Christophe Barbier é director do "L'EXPRESS" (450 mil exemplares de tiragem), um dos "cérebros" franceses e dos analistas políticos mais lidos e ouvidos no país. O editorial da edição de 2 de Novembro pareceu um excelente texto para que os leitores de Tomar a dianteira possam comparar situações, propostas e estilos de prosa. Naturalmente que convirá não esquecer as diversas diferenças entre Paris e Lisboa, a exigir as necessárias adaptações caso a caso. Quanto ao resto... é para ler e meditar.
"Não há amor, apenas juras de amor", garantia o poeta Pierre Reverdy. Mas os políticos, que praticam mais a prosa, têm de admitir que acontece com a austeridade o mesmo que com o amor: a austeridade não existe, decreta-se e demonstra-se.
A alguns meses da eleição presidencial, cada "prova de austeridade" pode vir a custar caro nas urnas, irritando algumas corporações ou categorias de franceses. Mas um político que discorre sobre austeridade sem passar à prática, ou no mínimo a propostas concretas, não passa de um Mata-mouros ou de mais um Conselheiro Acácio. Uma vez que o estado das finanças públicas assim o exige, o bom presidente será por conseguinte o que ousar anunciar medidas precisas, dolorosas e eficazes. Exemplos.
- Uma vez que temos de trabalhar mais, mas é impossível acabar com as 35 horas semanais devido à mentalidade dominante, suprima-se a quinta semana de férias pagas. Oferecida na excitação generosa de 1981, [vitória de Miterrand (PS) na eleição presidencial], esta regalia social foi a recompensa tardia e exagerada dos "trinta gloriosos" (1945/1975). A sua eliminação será o preço a pagar pelos "trinta perniciosos" (1978/2008), segundo a expressão do economista Nicolas Baverez.
- Os reembolsos da Segurança Social devem ser indexados sobre os rendimentos de cada beneficiário. Cada cidadão, rico ou pobre, deve ter assistência hospitalar gratuita nos casos de doença grave. Os franceses com melhores rendimentos pagarão taxas moderadoras por qualquer maleita benigna.
- Os primeiros meses de desemprego devem ser menos remunerados, o que permitirá remunerar um pouco melhor os desempregados de longa duração. Se não se simplificarem os despedimentos, as contratações acabarão por ser impossíveis. A flexibilidade constitui um risco que multiplica as hipóteses de novos empregos. A precariedade é filha da rigidez.
- Os franceses terão de mudar os seus consumos, passando a gastar menos com os tempos livres e mais com a saúde, a alimentação ou o vestuário. O indispensável deve voltar a impor-se sobre o supérfluo, após anos e anos de cultura da distracção
- Temos de recuperar as virtudes da solidariedade familiar, para deixarmos de esperar do "estado mamã" os cuidados que devemos ter com os nossos parentes. Os impostos servem para financiar os serviços públicos importantes e o desendividamento do Estado; não a "maternagem" generalizada.
- Acabe-se com o sonho mortífero "todos funcionários públicos". Se a função pública estatal já emagreceu um pouco, a das autarquias, empresas públicas e governos regionais está cada vez mais obesa. Tanto nos ministérios com nos outros casos, aguarde-se a reforma de cinco funcionários par contratar um. Mediante duas condições: que seja jovem e altamente qualificado.
- Que todos os lugares docentes a criar sejam no ensino profissional. Que a orientação para as opções profissionalizantes seja imposta pelos estabelecimentos de ensino a todos os alunos que tenham necessidade dessa formação para assegurar o seu futuro. Políticos, professores, pais: temos necessidade de decretar uma verdadeira mobilização.
São apenas alguns exemplos de medidas que não agradarão a ninguém, mas que serão boas para o país. Muitas outras do mesmo tipo podem encher o saco de presentes de cada candidato, em vez de promessas, ilusões e quimeras. Caso contrário, em 6 de Maio de 2012, não teremos um confronto entre Sarkozy e Hollande, mas entre Mata-mouros e Conselheiro Acácio. Ou vice-versa."
Christophe Barbier, L'Express nº 3148, 02/11/2011, página 3
Tradução e adaptação de António Rebelo
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