terça-feira, 31 de março de 2009

ANTI-CRISE OU PRÓ-CRISE?

Pessoal do PS/Tomar voltou a enviar aqui para o blogue o seu panfleto "Contra a crise a favor de Tomar", desta vez sem desmentir qualquer dos reparos feitos anteriormente, mas acrescentando "Não ofende quem quer." Por se tratar de uma grande verdade, pedimos licença para aconselhar os remetentes a irem mudando o verbo consoante o contexto: mentir, aldrabar, enganar, intrujar, ludibriar, abusar, fingir, etc. etc.
A iniciativa dos socialistas locais, que agradecemos, não nos surpreendeu, pois como é sabido, com o aproximar dos actos eleitorais, elegeram dois inimigos de estimação -Tomar a dianteira e os IpT. Sendo certo que "o ódio não é mais que uma forma de amor", estamos todos contentes com tamanha deferência, aproveitando para informar que, por estes lados do blogue, o pessoal já não alinha em certas patuscadas.
Indo ao nervo e ao tutano da questão, o que nos preocupa cada vez mais é haver dirigentes locais que, cuidando estar a fazer uma coisa, fazem sem querer exactamente o contrário. E não falamos da escolha dos candidatos, pois aí "mais tarde virá quem bons de nós fará". Cingimo-nos exclusivamente à esfera económica, iniciando com uma questão vocabular. Há, em macro-economia duas grandes áreas, a financeira e a da chamada economia real. A área financeira tem a ver exclusivamente com investimentos, lucros, perdas, opções, produtos estruturados, tudo sem ligação directa com mercadorias consumíveis. A área da economia real engloba todo o resto, compra, transformação, produção, marketing, venda, consumo, rendimentos, etc.
No caso concreto do PSD, dos IpT e do PS, arrastados pelo mimetismo em relação às acções do governo, resolveram apresentar medidas "soit-disant" contra a crise. Logo aqui cometeram todos erros de palmatória, dado que, se o governo dispõe de meios legais, materiais e internacionais, para tentar contrariar alguns efeitos da crise, a autarquia não tem qualquer deles, como é evidente, sem necessidade de mais explicações, julgamos nós. Noutra vertente, convém apurar, antes de adoptar quaisquer medidas, de que crise estamos a falar, sendo que isso ainda não foi feito, pelo menos a nível local. É muito mais fácil tentar insultar quem não concorda com certas bojardas...
No caso do PS/Tomar, há pelo menos consciência de que a presente situação local pouco tem a ver com a crise internacional, uma vez que, no tal panfleto, escrevem "...para reduzir os problemas existentes no concelho HÁ DIVERSOS ANOS." Mais ainda, Luís Ferreira, o ideólogo e principal mentor da casa a nível local, escreveu no seu blogue o seguinte: "Especial atenção merece quando um destes grupos (João Salvador) aponta, além da crise financeira internacional, o facto de o Município não honrar os compromissos financeiros que para com ele tem. ... ... A falência técnica da Câmara PSD é cada vez mais uma realidade, como sempre o PS disse. ... ...O problema da crise em Tomar, não é assim de hoje, como muito bem sabemos. ... ...Em Tomar o assunto (ajuda aos cidadãos para minorar os efeitos da crise) merecia especial ênfase em virtude de sucessivos anos de verdadeira RAPINA financeira feita pela Câmara aos seus cidadãos." (Precisamos em Tomar, de mudar!, vamosporaqui, 20/03/09)
Como se vê, o PS/Tomar proclama que a autarquia está falida, que a crise já é crónica e que a Câmara tem explorado excessivamente os munícipes (a tal rapina). Sendo assim, tendo em conta que o Município tomarense tem actualmente um pouco mais de 500 funcionários (tanto quanto foi possível apurar, pois os eleitos recusam-se obstinadamente, pelo menos até agora, a cumprir o disposto na Lei 46/07, designadamente no seu artigo 5º), o que dá a bagatela de um funcionário para 90 habitantes, parece urgente fazer algo de substantivo, de modo a sanear a sua situação económica, complicada desde há anos.
Como em qualquer outro sector, em economia não há milagres. Os recursos são por todo o lado limitados ("não há almoços grátis"), pelo que restam poucas hipóteses de inverter a grave situação. Quer queiram ou não, mais tarde ou mais cedo, e quanto mais tarde pior, os responsáveis terão de agir nas duas vertentes possíveis, em simultâneo, isoladamente ou em alternância.Essas duas vertentes são as receitas e as despesas, sendo que as hipóteses de medidas correctivas não são muitas. Ou aumentam as receitas, ou diminuem as despesas, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Em qualquer dos casos haverá consequências sociais e políticas graves, que nenhum partido quererá suportar isoladamente. Se decidirem aumentar as receitas, haverá protestos dos munícipes e mais alguns irão procurar paragens mais clementes, pelo que as receitas, em vez de aumentarem, diminuem. Como bem sabem os economistas, "demasiado imposto mata o imposto". Se, ao invés, resolverem diminuir as despesas, terá de haver redução de consumíveis, de ajudas de custo, de horas extraordinárias, redução de funcionários e, na medida do possível, despedimentos e/ou não-renovação de vínculos precários.
Como se vê, o futuro é sombrio, ganhe quem ganhar, governe quem governar, administre quem administrar. Quanto mais crédito pedirem, maiores são os encargos a assumir, o que, com as receitas a desabarem...
Pois foi neste contexto que conhecem tão bem, como já foi demonstrado acima, que os socialistas locais, bem como os independentes e o PSD, resolveram avançar com medidas ditas anti-crise e a favor de Tomar, mas na realidade tendentes a diminuar as receias e a aumentar as despesas do Município, em 2,6% no caso do PS, OU SEJA EXACTAMENTE O OPOSTO DO QUE DEVE SER FEITO, mas não dará votos, por motivos óbvios, igualmente elencados acima. Trata-se, por conseguinte, de pura demagogia, tendente a agravar a crise local a médio e longo prazo, a coberto de "esmolinhas" para angariar votos. Não sendo crime, delito ou contra-ordenação, trata-se inquestionavelmente de atitudes inaceitáveis no quadro de uma política honesta e responsável. A não ser que os dirigentes e outros eleitos locais ainda não se tivessem dado conta das implicações gravosas das medidas propostas, que em vez de minorarem iriam agravar a crise. É o que falta apurar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A TERRA DA RETRANCA


Publicámos há pouco dias "O país das desculpas" (27/03), com o intuito de chamar a atenção para o pouco saudável clima social em que vivemos, no qual, em resumo, ninguém tem culpa de nada. É tudo culpa dos outros, do tempo, da pouca sorte, das circunstâncias, da crise ou, prosaicamente, deste país onde nascemos e vivemos, sem se pensar sequer que, afinal, o país somos nós.
Factos posteriores vieram engrossar o argumentário que já detínhamos. É o caso das nossas mensagens mais recentes, criticando frontalmente determinado panfleto político e, de caminho, determinado discurso. Apesar dos exemplos dados, os visados adoptaram dois comportamentos tradicionais aqui pelas margens do Nabão, como se nada tivesse mudado desde há mais de 30 anos: a retranca passiva e a retranca activa.
No primeiro caso, reconhecendo implicitamente que, no jogo de ténis verbal, não têm raquete para o adversário presuntivo, decidem manter um silêncio esfíngico, em tempos idos e que não voltam sinal de grande sabedoria. No outro caso, viciados na leitura de jornais desportivos que escrevem a 80% sobre futebol, lá conseguiram assimilar que "a melhor defesa é o ataque", esquecendo que na política pode bem não ser sempre assim, e vá de adoptar a retranca activa. Dado que as cabecitas nunca foram convenientemente formatadas, nem em casa nem nas diferentes escolas, não dispondo por isso de suficiente capacidade de contra-argumentação, o melhor é ignorar deliberadamente tanto a forma como o conteúdo, e passar a atacar quem se presume que seja o autor. E se não for, paciência! Que se aguente!
Trata-se da nova versão do muito conhecido caso do mau dançarido, que garante dançar bem, mas ser prejudicado pelo chão, que é torto. Na circunstância, ajudado pela armadura do anonimato, até houve alguém, extremamente valente, que ousou ir mais longe. Escreveu com todas as letras que "X pôs-se a jeito e agora leva no osso de todos os lados. É bem feito!" Assim como naquela anedota do sepultado, com a mão de fora a gritar "tirem-me daqui que não estou moro, e um outro indivíduo, politicamente solidário, calca-lhe a mão com a bota, exclamando em voz alta: "Pois não, estás é mal enterrado!" Fica-se, por conseguinte, a perceber que o caso deve ter ocorrido em Tomar. E se não aconteceu, mentalidade para isso pelo menos não parece faltar, a julgar pela amostra...
Seja como for, para evitar novos dislates, aqui deixamos um alvitre na foto acima. A citada maquineta é mesmo o que estava a fazer falta na política local. Antes de mais, porque permite detectar as notas de banco falsas, coisa cada vez mais corriqueira. Em segundo lugar, porque também deve permitir a detecção de fífias ou notas musicais falsas, tarefa importantíssima, visto que determinado partido é dirigido por dois músicos, no sentido polissémico do termo. Por fim, nada melhor que uma máquina assim, para anular as notas escritas menos elegantes, oportunas ou fidedignas. Ficamos à inteira disposição para indicar onde se vende a tal máquina. Depois não nos venham acusar de falta de participação empenhada...

domingo, 29 de março de 2009

POLÍTICA HONESTA E COERENTE

Em tempo oportuno, comentou-se aqui, de forma deliberadamente muito sucinta, um panfleto que o PS/Tomar anda a distribuir à população. Escreveu-se então que o cabeçalho "Contra a crise a favor de Tomar" era pouco "legível", para não dizer confuso ou tosco. Feito isso, considerou-se o assunto encerrado em termos de apreciação e passou-se a outros temas. Inesperadamente, no quadro do nosso "post" "A acção e a palavra", com a tradução do comentário de Jacques Attali, apareceu-nos o convite aberto à leitura atenta do já referido panfleto, como primeira mensagem. Supomos ter sido iniciativa dos socialistas locais, o que nos leva a aceitar tão amável "convite à valsa", pedindo desde já desculpa pelas eventuais nódoas negras no amor-próprio de alguns. Contra factos...

É claro que o tal prospecto tem um mérito -existe, o que já não é nada pouco numa cidade como a nossa, onde a produção escrita não abunda, por razões que nos abstemos de enunciar por agora. Dito isto, serenamente e sem qualquer ponta de ressentimento ou de acrimónia, aqui vai a nossa opinião frontal.

Além do título manifestamente infeliz, ou pelo menos pouco adequado, o citado escrito é, a nosso ver, incoerente, mentiroso e desprovido de factos justificativos. É incoerente porque ora afirma que "propôs um conjunto de soluções para minorar os efeitos da crise internacional", ora explica que se trata de medidas "para reduzir os problemas existentes no concelho há diversos anos". Afinal em que ficamos? "Minorar os efeitos da crise internacional", que começou a fazer-se sentir no segundo semestre do ano passado, ou "reduzir os problemas existentes no concelho há diversos anos"?

É mentiroso, visto que, depois de ter proclamado ser seu objectivo "reduzir os problemas existentes no concelho há diversos anos", acrescenta logo mais abaixo "Estou certo de que JUNTOS conseguiremos ultrapassar este momento difícil para todos", quando ninguém sabe, a nivel nacional ou internacional, como acabará a crise, nem sequer se acabará. No Japão já dura há dez anos, e ainda ninguém vê luz ao fundo do túnel. Assim sendo, manifestar certeza em relação a "ultrapassar ESTE MOMENTO DIFÍCIL PARA TODOS", não é só faltar à verdade, é cultivar deliberadamente o "discurso oco".

É mentiroso também, dado que refere "As medidas por nós propostas, a seguir indicadas", quando afinal não se segue qualquer indicação de qualquer medida, o que parece indiciar ter sido o texto excertado de outro onde figuravam as ditas propostas agora ausentes.

Finalmente, é desprovido de factos justificativos, posto que acusa a "Câmara, que continua a prejudicar as pessoas e especialmente as pequenas empresas", mas não dá quaisquer exemplos. Não diz onde, como, quando e para quê, mostrando uma vez mais a predilecção pelo discurso oco.

Já sabemos! Já sabemos! Eventualmente vão contra-argumentar que os outros candidatos também... Que o Presidente até fez um discurso paupérrimo na Comunidade do Médio Tejo, etc. etc. Pois tudo isso é verdade, mas lá diz a voz do povo "Com as desgraças dos outros pode a gente muito bem." Por outro lado, cabe recordar que os erros de uns não constituem justificação aceitável para os dos outros.

Acresce que o supracitado panfleto é apenas um sintoma, preocupante é certo, mas apenas sintoma, de uma doença grave e, se calhar incurável -a política pacóvia. É pelo menos a maneira mais amável de classificar aquela foto no blogue do PS, com o pessoal todo de copo na mão numa adega, com a legenda genial "Aqui numa visita, sempre necessária, a uma adega bem afamada na zona, com Carlos Silva, o grande chanceler das visitas." Os mais velhos recordar-se-ão certamente que Salazar disse um dia: "Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses". Quem diria que, meio século mais tarde, o PS/Tomar adoptaria o mesmo princípio, como forma de combater a crise e conquistar votos. E depois ainda dizem que aqui no tomaradianteira é que há gente com tiques fascistas...

sábado, 28 de março de 2009

A ACÇÃO E A PALAVRA


Jacques Attali foi conselheiro económico de Mitterrand e elaborou recentemente um relatório com 114 medidas para superar a crise, a pedido do presidente Sarkozy. O seu livro mais recente, "A crise e depois" (ainda não traduzido em português) já vendeu 90.000 exemplares em três meses, coisa extremamente rara em economia. De religião judaica, nasceu na Argélia, então administrada pela França. Escreve semanalmente e mantém um blogue em www.lexpress.fr , onde pode ser consultado, eventualmente, o original aqui traduzido e adaptado por A.R.

Para sobreviverem, tanto os países como as empresas vão ter que alterar profundamente as suas estruturas respectivas. As empresas sabem-no melhor do que os países, porque têm consciência da sua precaridade. Têm sempre presente, mesmo se não lhe dão tal designação, a questão de saber se o seu "modelo de negócio" (o célebre business model, definido pela primeira vez pelas universidades anglo-saxónicas) ainda é eficaz. Ou seja, se podem continuar a produzir e a vender de maneira equilibrada. Sucede que, mesmo se muitas continuam actualmente esperançadas que tudo vai voltar rapidamente ao mundo antigo, começam também a compreender, em numerosos sectores (e prioritariamente nos primeiros atingidos: banca, automóvel, distribuição, transporte aéreo), que os respectivos "modelos de negócio" não conseguem manter-se: não há clientes suficientes, não há crédito bancário em condições. O que implica alterações profundas e duráveis.
Primeiro, alterações quantitativas: para sobreviver durante vários anos com receitas muito mais limitadas, terão de reduzir as despesas de investimento, os stocks e as gamas de produção. Terão igualmente que aumentar os prazos de pagamento aos fornecedores. Terão de transformar uma parte tão grande quanto possível dos custos fixos em custos variáveis. Dito de outro modo -generalizar a precaridade, contribuindo assim, involuntariamente, para agravar a crise.
A seguir, alterações qualitativas: os consumidores vão procurar consumir cada vez mais de forma esclarecida. A ostentação já não está na moda e entramos de modo prolongado numa economia de saldos, na qual cada empresa terá as maiores dificuldades para manter a especificidade das marcas, face aos produtos anónimos.
Os governos, confrontados com os mesmos problemas, não agem tão rapidamente. Porque não têm os mesmos problemas de sobrevivência; porque são, por vezes, mais ameaçados pelo eleitorado se fizeram do que se não fizerem; porque pensam ter tempo; porque dependem de mecanismos de decisão bastante complexos e de lobbys contraditórios. Assim, como não podem agir, vão falando: anunciam planos de retoma que mal conseguem financiar, quando conseguem. Enquanto que a primeira prioridade é o aumento dos fundos próprios dos bancos, a melhoria da tesouraria das empresas, o incremento da procura e a redução das dívidas, dos défices, por conseguinte, nada de sério acontece em nenhum país.
Pelo contrário, os bancos centrais pouco ou nada dizem, por causa da rigidez das suas doutrinas e da unicidade dos seus objectivos, mas vão agindo: fornecem somas imensas à economia, permitindo mesmo, ao arrepio de toda a ortodoxia, que as empresas obtenham dinheiro directamente, por troca com papel comercial, usando para tal designações tão discretas e obscuras quanto possível. (A última designação aparecida nos comunicados dos governadores de bancos centrais é quantitative easing, ou seja "facilitação quantitativa", o que seria melhor traduzido por "máquina de fazer notas").
Mas não será mesmo assim suficiente: nenhuma empresa poderá sobreviver só com as suas alterações internas, nem com o recurso ao papel-moeda. É claro que não poderá depositar no banco central títulos de débito dos seus clientes, se não tiver clientes. Se o mercado, uma vez mais, for mais ágil e mais adaptável que a democracia, caminharemos aceleradamente para a hiperinflação (acima de 20%), forma extrema de deslealdade, que fará desaparecer as dívidas, punindo os credores. Há empresas que já se estão a preparar para isso. Muitas democracias vão padecer e algumas não resistirão.

x-x-x-x

Questionarão os habituais cépticos "Que tem isso tudo a ver com Tomar?" Nada, como é óbvio! Somos descendentes dos templários, o que nos permite andar à chuva sem nos molharmos. À cautela, porém, será melhor voltar a ler com atenção, até chegarem à conclusão que as medidas já tomadas pela autarquia, e não só, nada mais são que "música de embalar". O posterior despertar poderá ser um verdadeiro pesadelo, se entretanto nada fizermos individualmente para prevenir um futuro tão sombrio. E meditar muito antes de cada decisão, em Outubro próximo.

TOMAR VISTA PELOS DE FORA


Na sequência do nosso "post" "Sobre turismo de pé descalço", de 26 do corrente, alguns leitores tiveram a amabilidade de manifestar curiosidade em relação aos conteúdos do guia citado, designadamente no que se refere a Tomar. Na impossibilidade prática de citar na totalidade as referências a Tomar, aqui vão as que nos pareceram mais significativas e que não foram evocadas na mensagem anterior.

Como se pode ver, o país visto pelos turistas não é bem aquele que é considerado pelos políticos. No distrito de Santarém, por exemplo, há apenas um local assinalado -Tomar, como não podia deixar de ser. Qual a justificação para a sede da Entidade de Turismo ser em Santarém? Isso devem perguntar aos senhores políticos.

Geralmente, os guias turísticos adoptam um determinado modelo-padrão, o qual é depois utilizado para todas as localidades importantes a descrever. Neste caso do "Routard" o modelo- padrão é este: Nome da terra > Chegar/Partir > Endereços e informações úteis > Onde dormir? > Onde comer ou saborear um bom bolo? > Onde beber um copo > A ver. No caso de Tomar, que com Fátima, Ourém e Almourol são as únicas curiosidades do distrito, e na parte que nos interessa agora, começa-se com Onde dormir?

De barato a preço médio: Residencial União. Cerca de 20 quartos, barulhentos os das traseiras, rudimentaires os sem banho. Acolhimento muito simpático e asseio sem mácula. Internet a preços módicos. Residencial Luz. Simpática casa antiga, com alguns quartos restaurados. Internet. Residencial Kamanga. Muito bem gerida, num prédio novo. Quartos 311 e 312 com excelente vista para a cidade e o convento.

De mais chique a muito mais chique: Pensão Luanda. Grande pensão 3 estrelas com quartos modernos e com estilo. Barulhentos os da fachada. Estalagem de Santa Iria. Restaurante afamado no r.c. Uma paisagem das mais românticas. Aliás, paga-se sobretudo a paisagem. Quinta da Anuncida Velha. Antiga quinta dos templários. 5 quartos, 2 apartamentos e uma suite de muita categoria.

Onde comer? Onde saborear um bom bolo? De barato a preço médio: Tabuleiro. Excelente endereço. Casa Salgado. Ir ao almoço a esta casa de pasto movimentada, com clientela operária quase exclusivamente masculina. As cabeças todas mergulhadas nos pratos. Cozinha de enfartar. A terrina inox está no meio da mesa. Cada um serve-se à vontade. A Bela Vista. Velha casa típica, coberta de vegetação. O restaurante afamado da cidade. Bucólico-turístico. Estrelas de Tomar. Unanimemente considerada a melhor pastelaria de Tomar. Mais chique: Chico Elias. Um endereço extraordinário. É preciso reservar, mas garantimos que vale a pena. É o ponto de encontro dos bons garfos locais. O melhor bacalhau com natas de todo o país. Pratos únicos. Quando reservar por telefone, peça para falar com a Isabel, a filha da cozinheira Céu, que fala francês.

Onde beber um copo? Café Paraíso. Mais um soberbo café antigo para a sua colecção. Ponto de encontro da juventude local. Casa das Ratas. Uma verdadeira curiosidade esta taberna-adega. Pequena, coberta de pó, com teias de aranha e serpentinas à entrada. Tudo autêntico, ou a fingir? Seja como for, bêbados garantidos. Comem-se pedaços de queijo, peixe frito ou marisco. Bebem-se vinhos locais bons e baratos. A ver: Convento de Cristo. Uma das visitas obrigatórias em Portugal. Um encantamento permanente, um verdadeiro choque arquitectónico. Pelo menos uma hora para a visita. ...Janela do capítulo. É a mais fascinante das esculturas manuelinas do país. Resume e concentra de um modo perfeito toda a arte manuelina, ponto mais alto do delírio vegetal. O musgo contribui ainda mais para lhe dar espessura e relevo contrastado. Musgo a devorar a pedra, vegetal volvendo ao vegetal...

E pronto, aqui fica o essencial das impressões de alguém, certamente pessoa de cultura, que nos visita regularmente e gosta muito desta terra. Ocasião também para perceber um dos motivos que levam o nosso companheiro Rebelo a ser encarniçadamente contra a limpeza da Janela. Mesmo a laser!!!

sexta-feira, 27 de março de 2009

O PAÍS DAS DESCULPAS

Habitamos no país das desculpas. Há centenas de milhares de obesos de todas as idades e de ambos os sexos, com predominância dos mais novos. Perguntando a qualquer um se come demasiado, se come mal, se come demasiadas gorduras, se ingere excesso de fritos, se come carne a todas as refeições, se não come fruta nem legumes em quantidade suficiente, a resposta é sempre negativa. Até come pouco, tem muito cuidado com a boca, gosta de frutas e verduras. São as hormonas que lhe provocam a obesidade.
Em qualquer outra área, o esquema é exactamente o mesmo -a culpa é sempre dos outros, nunca do próprio. Basta pensar nos acidentes rodoviários, em que a culpa é das estradas, na administração demasiado lenta e burocrática, em que a culpa é do sistema informático e da legislação, ou do ensino cada vez mais facilitista, em que a culpa é do ministério, dos professores, dos alunos ou dos pais, consoante o estatuto da pessoa com quem se fala. Se for um pai ou uma mãe, dirá logo que o filho, por acaso, até é muito educado e estudioso, os colegas e os professores é que são uma desgraça. Estes, por sua vez, se questionados, dirão que o tipo até não é grande cabeça e/ou que os pais se esqueceram um bocado de o educar como devia ser, e assim sucessivamente.
Neste clima humano e após a bronca da final algarvia que tanto tem dado que falar, causou estranheza e caiu como uma bomba de implosão, a declaração pública do árbitro faltoso, 24 horas depois, admitindo sem rodeios que se enganara. É um bom sinal de que as coisas, na melhor das hipóteses, já começam a mudar. A ver vamos se é mesmo para continuar, ou se foi apenas um foguete de fogo de artifício.
O "post" anterior intitulado "O estado a que isto chegou..." mostra que há cada vez mais cidadãos preocupados com o triste espectáculo que proporcionamos a quem vive além-fronteiras e nos honra com a sua visita. Mostra igualmente que Tomar a dianteira está longe de ser, no país, uma voz isolada, quando discorda do excesso de protagonismo concedido ao desporto em geral e ao futebol em particular. Bem sabemos que aqui em Tomar... É verdade sim senhor, somos quase uma voz solitária. Mas o mesmo acontece na política, onde além de nós, só o Nabantia (de vez em quando) e o blogue do Templário, exclusivamente graças aos cidadãos que para lá mandam mensagens. E até no país, sem Vasco Pulido Valente, António Barreto, Silva Lopes, Medina Carreira, Maria Filomena Mónica, e pouco mais, que passam por ser aves agoirentas segundo uns, maus da fita, segundo outros, não passaríamos de rebanho-padrão em termos de conformismo e mansidão. Somos assim, e pronto! Pode ser que com a crise...

O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU...


ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

Colaboração Papelaria CLIPNETO
Redacção de Tomar a dianteira
O idoso de Carregueiros burlado em 4.500 euros é notícia de primeira página nos dois semanários locais e no MIRANTE. Outra notícia muito badalada durante a semana foi o caso do cavalo da Golegã que ganhou um concurso nacional, mas afinal veio-se a apurar depois que não pode gerar descendência por ter os testículos fora do sítio. Os mais velhos aqui do blogue começaram logo a recordar-se do tempo em que ainda iam ao alfaiate mandar fazer fatos completos, e este lhes perguntava "arruma para a esquerda ou para a direita?", para poder talhar as calças a contento. "Era a única ocasião em que não havia qualquer perigo ao admitir que se "arrumava para a esquerda", desde que não fossem as ideias, bem entendido!
Notícia igualmente curiosa e de primeira página, a do Templário quando escreve: "Eles foram pais aos 17 anos", com fotografia e tudo. Antes de mais, o título não é totalmente verídico, apesar de ser verdadeiro. Verdade, verdadinha, eles não foram pais, mesmo nesta época de uniões homosexuais. Ele foi pai, ela foi mãe. Ou agora as coisas já não são como sempre foram? Dito isto, ficaram-nos muitas perguntas sem resposta: Que se pretendeu realmente noticiar? O facto de serem tão novos? A imprevidência dos jovens? A falta que um preservativo pode fazer? A situação dos pais, que vão ter de sustentar os filhos e a nova descendente? O ensino que pelos vistos está longe de preparar para as coisas da vida?
Ainda na área da descendência, segundo O RIBATEJO, a ASAE não é muito dada a bacorices e vai daí mandou encerrar uma sex-shop, alegando que se encontrava a menos de 300 metros do cemitério. Também aqui nos apareceram e ficaram muitas dúvidas. Luta acérrima contra as viúvas e viúvos alegres? Receio de que algumas tampas de caixões se pudessem levantar? Tentativa de evitar que os coveiros se ponham a brincar com o verbo enterrar? Ainda por cima, estas coisas não se inventam, a notícia é assinada por João Nuno Pepino. É verdade!
Também curiosa, mas sem conotações sexuais, a manchete do MIRANTE "Empresário de Abrantes deixa crescer as barbas até lhe pagarem o que devem". Pela primeira vez, que se saiba, alguém vai poder dizer com verdade "Tenho dívidas já com barbas." Ganda país!
Na área política, a tal de que alguns semanários não gostam mesmo nada, há factos importantes a assinalar. Começamos pelo PSD local e regional. Enquanto em Santarém o líder distrital e deputado, Vasco Cunha, nem sequer foi convidado para a apresentação da candidatura de Moita Flores, como independente... pelo PSD, em Tomar o tesoureiro e membro da Comissão Política demitiu-se dos dois cargos e até mandou a respectiva carta para a imprensa. Extremamente dura, a missiva, cuja leitura aconselhamos vivamente, mostra bem que a situação local dos social-democratas poderá ser tudo. Brilhante ou sequer normal é que não é.
Face ao evidente afundanço do PSD local, mais visível a cada dia que passa, as outras forças políticas também não podem embandeirar em arco, bem pelo contrário. CDU e BE estão, e tudo indica que estarão, confinadas ao usual papel de ornamentação e/ou de animação de pista. Isto se tanto o PSD como o PS abandonarem a ideia de lhes reduzir as intervenções ao mínimo.Paralelamente, com entradas de leão dos mais pequenos, os IpT continuam com evidentes dificuldades para explicarem aos eleitores o que pretendem afinal, pois a maior parte ainda não entendeu a união sagrada Pedro Marques/dissidentes da CDU. E há também o problema das obrigatórias presenças femininas nas listas. A vida é dura...
Pelos lados do PS/Tomar, as coisas também não vão nada bem, embora os seus dirigentes se esforcem para difundir o contrário. Parece haver cada vez mais nervoso miudinho, à medida que se aproxima a hora da verdade. No blogue do PS local figura o título "Estalagem de Santa Iria"; vai-se a ler e o texto respectivo refere-se ao Convento de Santa Iria. Está mal! Na estalagem nunca houve freiras residentes e no antigo convento nunca desapareceu nenhum piano, entre muitas outras coisas.
Em termos de pré-campanha eleitoral também já apareceram os primeiros erros crassos, o que se estranha, dado que o presidente da secção local até é diplomado em Educação Visual. Logo à cabeça aparece aquele prospecto pouco feliz, com o candidato a rir de tal forma que parece estar a escarnir dos eleitores. Segue-se o estranho slogan "Contra a crise a favor de Tomar". Percebe-se que são contra a crise; mas a crise é a favor de Tomar? Se não é, com tal redacção parece. E em política...
Para os menos convencidos, aproveita-se para lembrar o que aconteceu à TAP, nos anos 70 do século passado. Começaram a difundir o slogan "A TAP não anda. Voa!" Com a sua peculiar pronúncia do norte, os portuenses e outros logo começaram a zombar -"A TAP num anda boa!". E lá se foram os cartazes e outras mensagens para o lixo. Oxalá o folheto dos socialistas locais tenha o mesmo destino, quanto antes.
Uma última nota sobre a visita dos socialistas à Freguesia da Sabacheira. Há no blogue PS uma brincadeira com o candidato Vitorino e a fotografia de uma larangeira carregada, com a legenda
"A forma como o candidato gosta mais de laranjas -espremidas!" Muitos leitores rirão amarelo, pensando que Vitorino também já foi laranja e até é bem capaz de gostar de espremer mais coisas para além das laranjas... caso contrário não estaria na política.

A MAMAR É QUE A GENTE SE ENTENDE...

Do PÚBLICO, com a devida vénia:

...Tal como há trinta anos, os portugueses vivem hoje na convicção de que o Estado, via governos, dá pensões, aumentos, subsídios, e que só por maldade ou "insensibilidade social", como diz o ministro Silva Pereira, alguém questiona esta perspectiva da dádiva governamental. Durante décadas arreigou-se a ideia de que os governos não só dão, como vão dar cada vez mais. A perfeição aliás seria em última análise um governo que desse tudo. Jamais se questionou donde viriam as verbas para sustentar tanta dádiva e tanto direito a tanto serviço gratuito. Muito menos pareceu pertinente analisar o que implicaria para cada um de nós em termos de liberdade passarmos para um modelo social em que os cidadãos se dividem em contribuintes e assistencializados...

Helena Matos (O título é de Tomar a dianteira)

quinta-feira, 26 de março de 2009

SOBRE TURISMO DE PÉ-DESCALÇO



Agora que se iniciaram a obras tendentes a possibilitar a reabertura do nosso Parque de Campismo, em tempos o melhor do país, resolvemos ir à procura de uma das causas do seu encerramento -o turismo de pé-descalço. Na impossibilidade prática de chegar à fala com visitantes desse tipo, geralmente conhecidos por "caracóis", "estradeiros" ou "mochileiros" (há também a designação inglesa "backpackers", mas é ambígua, pois traduzida à letra pode dar "pacote atrás" ou "pacote traseiro"), conseguimos encontrar a bíblia desses viajantes. Exactamente o "Guia do estradeiro", ou "Guia do mochileiro". Excelente oportunidade para saber a forma como os outros nos vêem e o que dizem de nós.
A primeira foto mostra que, afinal de contas, esta gente não é bem como a nossa juventude, que gosta de se embebedar, de fazer barulho, de partir tudo e pouco mais. Os nossos mochileiros e mochileiras pelo menos demonstram ter bom-gosto e bom-senso. Nas suas paixões incluem as paisagens alentejanas, Serpa, Monsaraz, Bairro Alto, eléctrico 28, a ginja de Óbidos, o fado de Coimbra, o mercado da Nazaré e "Admirar embevecido uma janela, pensando que é a mais bela do Mundo: acontece no Convento de Cristo, em Tomar". Quando se pensa que ainda há tomarenses que nunca tiveram sequer vontade de ir ver "a Janela"...
Sobre a nossa amada terra, as coisas começam logo a complicar-se para quem vem de Fátima por Ourém: "Muitos param aí por engano, confundindo o castelo altaneiro com o de Tomar, mas poucos lamentam o engano..." Sinal evidente de que Tomar está muito bem sinalizada. Já se sabia, mas aqui fica uma confirmação prática.
Já em Tomar, os mochileiros lêem esta introdução: "A cerca de 35 kms de Fátima, pela nacional 113, Tomar revela-se uma das cidades mais "toscanas" de Portugal. Tons quentes das suas pedras banhadas pelo sol poente, com todos os matizes do ocre ao castanho claro, ao rosa alaranjado... Na nossa opinião uma etapa muito agradável para passar a noite e saborear um lusco-fusco pachola e untuoso. Na parte velha, magníficos azulejos nalgumas fachadas. Durante os passeios a pé, ocasião para descobrir estabelecimentos de outra época como velhas livrarias, chapelarias e acessórios da última moda, cohabitando com as velhas ruelas multicentenárias. Mas enfim, Tomar é antes de mais o soberbo Convento de Cristo e a mais célebre janela de Portugal..."
Seguem-se referências amáveis a vários estabelecimentos hoteleiros locais, da Casa Salgado ao Chico Elias, mas lá aparece a nota negativa a dado passo: "Camping Pelinos, difícil de encontrar, ...atendimento nem sempre simpático e terreno um pouco inclinado. Sanitários sumários....Bastante barulhento."
Depois disto e muito mais, quem mantém que os mochileiros não têm dinheiro, não interessam e não sabem ao que vêm? Não tiveram a sorte de nascer em Portugal (salvo excepções), mas isso já é outra música...

quarta-feira, 25 de março de 2009

É MELHOR IR AVISANDO...

Nota prévia

Embora geralmente não pareça, há mais vida para além do futebol e do caso da grande penalidade no último Benfica-Sporting. Por vezes, essa vida é tão dramática para milhões de cidadãos europeus como nós, que nem sequer fazemos uma pálida ideia. Ora tenham a bondade de ler, com a máxima atenção possível, o que segue. É um bocadinho longo demais, mas garanto-vos que vale a pena. Porque, como reza o ditado bem conhecido "Quando vires as barbas dos vizinhos a arder, vai pondo as tuas de molho."
APESAR DA AJUDA INTERNACIONAL, A LETÓNIA LUTA PARA FUGIR DA FALÊNCIA
Professores e outros funcionários públicos entre as principais vítimas da crise
A Letónia, nosso parceiro na NATO e na União Europeia desde 2004, que não faz ainda parte da Zona Euro, é um dos países europeus mais atingidos pela crise. Uma professora de línguas e tradução simultânea na Universidade de Riga, a principal do país, resolveu colocar-se em ano sabático. "Desde o 1º de Janeiro passado cortaram-me metade do vencimento. Ofereceram-me a possibilidade de trabalhar mais e ganhar menos. Antes recebia 565 euros mensais por um horário completo; agora só querem pagar 283 euros." A professora não aceitou e agora faz traduções para ganhar a vida.
Uma outra, professora adjunta na mesma universidade, americana originária da Letónia, decidiu continuar a leccionar, apesar de já não lhe pagarem. O seu lugar foi extinto, por falta de cabimento orçamental. Para ela, "O drama da Letónia é a ausência total do sentido do bem comum. A política não passa de uma meio rápido para se chegar a milionário."
A Comissão Europeia, o FMI e vários governos europeus intervieram de forma maciça antes do Natal de 2008, com uma ajuda conjunta de 7,5 biliões de euros. Porém, o "apertar o cinto" daí resultante é dramático. Os vencimentos do sector público diminuiram 15% em média, como forma de começar a cumprir a promessa, feita ao FMI e restantes credores, de limitar o défice a 5% do PIB.
Um polícia com quem falámos já perdeu 35% do seu vencimento desde Janeiro. Muitas escolas vão ser encerradas e os respectivos professores despedidos. Assediada, a ministra da Educação tenta encontrar soluções de recurso: "Os professores podem ten
tar obter bolsas de formação, financiadas pelos fundos estruturais da União Europeia. É bom. Os professores também devem aprender a competir. Quanto aos mais antigos, podem pedir a aposentação. A pensão não é suficiente para viver, mas têm as hortas, que sempre podem dar uma boa ajuda, se bem cultivadas."
Entretanto, o novo primeiro-ministro, em funções desde o mês passado, acaba de aunciar novos cortes orçamentais. "Sem cortes substanciais, a Letónia terá de declarar falência." Como se isso não bastasse, a comunidade internacional já ameaçou suspender o pagamentos das prestações programadas, caso o país interrompa a aplicação do rigoroso plano de austeridade, tendente a reduzir o défice até aos acordados 5% do PIB.
"Neste momento, o slogan mais popular na Letónia é: aproveite a ocasião para mudar de vida, disse-nos um cidadão, que acrescentou -"é como durante a era soviética, que durou mais de 40 anos; vivia-se à espera de um futuro melhor. Para a prometida vitória final do comunismo, estávamos sempre prontos a aguentar tudo."
Um jovem professor de informática, que tenciona emigrar em breve para a Austrália, declarou-nos estar muito pessimista quanto ao futuro: "A violência urbana vai aumentar muito quando daqui a um ano o Estado deixar de poder pagar o subsídio de desemprego."
Olivier Truc, Le Monde de 25/03/09 - Traduzido e adaptado por A.R.
Perante o descrito, tudo indica que o melhor será continuarmos preocupados com o futebol, sobretudo com o caso da grande penalidade em que o árbitro errou. A política é muito chata e até uma actividade pouco recomendável para pessoas de bem. Sobretudo a nível local. Ou estarei a ver mal?
Depois não venham lastimar-se que ninguém vos avisou atempadamente...

E DEPOIS QUEREM QUE ISTO MUDE... 2

Público

Quando decidimos escrever lateralmente sobre o desporto em geral e o futebol em particular, a propósito dos inscritos nos vários partidos políticos, já nos palpitava que iríamos ter respostas tipo cão "basset", o mesmo é dizer meio cão de altura e cão e meio de comprimento. Por isso, resolvemos seguir o conselho de alguém aqui do blogue, que considera indispensável guardar sempre o dobro das munições da primeira rajada para as rajadas seguintes. Face aos comentários já lidos, que são sempre bem-vindos desde que educados, parece-nos útil acrescentar o que segue. Sem rancor ou espírito de vingança. Apenas para tentar esclarecer.
"A opinião é livre, os factos são sagrados" ouvem os alunos em qualquer escola de jornalismo. Infelizmente nem todos se recordam sempre disso em todas as suas intervenções, escritas ou não. E então quando nem sequer se lá andou, ou se frequentou um estabelecimento menos conceituado, chega a ser uma verdadeira desgraça.
Neste assunto, conforme qualquer leitor poderá verificar, não emitimos qualquer opinião, positiva ou negativa. Houve a preocupação de apenas elencar factos, respeitando-os rigorosamente. Nauseados com o escrito, leitores responderam como quase sempre fazem -com meras opiniões não fundamentadas e procurando, nalguns casos, ofender quem ousou apresentar factos que são incontroversos. É o que se chama, se não erramos, "desviar para fora", aproveitando, pelo menos num caso ou dois, para tentar dar uma canelada no adversário.
Usando novamente apenas factos do conhecimento geral, comparemos duas situações. Um simples erro do árbitro, que ele admitiu na TV 24 horas mais tarde, tem provocado rios de tinta e de saliva, debates, entrevistas, comentários e artigos de fundo, perante o desespero de numerosos telespectadores, que lá vão mudando de canal, para constatarem que andam todos ao mesmo, ou quase. A nível local, os dois semanários de maior difusão publicam suplementos de pelo menos doze páginas. Entretanto a situação degrada-se, tanto a nível nacional como local, sem que a comunicação social dê mostras de se preocupar com tal estado de coisas. Será isto normal?
É muito fácil opinar que A, B ou C embirram com o futebol e/ou com o desporto. Difícil, ou mesmo impossível, será convencer a maioria silenciosa de que não há qualquer relação entre tal estado de coisas e as dificuldades que nos atormentam. "Não há almoços grátis", que é como quem diz que o dinheiro não chega para tudo. E então quando é mal governado, nem se fala...
A concluir, uma chamada de atenção para a reprodução que encabeça este texto. Repare-se como os grandes jornalistas, neste caso do PÚBLICO, conseguem "dar a volta ao texto" -trata-se de factos, de opiniões, ou de ambos?

terça-feira, 24 de março de 2009

E DEPOIS QUEREM QUE ISTO MUDE...

Total 314.128

O gráfico acima reproduzido, retirado do Diário de Notícias de 22 do corrente, mostra bem o país que somos. Grosso modo, só pouco mais de 3% dos cidadãos se encontram inscritos em partidos políticos. Porque será? Mais curioso ainda: o Benfica tem mais sócios do que o PS ou o PCP, o que só poderá surpreender os menos atentos, já que A BOLA vende mais de 120 mil exemplares de cada edição, o mesmo acontecendo com o RECORD, enquanto o DIÁRIO DE NOTÍCIAS ou O PÚBLICO, ambos jornais de referência, andam na casa dos 40 mil. Só o semanário EXPRESSO consegue ultrapassar os 100 mil, ficando mesmo assim aquém dos desportivos. Se a isto acrescentarmos que temos três jornais desportivos de grande tiragem, caso único na Europa, o panorama fica completo e devia conduzir os dirigentes partidários, sobretudo aqui nas margens do Nabão, a procurarem indagar das razões profundas de tal estado de coisas. E não adiantará vir com a desculpa-chavão de "sempre assim foi", pois antes do 25 de Abril havia motivo legal e perigosamente imperativo para isso. Agora não.
Sabendo-se que em termos de Taça de Portugal, ou de Campeonato Nacional, ou em qualquer outra competição, vença quem vencer, os dividendos são nulos para os sócios e/ou admiradores dos diversos clubes desportivos, a presente situação dá que pensar. Tanto mais que tudo aponta para o facto de o futebol, o principal desporto em Portugal, ser afinal uma actividade parasitária. Só assim se pode explicar que apenas existam clubes da 1ª Liga nas regiões com elevada criação de valor acrescentado -Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e Leiria. Ou seja, visto doutro ângulo, há mais clubes da 1ª Liga no Norte e depois em Lisboa, concentrando estas duas regiões mais de metade do total de equipas participantes. Abaixo do Mondego e fora da região de Lisboa, só sobrevive a Naval e o União de Leiria. A sul do Tejo, só o Vitória de Setúbal. Porque será?

AS COISAS COMO ELAS SÃO...

António Rebelo

Tomaradianteira fez saber, quando assim o entendeu, que os seus membros tomariam posição sempre que julgado útil, tanto individuaalmente como em bloco. Posteriormente, tive a ocasião de aqui escrever, a título individual, que tenciono votar PS nas europeias de Junho, porque foi esse partido que nos integrou na Europa, para o bem e para o mal; que votarei igualmente socialista nas legislativas, dado o mérito relativo de Sócrates e a ausência de alternativa credível; que não votarei em nenhum dos cadidatos já conhecidos ou putativos nas eleições autárquicas, por me parecer que, sendo todos boas pessoas e pessoas de bem, nenhum está realmente à altura das circunstâncias, o que pode ser trágico para todos nós. Tudo isto se daqui até lá nada mudar, o que parece pouco provável num mundo cujo movimento é cada vez mais acelerado.
Entretanto, a crise foi-se agravando e muitos dirigentes nacionais se têm pronunciado sobre o mundo complicado em que vivemos. Ainda há poucos dias, o Diário de Notícias entrevistou demoradamente Francisco Van Zeller, presidente da CIP - Confederação da Indústria Portuguesa. -Um patrão capitalista, chefe do patronato, dirão todos aqueles cujos óculos partidários não lhes permitem ver as coisas como elas são. Quer se goste ou não, a realidade é que os patrões são os únicos que produzem riqueza, criam empregos produtivos, pagam salários e impostos, tudo sem recorrerem aos impostos dos contribuintes. Por outro lado, o "capitalismo de estado", que vigorou durante mais de 70 anos nos países ideologicamente liderados pela defunta União Soviética, implodiu a partir de 1989. E até a China, farol da maior parte dos esquerdistas portugueses, muitos dos quais integram ou votam agora no Bloco de Esquerda, até a China, dizia eu, escorregou para o modelo capitalista e para a propriedade privada de meios de produção, com a célebre frase de Deng Xiau Ping "Pouco importa a cor do gato; o importante é que cace ratos". Sinal evidente de que o gato-funcionário existente até aí, afinal não era grande caçador.
Postas assim as coisas nos seus devidos lugares, de modo a evitar tanto quanto possível reacções menos cordiais, passo a citar um largo excerto da citada entrevista.
DN - Como avalia a acção de José Sócrates primeiro-ministro de Portugal nestes quatro anos?
FVZ - Há pouco tempo estive a falar sobre isso, e o que achei foi que ele subiu o nível, a fasquia do que é um primeiro-ministro em Portugal. Subiu muito.
DN - Subiu em relação ao governo anterior?
FVZ - A tudo o que a gente conhecia.
DN - Mesmo ao período de Cavaco?
FVZ - Sim. Porque a coragem com que se atirou aos grupos de poder, a enormíssima vontade com que se atirou para reformar várias áreas tão enquistadas na sociedade. Não quer dizer que tenha conseguido, mas demonstrou o que deve ser um primeiro-ministro. Tem de ser reformista, às vezes com violência, tem de procurar novos programas, novas ideias, atirar-se a todas as situações estabelecidas sem medo, e ganhar ou perder. Ele subiu muito a fasquia, e qualquer outro primeiro-ministro que exija menos do que este não vai longe.
DN - Deixe-me ver se percebi. José Sócrates é melhor primeiro-ministro do que foi Cavaco no seu tempo?
FVZ - Não, porque os resultados não deram para isso. Primeiro porque ele não teve as mesmas condições de Cavaco, que teve muito dinheiro e condições fantásticas para governar. Não teve as mesmas condições, e portanto não vai ter os mesmos resultados. Além disso, teve um defeito muito grande -que nós chamámos ao princípio determinação e que agora chamamos teimosia- em não querer mudar certas opiniões que ele próprio acha que são de determinação, e que não são! E, obviamente, não querer ouvir é ser teimoso. Mas teve o que mais nenhum primeiro-minsitro teve -a capacidade de enfrentar e a iniciativa, dele próprio, de enfrentar muitas lutas, muitos problemas e muitas situações estabelecidas. E isso, para mim, é o modelo do que o novo primeiro-ministro tem de ser: muito mais liderante, mais confrontador, mais exigente em relação ao governo.
... ... ... ... ...
(A entrevista integral poderá ser lida no Diário de Notícias de 22 de Março)
Aqui fica, portanto, o que me pareceu importante, vindo de alguém que não é propriamente nem analfabeto em economia, nem simpatizante socialista. Perguntarão alguns, mais cínicos -E que tem isso a ver com a nossa cidade? Tudo. Basta colocar presidente da Câmara onde está primeiro-ministro. Ou pensam que a crise vai passar só com comprimidos de aspirina? Se não houver coragem e determinação...
E depois há outro aspecto a ter em conta: eleitores bem informados são um passo importante para comunidades mais prósperas. Mas para isso temos de lhes fornecer informação séria, consistente, adequada, atempada e isenta. É o que procuramos fazer aqui no blogue. Se o conseguimos ou não, cabe aos que nos lêem emitir opinião fundamentada.

AS COISAS COMO ELAS SÃO...

segunda-feira, 23 de março de 2009

SOBRE O TURISMO E O CAMPISMO

Trabalhos de limpeza do Parque de Campismo


Obras de recuperação das instalações sanitárias do Parque de Campismo

Na fachada da Igreja de S. João Baptista


Assim se sinaliza onde fica a Sinagoga...



Junto ao magnífico edifício do Turismo Municipal, há mais de 4 anos que o sinal está assim...


A PARTIR DE JUNHO OU JULHO JÁ SE PODE ARMAR BARRACA OUTRA VEZ
E ainda bem! Estamos todos de parabéns e ninguém saiu derrotado. Bastou que cada um dos lados recuasse só um bocadinho, e aí temos um consenso excelente para aqueles que realmente gostam desta terra. Dirão alguns que, habituados a uma velocidade de cruzeiro pouco compatível com os tempos que se vivem, os membros da maioria PSD, ao sentirem o ritmo cada vez mais rápido, viram-se obrigados a dar o corpo à curva, sob pena de virem a ser cuspidos. É uma visão das coisas que, tendo alguma verdade, em nada crontribuirá para congregar os tomarenses, atitude indispensável face à cada vez mais grave crise que assola o concelho, o país e o mundo.
Seja como for, o outrora prestigiado Parque de Turismo de Tomar vai abrir novamente, após quase seis longos anos de incompreensível encerramento. As obras prosseguem, a limpeza das árvores também, só falta saber quando tudo estará concluído e apto a receber campistas, caravanistas e autocaravanistas. Todavia, nada de embandeirar em arco. Vão passar anos até que a generalidade dos potenciais utilizadores esteja devidamente informada sobre o recomeço da actividade do parque. Entretanto, os eleitos terão de ter coragem e visão para estabelecerem uma tabela de preços que não escalde os visitantes nem vá indirectamente ao bolso dos contribuintes tomarenses. Não faltaria mais que forçar os eleitores de uma cidade decadente a financiarem as férias daqueles que ainda podem viajar. Está-se mesmo a ver, mas mais vale ficar já escrito.
Continuando falar de turistas, será porventura útil explicitar aqui que a indústria tendo por base as férias dos outros é, como qualquer outro sector de actividade, uma máquina complicada. Ora, como é sabido, qualquer máquina é um conjunto de componentes, montados de determinada maneira, por quem sabe, para atingir determinados objectivos. Tomemos um automóvel como exemplo. Pouco ou nada adiantará entregar uma carrada de peças suficientes para virem a constituir um veículo, se não houver quem as saiba colocar de maneira a que funcionem adequadamente e em conjunto. Basta que uma só esteja fora do sítio previsto para que o veículo possa ter problemas graves, ou até deixe de trabalhar. Outro tanto sucede quando, apesar de todas devidamente acopladas, uma delas não funciona porque é defeituosa.
Pois na política, na gestão ou na economia, acontece exactamente o mesmo. Quando um ou diversos componentes da máquina estão mal colocados, funcionam mal, ou não funcionam, a grande máquina empana e adeus eficácia. Um pouco assim como tem vindo e está a acontecer em Tomar -pequenos sinais de desmazelo, de desdém, de desinteresse, de alguma bandalheira, bem documentados nas fotos acima. É assim que esperam cativar os turistas? Acham que estão a facultar uma boa imagem da terra que estão a gerir? Tratando-se de coisas pequenas, facilmente reparáveis, não será certamente "por falta de cabimento orçamental" que nada se faz. Então qual o motivo ou motivos da triste situação? Será para "não dar o braço a torcer"? Se é, melhor seria abandonarem atitudes infantis, que já não usam hoje em dia. Afinal, como diz ou dizia o povo, "só os burros é que não mudam". De opinião, claro está!

É MELHOR IR AVISANDO...

Perante o "estado de urgência", um sindicato sueco aceitou a redução de salários
Será que o sindicato sueco IF Metall "traiu" os seus filiados? A decisão desta organização sindical, uma das mais importantes do país, com 400 mil aderentes no sector industrial, de aceitar reduções salariais, provocou agrestes protestos dos outros sindicatos.
Com efeito, no passado dia 2 de Março, IF Metall decretou o "estado de urgência", anunciando que tinha assinado com as organizações patronais "um acordo de crise", o qual permite reduções do tempo de trabalho acompanhadas de diminuições de salário, que não poderão ultrapassar 20% do rendimento habitual.
Um trabalhador poderá, por exemplo, numa determinada semana, ter um dia de formação e outros dois em casa, mantendo mesmo assim pelo menos 80% do salário. "Mais de 25% dos nossos filiados estão em risco de perderem os empregos daqui até ao Verão", anunciara o sindicato duas semanas antes da decuisão-choque agora tornada pública.
"A economia sueca e o mercado do trabalho sofrem a maior crise conhecida até agora", acrescentou o secretário geral do sindicato, em resposta a alguns protestos. ... ...

Olivier Truc - Le Monde 21/03/09

A OLHO NU




Le Monde (adaptado)
As preocupações do velho macaco de rabo pelado com a evolução das espécies e os eleitores tomarenses (alguns, pelo menos...).

domingo, 22 de março de 2009

REPTO À OPOSIÇÃO QUE TEMOS

Quem tiver habilidade para ouvir e interpretar a opinião pública e/ou publicada no concelho de Tomar, constatará imediatamente que o sentimento generalizado é de desânimo, com expressões do tipo "é tudo a mesma gente", "tão bom é Pedro como é Paulo", "são farinha do mesmo saco". Exactamente o que acontece, com uma ou outra variante, a nível nacional. Ou seja, em ambos os casos os membros da oposição não conseguiram, pelo menos até agora, inculcar no corpo eleitoral a ideia de que têm soluções susceptíveis de constituirem alternativas credíveis.
A nível nacional, tudo indica neste momento (ver crónica de J. A. Saraiva, no Sol) que Sócrates vencerá as próximas legislativas, com maioria absoluta. Não tanto por mérito próprio, que também o tem, mas sobretudo por ineficácia do PSD, já que PCP e BE servem apenas para ornamentar e acicatar o governo.
A nível local, com o devido respeito por todos, mas igualmente com firmeza republicana e frontalidade democrática, a maioria PSD tem podido errar à vontade e com abundância graças à patente inépcia facilitadora de toda a oposição. E a situação é ainda mais grave e sombria porque os seus protagonistas persistem em negar a realidade. Tanto uns como outros consideram que têm agido muito bem e com total eficácia. Que os erros cometidos por uma das partes foram, naturalmente, culpa da outra parte. Numa frase agreste mas clara: Trabalham mal mas não dão, ou fingem que não dão por isso.
Em tempo de crescimento económico, de fartura, de vacas gordas, as asneiras eram facilmente absorvidas com mais uns fundos por aqui, umas verbas por acolá, uns subsídios mais além. Todavia, tudo indica que esse tempo acabou e não voltará mais. A crise agrava-se de dia para dia, ao mesmo tempo que se vai modificando, passando de imobiliária a financeira, depois a económica, agora a social, dentro de semanas a política. Urge portanto encontrar modelos económicos/políticos alternativos, sobretudo a nível local, onde não é tão complexo.
No caso tomarense, perante a convicção maioritária de que nas próximas autárquicas não teremos nenhuma escolha real, dado que qualquer dos candidatos, conhecidos ou previsíveis até agora, já demonstrou anteriormente não ser de primeira água, é premente intentar modificar em tempo útil tal estado de coisas. Ao contrário do geralmente admitido, as eleições não se ganham no dia do escrutínio mas muito antes. Na data marcada já está tudo decidido, mesmo antes de entrarem nas urnas os primeiros votos.
Conscientes das carências locais a nível humano, que não são unicamente da maioria ou da oposição, mas igualmente de outros sectores, designadamente da comunicação social, os integrantes de Tomar a dianteira decidiram lançar um repto aos eleitos (Câmara e Assembleia Municipal) e à comunicação social (jornais e blogues locais), nos seguintes termos: É-vos concedido um prazo de 60 dias, até sexta-feira, 22 de Maio, para conseguirem
A -Publicar o essencial do projecto "Cerrada dos Cães/Mata dos Sete Montes", ou demonstrar de forma inequívoca que a maioria PSD agiu deliberadamente para impedir tal publicação;
B -Publicar o essencial do projecto "Moagem/Central eléctrica/Lagares da Ordem", ou demonstrar de forma inequívoca que a maioria PSD agiu deliberadamente para impedir tal publicação;
C -Factores convergentes indiciam que algo pode não estar totalmente correcto no que concerne ao tratamento de esgotos e respectiva taxa cobrada em conjunto com o recibo da água. Esta situação pode já durar há vários anos e ascender a alguns milhões de euros. Os eleitores/pagadores têm, naturalmente, o direito de saber circunstanciadamente o que se passa, designadamente nos termos do direito à informação e do artigo 5º da Lei 46/2007, de 24 de Agosto.
Será a oposição, serão os jornais, capazes de desfazer estes três novelos políticos e de publicar o apurado? Em todos os casos, não bastarão generosas generalidades, como é habitual. Pretende-se o tutano de cada uma das questões colocadas, ou seja, publicar tim-tim por tim-tim o que for apurado, pois não estaremos de certeza no domínio da segurança do estado.
Após 22 de Maio, Tomar a dianteira reserva-se o direito de iniciar acções tendentes a esclarecer cabalmente os eleitores interessados.

Redacção de tomaradianteira.blogspot.com

sábado, 21 de março de 2009

É MELHOR IR AVISANDO...

O NOVO MUNDO QUE AÍ VEM

O mundo de abundância e prosperidade em que vivemos desde a segunda guerra mundial está a ruir fragorosamente. Há, contudo, quem pense que, passada a tempestade, tudo voltará ao mesmo. Pois a má notícia é que não voltará. A boa é que, mesmo sendo um mundo mais pobre aquele que aí vem, pode ser um mundo melhor. Explico-me. O que se está a passar é o empobrecimento das sociedades ocidentais. Os nossos padrões de consumo serão inferiores àqueles que temos praticado até agora. Haverá menos emprego nos sectores da agricultura, indústria e serviços. E será insustentável que se mantenham e agravem as fortíssimas desigualdades sociais que se criaram desde os anos 80. É bom que ninguém se esqueça que o que começou por ser uma crise imobiliária, passou para uma crise financeira, tornou-se uma crise da economia real, está já a transformar-se numa enorme crise social e vai descambar inevitavelmente em crises políticas, cujos desfechos são completas incógnitas. Por isso, não podemos cair nos vários erros que nos conduziram até aqui. Não podemos pedir às pessoas que se endividem para aumentar o consumo -foi precisamente o excesso de endividamento das pessoas, das famílias, das empresas, dos bancos, dos Estados, que nos conduziu ao beco em que nos encontramos. Não podemos pedir aos bancos que emprestem dinheiro a tudo e a todos para manter as economias a funcionar -porque a probabilidade de grande parte desse dinheiro não ser recuperado é agora muito maior. Não podemos pedir às empresas que invistam para aumentar a produção -quando os mercados não conseguem absorver a produção existente. Não podemos pedir às autarquias que façam obras desnecessárias porque é preciso que o dinheiro chegue à economia -sob pena de agravarmos o seu desiquilíbrio financeiro. Não podemos pedir aos governos que deitem dinheiro para cima de todos os problemas -porque estamos a agravar os défices excessivos e os desiquilíbrios comerciais fortíssimos e a passar uma factura pesadíssima para os nossos filhos. O que precisamos é de algo que não se compra mas que tem um valor incalculável: bom senso. O bom senso que se espera dos que ganham mais é que reduzam os seus salários para evitar despedimentos. O bom senso que se espera dos gestores é que abdiquem de bónus que, na fase que atravessamos, são ofensivos. O bom senso que se espera dos banqueiros é que não apresentem lucros pornográficos nem tenham remunerações indecorosas. O bom senso que se espera dos trabalhadores é que não agravem o problema das empresas com reivindicações irrealistas. ... ... ...

Nicolau Santos, Expresso 21/03/09 (os negritos são de Tomar a dianteira)

VENHAM FUNDOS EUROPEUS...

Foto 1 - Praça Rodrigues Lobo - Leiria


Foto 2 - Praça da República - Tomar


Foto 3 - O "deck" de Leiria


Foto 4 - Um dos "decks" do Agroal - Ourém



Foto 5 -Outro "deck" no Agroal - Ourém

Foto 6 - A ponte velha do Agroal - Tomar


Foto 7 - A ponte nova do Agroal - Ourém


Após os centros culturais, os pavilhões e as rotundas, estamos agora, ao que tudo indica, na era dos "decks". Não se sabe bem porquê nem para quê, começa a haver "deks" por todo o lado. Para ganhar espaço sobre os rios? Por falta de espaço urbano? Ou apenas para mostrar obra? As fotos que publicamos quase dispensam comentários. Repare-se, por exemplo, que no Agroal se retirou uma ponte metálica em perfeito estado, para a substituir por outra praticamente igual. Atente-se igualmente na previsível utilidade dos dois "decks". Em contrapartida, em Leiria, vão mantendo as árvores na principal praça da cidade, enquanto que, por estes lados, parece que gostam mais de arbustos encaixotados. E nem sequer publicamos mais uma foto do "deck-paredão" do Flecheiro, para não bater mais na ceguinha...



sexta-feira, 20 de março de 2009

Informações para os leitores

1 - Pedimos desculpa pela involuntária duplicação da foto do Pontão do Flecheiro, bem como pelas irregularidades de paginação no "post" sobre a análise da imprensa. Tais anomalias foram provocadas por dificuldades com a nossa ligação ao servidor americano do qual dependemos.

2 - As referências feitas no quadro das nossas crónicas não implicam agrado nem desagrado. São simples constatações com intuitos informativos. Nada mais. No caso do estatuto editorial do Templário, apenas se estranhou que fosse publicado agora. Entretanto já fomos informados por fonte absolutamente fidedigna de que a lei em vigor obriga a publicar tal estatuto em Março. Aqui fica a informação.

3 - Vários leitores, que depois nos honram com os seus comentáriosm, o que agradecemos, têm-nos afirmado que ninguém liga ao que escrevemos. É provável. Para tirar dúvidas, foi solicitada a instalação de um contador de visitas ao blogue, o que ocorreu na tarde da passada quinta-feira, dia 12 de Março. Na primeira contagem, efectuada ontem, dia 19, foi constatado que visitaram Tomar a dianteira 1422 "blogueiros". Não sendo nada de extraordinário, este total permite-nos, ainda assim afirmar que se ninguém nos liga, são já muitos os que nos lêem. Os nossos agradecimentos a todos.

Tomar a dianteira

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

A ganância perante os fundos europeus dá nisto. Projectos à trouca-marouca, obras à Lagardère, acabamentos à paposseco. Bastas vezes alertada, designadamente pela comunicação social, a Câmara manteve-se firme e hirta nas suas posições. Só agora, pressionada por quem de direito após os acidentes já ocorridos na zona, se resolveu a sinalizar o perigo ali existente. Se e quando o tribunal determinar uma reparação monetária avultada às vítimas, quem vai pagar? Os contribuintes, como é costume. E quem fez as asneiras? Os autarcas teimosos e deslumbrados. Com é costume também.




Redacção de Tomaradianteira Colaboração CLIPNETO









A nossa análise da imprensa desta semana limita-se a três tópicos e um comentário. Começamos pelos tópicos.


Sem papas na língua, Pires da Silva, por enquanto ainda presidente do Instituto Politécnico de Tomar, afirmou que o organismo a que preside é "líder mundial ao nível dos estudos da arqueologia e do património". Nem mais nem menos. E tem direito a citação e foto a duas colunas na 1ª página do MIRANTE.


Enquanto isto, nos blogues tomarenses, designadamente do d'O TEMPLÁRIO, comentadores tecem fortes críticas ao funcionamento do IPT, onde ao que parece uns comem os figos e a outros rebentam-lhes os beiços. A tradicional má-língua local até já conseguiu arranjar uma formulação sintética para o ensino ministrado naquela instituição da Estrada da Serra. Segundo dizem, após o ensino básico e o ensino secundário, alguns alunos, quando não conseguem entrar em mais lado nenhum, vão para o ensino terciário do IPT, passando assim a integrar o refugo do refugo a nível nacional. E a frequentar "o líder mundial ao nível dos estudos da arqueologia e do património", fica-se agora a saber. Como usam dizer os europeus de além Pirinéus -estes tipos do sul são cá uns exagerados!


O outro tópico é a manchete do CIDADE DE TOMAR : Projecto de recuperação dos Lagares D'El-Rei - O futuro museu de arqueologia industrial. A incorrecção começa logo pela denominação. Muito antes de serem d'El-Rey foram os Lagares e Moinhos da Ordem de Cristo. Usurpados aquando da subida ao trono de D. Manuel, que já era Mestre da Ordem, como herdeiro por linha masculina do Infante D. Henrique, perpetuar tal designação é aprovar esse esbulho, que marca o início da longa decadência tomarense, à qual continuamos a assistir.


Para além de tal erro histórico, pretender avançar com a recuperação de vários edifícios para neles sediar outros tantos museus, é totalmente errado e quase do domínio da realidade virtual. Além dos fundos da UE, se chegarem a ser concedidos, quem avançará com o restante? Quem assegurará a avultadas despesas de instalação, funcionamento e manutenção de tanto museu? Com que fim?


Com a ida para Coimbra do seu antecessor, cuja principal qualidade era a obstinação quase doentia, houve alguma esperança de que Fernando de Sousa caísse na real e tentasse pelo menos trilhar outros caminhos, mais promissores e mais transparentes. Chegou até a dizer, em entrevistas, que respeitaria as ideias de António Paiva até final deste mandato, mas depois traçaria outros planos. Vai-se a ver, tudo indica que ou se esqueceu, ou entretanto mudou de opinião, posto que, se tudo correr bem, as obras dos tais museus arrancarão lá para o próximo ano. Se os novos autarcas aceitarem arcar com tal molho de bróculos, na previsível situação de grave crise económica e social. Cá estaremos para ver...


O terceiro tópico é a manchete de O TEMPLÁRIO: Ainda o processo Parq T - Tribunal de contas chumba empréstimo. Trata-se de mais uma das muitas complicações em que se meteu a autarquia tomarense, justamente por causa das ideias fixas de António Paiva. Neste caso, o tribunal competente chumbou o pedido de empréstimo de 4,3 milhões de euros, com os quais se pretendia, entre outras coisas, liquidar os 750 mil euros devidos à Parq T por decisão judicial. Segundo o Tribunal de Contas, os fins a que se destinava o empréstimo careciam de esclarecimento prévio.


O comentário referido no início é, igualmente sobre O Templário, que na edição desta semana publicou, supomos que uma vez mais, o seu "Estatuto Editorial". Quando tal acontece, é costume dizer-se que há mouro na costa, ou enguia debaixo da rocha. Maneira de insinuar que nada acontece por acaso, sobretudo na imprensa.


No citado estatuto, pode ler-se no ponto 5 que "O Templário distingue, muito claramente, a informação da opinião. Reservamo-nos, todavia, o direito de relacionar, interpretar e emitir opinião sobre quaisquer factos ou acontecimentos." Para além da redundância, pois qualquer facto é um acontecimento e qualquer acontecimento não pode deixar de ser um facto, nada temos a condenar ou criticar enquanto princípios teóricos. Quanto à prática, a música já é outra.


Ao reservar-se o direito de relacionar, interpretar e emitir opinião, está o Templário a explicitar as tarefas mais nobres da profissão, as quais, no seu conjunto, permitem perspectivar as ocorrências para os leitores demasiado ocupados dos nossos dias. Excelente princípio, portanto. Só é pena que o Templário, que se saiba, raramente ou nunca o aplique, em conformidade aliás com aquilo a que se poderá chamar a "escola nabantina de jornalismo". (Ver "Parabéns a Cidade de Tomar"). É assim. Não se trata de gostar ou não. Apenas de mostrar as coisas como elas são.

PARABÉNS "CIDADE DE TOMAR"!!!


António Rebelo
Na data em que cumpre o seu 74º aniversário, em meu nome e no de Tomar a dianteira, endereço sinceros parabéns e votos de que continuem assim por muitos anos e bons. Faço-o não pela qualidade das notícias, das resportagens, das crónicas ou dos artigos de opinião, mas sobretudo pela necrologia, as farmácias de serviço, as missas, a função social e terapêutica.
Isso mesmo - função social e terapêutica. Conquanto possa não ser porventura essa a intenção do seu director ou da redacção, o facto é que o "estilo Cidade de Tomar" cumpre um importante serviço de coesão social, ao mostrar semanalmente, nas entrelinhas, o que está bem e aquilo que parece mal. Mais ainda. A leitura de "Cidade de Tomar" é tranquilizadora, emoliente e anti-depressiva. Os seus leitores habituais ficam cada semana com a certeza de que nada mudou nesta cidade, que a tradição ainda é o que era, que não há nenhuma razão para viver angustiado.
Tudo isto por menos de um euro, quando os medicamentos com os mesmos efeitos custam pelo menos 30 ou 40 vezes mais. É obra, parecendo que não!
Há ainda que realçar um outro aspecto. A perfeita concordância entre a localização física e a intelectual. A sede do jornal fica, como se sabe, entre a Igreja e a Câmara, tal como a sua linha editorial. Dantes, a sede era mais próxima de S. João Baptista; agora, está mais próxima dos Paços do Concelho. Tudo num sábio equilíbrio posicional.
Nos diversos períodos em que escrevi no decano dos semanários tomarenses, foi sempre muito bem tratado por todos, a começar pelo seu director. Mas nunca me senti muito à-vontade naquela redacção, apesar desse excelente acolhimento. Tive sempre a ideia de ser um elefante inoportuno numa loja de porcelana. Só na última vez, aqui há dois anos, é que a impressão foi diferente. Quiçá por causa da minha idade, tive o sentimento de ser apenas o leão daquela história africana. Não conhece a história? É relativamente simples: Um turista-violinista europeu, que acampava em plena savana, foi surpreendido por 4 corpulentos leões. Atrapalhado, não sabendo como reagir, continuou a tocar violino. Os leões sentaram-se calmamente e ficaram a ouvir. Passado um bom bocado, já o turista começava a estar cansado de tanto tocar, aproximou-se um outro leão. Em vez de se sentar, como os outros, atacou o músico e começou a devorá-lo. Irritado, um dos anteriores auditores murmurou -palerma do surdo tinha que vir estragar a festa! Mais tarde, terminada a sua lauta refeição e subsequente digestão, um outro leão indagou -porque é que nos vieste estragar o concerto? -Porque estava a morrer de fome e não há música que encha a barriga!)
Dirão alguns que exagero. Pois não senhor. Estão equivocados. Para a grande maioria dos leitores de Cidade de Tomar nunca passei de um incómodo e sádico intruso que tinha um prazer doentio em perturbar-lhes as calmas digestões. Prova disso foi o desabafo daquele anónimo noblogue do Templário. Escreveu ele: O Rebelo anda a avaliar os presidentes de câmara de Tomar no Cidade de Tomar. Quem é que ele julga que é? Qual é a ideia de quem o deixa lá escrever?
Por estas e por outras, declinei o convite para escrever na edição comemorativa do aniversário. Sem animosidade nem rancor, mas também sem ilusões.
Para terminar, endereço a todos aqueles a quem estas linhas possam cair mal, perturbando alguma digestão, o meu pedido de desculpa. O lema aqui do blogue é "Os meios de saber e a coragem para o dizer", pelo que alguém tinha de ousar escrever o que muitos murmuram pela calada. Calhou-me a mim! Assumo e não me lastino. Para quê?
Um abraço fraterno para todos.

quinta-feira, 19 de março de 2009

SOBRE TURISMO E CAMPISMO

Agora que, num clima de crise que é a mais grave desde pelo menos 1939, o comércio local, os hoteleiros e os proprietários de restaurante se lastimam que os turistas não vêm cá abaixo, convém lembrar duas ou três coisas. Designadamente tendo em vista as próximas autárquicas.
A primeira dessas coisas consiste em esclarecer que, salvo melhor opinião devidamente fundamentada, o total anual de visitantes do convento pouco aumentou desde 2003. Se assim é, porque será que agora se queixam de que há menos turistas cá em baixo? O que mudou desde então? Apenas um facto importante ocorreu nesse ano -o encerramento do parque de campismo, no final da época turística, de forma provisória e para evitar aos campistas o pó e o barulho das obras do pavilhão, lia-se na informação que reproduzimos acima, subscrita pelo actual presidente da Câmara.
A segunda dessas coisas passa pela explicação real para o alegado encerramento provisório, que se mantém volvidos quase seis anos. É agora evidente que se pretendeu acabar com o parque de campismo dentro da cidade, por causa dos "turistas de pé descalço", ao arrepio do que deveria ter sido feito.
A terceira e última dessas coisas é lembrar aos interessados no incremento do turismo local que não se podem plantar nogueiras, na esperança de se virem a colher melões. Cada um só pode esperar colher aquilo que plantou/semeou. Afastar os "caracóis" e outros turistas menos abonados, na esperança de poder vir a atrair clientela mais abonada, só deve ser empreendido depois de se ter a certeza de que há recursos qualitativos para isso. Caso contrário é a ruína, e foi o que nos aconteceu...

OS AUTARCAS, O MILAGRE E OS ELEITORES

Aconteceu há tempos, numa cidade pequena e excessivamente pacata, com um rio de margens magníficas e um convento património da humanidade. O seu alcaide, cansado de tanta crítica e tendo em vista as eleições que se iam seguir, falou com os seus confrades, da sua cor e da oposição, e foi rezar a um conhecido santuário situado a cerca de 35 quilómetros.
Murmurava ele que os seus administrados eram gente muito difícil, invejosa, extremamente exigente com os outros, mas de total condescendência consigo próprios. Muito a propósito, um deles, dirigente oposicionista, escreveu que "Temos fugido assim da realidade, culpando sucessivamente todos os governos pelos males que são da nossa responsabilidade, especialmente porque a escolha da câmara só depende de nós..." Na mesma linha, continuou, têm uma tendência doentia para reparar unicamente nos detalhes de quase nula importância, em detrimento do essencial. Se, por exemplo, se veste uma camisa cara e do último modelo em voga, logo dirão que os botões são feios e que não dá a bota com a perdigota. Um anónimo saiu-se mesmo um dia destes com uma apreciação pelo menos peculiar -"...é um homem delicado, culto, sensível e que percebe de turismo cultural a potes. Só é pena não saber trabalhar com o Excel..."
Prosseguiu o nosso autarca a sua oração, afirmando desconhecer se alguém terá entendido a relação entre o Excel e o turismo cultural. Depois rematou com a triste situação que se vive neste ano de eleições. Não só os eleitores acham que estamos a governar mal, como afirmam que somos todos boas pessoas, mas não passamos disso mesmo, pelo que não tencionam votar em nenhum dos actuais membros do executuivo. Quando já se ia a levantar para regressar ao exercício das suas funções, ouviu uma voz feminina, profunda e maviosa, que lhe perguntou: -E que querias tu afinal, irmão? Posso ser-te de algum conforto moral? Dar-te coragem para prosseguires na tua tarefa de pastor laico?
Fortemente surpreendido, o autarca peregrino replicou a medo: -Não sei se seria possível um milagre, mesmo modesto, porque aquela terra e aquela gente chegaram a uma situação tal que só algo de extraordinário poderá reverter. -Sê mais concreto irmão; o que murmuras é demasiado vago. Assim não vamos lá... -O ideal seria mudar-lhes o feito, rematou o alcaide. -Isso não, de modo nenhum. São muitos e são livres, que o Criador deu a cada um à nascença o livre-arbítrio, e depois convém separar aquilo que é de Deus daquilo que é de César. Alterar o feitio das pessoas não seria minimamente ético. Agora se te puder valer com algo de mais singelo, conta comigo. O autarca ganhou alento e ousou: - O ideal era que eu conseguisse andar sobre as águas. Os eleitores ficariam tão surpreendidos que a partir daí não teriam outro remédio senão respeitar-me. Para seu grande pasmo, foi-lhe respondido que era possível, com duas pequenas condições -escolher a ocasião para tal milagre e alargar essa faculdade da flutuação aos restantes membros do executivo, por uma questão de estrita equidade e para evitar críticas, que a Igreja não tem partido, como se sabe.
Tudo devidamente ponderado, a autarquia decidiu organizar uma grande festa, comemorativa já ninguém se lembra de quê, no largo do mercado local, que dá para o rio, agora um largo plano de água, graças ao açude financiado pelo programa Polis. Foi levantada uma tribuna para as entidades oficiais e erguidas bancadas para o público em geral. Na véspera, o nosso autarca sortudo rumou de novo ao santuário. Aí deu conta, orando, do que estava previsto, ou seja, antes de iniciar as festividades, já com as outras autoridades na tribuna e o numeroso público nas bancadas, os autarcas chegariam à outra margem do rio, onde fizeram aquele horrível paredão. Naquele intervalo entre o paredão e a ponte recém-construída começariam a marcha triunfal até à tribuna, caminhando sobre as águas do rio. -Podem contar com isso! Mas olhem que é só desta vez! Os pedidos são cada vez mais e temos de distribuir o bem um pouco por todo o lado. E então este ano, com a crise...
À hora aprazada, com a tribuna e as bancadas completamente lotadas, ao som da Marcha Triunfal, as lustrosas viaturas de função deixaram os sete autarcas na margem fronteira. Ufanos, impecáveis nas suas encadernações de circunstância, olharam em volta e meteram o pé à água, com bastante receio, diga-se em abono da verdade. Mas tudo bem. A água era como se fosse terra firme, e lá iniciaram o percurso dos heróis até à tribuna.
Ultrapassada a natural estupefacção, iam os nossos autarcas todos impantes sensivelmente a meio do rio, romperam os gritos, às centenas -"Olha os gajos nem sequer sabem nadar, quanto mais agora governar!" "Vão mas é aprender a nadar primeiro!" "Aldrabões! Julgam que a gente não sabe que mandaram congelar a água primeiro?" "Vão enganar outros!"
Envergonhados, os eleitos prosseguiram até aos respectivos lugares na tribuna, mandaram abreviar o mais possível as actividades previstas, após o que regressaram a penates, meditando que nesta terra é tudo tão complicado que já nem com milagres nos salvamos...
(As citações foram tiradas de blogues. Uma é de Luis Ferreira (Temos fugido assim da realidade...) . A outra, a do turismo cultural e do Excel, é de um anónimo).