terça-feira, 21 de setembro de 2010

SABER FAZER E SABER DIZER

Esta local do jornal I põe em destaque dois pontos que, a nosso ver, merecem algumas considerações. O primeiro é do domínio da mentalidade dos responsáveis. O outro insere-se na área da mentalidade dominante entre os alunos.
No recente debate sobre o estado do concelho, o ex-presidente do Politécnico de Tomar, Pires da Silva, alardeou confiança por todos os poros, tendo quase garantido que o nosso IPT nunca será suprimido pelo governo. Absteve-se, todavia, de fundamentar a sua posição, ou sequer de dizer o que pensa sobre a fraca afluência de novos alunos, pelo menos na 1ª fase de colocações, com apenas 40% de vagas preenchidas. Deu assim aos presentes a ideia de se situar no mesmo universo mental de Sócrates ou da circunstancial maioria autárquica tomarense -O optimismo crónico e beato, mais do domínio da crença que da racionalidade. Atitude que contrasta fortemente com a profunda angústia e o evidente desencanto, pelo menos da comunidade tomarense.
Inversamente, o presidente do Politécnico de Viseu mostra-se preocupado com a hipótese de encerramente de um curso com vinte anos e boa aceitação pelo patronato, apesar de ter conseguido, globalmente, 64% de inscrições na primeira fase. Temos, portanto, 40% e tudo na maior em Tomar; 64% e preocupação em Viseu. Não há dúvida - no norte é outra gente e outra mentalidade.
Outra mentalidade que infelizmente começa a desvanecer-se pouco a pouco, quiçá por causa do cada vez mais acentuado nacional-facilitismo. Diz a notícia que o curso em risco de acabar regista um elevado índice de empregabilidade, uma vez que todos os antigos alunos estão colocados. A ser assim, é bem possível que o termo "empregabilidade" não seja o mais adequado para descrever a realidade. Se calhar dever-se-ia usar antes a expressão "índice muito elevado de colocação dos antigos alunos em postos de trabalho."
Um curso politécnico que disponibiliza aos alunos possibilidades de investigação, graças a protocolos com universidades estrangeiras e com um grande grupo industrial português, não é de certeza uma daquelas formações que ensinam a dizer e a ocupar um emprego. Será, pelo contrário, um dos que ensinam a fazer e a desempenhar postos de trabalho. Forma operacionais e não gente de gabinete. Por isso corre o risco de desaparecer.
Os alunos de agora pensam, cada vez mais amiúde, que "não vale a pena matar-se a estudar". Obtém-se uma daquelas formações superiores que apenas ensinam a dizer, envereda-se pela política, e consegue-se rapidamente um lugar confortável e bem remunerado. Não faltam por aí exemplos.
É claro que com tal mentalidade dominante, e com uma administração pública que já é mastodôntica, não tardaremos a sofrer um monumental e doloroso estoiro. Mas enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
Bem dizia o poeta -"Não se nasce impunemente em Portugal." Ai não, não!!!

13 comentários:

Anónimo disse...

Nos anos sessenta do século passado uma grande empresa portuguesa do sector das madeiras precisou de um Engenheiro de Madeiras. Teve de o ir contratar à Alemnaha, porque semelhante especialidade não existia em Portugal... No início dos anos setenta seguintes, estive ligado a uma empresa alemã que fornecia máquinas para o sector das madeiras, pelo conhecio o tal engenheiro, que apoiou empresas do sector em Tomar.
Há vinte anos, o Politécnico de Viseu criou o tal curso inexistente em Portugal, para formar engenheiros para um sector considerado estratégico para a economia nacional, o das florestas e madeiras - o curso não tem alunos e está à beira da extinção.
O que não suurprende num País onde a campanha contra a indústria é do tipo de lavagem ao cérebro. Os jovens, e os papás, só querem turismo,serviços e mais nada.
O Politécnico de Tomar também foi construído para formar pessoas para os sectores económicos do Concelho e da região. A especialização do IPT pouco ou nada tem a ver com os sectores económicos existentes em Tomar. Se tem digam quais. E digam como é que o IPT ajuda à captação de novas e modernas empresas para Tomar.
O problema da falta de Engenheiros de Madeiras, e outros semelhantes,
reflecte o nível cultural dominante em Portugal, que é risível.
SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

O ex-presidente do IPT fambém diz que o "nosso" instituto nunca se ligará a Santarem. Deve achar que quando chega, os ministros põem-se de pé! Diz o povo:"a ignorância sempre foi muito atrevida"...
Sobre a mentalidade dos alunos,no IPT os cursos mais procurados são: fotografia, cinema,restauro, design e psicologia.
No último debate a Cãmara não defendeu a arte como o grande património e a base do futuro de Tomar?
Helena roseta, política e ex bastonária da Ordem dos Arquitectos, dizia na SIC-Not: os alunos quando escolhem um curso, devem procurar ser felizes e não pensar no emprego futuro.
Mais palavras para quê? São artistas portugueses...
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Estando Tomar na orla da Zona do Pinhal, e intimamente ligada a ela até pelo fenómeno da migração que desde os anos 20 do século passado tem trazido gente de Oleiros, Mação, Sertã, Cernache do Bonjardim, Proença-a-Nova, etc, pare esta cidade, talvez fosse uma boa aposta criar no IPT este curso.

É apenas a minha, talvez ingénua, opinião.

Anónimo disse...

Para Sergio Martins
A especialização do IPT é a fotografia, o restauro e as artes.
Na comunicação social noticia-se que andam preocupados é com a criação de escola de artes em parceria com a Gualdim Pais. E não é isso que a Cãmara actual quer para Tomar? Vamos ao fundo? vamos, mas com cultura!
O IPT teve, durante anos, um curso ligado ao papel. Deve ter sido fechado por falta de alunos.

Anónimo disse...

Para anónimo das 11:04.
"A especialização do IPT é a fotografia, o restauro e as artes".

Os profissionais de fotografia estão em crise e são cada vez menos. As novas tecnologias, e as novas técnicas de fotografar estão a acabar com a profissão. Qual o futuro desta especialização ?

O restauro é importante, mas a sua acção é limitada e depende sempre do evoluír económico. Em crise, que vai durar por muitos e largos anos, o restauro ficará para quando houver dinheiro. O restauro não gera dinheiro, vive do rendimento criado nos outros sectores. Sectores que Tomar rejeitou, e que estão em T.Novas, Abrantes e outros Concelhos.

Artes. Que artes ? É muito vago. As artes desenvolvem-se em países e regiões de alto rendimento e cultura, como os EUA, a Escandinávia, Israel e outros. Com o País em crise ? Se Tomar tivesse um bom desenvolvimento (político, económico, social, etc.)não teria maior possibilidades de desenvolver as artes ?

O IPT teve um curso de papel, que fechou por falta de alunos.
Muito bem. Mas os sectores económicos não se sgotam no papel. Ainda está por dizer por que é que o sector do papel acabou em Tomar, mas aos tomarenses também não lhe interessa a sua vida...
Tomar devia ter delineado um plano de desenvolvimento, assente na procura de novos sectores económicos, de novas indústrias. O IPT teria sido adaptado a essas novas procuras de profissionais, como aconteceu em outras regiões do País, e como tem acontecido em todo o mundo.
Para isso, e como digo desde há anos,em Tomar devia ter havido, e devia haver, um Centro de Investigação, resultante de uma parceria entre a CMT, o IPT, a ACITOFEBA,e outros, com a missão de ver as tendências para informar os diversos poderes com influência na vida do Concelho.
Quando, a partir de 1987, se começou a planear a minha candidatura à CMT, pelo PS, eu incluí no meu projecto de programa tal Centro, porque trabalhava nessa área,tendo contactado o IPT e outros. Em Dezembro de 1987 fui com o Dr. Carlos Veloso, representante do IPT,à Presidência da República para se conseguir a aprovação do IPT. Em Março de 1988 dei uma conferência no IPT sobre Gestão Cambial. Todo o projecto falhou. Perguntem ao PS porquê ? Por que é que o PS não quis o desenvolvimento de Tomar ?
E, posteriormente,por que é que não construiram o desenvolvimento de Tomar ? Por que é que não procuram novos sectores de especialização ? Por que é que se faz uma parceria com uma colectividade para as artes, e não se fazem parcerias para a procura de investimentos modernos, produtivos e de futuro ? Por que é que não acompanharam o xadrez regional ?
Por que é que, no futuro, vão repetir os mesmos erros ? Isso interessa a quem ?
SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Vejam o que foi dito hoje na abertura do "Portugal Tecnológico".
A Universidade de Évora tem lá um automóvel a electricidade, construído pelos alunos sob a orientação de um Professor.
O Politécnico de Tomar, em Tomar, está representado no "Portugal Tecnológico" ?
Para os tomarenses a tecnologia continua a ser bruxedo ?
Lancelot du Temple

Anónimo disse...

O sector industrial do papel é dos maiores exportadores nacionais (Altri, Portucel,Renova, Soporcel) e tem investido.

Anónimo disse...

Só para lembrar que muito provavelmente quem tira um curso de fotografia não está interessado em abrir uma loja para revelar as fotografias das férias de verão na praia da Vieira.

Os alunos procuram os cursos que lhes interessam. Qual é o mal nisso? Não são os alunos que decidem que cursos são criados nem quantas vagas anuais oferecem.

Anónimo disse...

PERGUNTA:

"Perguntem ao PS porquê? Por que é que o PS não quis o desenvolvimento de Tomar?"

HIPÓTESE 1:
Agendas pessoais de políticos pequenos e jobs for the boys;

HIPÓTESE 2:
Erro de casting

HIPÓTESE 3:
Porque apenas são capazes de papaguear de trás para a frente a agenda do chefe;

HIPÓTESE 4:
As intenções eram boas, mas Tomar não as mereceram;

HIPÓTESE 5:
Desígnios mais altos se levantaram;

HIPÓTESE 6:
Os espelhos são muito mentirosos...

Vou reflectir... acompanhe os próximos episódios

Anónimo disse...

Anónimo das 17:05 tem toda a razão, o sector do papel é iportante na economia nacional e na estrutura das nossas exportações, e continua a investir.
Volto a perguntar: por que é que o sector do papel foi extinto em Tomar ?
Ontem, a RTP 1, no Telejornal, passou uma peça sobre a RENOVA estar a ser um caso de estudo numa Universidade francesa de prestígio mundial, o que foi comentado por investigadores brasileiros e de outras nacionalidades. Porquê ? Por causa da gestão de produto, da investigação e da tecnologia naquela empresa.
Comparemos com as empresas hoje existentes em Tomar.

Para anónimo das 19:13.
Uma instituição universitária a criar cursos fora da reais necessidades do País ou da região é muito português.
Não são os alunos que escolhem os cursos nem as vagas ? Por isso eles vão para outras bandas onde encontrem os cursos que lhes permitta viver na realidade.
Os alunos tiram os cursos que lhes interessa para a realização dos seus objectivos de vida e de carreira.
Até os ascetas têm interesse em se isolarem para estudar os livros sagrados e meditarem, com o fim de alcançarem Deus.
Essa de tirar um curso de fotografia só por tirar, tem pilhas de piada. Qual o proveito para Tomar, para a região, para o IPT, e para o País de um modo de vida sem intenção ?

Jornal Expresso de 18/9/10:

1 - "numa evidente estratégia para pôr o país a olhar para lá da crise económica, o Governo vai viver a próxima semana sob o signo da tecnologia e da inovação ".
A tirar fotografias ?

2 - Francisco Jaime Quesado, assina um artigo intitulado: "Ponto de partida e de chegada de uma Nova Competitividade em Portugal - NOVOS DESAFIOS DA UNIVERSIDADE", onde afirma:"Tem de ser a Universidade a protagonizar a sua própria mudança num tempo novo e num mundo mais complexo... A Universidade não se pode confinar a um mero Estabelecimento Administrativo de Especialização Técnica".
Mudança ? Em Tomar ?

Diário de Notícias de 22/9/10:

"Do têxtil para o agro-alimentar - A reorientação do Laboratório do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (Citeve), na Covilhã, para servir a indútria agro-alimentar, vai permitir manter perto de 60 empregos directos, garante o Citeve".
Ora aqui está um caso de mudança.

Mudança implica consciência e acção.

Os estabelecimentos universitários não podem viver apenas no princípio do prazer, têm de viver também no da realidade.

SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Mas vc só entende que um curso de fotografia apenas serve para formar "reveladores" de fotografia numa loja?

Espero estar a brincar.

Não conhece nenhuma área profissional além dessa relacionada com fotografia? A sério?

Provavelmente um curso de pintura servirá para quê? Fazer retratos por encomenda a partir de fotografias?

Pode não valorizar estes cursos, mas os alunos que os escolhem valorizam-nos. Se acha os cursos inúteis tente fazer com que os fechem ou reduzam o número de vagas. Talvez até os tornem mais apetecíveis com as médias de entrada a subir...

Se fecharem os cursos, concerteza os interessados nessas áreas encontrarão outras formas de partilhar saberes por outros meios menos convencionais e provavelmente de um forma bem menos domada e sem intenção...

Anónimo disse...

Já agora sabe que já entraram alunos no IPT com notas de 4 valores? 4 em 20!! Isto antes da lei a impedir alunos com menos de 9,5 ingressarem o ensino superior. Não sei exactamente que curso. Mas sabe qual é o curso que todos os anos tem a nota mínima mais alta? O de Restauro. Sabe qual é a nota mínima de ingresso no curso de pintura nas Belas Artes de Lisboa?

Talvez seja por isso que muitos cursos andam às moscas. Já não deixamos alunos de 4-9,5 entrarem no ensino superior. Se até para um aluno médio-bom pode ser complicado a adaptação ao ensino superior e ainda ouve algum professor universitário a queixar-se da pouca preparação que o secundário oferece, imagine como será para um aluno de 4.

Já agora era bom saber a motivação de um aluno de 4 a escolher determinados cursos. Alguns pretendem pedir transferência que é a única validade académica de muitos cursos, que apenas servem para alunos com notas mais fracas poderem pedir transferência para um curso que não conseguiriam ingressar de outra forma.

Anónimo disse...

Fui confirmar e parece que o curso de Restauro já não é dos cursos com nota mínima mais alta, até é o 2º com a mais baixa. Mas já já foi o curso com nota mínima mais alta consecutivamente por vários anos.

Quanto a Pintura nas Belas-Artes de Lisboa é de 16, mas já foi superior a 17.