quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA

COLABORAÇÃO DA PAPELARIA CLIPNETO LDA.

O MIRANTE continua a sua campanha de demolição política do vereador Luís Ferreira, por razões que falta apurar. Verdade seja dita que o nosso prezado conterrâneo também parece ter uma tendência para se pôr a jeito. Desta vez, trata-se do protocolo celebrado com a Associação Portuguesa de Turismo Cutural, APTC pela bagatela de 4.500 euros por mês. Ao que consta, o Instituto Politécnico de Tomar estará igualmente envolvido no referido acordo, assim a modos que como garante da qualidade das prestações, uma vez que os signatários (pelo menos alguns) são licenciados em Turismo Cultural por aquele estabelecimento de ensino. Terá sido mesmo um docente do IPT, que se auto-intitula "especialista de turismo", sem nunca esclarecer, todavia, qual ou quais as Universidades que lhe outorgaram tal especialidade, a recomendar os membros da dita associação e a subscrição do citado protocolo.
Acontece que o presidente da APTC, anterior colaborador de Cidade de Tomar, está a ser julgado no tribunal de Santarém, por abuso de confiança, cometido quando trabalhava como comercial para O MIRANTE. Donde, eventualmente, a chamada de primeira página e a notícia da página 34.

Palavra puxa palavra, a vingança é um prato que deve ser comido sempre frio, a ocasião era assim demasiado tentadora, pelo que a redacção do semanário sediado na Chamusca nem hesitou. Convenhamos, no entanto, com um sorriso amarelo, que como bem diz o povo, tudo o que é demais parece mal.

O TEMPLÁRIO faz manchete com o insólito caso do incêndio nocturno na Venda da Gaita, que permitiu descobrir uma estufa para a cultura de cannabis, uma elevada quantia em dinheiro, balanças e pelo menos uma arma de fogo. Tudo num pavilhão que pertenceu em tempos à Tomarplac, uma sociedade entretanto falida, cujo património foi vendido em hasta pública. Ao que consta na cidade, era um negócio já à escala industrial, com actividade sobretudo nocturna, segundo alguns vizinhos. Os proprietários e/ou gerentes ausentaram-se à pressa, antes da chegada dos bombeiros. Malvada terra, onde já nem se pode trabalhar à vontade pela calada da noite.
Também no semanário de José Gaio, reportagem fotográfica do passeio-comezaina-tintol para 850 séniores, tudo à conta dos contribuintes, bem como duas páginas sobre a Gala de Acordeon de Ferreira do Zêzere, ao que parece um grande êxito. Relevo igualmente para uma "Carta aberta ao Presidente da Câmara", em linguagem cordata mas nada amena, subscrita por José Alberto. A demonstrar que não é só em Tomar a dianteira que há descontentes. Os outros é que por enquanto ainda não arranjaram alento para dar a cara e o peito às balas...

CIDADE DE TOMAR destaca igualmente o caso da estufa candestina de droga, a que acima nos referimos. Na nossa opinião, a peça mais importante está, porém, na última página e refere-se ao estado lastimável da Calçada de S. Tiago. Sem qualquer iluminação e a aguardar a reparação do pavimento desde há quase 400 anos, mete dó. E quando se pensa que a Câmara acaba de gastar perto de 400 mil euros na propalada ligação Cidade-Castelo pela Mata, que nem sequer lhe pertence, e por onde ninguém passa, dá a ideia que os senhores autarcas não vivem nesta terra nem neste mundo.
Outro caso insólito é o do cidadão que pagou quase 4 contos por um ramal de água dos SMAS, em 1997, e até hoje nada. Continua sem água. Mas nós é que somos uns malvados. Sempre a dizer mal!


Uma nota final para o simpático quinzenário "DESPERTAR DO ZÊZERE", editado e impresso em Tomar, que por mero acaso recebeos hoje. Na primeira página e a verde ficam os tomarenses a saber que afinal a gala musical de amanhã e depois, não passa da segunda edição do espectáculo de Ferreira do Zêzere, com os mesmos artistas e tudo. Para que não restem dúvidas, o jornal dirigido pelo nosso prezado amigo Joaquim Ribeiro, conclui assim a sua reportagem: "Para quem perdeu este espectáculo pode assistir em Tomar à 1ª Gala Internacional de Acordeão dos Templários, no Cine-Teatro Paraíso, nos dias 1 e 2 de Outubro."
Por acaso nunca constou que os templários tenham sido acordeonistas, ou admiradores destes, mas pronto! É o que há! E nada de refilar, que já é bem bom. Ou não? O Infante D. Henrique também está à porta da Mata, apesar de nunca ter sido guarda florestal.

É HOJE !!!

Foto Rádio Hertz, com a devida vénia e os nossos agradecimentos.

É hoje, a partir das 15 horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que vamos ter mais uma oportunidade de participar de forma cidadã na vida política local. É hoje, que vamos ficar a saber se os eleitores tomarenses estão a mudar, ou cada vez mais na mesma. É hoje que se poderá constatar se os cidadãos da cidade e do concelho estão mesmo indignados, ou se é só conversa. É hoje, finalmente, que podemos mostrar na prática se estamos interessados em ajudar a construir o nosso futuro, tanto individual como colectivo, ou se continuamos fatalistas, a pensar que o que "está escrito" não tem remédio.
Que ninguém se desculpe com o facto de não haver porta-voz. Já basta a reunião ter sido convocada a uma hora em que a maioria dos eleitores estão a trabalhar. Como é evidente, para se poder falar em nome dos tomarenses, são indispensáveis pelo menos duas condições -Que quem fala seja tomarense e que os seus conterrâneos estejam presentes em grande número. Caso contrário fácil seria retorquir-lhe -Diz falar em nome dos tomarenses. Onde é que eles estão? Passaram-lhe alguma procuração?
Caso se consiga realmente um "ajuntamento" de cidadãs e cidadãos, eis as questões que poderão ser colocadas ao senhor presidente da Assembleia, tomarense por opção e amante da sua terra adoptiva: 1- Em Lisboa, exige ao governo que reduza as despesas, e tem toda a razão. Aqui em Tomar, orienta a sua maioria no sentido de esbanjar quanto mais melhor. Pode explicar esta sua dualidade de critérios? 2 - No caso do ex-Estádio, como no Largo do Pelourinho, nunca até agora conseguiram acabar as obras. Porquê? Quem as projectou? Quem as preparou para adjudicação? Quem elaborou os respectivos cadernos de encargos? Quem os aprovou? 3 - Até agora, a Câmara fechou os sanitários de S. Gregório, da Rua da Fábrica, da Calçada de S. Tiago, do Mercado e da Cerrada dos Cães, tendo demolido os do Mouchão, do Cine Esplanada e da Mata. Nestas condições com que argumentos resolveu custear casas de banho de luxo nas traseiras de Santa Maria, que ninguém usa, e na Mata, que nem sequer pertence à autarquia? 4 - A tenda do mercado era para estar aberta uma semana depois, segundo declarou o senhor presidente. Já lá vão mais de 3 meses e continua fechada. Pior ainda, como não dispõe de ventilação nem de ar condicionado, no próximo Verão, ou até antes, terá de fechar outra vez para remodelação, pois ninguém lá vai aguentar dentro com a canícula estival. 5 - Com anos e anos de tarimba política, designadamente na Assembleia da República, o senhor conseguiu ver aprovada neste parlamento local uma ditatorial e ridícula grelha de tempos, com todo o aspecto de uma banda adesiva, para impedir os deputados de falar. Como explica a sua atitude? Tem medo do que a oposição pudesse vi a dizer? 6 - Continuando a série de obras extravagantes, como a adulteração do Mouchão, a Ponte Mouchão-campo de treinos, a destruição do Estádio e do Parque das Merendas, a destruição do Cine-Esplanada, a construção de campos de ténis onde não há quem jogue, e de pistas de atletismo onde não há quem pratique, a remodelação da rotunda a partir de um projecto que ninguém entende, nem mesmo os que o aprovaram, o horrível paredão e o inútil deck, que mutilaram toda aquela margem do rio. Após todos estes disparates, e muito mais, fala-se agora na Envolvente ao Convento, com um parque de estacionamento para autocarros junto à fachada norte do monumento, no qual os veículos ficarão com os escapes praticamente encostados à parede com mais de 400 anos. Fala-se também no realojamento dos ciganos na Zona Industrial, o que é não só condenável como ilegal e nefasto para quem já lá está instalado. Fala-se finalmente no megalómano Museu Polinucleado da Levada, coisa para mais de 6 milhões de euros, fora os trabalhos a mais e outras alcavalas. Tendo em conta o presente clima de austeridade, que está apenas a começar, na qualidade de orientador técnico da actual maioria de cirunstância, o que pensa o senhor presidente de tudo isto?
Cada um por si, não vamos a lado nenhum. Juntos podemos ir até ao fim do Mundo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E AGORA, SENHORES AUTARCAS?!?!

Lajedo da Praça da República, frente à Igreja de S. João, apesar de lavado há pouco tempo. Está-se mesmo a ver que é o tipo de piso mais indicado para aquele local, não está?!

Primeiro foi o ciclo das obras doidas, em catadupa. Destruíram-se os sanitários do Mouchão, os do Cine-Esplanada, a ponte do Mouchão, a Ponte Mouchão-Estádio, as bancadas do Estádio, os balneários e o Pavilhão, para logo a seguir se edificar outro parecido. Fechou-se o Parque de Campismo, adulterou-se o Mouchão e o Parque das Merendas, acabou-se com o parqueamento de autocarros de turismo frente ao Mouchão, construiu-se um pavilhão e uma sede para um clube local. Levantou-se aquele horrível paredão e o inútil e inestético deck. Destruiu-se a antes famosa Fonte Cibernética, para a substituir ainda não se sabe bem por quê, ali instalando o filho mais velho do outro paredão. O tal muro das lamentações, ou muro- mijatório. Depois anunciaram-se obras grandiosas para a Mata, para a envolvente ao Convento, para a Estrada de Coimbra, etc etc.
Entretanto, em virtude da crise e por causa da evidente baralhação dos autarcas em termos de gestão, a dívida do município foi crescendo. Com o advento da estranha coligação, entrou-se por assim dizer na fase 2 -a dos eventos de sucesso a custarem aos cofres municipais, um mínimo de 40 mil euros cada um, sem qualquer retorno, para além da evidente propaganda política. Continuaram igualmente os já célebres passeios-comezainas- tintol, uns à custa da câmara, outros das freguesias, o que vai dar ao mesmo. Aos bolsos dos contribuintes. Houve também pelo meio mais uns carritos, uns telemóveis, uns computadores, uns protocolos assaz curiosos com algumas associações, e os habituais subsídios para tudo e mais alguma coisa. Confrontado com as legítimas e motivadas preocupações de alguns cidadãos, Corvêlo de Sousa foi garantindo que a dívida camarária, a agravar-se na ordem de um milhão de euros mensais, era modesta, pois correspondia às receitas correntes da autarquia durante um ano. É verdade!
Agora, como há muito era previsível, aí estão as primeiras medidas de austeridade realmente para aleijar mesmo. Outras se seguirão, inevitavelmente, lá para o segundo semestre de 2011, de acordo com os dados até agora disponíveis. Entre elas a redução dos vencimentos da função pública, incluindo os dos senhores autarcas. Que comem igualmente por tabela nas ajudas de custo. O mais grave, porém, é o anunciado corte de quase 11% nas transferências do estado para as autarquias. Juntando-lhe a previsível redução do PIDAC e das receitas correntes, impõe-se a perguntar: E agora, senhores autarcas? Vão continuar com as obras supérfluas e doidas? Vão continuar com os eventos de sucesso a pelo menos 40 mil euros cada um? E a Festa dos Tabuleiros, que vai custar pelo menos 200 mil? Continuará a haver passeios-comezainas-tintol, à custa dos contribuintes? E os carritos, a gasolina, os telemóveis, os computadores, os adjuntos, os protocolos, as despesas de representação e as compras de imóveis que depois ninguém quer?
Todas estas perguntas como preparação para formular a última e fundamental -Se em velocidade de cruzeiro, os senhores provocaram uma dívida global superior a 30 milhões de euros, agora, com as inevitáveis restrições e reduções de toda a ordem, como tencionam vir a descalçar a bota? Os tomarenses têm direito a uma resposta honesta quanto antes. Tanto mais que os senhores foram alertados várias vezes, a tempo e a horas.

TRANSFORMAR A ESCOLA


Nota prévia

Jacques Attali foi conselheiro do presidente Mitterrand e dirigiu recentemente, por nomeação do presidente Sarkozy, a elaboração do relatório "Propostas para modernizar e melhorar a França". Para os francófonos, basta aceder ao blogue indicado a vermelho, em cima, à direita, para lerem o original.
O texto seguinte é de leitura algo difícil. Deve ser lido apenas, na nossa humilde opinião, por quem goste de raciocinar, de ensino, de formação e de modernização da sociedade. Naturalmente que a análise de Attali é feita a partir da situação francesa. Em Portugal, como todos sabemos, não temos problemas nessa área. Nem em qualquer outra, de resto. Vai tudo bem, graças a Deus. Sobretudo em Tomar. É o que nos vale.

TRANSFORMAR PROFUNDAMENTE A ESCOLA

"A escola é onde uma sociedade transmite os seus valores. Por conseguinte, e antes de mais, igualmente onde eles se reflectem. O sucesso ou o malogro da escola é, portanto, sobretudo o dos valores que uma geração pretende transmitir às seguintes. Os valores essenciais franceses são os de uma sociedade ligada à terra, de origem agrícola, na qual a acumulação está centralizada num Estado, ao qual cada um está  ligado directamente, e onde a excelência provém unicamente da razão. O que conduz a privilegiar a selecção de uma elite muito particular, uma elite da razão, essencialmente hereditária., piramidal, que acumula riquezas ao redor de um centro, preferindo sempre o espírito de geometria, arte individualista por excelência, e seleccionada pela competição no seio das grandes escolas superiores de elite, naturalmente parisienses, numa relação directa do catedrático com cada um dos alunos, como a do poder com cada cidadão.
Este sistema está agora a falhar, porque não valoriza nem as variantes nem os labirintos. Porque exclui a inteligência da intuição. Porque se destina a um grande número de jovens, de origens díspares, com métodos pensados para pequenos grupos homogéneos e socialmente privilegiados. Um sistema que não confia, que não incita os alunos a confiar, que não inculca a ideia de que cada um tem todo o interesse no sucesso dos outros, que despreza tudo o que não seja actividade intelectual, que não valoriza a criatividade, a imaginação, o erro, o assumir riscos.
Acontece que o mundo actual tem necessidade de empatia, de experiência, de cooperações, de redes sociais, de tribos. Tem necessidade de que os recém-chegados conheçam o universo do movimento, da mudança, da vida, da intuição, do colectivo. Daqui resulta o malogro do nosso sistema escolar, o qual, com os seus métodos inadaptados, conduz 15% das crianças a concluir o  1º ciclo do ensino básico sem saber ler nem escrever, e 130 mil outras a abandonar anualmente o ensino obrigatório sem qualquer diploma. Sem contar outras desgraças.
Temos de mudar tudo. Passar a uma educação por medida, que coloque cada um na situação de descobrir em que é que é melhor, e como pode vir a estar interessado, para ter êxito, em ajudar os outros a desabrochar.
Para aí chegar, não bastará criar mais alguns "liceus-internatos de excelência", que apenas alargarão de forma homeopática a área de uma elite anacrónica. Será igualmente indispensável mudar a visão do mundo, avantajar o colectivo, a diversidade, a intuição, a criatividade. Para isso, formar antes de mais professores para um mundo novo. E sobretudo, a montante, mudar a maneira como os pais encaram o futuro dos seus filhos. Que não devem ambicionar fazer deles os melhores nas áreas mais procuradas, nem pensar que o sucesso futuro será homólogo daquele com que sonharam quando eram jovens. Terão de admitir que tal sucesso passará prioritariamente pela escolha livre de modelos de excelência, individuais ou colectivos, económicos ou sociais, , políticos ou associativos. Por conseguinte, pela excelência em matérias renovadas a cada instante, por assim dizer conjuntos à medida de saberes múltiplos.
É este o salto mais díficil que uma geração terá de dar, se realmente deseja ser mesmo útil às seguintes."

J@ATTALI.COM >WWW.LEXPRESS.FR
Tradução e adaptação António Rebelo/Tomar a dianteira

terça-feira, 28 de setembro de 2010

MORADORES MANIFESTAM-SE CONTRA O DESMAZELO

Enquanto na antiga Rotunda Arantes e Oliveira, agora Rotunda Alves Redol, as obras nunca mais acabam, custando novamente milhões de euros, para resultados cuja lógica julgamos que ainda ninguém percebeu, a começar pelos próprios autarcas, naturalmente que não há verbas disponíveis para obras mais modestas, mas mais urgentes e úteis. É o caso do Largo do Pelourinho, também conhecido agora por Largo do Pòzinho, ou largo das Covas. Enquanto não acabam umas nem outras, aqui deixamos este postal dos anos 70, que nos foi facultado por um tomarense, ofendido com tanta barbaridade junta. Afinal, com muitíssimo menos gastos até se fez uma obra simples mas bonita, bem ao gosto tomarense. Mas também é verdade que naqueles anos as construtoras ainda não financiavam campanhas eleitorais. Inconvenientes da democracia oferecida de bandeja.
Cansados de esperar e desiludidos, moradores da zona do Pelourinho-Rua do Camarão, acabaram por chegar à conclusão que nunca se é tão bem servido como por si próprio. O conhecido e moderno self-service. Vai daí, não estiveram com delongas. Pegaram num balde e numa enxada, e vá de fazer o que a autarquia não faz, apesar de nunca se esquecer de nos cobrar os impostos a tempo e a horas. Abordados por Tomar a dianteira, disseram-nos que alguém tem de tomar conta disto, que assim não vamos a lado nenhum.
O porta-voz de outro grupo, que solicitou o anonimato, garantiu-nos que estão a pensar fazer um peditório ao nível da cidade e do concelho, para conseguirem verba destinada a pagar aos calceteiros que hão-de vir acabar a obra. Adiantou-nos também que tencionam solicitar ao Politécnico para implementar uma post-graduação intitulada "Reciclagem em gestão autárquica", de preferência integrada nas "Novas oportunidades", e destinada a quem se está mesmo a ver. Tal preparação terá, se vier a funcionar, pelo menos duas grandes vantagens, a saber: 1 - Contribuirá para melhorar o desempenho dos eleitos, ainda durante este mandato; 2 - Constituirá um excelente tópico curricular, quando procurarem emprego a partir de 2013, naturalmente como adjuntos especialistas em gestão autárquica. Pois então!

OS CULPADOS E OS ALEGADOS CULPADOS

O conhecido linguista, sociólogo, filósofo e politólogo estado-unidense Noam Chomsky, há anos que vem tentando alertar para as práticas capciosas dos detentores do poder, visando continuar a dominar, mesmo e sobretudo quando para tal não têm competência ou envergadura intelectual. Uma dessas práticas consiste em insinuar, através de porta-vozes e da comunicação social, que quando as coisas vão mal, os culpados são os eleitores, pois foram eles que escolheram. O que se pode caracterizar, em bom português popular, como a arte de fazer o mal e a caramunha. Primeiro enganam o eleitorado, alardeando capacidades que não têm, apregoando planos que não existem, prometendo o que sabem não poder cumprir. Depois, uma vez nos poleiros, fazem constar que os eleitores se enganaram, e continuam a estar enganados. Como sempre...
Este comportamento assaz peculiar existe desde que há democracia, tendo até sido caracterizado na Atenas clássica como a síndrome de Hybris. Pode ser descrita como uma mentalidade alterada pelas circunstâncias, que leva os dirigentes máximos a considerarem-se indispensáveis, insubstituíveis, infalíveis e omnipotentes. Quando, aqui há anos, o actual PR disse "nunca me engano e raramente tenho dúvidas", mostrou que a dita síndrome está muito difundida entre nós. Mas acabou por saír.
Em Tomar, face à hipótese de poder vir a haver um movimento de indignação, não controlado pelas forças políticas oficiais que vamos tendo, gerou-se uma pequena (em Tomar é tudo pequeno, menos a Janela, a crise, a miséria, a inveja e a ignorância) onda de mal disfarçado pânico. Se a malta da blogosfera consegue e nós não, onde é que isto vai parar?, terão eles pensado. Vai daí, dentro daquele velho princípio dos treinadores de bancada, segundo o qual a melhor defesa ainda continua a ser um bom ataque, desataram a dizer e encarregaram outros de propalar por aí que: A) - A eventual manifestação cordata e pacífica na próxima Assembleia Municipal, mesmo que chegue a realizar-se, não servirá para nada, visto que os políticos locais são todos maus e não têm emenda; B) - Como os políticos locais não têm emenda (eles lá sabem porquê), mais uma vez, se houver manifestação, "a montanha vai parir um rato"; C- Assim sendo, o melhor é continuar mudo e quedo, até para não arranjar chatices, que "o calado foi a Lisboa e veio sem pagar bilhete".
Perante tanto disparate junto, seguem os esclarecimentos julgados pertinentes: 1 - Não há mulheres nem homens providenciais; apenas os honestos e os outros. 2 - Em política não há milagres, nem as coisas acontecem só por acaso. 3 - Fernando Pessoa disse, nos anos trinta do século passado, que "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena." 4 - A ideia de nos juntarmos na próxima reunião da Assembleia Municipal, para aí expressarmos a nossa indignação, é uma coisa modesta, humilde, realista, sem pretensões, dá o que der. 5 - Os principais objectivos tácticos do referido ajuntamento são: a) - Verificar na prática se os eleitores tomarenses estão ou não indignados; b) - Constatar se os cidadãos tomarenses finalmente estão a mudar, ou se mantêm o velho e nefasto hábito da passividade, sempre à espera que outros façam, para depois aproveitarem; c) - Procurar conhecer a reacção dos instalados nos altos escalões do poder local, perante uma genuína manifestação apartidária dos eleitores. Há depois o objectivo estratégico, que é o de mobilizar os tomarenses rumo a um futuro mais risonho, dando-lhes finalmente alguma esperança e confiança em si próprios.
Mas não vai haver nada, porque não vai aparecer ninguém, ou quase ninguém, dirão os habituais apóstolos da desgraça. É possível. Mas nesse caso calçaremos os patins e regressaremos calmamente a casa, incapazes que somos de arranjar pachorra para encaixar as vacuidades debitadas na AM. E não terá havido nem vencedores, nem vencidos; nem mortos nem feridos; nem enganados nem ofendidos. Apenas "Tudo pelos mesmos carreiros/ Tudo afinal como dantes/ O maneta em Carregueiros/ Quartel-general em Abrantes". Foi durante a última invasão francesa. Ontem, no fim de contas...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O PAÍS E O CONCELHO

Em "À beira-Tejo e à beira-Nabão" procurou-se demonstrar que a situação política nacional e local são duas realidades distintas, com acentuadas diferenças. Ainda assim, com intenções bastante evidentes, há quem insista, por exemplo enviando comentários para este blogue, em amalgamar as duas coisas. Trata-se, bem entendido, de tentar confundir os tomarenses, levando-os a crer que a profunda crise local resulta da complicada conjuntura nacional, pelo que não adianta culpar os nossos autarcas, ou fazer o que quer que seja para alterar a situação. Segundo tais arautos, só um movimento de massas populares poderá aproximar-nos de madrugadas mais risonhas. Acontece que tal raciocínio político está viciado e nunca será operativo, pelo que é enganador. Trata-se afinal, nem mais nem menos, da repetição dos conhecidos "amanhãs gloriosos",  a alcançar graças a uma pretensa vanguarda mais esclarecida, devidamente enquadrada. Já vimos esse filme, tanto na primeira como na segunda metade do século passado. Antes da queda do Muro de Berlim e da subsequente implosão do então denominado (e por estas bandas admirado) "socialismo real".
Nos dias que vão correndo, apesar das conhecidas dificuldades orçamentais a nível nacional, há concelhos bem administrados, bem cuidados, com serviços eficazes, com desemprego inferior à média nacional, e que continuam a progredir, criando riqueza sob a forma de bens transaccionáveis. Para não irmos mais longe, Leiria é um bom exemplo, sobretudo na área industrial, e Óbidos na área do turismo. Inversamente, é cada mais notório que a câmara tomarense perdeu de forma muito clara o controle da situação. Não tem quaisquer planos para o futuro, que não passem pelos fundos europeus; não tem objectivos estratégicos; não tem, enfim, orientações claras, a transmitir aos quadros superiores da autarquia. Nestas condições, com 500 funcionários praticamente "em roda livre", e quase inteiramente dependente dos fundos do estado estado e da UE, é óbvio que o único, grande e muito útil serviço que os nossos autarcas nos poderiam prestar, seria renunciarem aos seus lugares. Quanto antes.  Ou, no mínimo, à sua obstinada, cega e nociva teimosia.
Enquanto tal não ocorrer  -sendo muito provável que não aconteça até final do mandado-, em virtude do   conhecido comportamento suicida, definido por Unamuno nos anos 30 do século passado ("Os portugueses são um povo de suicidas, não porque ponham fim à vida em maior percentagem que outros povos, mas porque indo a caminhar para o abismo, mesmo quando repetidamente avisados, continuam a sua caminhada."), cabe aos cidadãos tomarenses -a todos os cidadãos tomarenses- tomar a decisão. Vamos manifestar, de forma civilizada e serena, sem gritar, sem ofender, sem agredir, sem caluniar, o nosso direito à indignação, nos locais próprios? Ou vamos continuar com o velho hábito, manhoso e oportunista, de ir esperando que outros nos tirem as sardinhas das brasas, para então as comermos? Convenhamos que é realmente muito menos arriscado ficar na expectativa. Exige paciência, é verdade, mas em contrapartida evita queimaduras mais ou menos graves. E riscos desnecessários. Resta, no entanto, a pergunta fulcral -Têm mesmo a certeza de que alguém vos acabará por assar e servir as  sardinhas?
No que nos diz respeito, temos andado a olhar para aquela velha e bem conhecida máxima popular -"Gato escaldado, de água fria tem medo". E dado que, apesar de já termos desempenhado tal função várias vezes e a contragosto, nunca tivemos muito feitio para forçado da cabeça...
Enfim, dia 30, quinta feira, a partir das 15 horas, lá estaremos. Para fazer aquilo que a realidade envolvente vier a justificar. Tendo em conta que até hoje ainda ninguém conseguiu fazer chouriços sem carne, ou omeletes sem ovos.

DA CIDADE AO CASTELO PELA MATA...

Estão praticamente concluídas as obras de requalificação da ligação pedonal Cidade-Castelo, através da Mata. Sempre atento a tudo o que possa vir a contribuir para melhorar o nosso sombrio futuro, Tomar a dianteira foi lá ver e fotografar uma vez mais.
Esta casa de banho modernaça, com recepção e tudo, pode ter sido uma ideia excelente ou péssima, consoante o que vier a acontecer. Para já, é bastante estranho que, numa altura em que nem sequer há pessoal suficiente para cuidar da Mata, possa haver alguém para assegurar a recepção e a manutenção(?) dos novos sanitários. A ver vamos. Para já parece ser mais um exemplo da tradicional megalomania tomarense. E aquele muro da direita, coitado, nem sequer teve direito a uma nova camada de tinta...
Quanto à requalifiada via pedonal, há detalhes que nos levam a cismar e a coçar na cabeça. Aqui à entrada tudo bem, salvo aquela conduta enterrada, para as águas pluviais da direita passarem a escoar pela esquerda. Porquê? Para quê? Para se entupir dentro de pouco tempo?
Logo mais acima, este banco de madeira deve constituir uma originalidade, ou pelo menos uma raridade no país. Com efeito, faz parte dos livros de boas práticas de qualquer técnico ligado à construção civil e/ou ao urbanismo, que todos os assentos devem ter igual distância ao solo. Quanto mais não seja por questões de estética e de comodidade. Pois aqui não senhor. Temos um banco simultaneamente para adultos e para crianças ou anões. Não há nada que esta gente não invente!
Tanta propaganda, tanta conversa, tantas esperanças na nova ligação como via para trazer mais turistas do Convento à cidade e afinal deparamo-nos com erros destes: A ligação mais curta entre a Torre da Condessa e a baixa, via escadinhas do Tanque dos Frades, nem sequer teve direito a qualquer ligação ao novo piso. Está muito pior do que antes, conforme se pode ver na fotografia.
Na maior parte da via requalificada, por motivos que ainda  não conseguimos alcançar, só uma parte do piso foi arranjada. Nalgumas troços só metade, ou nem isso. Qual terá sido a intenção?
Outro aspecto assaz curioso são estas mesas (e outras do lado oposto), no terreiro junto à Torre da Condessa. Uma vez que não há por ali nem água corrente potável, nem instalações sanitárias; visto que fica longe de tudo e nem sequer está indicado, este novo parque de merendas (ou de leitura?) vai servir a quem e quando?
Obras praticamente em auto-gestão, em todo o caso sem adequada fiscalização, dão nisto. As árvores velhas de séculos é que pagam. Neste caso sacrificaram uma frondosa pinheira. Estava podre, dirão os carrascos. Pois! Ao preço a que está a madeira com mais de 30 cms de largo, percebe-se sem dificuldade a intenção. Só perde quem tem.

domingo, 26 de setembro de 2010

SOBRE TURISTAS EM PARIS

Fotos da responsabilidade de Tomar a dianteira, copiadas do Google.

Aviso aos leitores: 
Por favor não considerem o texto seguinte como um atentado à pobreza. Decidiu-se traduzi-lo e publicá-lo para que os nossos leitores com menos mundo (incluindo os eleitos e os comerciantes locais, bem como os que não acreditam que o futuro de Tomar será na área do turismo) fiquem com uma ideia de como as coisas acontecem onde há TURISMO a sério e a pagar por cada um.

VUITTON DECIDE FECHAR MAIS CEDO AS SUAS LOJAS...PARA EVITAR RUPTURAS DE STOKS - Hermès, Richemont e LVMH aumentaram consideravelmente as suas vendas após o fim da recessão.
"Crise? Mas qual crise? As vagas de turistas, sobretudo asiáticos, que invadem a grande loja parisiense Louis Vuitton, na Av. dos Campos Elísios, próximo do Arco do Triunfo, parecem demonstrar que, pelo menos no universo do luxo, a opulência voltou. A era das loucuras regressou, ainda com mais força que antes da crise.
De tal maneira que, nesta loja chiquérrima, os horários de abertura foram excepcionalmente reduzidos, de forma a prevenir qualquer ruptura de stocks antes do Natal. Facto extremamente raro, a loja encerra agora às 19, e não às 20 horas, até ao fim de Novembro. E as outras lojas parisienses da marca do monograma não atendem qualquer cliente a partir das 18 horas.
Mais restrito ainda, as vendas são contingentadas. Só vendem "um saco de senhora e um artigo de pele mais pequeno, por cliente, ou dois pequenos artigos de pele", explicou-nos um dos vendedores. Afirmando que não há qualquer recusa de venda, mas apenas um limite por cliente, de maneira a poder servir o maior número possível...
Os preços parisienses são quase sempre mais baixos que no estrangeiro -40% mais baratos que em Pequim, 30% menos que em Hongkong. E depois ainda há a franquia de 12% concedida aos residentes de fora da União Europeia. Alguns artigos já estão, mesmo assim, esgotados em todas as lojas parisienses da marca. De maneira que os afortunados clientes são forçados a aguardar algumas semanas, antes de poderem desembolsar a bagatela de 950 euros por um saco de senhora.
"Estamos a assistir a uma fortíssima retoma após a crise. É um fenómeno já observado anteriormente. Desta vez a vendas  aumentaram de tal forma que é preciso repôr o stock todos os dias. A quebra do euro em relação ao dólar também tem contribuído fortemente para esta retoma das vendas aos turistas", declarou-nos um director da marca. Durante o primeiro semestre deste ano, Louis Vuitton voltou a crescer ao ritmo de dois dígitos, podendo mesmo gabar-se de um salto fulgurante dos lucros, que aumentaram 53%. E não não a única empresa do ramo a anunciar tal êxito. Os negócios de Hermès subiram 22,8% nos primeiros seis meses do ano, enquanto os de Richemont (Cartier...) atingiram + 37% entre Abril e Agosto.
Estes gigantes da moda têm até sentido algumas dificuldades para acompanhar o incremento, de tal amplitude que, segundo Nick Hayek, director-geral de Swatch, que comercializa várias marcas de relógios de luxo, começam a confrontar-se com um evidente e novo problema de capacidade de produção. As fábricas de confecção de marroquinaria Vuitton já trabalham a 100% da sua capacidade, enquanto que o grupo LVMH contratou este ano mais 320 novos artesãos, que depois levaram algum tempo a ser formados. Aos actuais onze locais de fabrico, acrescentar-se-á, na próximas primavera, uma fábrica ultra-moderna em Marsaz (Drôme). Contrariamente a outros sectores de actividade, a marroquinaria é pouco flexível -o tempo necessário para produzir por exemplo um saco de senhora não pode ser reduzido. E só um artesão competente o pode executar.
Verdadeira tragédia do sobre-consumo, ou sucesso internacional de uma indústria essencialmente francesa? No seu livro "A felicidade pardoxal - Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo" (Editora Gallimard, reedição, 2009, disponível unicamente em francês), o filósofo Gilles Lipovetsky, um dos raros a estudar a atracção e o "fétichisme" das marcas, considera que o fenómeno continua a provir de um certo snobismo, de uma vontade de dar nas vistas e de se diferenciar, partilhado tanto por jovens como pelos adultos das novas classes afortunadas. Contudo, "já não se trata tanto de um desejo de reconhecimento social, mas antes do prazer narcísico de sentir uma certa distância em relação ao comum dos mortais, beneficiando assim de uma imagem positiva de si para si próprio".
O importante já não é, por conseguinte, sobressair, dar nas vistas, impôr-se aos outros, mas mais prosaicamente de se sentir satisfeito consigo próprio. Uma satisfação ao que parece assaz partilhada por turistas do mundo inteiro, que torna feliz o clube dos accionistas de LVMH. (Louis Vuitton - Moët Hennessy -moda, marroquinaria, champagne, outras bebidas -nota de Tomar a dianteira).

Nicole Vulser, Le Monde, 26/09, página 11
Tradução e adaptação de António Rebelo/Tomar a dianteira

À BEIRA-TEJO E À BEIRA-NABÃO

2 - À beira-Nabão

A confirmar a pertinência do conceito de "desejo mimético",  magistralmente exposto e dissecado pelo filósofo francês René Girard, a residir e a ensinar na Califórnia, também à beira-Nabão temos comparsas políticos condenados a abrilhanteram a festa e mais nada. IpT, BE, CDU e CDS nunca demonstraram ter qualquer projecto fecundo para Tomar, ou sequer vontade de o conceber, uma vez que insistem já possuirem tal projecto, quando a realidade quotidiana  evidencia o contrário.
Dirão os visados que os três ocasionais companheiros de coligação, PSD+Independentes+ PS,  também ignoram o que seja um projecto global, com pernas para andar. É verdade. Mas uma coisa não justifica a outra, antes a torna estranha. Porque se houvesse um plano devidamente estruturado, sempre se poderia alegar que, dada a sua adequação mais ou menos importante, era difícil redigir algo de alternativo. Agora assim, sem qualquer plano...
Segue-se que, ao contrário do cenário lisboeta, aqui é o provisório casal 2 + 1 (afinal o bem conhecido "ménage à trois") que vai escolhendo a música e marcando assim o compasso. No recente debate organizado pela Hertz, Corvêlo de Sousa lá foi procurando sossegar as suas tropas e os seus apoiantes, assegurando que vai tudo bem e que as obras continuam "para aproveitar ao máximo os fundos europeus". A tradicional e doentia ganância tomarense -pensa ele- ajudará a passar a mensagem. Por isso até se arriscou a avançar uma justificação curiosa no área económica. Afirmou que a situação financeira do município é boa (não disse excelente, o que já não é mau de todo...), pois ocupa a 38ª posição no ranking das 309 Câmaras Municipais. Esqueceu-se foi de dizer qual é a fonte. Se calhar algum consultor de comunicação, doutorado em esperteza-saloia. Para já não falar da situação catalamitosa de muitas autarquias.
Quem não parece estar nada convencido com a actual presidência, e ainda menos com o tal "ménage à trois" é a actual direcção do PSD/Tomar. Se calhar por já terem concluído que estão a ser encarados, pelo menos pela anterior maioria, como meros e provisórios guardas da quinta laranja, enquanto não se aproximam as coisas sérias, vulgo autárquicas 2013. Quando tal acontecer, o general Relvas, militar de muita tarimba, mandará tocar a reunir, travará nova batalha eleitoral interna, e ganhará sem grande dificuldade. Se isso não vier a acontecer, significará que as usuais e cada vez mais frequentes passeatas-comezainas-tintol-animação + os generosos subsídios para tudo e mais alguma coisa, entre outros expedientes igualmente aliciantes, afinal não servem para nada em termos eleitorais.
Tal como  "o algodão não engana", também a movimentação política local, por banda dos social-democratas,
não deixa dúvidas a ninguém. Em dois dias seguidos os tomarenses tiveram direito a dois eventos promocionais, um da actual gerência laranja, outro da anterior. Aquele realizou-se na Biblioteca Municipal e versou sobre reabilitação urbana -o exemplo do Porto. O orador convidado, engenheiro Rui Quelhas, chegou a ser brilhante, no seu improviso preparado, mas foi precisando que apenas percorrera a cidade velha durante uma hora.
Dos outros membros da mesa, António Lourenço Santos foi claro e eficaz, a demonstrar quem é realmente o motor pelo menos intelectual da actual direcção. A experiência internacional, quer queiramos, quer não, ajuda muito. 
Quanto ao Eng. José Delgado, mostrou-se interessado e diligente. Tem, no entanto, todo um longo caminho a percorrer, até poder aspirar a um poder mobilizador equivalente ao do general Relvas, no intrincado meio político tomarense. No seio do qual, contrariando o conhecido dito, muitas vezes, em política, o que parece não é.
Relvas, por seu lado, escolheu o quadro mais bucólico, confortável e aconchegado da Estalagem de Santa Iria, para se reunir com os boys da JSD, num acto promocional sobre empreendedorismo. Supõe-se que jovem. Quem sabe, sabe! E nunca esquece.
Em qualquer caso, enquanto Tomar existir como município, ficará na história local que, por manifesta incapacidade dos cidadãos e das oposições locais, o PSD-Tomar, assumindo-se como grande partido de massas (nos dois sentidos políticos do vocábulo)), se viu constrangido a ser, em simultâneo, poder e oposição. Esta pobre terra nabantina está cada vez mais exótica. E os eleitores, pachorrentos em demasia, continuam muito sossegados a ver passar os comboios.

À BEIRA-TEJO E À BEIRA-NABÃO

1 - À BEIRA-TEJO

Fortemente fustigado pelas oposições, o minoritário governo PS-Sócrates vai resistindo. Por banda do CDS, da CD e do BE não corre qualquer perigo. Nenhum deles mostra ter envergadura nem soluções realmente exequíveis para a actual e infindável crise. Quanto ao PSD, entende-se perfeitamente a táctica de Ângelo Correia/Miguel Relvas/PP Coelho. Só convém derrubar o governo e assumir o poder, uma vez promulgadas e implementadas as medidas mais odiosas: reformas estruturais, acentuado corte nas despesas públicas, redução de vencimentos e de prestações sociais.
Hábil estratega, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro já percebeu tão bem a posição dos social-democratas, que agora até se dá ao luxo de os ameaçar que, sem acordo pelo menos tácito, seguido de aprovação do orçamento, o governo não terá condições para governar. Para bom entendedor...
PPCoelho, igualmente brilhante, mas muito menos calejado, já lhe respondera por antecipação -O PSD recusa-se a aceitar mais presentes envenenados do PS, declarou o putativo futuro primeiro-ministro.
De momento, neste duelo de contornos demasiado florentinos, Sócrates leva grande vantagem. Não só por beneficiar dos 6 meses durante os quais Cavaco está atado de pés e mãos, uma vez que não pode dissolver a AR, ou demitir o primeiro-ministro, mas sobretudo devido à situação internacional. Com efeito, todos os que, embora negando-o a todo o instante, tendem apesar disso a pensar e agir como se o futuro fosse uma mera repetição do passado, estão agora confrontados com situações imprevistas, a darem-lhes muito que pensar.
Tanto na Grécia como na Irlanda, as soluções do trio FMI-CE-BCE têm vindo vindo a ser escrupulosamente aplicadas, mesmo nas suas vertentes mais duras, como a acentuada redução dos vencimentos dos funcionários e o aumento de impostos. Apesar disso, os resultados conhecidos até agora são praticamente o oposto daquilo que se esperava. Em ambos os países, em vez do aguardado aumento das exportações e do investimento interno, que compensariam o forçada redução do consumo provocada pelas tais medidas duras de austeridade, assiste-se a uma contracção do PIB. A demonstrar que, no fim de contas, as diferenças em relação a anteriores sobressaltos económicos não residem só na existência do euro -que inviabiliza as usuais desvalorizações, outrora tão do agrado do FMI- mas igualmente, e sobretudo, da acentuada ascendêndia da China e dos outros países emergentes, que tornam cada vez mais problemático qualquer aumento das caríssimas exportações europeias. E sem exportações, adeus investimento. E sem investimento nem exportações, adeus mercado interno, adeus estado social... Ainda está por inventar o motor que funcione sem gastar energia...

sábado, 25 de setembro de 2010

MAIS ESPLANADAS DA EUROPA - 2

No ex-estádio 25 de Abril, que com umas obras de milhões foi transformado em campo de treinos, sem balneários nem bancadas, mas com pista de atletismo que ninguém usa, o maná europeu foi tão bem administrado que nem deu para instalar a prevista esplanada, que poderia dar alguma serventia a esta bizarra bancada, com vista directa para a copa dos salgueiros que estão na margem. De forma que temos lá o estrado. O resto há-de vir um dia destes. Quando houver mais dinheiro, que agora estamos em crise e há outras oportunidades, mais chorudas para as construtoras.
O que nos valeu nesta circunstância foi o sentido de oportunidade da juventude tomarense. Assim a supérflua bancada sempre serviu para qualquer coisa. Passou a ser uma espécie de bancada das lamentações. Ainda por cima com uma proclamação feliz, uma vez que constitui um bom exemplo de "dois em um". Tanto se pode começar por "A felicidade de amanhã...", como  por "A tristeza de hoje..." E ainda há por aí quem diga que esta juventude só tem areia na cabeça... Se calhar também dependerá um bocadinho da educação que lhe deram...ou que deviam ter dado. Ninguém pode dar aquilo que não tem. Constitui até um delito.

MAIS ESPLANADAS DA EUROPA...

Como não havia ainda espaço suficiente para esplanadas junto ao Nabão, vá de fazer mais uma, pomposamente designada por "deck". Desta vez entre a Ponte Nova e a Moagem Velha. Os tomarenses por nós contactados disseram que já nada lhes admira, mas que deve tratar-se de mais uma obra para armar aos cucos. De forma a poderem apreciar as pombinhas e pombinhos que ali vêm dar de beber à dor...
Do lado oposto, o longo e inestético paredão continua deserto, servindo apenas para armar ao pingarelho, que ninguém sabe o que seja realmente. Assim como, mal por pal, ninguém entende porque razão a muralha não vai até à Ponte do Flecheiro. Perdido por cem, perdido por mil. São obras geralmente tão manhosas que nem as asneiras levam até ao fim, como seria o caso.
Nas traseiras do paredão, esta estranha bancada, com degraus enormes, continua a intrigar os moradores da zona. Tanto mais que vedou o acesso de dois cidadãos a espaços construídos de que são proprietários ou arrendatários. A única explicação plausível é que se trata de uma bancada destinada a olhar para trás, para o passado. Será? Até nova explicação mais convincente por parte da autarquia, é mesmo!
Naturalmente que, com tantas obras até agora inúteis, os abundantes fundos europeus derretem-se como neve ao sol. E visto que o euro, apesar de ser uma moeda tão forte quanto o dólar americano, não é elástico, a autarquia não tem dinheiro para tarefas de primeira necessidade. Limpeza da cidade, manutenção dos espaços verdes, remoção dos presentes dos cães, limpeza do rio, desinfecção das sarjetas e sumidouros, reparação atempada da calçada, por exemplo na Ponte do Flecheiro, etc etc. A tal gestão atempada dos assuntos correntes. Ignorando-se igualmente quais sejam os objectivos, a táctica e/ou a estratégia do município, para além da manutenção do poder por parte da ocasional coligação contranatura, os eleitores começam a arrepender-se de terem ido votar. O que é muito mau para a democracia, como a seu tempo se verá...

MAIS AVISOS À NAVEGAÇÃO

O conceituado economista Vítor Bento deu uma entrevista ao DN, que a publicou na edição de ontem. Vítor Bento é  autor do livro cuja capa mostramos acima, e do qual aqui falámos em tempo oportuno. Além disso, é conselheiro de Estado, nomeado directamente por Cavaco Silva, também ele -como é sabido- economista. Eis dois excertos das suas declarações, particularmente pertinentes para o país e, sobretudo, para Tomar. Todos os senhores autarcas nabantinos deveriam ser obrigados a lê-las. De preferência antes das refeições.
"DN - O Estado social já atingiu os seus limites?
VB - É um facto, e um facto a que anda toda a gente a tentar fechar os olhos, que o modelo social que temos é financeiramente insustentável a prazo. De maneira que faz todo o sentido pensar em racionalizá-lo -e no fundo fazer como que a negociação de um novo contrato social, entre a sociedade, vendo o que é preciso redistribuir, ver quem devem ser os principais beneficiários desse processo, concentrar neles a distribuição, E, por outro lado, que é outra parte do contrato social, criar condições para se gerar mais riqueza. Porque quanto mais riqueza houver, mais fácil é distribuir. Nós hoje estamos num problema -que dura há mais de uma década. É que crescemos cada vez menos e distribuímos cada vez mais.
... ...A narrativa oficial que existe, não coincide com a visão que tenho da realidade. Nós temos uma realidade muito difícil pela frente. Não vamos conseguir superar as dificuldades sem passar por um, dois, ou três anos de vida difícil. E quanto mais cedo começarmos a discutir e a consensualizar como se distribuem os sacrifícios, melhor. Não podemos é ter a a retórica..."


O negrito é da responsabilidade de Tomar a dianteira.


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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PARECE ANEDOTA, MAS NÃO É...



Pode parecer anedota, ou simples piada de mau gosto, mas não é de maneira nenhuma. No Dia Europeu Sem carros -22 de Setembro- zarparam de Tomar 17 autocarros, com centenas de jovens de idade avançada, rumo à aldeia turística de Santo Antão, situada ao lado da antiga nacional 1, entre Leiria e a Batalha. Num dos autocarros, por sinal daqueles de dois andares, iam apenas 18 pessoas. Incluindo o motorista. Tudo à custa dos contribuintes, através do orçamento da Câmara de Tomar, sempre preocupada com o bem estar dos idosos. E sem segundas intenções. Muito menos com a ideia de comprar votos. Nem pensar!
Dizem alguns participantes que mais valia terem comido, bebido e dançado em Tomar, que era mais barato e menos cansativo. Assim fartaram-se de andar de autocarro mas acabaram por não ver grande coisa. Só pararam para aliviar a bexiga e mais meia horita mal contada em Alcobaça.
Verdadeira cereja no bolo, para ficar mais bonito e apetitoso, o senhor vereador Carlos Carrão, desde sempre grande entusiasta destas peregrinações à senhora da asneira, lá foi fazer a sua perlenga, deixar-se fotografar com o pessoal de barriga cheia e dar o seu pé de dança. Mas foi no carro da câmara que lhe está distribuído. Afinal, vereador é outra coisa. Mais fina. De outra estirpe. Em todo o caso muito acima da ralé, que calhando até pode pegar pulgas aos autarcas, que já têm muito com que se coçar. E vice-presidente então, nem se fala! Integra, sem qualquer margem para dúvidas, a alta nobreza nabantina.
Foi, almoçou, falou, dançou, divertiu-se, após o que regressou no "seu-nosso" Opel Insignía (o da direita,na foto). Homem prevenido é assim que deve fazer sempre -Aproveitar enquanto há, pois no aproveitar é que está o ganho.

OS CIDADÃOS E A CARNEIRADA TOMARENSE

O senhor presidente da Assembleia Municipal de Tomar, se por acaso não tem andado, e anda, a tentar reinar com os cidadãos tomarenses, imita muito bem. Com efeito, basta comparar estes três editais para nos apercebermos de que o senhor Miguel Relvas, certamente cidadão do top, porquanto secretário-geral do PSD, braço direito de PP Coelho (que todavia não é maneta), ex-secretário de Estado e putativo ministro de Estado, usa de artimanhas, igualmente conhecidas por golpadas ou espertezas saloias, para não ter de, eventualmente, aturar os eleitores nabantinos.
Primeira golpada, que se vem repetindo -A Assembleia Municipal de Tomar, apesar da crise profunda que assola o concelho, só é convocada quando a lei a isso obriga. Irá agora reunir na 4ª sessão ordinária, em 30 deste mês, quando em Almeirim, por exemplo, (ver ilustração infra), já vão na sétima sessão. Quase o dobro.
Segunda golpada, que também se vem repetindo -A Assembleia Municipal de Tomar, contrariando todas as regras da democracia, do bom senso e da boa educação, é sistematicamente convocada para horas laborais. Sendo legal, não passa de um expediente reles, pois assim só poderão assistir reformados, pensionistas, aposentados e desempregados. Em qualquer dos outros casos (ver ilustrações infra), os parlamentos locais são convocados para após a hora de jantar.
Terceira golpada, que também se vem repetindo -Ao contrário do que acontece na generalidade dos outros concelhos, não consta do edital-convocatória qualquer indicação sobre intervenções dos cidadãos. O que naturalmente não facilita, antes torna quase impossível, ouvir o que os eleitores queiram e/ou necessitem de dizer.
Quarta golpada, que também se vem repetindo - A aprovação de uma grelha de tempos, sobretudo como estratagema para silenciar a oposição, não passa de uma esperteza saloia, mascarada de alegado tecnicismo nimbado de justiça, para esconder o seu óbvio propósito estalinista.
Quinta golpada, que também se vem repetindo -Quando, apesar de todas as prévias e deliberadas dificuldades criadas, algum cidadão tem a coragem de enfrentar a actual maioria de circunstância, o respeitável senhor presidente Miguel Relvas, apesar da sua proclamada paixão por Tomar, já deu corda aos sapatos, rumo aos ares mais acolhedores e sadios da capital. Deixa o parlamento tomarense entregue aos ajudantes do pastor. E os tomarenses que não se queixem porque, por enquanto, os ajudantes ainda não são cães Serra da Estrela. Mas com o tempo, nunca se sabe! 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA

Esta semana Cidade de Tomar apresenta como "prato principal" a ausência de esplanadas à beira Nabão, aproveitando para mostrar o triste estado em que se encontra o nosso rio. Os mais brincalhões dirão se "Tomar é das poucas cidades com rio, sem esplanas nas suas margens, será talvez porque os habitantes da velha Nabância, são todos, ou quase todos, nabos de sequeiro. O que constitui uma excelente explicação para o deserto de ideias em que a urbe se vem transformando pouco a pouco.
O semanário dirigido por António Madureira destaca igualmente o recente Festival de Estátuas Vivas, mas exagera fortemente ao indicar o total de visitantes. Cem mil é um cálculo mesmo megalómano. Nem metade cá estiveram, quanto mais agora.
Igualmente a merecer leitura as Conversas ajardinadas e a habitual Crónica de Campanha.

O Templário continua igual a si próprio, destacando os chamados fait-divers. Esta semana o caso da professora de Tomar colhida por um comboio na Estação do Entroncamento, a eventual recuperação da Freitas Lopes, o lixo que se amontoa no Rio Nabão, um acidente em Ferreira do Zêzere e uma cidadã indignada com determinada actuação da PSP. Inclui igualmente um caderno de oito páginas sobre as Estátuas Vivas, abstendo-se no entanto de indicar qualquer cálculo do número de visitantes.
Esta questão do cálculo de visitantes seria muito mais simples se para este tipo de eventos as entradas fossem pagas. Não só se ganharia bom dinheiro, como bastaria conferir os bilhetes vendidos. Assim ficamos mais pobres, uma vez que houve custos não cobertos, e sempre na dúvida quanto à afluência.
Apesar de habitualmente mais virado para os incidentes, o semanário dirigido por José Gaio é o único a noticiar, com fotografia, mas de forma sintética, o recente "Debate sobre o estado do concelho".
O Mirante, por sua vez, dando mostras de não ter estômago para certas coisas, mas estar sempre pronto a "aviar recados", absteve-se de noticiar o debate sobre o estado do concelho, apesar da sua correspondente a ele ter assistido. Em contrapartida, no que concerne a Tomar, além da fotografia da lavadeira na primeira página, há uma outra do "homem em levitação" no Cavaleiro Andante. E depois temos igualmente algo de realmente insólito -Um página inteira, a 29, com seis depoiamentos sobre o "Incidente Lobo Antunes". Convenhamos que é algo estranho continuar a malhar num assunto que já ocorreu há três semanas, e em relação ao qual não ocorreu entretanto nada de novo. Fomos dos primeiros a criticar Luís Ferreira pela sua falta de polimento naquela circunstância. Por isso estamos agora à vontade para lamentar determinados alinhamentos jornalísticos, que indiciam uma tentativa de linchamento, por parte de cidadãos coligados com quem se pretende senão linchar, pelo menos lixar.


RECADO PARA LUÍS FERREIRA

Meu caro vereador:

Vejo-te tão empenhado no teu trabalho, com tanto entusiasmo e tanta vontade de fornecer informações detalhadas aos cidadãos, que não poderia deixar de te responder, como forma de te encorajar e apoiar nessa via. Bem sei que há aquela discrepância no total da dívida autárquica. Coisa sem grande importância, julgo que proveniente de diferentes noções de contabilidade. Ou provocada por excesso de contabilidade criativa? Em todo o caso, estamos de acordo no essencial: a diferença de 29 para 31 milhões de euros é idêntica à de 35 para 37. Ou seja, mais 1.852.193 euros, em dois meses. Estamos de acordo? Estarei equivocado outra vez?
Indo agora ao essencial. Já o tenho dito mas reitero -Não te nego coragem, boa vontade e entusiasmo. Falta o resto, que é muito. Mundo e experiência, sobretudo. Virá com o tempo. O grande problema da autarquia e do concelho, na minha maneira de ver, parece provir de uma mentalidade há muito ultrapassada. Quando, por exemplo, tu informas que o Congresso da Sopa custou perto de 40 mil euros aos contribuintes, estás a ver a coisas como autarca que agora és. Um comerciante ou industrial diria que o citado evento deu um prejuízo superior a 50 mil euros. E estaria cheio de razão. Com efeito, tens andado por aí e de certeza que nunca ouviste, e jamais ouvirás, um empresário lamentar-se de que está a ganhar menos. Dirá sempre que está a perder dinheiro. É a velha questão da dualidade dinheiro/capital, Luís. Para os eleitos, o que compõe o orçamento é dinheiro para gastar, sacado dos bolsos dos contribuintes, que têm lá mais. Para os empresários, pelo contrário, é capital, susceptível de ir buscar mais capital. Capital reproduz-se; dinheiro não; gasta-se.
Nestas condições, em todos os eventos que levares a efeito, procura apurar não só o quantitativo gasto (verbas, transportes, energia, mão de obra, ocupação de salas...), mas igualmente aquilo que se perdeu (ou se deixou de ganhar), por não serem sido cobradas entradas. E tem havido tantas oportunidades perdidas ao longo dos anos... O socialismo é uma coisa muito bonita e fraterna. Desde que haja quem o pague.
Quando há 590 anos, o Infante D. Henrique apareceu aqui em Tomar, para governar a Ordem de Cristo, não foi certamente porque a cidade era muito bonita ou assaz acolhedora. E ainda nem existia a janela ou o convento novo. Filho de inglesa, o nosso herói sabia bem ao que vinha -Deitar a mão ao produto da acumulação primitiva, realizada ao longo dos séculos por templários e cavaleiros de Cristo. Conseguido esse objectivo, lançou a aventura dos descobrimentos, financiados pela ordem que governava. Por isso as caravelas ostentavam nas velas o emblema da ordem e não o do país, ou o do rei. Tal empresa foi inicialmente ruinosa. De tal forma que já no reinado de D. Manuel I, ainda havia dívidas do tempo do senhor infante para liquidar. Só depois, as especiarias, o açúcar, a escravatura, e mais tarde o ouro do Brasil, fizeram milagres, apesar de nunca nos terem tirado da cauda da Europa. Onde ainda hoje estamos. Mentalidades, Luís, mentalidades!
Tanto na tua vida privada (que só a ti diz respeito), como na política, conviria que nunca esquecesses duas coisas: Por um lado, que cada comboio só passa uma vez em cada estação. Por outro lado, que os chineses têm um ditado engraçado e muito proveitoso, sob a forma de duas interrogações. Ei-las -"Se tem remédio, porque te queixas? Se não tem remédio, para que te queixas?" Juntando isto àquele outro ditado, segundo o qual "Se deres um peixe a um homem, ele alimenta-se uma vez. Se lhe ensinares a pescar..."

Cordialmente,

A. R.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DEBATES...

O debate em boa hora organizado pela Rádio Hertz, no passado dia 18, foi o primeiro transmitido em directo fora das campanhas eleitorais. Antes houve o "Tribunal da Nabantina", par "julgar" o caso do trânsito na Corredoura, igualmente público, mas sem transmissão pela rádio. Igualmente no século passado, vários debates temáticos tiveram lugar, porém sem carácter público, dadas as condições da época.
Fomos consultar o texto final de uma dessas trocas de ideias, oragnização do efémero Jornal de Tomar, em Março de 1984, precisamente sobre turismo. Reproduzimos a seguir, sem qualquer alteração, as intervenções de um dos administradores de Tomar a dianteira.


Jornal de Tomar - Será que a actividade que tem sido desenvolvida neste sector se enquadra no chamado turismo industrial, afinal aquele que pode trazer vantagens económicas às regiões que têm o privilégio de dispor dessas riquezas?
A. R. -Começo por assinalar o salto que é feito aqui, entre a questão que coloca e aquela a que o sr. Pereira respondeu. A questão que agora me coloca ultrapassa os limites do nosso concelho, é já um problema global do sector. Ainda ontem, numa reunião partidária, se falou em turismo, não a nível local, mas em termos mais gerais. Fiquei com parte de uma resposta que me deram: "O turismo em Portugal é uma tragédia".
Eu diria que o sector vive um imenso mal entendido. Tanto quanto sei, há dois modelos possíveis de organização turística, que se ligam ao próprio modelo de sociedade onde se inserem. Há um modelo centralizado, cuja característica fundamental é uma planificação a nível governamental, o que implica que o turismo é exclusivamente explorado por organizações oficiais. Na Europa de Leste, são as agências de viagens do estado que, em conjunto com os organismos governamentais competentes, organizam e exploram o sector. E isso evita, por exemplo, a fuga de divisas.
Há um outro modelo -o americano. Nos Estados Unidos, o turismo é uma actividade exclusivamete privada. Muitos governos estaduais nem sequer têm organismos especializados em turismo. Compreende-se -sem qualquer juízo de valor- que nos países de leste seja o governo a fazer a promoção do seu turismo, e também se compreende que nos Estados Unidos a promoção seja feita quase exclusivamente pelas organizações privadas.
Entre estes dois modelos, há o nosso, que é o modelo francês, mal copiado. É uma situação em que o estado assume o que dá prejuízo, e os privados assumem o que dá lucro. Passando agora para o caso de Tomar, a consequência deste modelo é o turismo custar-nos cerca de 10 mil contos e a câmara arrecadar pouco mais de 3 mil em imposto de turismo.
Logo aqui temos um défice de mais de 6 mil contos, ao nível de uma cidade tão pequena como Tomar. Agora calcule-se em termos nacionais, as discrepâncias entre as receitas e as despesas do estado neste sector. É uma situação original, num país com carências de toda a ordem. E apesar do custo deste sector para o estado, o turismo que cá temos, não é aquele que queremos. É aquele que os outros nos mandam e, como não sabem muito bem o que nós pensamos, mandam-nos aquilo que lhes dá jeito.
Jornal de Tomar - Como vê a constituição destas Comissões Regionais de Turismo?
A.R. -Num país com recursos muito limitados, como o nosso, eu perguntaria como é que se gastam rios de dinheiro com estas comissões, que são fachadas, como muitos funcionários, mas que depois não respondem a nada; a não ser dar despacho a assuntos burocráticos.
Não basta que haja, aqui e ali, algumas boas vontades, quando não há um esforço concertado, que chegue a uma Comissão Nacional de Turismo, que defina um plano para o sector, que defina o produto que se deve vender, que defina onde se deve ir vendê-lo. A Comissão de Turismo de Tomar não sabe o que está a fazer a de Leiria, de Abrantes ou de Castelo Branco.
Gastamos somas consideráveis em actividades que são de interesse nulo para o turismo, não porque intrinsecamente o sejam, mas porque em termos de turismo industrial só tem interesse o que é programado com pelo menos um ano de antecedência. Para este turismo, a planificação para o ano seguinte em Setembro está feita. E em Novembro os catálogos estão na rua. Daí decorre que a esses operadores de turismo não interessa que depois lhes vão dizer que há este ou aquele festival, pois já não os podem publicitar ou incluir nos seus circuitos.
As comissões regionais vão reforçar ainda mais o carácter negativo de tudo isto, porque vão ser uma série de feudos, cujos planos de actividades não têm ligação entre si e com a agravante de não conseguirem atingir o mercado nacional, e muito menos o internacional. Não vão conseguir apresentar atempadamente os seus programas de actividades, até por questões de orçamentos, que são anuais e portanto desencontrados do "timing" dos operadores de turismo.
Quanto à Estalagem, quero salientar que em todos os países ocidentais é norma não serem as entidades públicas a cuidar das unidades hoteleiras. O FMI não tardará a impôr isso mesmo, pelo que penso que a câmara vai ter problemas e que, mais cedo ou mais tarde, largará a estalagem.
Jornal de Tomar - Colocaria a mesma pergunta, propondo que se coloquem na posição de responsáveis pelo sector. Que plano alternativo?
A.R. - Antes de mais, quero dizer-lhe que não está no meu horizonte político ser presidente da Comissão Municipal de Turismo. Como tal, nunca examinei o problema sob esse ângulo. Agora posso adiantar que foram aqui ditas algumas coisas importantes. Por exemplo o sr. Pereira, em resposta ao problema que levantei de gastarmos 10 mil contos e termos uma receita de 3 mil, falou na necessidade de se investir a fundo perdido. Concordo parcialmente. Mas o que não se pode é andar eternamente a investir a fundo perdido para outros arrecadarem as receitas. Os beneficiários da actividade devem também ser os seus pagantes. Os hoteleiros, os cafés, os restaurantes, os agentes de viagens, etc. é que terão a curto prazo de custear a promoção turística. Se bem que aqui em Tomar não se coloca só o problema da promoção. Não temos estruturas para receber os turistas. Não há um roteiro, não guias qualificados, não há sinalização capaz, não há uma ocupação de tempos livres, atempadamente programada.
Quase 27 anos volvidos, resta dizer sem rancor -Esta terra é uma maravilha! Passam os anos, mas os problemas mantêm-se. Até quando?

MUNICÍPIO: É SEMPRE A SOMAR!!!

Durante o recente debate sobre o estado do concelho, o vereador Luís Ferreira, respondendo a uma observação nossa sobre o facto de ter deixado de publicar no seu blogue o montante da dívida municipal, alegou que isso sucedia porquanto os balancetes de 31 de Julho e 31 de Agosto ainda não eram conhecidos. Vai-se a ver, não disse a verdade, ou pelo menos a verdade toda. No momento em que o disse já havia, no mínimo, uma informação escrita da DF, datada de 03/09/10. Ou seja, de quinze dias antes! Isso não se faz, senhor vereador. Esconder a realidade é feio e denota falta de ética.
Pois "tá" bem! Ainda não lhe tinha sido comunicada, ou ainda não tinha sido apresentada e aprovada em reunião. Desculpas de mau pagador...
Indo ao que interessa realmente à população. Situação da dívida municipal em 31/08/10:

30 de Junho de 2010 31 de Agosto de 2010

Fornecedores 6.253.593 7.282.505

Conta corrente 2.514.703 2.7o7.960

Imobilizado 2.968.154 3.804.828

Banca CMLP 23.892.384 23.785.731

TOTAIS 35.628.832 37.581.025

(CMLP = Curto, médio e longo prazo, incluindo leasing)

Temos, por conseguinte, que entre Junho e Agosto, 60 dias, a dívida municipal medrou 1.852.193 euros = 370 mil contos, números redondos. O que nos dá a bonita soma de 6,167 contos por dia. Nada mau! Até apetece exclamar: Ah valentes! Vamos morrer na miséria, mas alguns terão gozado à grande!
Entretanto, a autarquia apresentou mais três candidaturas ao maná de Bruxelas: Envolvente ao Convento de Cristo = 3 milhões 173 mil euros; 3ª fase do Flecheiro = 2 milhões 969 mil euros; Assistência técnica = 86.590 euros.
Não foi o ex-presidente da CIP que disse, aqui há tempos, ser o país demasiado pequeno para se roubar tanto? Queiram desculpar! Mil perdões! Foi um lapso! Esta história do Ferraz da Costa não tem mesmo nada a ver com o assunto que está a ser tratado, mas fica, só para não perdermos tempo a apagar. Como Vexas bem sabem "Time is money".
Nestas três candidaturas supra referidas há dois tópicos assaz cómicos, um na do Flecheiro, outro na da assistência técnica. No Flecheiro, além do realojamento dos ciganos, tencionam fazer uma marginal, umas zonas ajardinadas, pistas pedonais e para ciclistas e UMA BANCADA PARA SE PODER CONTEMPLAR O NABÃO. Só nos faltava mais esta! Já temos uma bancada inútil virada para o Rio Bar, ali por trás do Paredão Pai (o filho está na Rotunda). Agora vamos ter uma outra, virada para o rio. Não se estarão a enganar na localização? É que a bancada faz falta mas é no ex-estádio, agora miserável campo de treinos.
Outra parte gaga aparece nos objectivos da candidatura à assistência técnica: "Visa manter de forma permanente a população informada...e fomentar a sua participação..." Está-se mesmo a ver, não está? Realmente a autarquia tem sido até agora, e desde sempre, um modelo de informação, de diálogo com a população e de transparência. Ou estaremos a ver mal??!!
O riso ainda continua a ser o melhor remédio...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

SABER FAZER E SABER DIZER

Esta local do jornal I põe em destaque dois pontos que, a nosso ver, merecem algumas considerações. O primeiro é do domínio da mentalidade dos responsáveis. O outro insere-se na área da mentalidade dominante entre os alunos.
No recente debate sobre o estado do concelho, o ex-presidente do Politécnico de Tomar, Pires da Silva, alardeou confiança por todos os poros, tendo quase garantido que o nosso IPT nunca será suprimido pelo governo. Absteve-se, todavia, de fundamentar a sua posição, ou sequer de dizer o que pensa sobre a fraca afluência de novos alunos, pelo menos na 1ª fase de colocações, com apenas 40% de vagas preenchidas. Deu assim aos presentes a ideia de se situar no mesmo universo mental de Sócrates ou da circunstancial maioria autárquica tomarense -O optimismo crónico e beato, mais do domínio da crença que da racionalidade. Atitude que contrasta fortemente com a profunda angústia e o evidente desencanto, pelo menos da comunidade tomarense.
Inversamente, o presidente do Politécnico de Viseu mostra-se preocupado com a hipótese de encerramente de um curso com vinte anos e boa aceitação pelo patronato, apesar de ter conseguido, globalmente, 64% de inscrições na primeira fase. Temos, portanto, 40% e tudo na maior em Tomar; 64% e preocupação em Viseu. Não há dúvida - no norte é outra gente e outra mentalidade.
Outra mentalidade que infelizmente começa a desvanecer-se pouco a pouco, quiçá por causa do cada vez mais acentuado nacional-facilitismo. Diz a notícia que o curso em risco de acabar regista um elevado índice de empregabilidade, uma vez que todos os antigos alunos estão colocados. A ser assim, é bem possível que o termo "empregabilidade" não seja o mais adequado para descrever a realidade. Se calhar dever-se-ia usar antes a expressão "índice muito elevado de colocação dos antigos alunos em postos de trabalho."
Um curso politécnico que disponibiliza aos alunos possibilidades de investigação, graças a protocolos com universidades estrangeiras e com um grande grupo industrial português, não é de certeza uma daquelas formações que ensinam a dizer e a ocupar um emprego. Será, pelo contrário, um dos que ensinam a fazer e a desempenhar postos de trabalho. Forma operacionais e não gente de gabinete. Por isso corre o risco de desaparecer.
Os alunos de agora pensam, cada vez mais amiúde, que "não vale a pena matar-se a estudar". Obtém-se uma daquelas formações superiores que apenas ensinam a dizer, envereda-se pela política, e consegue-se rapidamente um lugar confortável e bem remunerado. Não faltam por aí exemplos.
É claro que com tal mentalidade dominante, e com uma administração pública que já é mastodôntica, não tardaremos a sofrer um monumental e doloroso estoiro. Mas enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
Bem dizia o poeta -"Não se nasce impunemente em Portugal." Ai não, não!!!

O MANÁMICHA EUROPEU

Este texto é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, factos ou lugares será mero fruto do acaso.

Numa a terra do país mais ocidental da europa, e o mais europeu dos africanos, o clima económico era desde há anos de profunda recessão. Tinha grandes recursos turísticos, que contudo estavam todos por aproveitar. O mesmo acontecia com o resto. Até que houve umas eleições e apareceu um rapaz cheio de crença e de vontade de trabalhar em prol da sua terra. Em poucos meses, implementou ou colaborou na implementação de várias manifestações para atrair visitantes.
Houve sucessivamente o primeiro de Março, o Congresso do Caldo Entornado, a Praça Morta, o Tomarbatuque, a bronca Lobo Antunes, os Bons tons, as Múmias vivas, a Gala musette, e por aí fora. Correu tudo que foi uma maravilha. Menos o congresso dos caldos, porque o S. Pedro entornou o dele, o que levou muitos congressistas a fazer gazeta. E aquilo do Lobo Antunes, cá por coisas que não adianta contar. O resto foi uma sucessão de êxitos, sem precedentes na história da urbe. Veio muita gente de fora; cafés, restaurantes e hotelaria fizeram grandes negócios, os autarcas ficaram encantados. Sobretudo o tal rapaz cheio de crença. A autarquia é que estava cada vez mais endividada, mas pronto! Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal. Para se ganhar (as eleições) tem de se investir (o dinheiro dos outros).
A notícia espalhou-se pelo país e vieram políticos de várias autarquias, indagar como tinha sido possível passar tão rapidamente do persistente marasmo ao extraordinário incremento. Para mais com as receitas da autarquia a baixarem constantemente.
Ouviram tudo o que lhes foi explicado, até que um deles perguntou -E isso fica muito caro à autarquia? -Não; de maneira nenhuma, respondeu o da crença. Logo acrescentando -Custa é convencer o presidente, que até é doutra cor. A seguir é sempre a somar. Ou melhor, a organizar... Mas em termos de custos reais, mais ou menos quanto por cada evento? -Vamos dizer à roda de 40 mil euros. E 200 mil para a Festa Grande. Mas essa é só de 4 em quatro anos, o que dá 50 mil euros por ano. Metade paga a autarquia, outra metade o governo via Turismo de Portugal. Não é barato. Porém, quando chegam as eleições, é como aquelas passeatas à borla e para encher a pança à vontade: são votos garantidos!|
Tudo devidamente anotado, agradeceram e foram cada um à sua vida.
Como havia nessa mesma terra um grande e antigo convento, com 7 claustros e uma janela célebre, dois dos eleitos que participaram na reunião resolveram aproveitar a ocasião para irem conhecer. Pagaram 6 euros cada um à entrada, após o que ficaram admirados por não haver ninguém para explicar. Ainda foram reclamar à caixa, que lhes disse só haver visitas guiadas mediante pedido prévio, com três dias de antecedência... Um deles teve então uma ideia luminosa: -Espera aí, disse para o outro; até tenho um camarada meu da tropa que é daqui e já foi guia turístico... Pouco tempo depois, já andavm acompanhados pelo tal camarada, cujas explicações escutavam atentamente.
A dada altura, num dos 7 claustros, disse-lhes -Este é o claustro da Micha, estilo renascença, de 1543. Assim chamado porque era aqui, mais precisamente nesta janela da cozinha, cuja grade até foi cortada em baixo para esse efeito, que se distribuia aos pobres uma micha de pão e uma malga de caldo, ou de restos da comida conventual. O forno era ali daquele lado.
De regresso à santa terrinha, algures no interior sul do país, tanto pensaram, tanto matutaram, que acabaram por descobrir a fórmula do sucesso. Agora na cidade que administram, todos os meses se realiza um festival que já se tornou célebre em todo o país, e mesmo por essa Europa fora, contando com o apoio da Comissão Europeia desde a primeira edição. É o doravante celebérrimo "Manámicha europeu" que, praticamente sem grandes esforços de imaginação, e por assim dizer sem mão de obra qualificada, ou sequer preparação prévia, congrega cada vez mais participantes, vindos de todo o país e da Europa inteira. Segundo fontes reputadas fidedignas, na mais recente edição registaram-se previamente 5968 pessoas. Muita gente para uma terra pequena. Cafés, restaurantes, unidades hoteleiras, parques de estacionamento e lojas de recordações, todos ficaram satisfeitíssimos, como de resto já vem sendo hábito. A população, essa, anda toda orgulhosa. E os vereadores-inventores, não cabem em si de contentes. Vai ser reeleição certa e sem espinhas. E com maioria absoluta!
Alertado em tempo útil, o reporter de Tomar a dianteira lá foi, em busca do segredo da produção de riqueza. Contactados, os dois autarcas logo se prontificaram a explicar tudo. Fazemos alguma publicidade e promoção -disseram-nos. Só admitimos no recinto do evento pessoas que nos comprem à entrada um conjunto tee-shirt+sandes de presunto, a 10 euros. Depois, resta proceder ao lançamento, a partir da varanda dos paços de concelho, de conjuntos de 50 notas de 100 euros, até um total de 8 conjuntos. Fica-nos tudo praticamente de borla, porque a União Europeia dá um subsídio de 50 mil euros por mês, ao abrigo do programa "Aumentar o espírito competitivo", as tee-shirts são oferecidas por uma conhecida marca de bebidas, enquanto o presunto (bastante salgado, para provocar sede), e o pão, são graciosamente entregues pelas associações de produtores de porco ibérico e de cafés e restaurantes... Como vê, os comerciantes fazem bom negócio, todos se divertem e a comissão encaixa o produto das entradas+10 mil euros sobrantes do subsídio europeu, uma vez que só mandamos lançar 400 notas de cem, durante cerca de hora e meia. É bem melhor que lá na sua terra, onde gastam 40 mil euros sem retorno em cada evento. E não espevitam o espírito de competitividade entre os habitantes, que pouco se divertem. Por isso continuam todos à espera de milagres...ou do regresso do D. Sebastião, numa manhã de nevoeiro. Ou de mais um passeiozito à borla, para encher o bandulho...
Quem fala assim, não é gago!