actual). Carência que determinados sectores, neste caso autárquicos, se apressam a aproveitar, com nítidos inconvenientes para os contribuintes.
Já no que concerne à ausência de projectos políticos, trata-se de uma lacuna que perdura desde Abril de 1974. Sem ideias substantivas e bem estruturadas para o concelho, referendadas nas urnas ou na AM, os sucessivos presidentes da autarquia tomarense (uma vez mais com a notável excepção de A. Paiva) têm adoptado atitudes sistematicamente defensivas perante os dois sectores onde pululam técnicos superiores -o DOM e o ex-DAU. Desta anormal inversão de papéis têm resultado bastas situações, nefastas para o concelho, desde o infeliz modelo de relacionamento institucional Pedro Marques/Paula Marques até à actual situação, insustentável por muito mais tempo, sob pena de colapso total e irremediável da economia local.
Refiro-me à atitude profissional de alguns quadros superiores e intermédios, os quais têm uma acentuada tendência para postergar os seus deveres de servidores do Estado, entre os quais avultam a honestidade e a lealdade. Enquanto mero cidadão ignorante, é meu entendimento que, salvo pedido expresso nesse sentido, não cabe aos funcionários (por mais eminentes que sejam) emitir opiniões ou impor soluções, mas apenas exarar pareceres técnicos fundamentados, que contenham sempre as várias soluções possíveis. Aos eleitos aquilo que lhes compete, enquanto representantes dos eleitores: optar e mandar implementar.
Tudo isto em prazos razoáveis, compatíveis com os novos tempos, cuja principal característica é a cada vez maior aceleração. Não se admite que determinado requerimento navegue de secretária em secretária e de despacho em despacho, durante meses e meses, ou mesmo anos e anos, até à decisão final. Caso entretanto o requerente não tenha mandado a burocracia autárquica tomarense à fava, enquanto a ervilha enche. Não se admite que alguns requerimentos sejam retidos expressamente, com fins que se adivinham mas não podem ser explicitados aqui, por falta de provas onde conviria. Não se admite que determinado quadro superior, quando instado por um munícipe a fundamentar determinada decisão negativa nada consensual, possa disparar em tom autoritário -"Porque eu não gosto!"
Naturalmente que, enquanto cidadãos, também os funcionários -superiores ou não- podem ter e defender as opções estéticas, morais, desportivas, políticas, partidárias, religiosas, sexuais, vestimentárias ou alimentares que entenderem. Já enquanto servidores do Estado, está-lhes vedado o direito de tentar impôr as suas ideias no exercício das suas funções, domínio sempre reservado aos políticos, assessorados ou não, mas sempre previamente sufragados nas urnas. Enquanto não se perceber e interiorizar isto aqui pelas margens do Nabão, vamos continuar a definhar cada vez mais acentuadamente, até ao inevitável desenlace final -o desemprego de alguns dos causadores da tragédia, vítimas da ganância, da arrogância e da falta de visão. Espera-se que depois não se lastimem, alegando que ninguém os avisou em tempo útil.
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