sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A CRISE, O QUE SOMOS E COMO ESTAMOS

Com o passar do tempo, a gente vai-se habituando a tudo. Mesmo ao pior. É o que está a acontecer com a crise económica, cujo fim ainda ninguém consegue prever. Apesar disso, em Portugal, os vários sindicatos da função pública já vão apresentando exigências de aumentos de ordenados. Mal eles sabem o que está para vir! É, contudo, igualmente verdade que à imprensa que por cá vamos tendo não lhe agrada nada noticiar, analisar, explicar estas coisas aborrecidas da economia. É um tema que não vende jornais, dizem eles. Apesar de até termos diários especializados na matéria.
Visando ajudar os nossos pacientes leitores a entenderem o mundo onde vivemos todos, (e para os compensar de algumas ordinarices minhas, segundo alguns), respiguei do EL PAÍS de quarta-feira passada duas séries de dados que reputo importantes.

Neste primeiro conjunto, podemos comparar o montante do chamado "Prémio de risco da dívida", para títulos do tesouro a dez anos, entre a Alemanha, por um lado, a Espanha, Grécia e Irlanda por outro.
Para os menos versados nestas coisas, aquilo a que os nossos vizinhos espanhóis chamam o "prémio de risco da dívida pública", é apenas aquilo que por estas bandas se designa como "spread", pois todos lemos e falamos correntemente inglês. Ou não? Já o conhecido anglófono Fernando Pessoa disse a dada altura: -"Se me permitem, passo a traduzir para estrangeiro, para V. Exas perceberem melhor". O nosso provincianismo retrógrado não é de hoje. Vem de longe e está de boa saúde.
Em qualquer caso, a realidade é esta: a Alemanha serve na UE de padrão comparativo para os outros países integrados nos 27. Significa isto que, no estado actual das coisas, que em Portugal só podem piorar, (por razões cuja explicação é demasiado longa e complexa para um blogue), a Espanha paga de juros mais 1,81% do que a Alemanha, Portugal paga mais 3,55%, a Irlanda 3,73% e a Grécia 9,42%. Ou seja, como os nossos leitores podem verificar, estamos perante uma situação absurda: Quanto maiores são as dificuldades de um país para honrar a sua dívida pública, mais gravosos são os juros que tem de liquidar. Logicamente, devia ser o inverso!
Perante isto, temos as chamadas "três hipóteses da garrafa", dependendo do ponto de vista. Em relação à Grécia, por agora ainda estamos bastante melhor, o que nos evita por enquanto o "xarope de cavalo" que eles são forçados a ingurgitar. Em relação à Irlanda, -como nós ex-aluno modelo da UE- vá lá! vá lá! Podíamos estar muito pior. Já ao lado da Espanha, apesar dos seus mais de 20% de desempregados (30% na Andaluzia!), não conseguimos de modo nenhum botar figura. É uma sina?
Esta segunda série de dados comparativos permite-nos situar Portugal no contexto dos seus parceiros de OCDE, no referente a ensino e escolaridade. Uma das componentes básicas da capacidade para crescer economicamente e em termos de cidadania. Também aqui, os resultados não são nada lisonjeiros, excepto num caso. Em termos de despesas públicas (do estado, portanto), em percentagem do PIB, apenas somos ligeiramente ultrapassados pelos três países escandinavos, pela França (que nos serve de modelo), pela Inglaterra e pela Holanda. Nada mau, portanto! Mas nos outros casos, valha-nos Deus! Até ocupamos um "honroso" último lugar, atrás do Chile, do Brasil e do México, no que se refere ao nível de formação da população adulta, entre os 25 e os 64 anos. Com tamanha despesa e tão paupérrimos resultados, é óbvio que algo não está bem no reino do Ministério da Educação. Será por isso que os nossos jornalistas fogem como o diabo da cruz destas comparações? Fica a dúvida...

5 comentários:

Anónimo disse...

"
Quanto maiores são as dificuldades de um país para honrar a sua dívida pública, mais gravosos são os juros que tem de liquidar. Logicamente, devia ser o inverso!
"

Parafraseando Clinton, e sem ofensa:
- "É a Economia, estúpido!"

Anónimo disse...

A situação não é boa. Mas acho que nos estamos a safar com algum êxito, tendo em conta a crise internacional. Estamos a criar novos caminhos no tecido económico, novas tecnologias de topo, estamos a criar as bases de novas energias, estamos a assegurar infraestruturas em todos os setores de actividade, que garantirão que Portugal, dentro de 10/15 anos possa causar uma enorme surpresa na Europa e no mundo, no bom sentido.

O povo percebe isso.

Por isso o meu Zézito está outra vez à frente nas sondagens, apesar de tantas coisas. O povo português é muito sabido, um saber feito de experiência de séculos. É difícil enganá-lo. E o meu Zézito Sócrates volta a merecer a confiança dos portugueses. De momento não há alternativa.

O meu Zézito foi uma pérola que caíu de surpresa neste Portugal, e os portugueses não são pigs, são espertos e inteligentes.

Vamos ter confiança.

Para sermos, finalmente, um país exemplo e invejável na Europa, só é preciso mais atenção no setor do Ensino. Concentrar cada vez mais atenção no Conhecimento.

O meu Zézito não me desiludiu e não me vai desiludir.

Unknown disse...

É um ponto de vista respeitável e cor de rosa, o que nem espanta vindo de onde vem. O grande problema provém do facto de gastarmos muito mais do que devíamos, como já acontecia no tempo da monarquia e durante a primeira república. Dado que a UE já está pelos cabelos, dada a nossa incapacidade para reduzir tal apetite voraz, é muito provável que isto não vá acabar nada bem. Basta ver Sócrates a alardear sucessos e facilidades, ao mesmo tempo que o seu ministro Teixeira dos Santos lá vai dizendo que é inevitável aumentar as receis e diminuir as despesas. Qual dos dois diz a verdade? O professor de economia, ou o político profissional?
E como devem agir as autarquias? Continuando a esbanjar o que não têm? Ou adoptando quanto antes um severo regime de emagrecimento? Cuidar do essencial, do indispensável? Ou continuar a engordar as construtoras com obras pouco menos que supérfluas? Cair na real? Ou continuar a sonhar?
Depois do naufrágio resta apenas enterrar os mortos e cuidar dos feridos... Há que agir com bom senso, antes de irmos todos ao fundo. Já faltou mais.

Anónimo disse...

António Guterres: "Dentro de dez anos Portugal será dos mais desenvolvidos da Europa". Fugiu do pântano.

Durão Barroso: "Dentro de dez anos Portugal será dos mais dsenvolvidos da Europa". Partiu para a Comissão Europeia.

Comentador:"Portugal, dentro de 10/15 anos possa causar uma enorme
surpresa na Europa e no mundo, no bom sentido"

Será que dentro de 10/15 anos os políticos foram-se todos embora e o povo português ficou livre ?
Carlinhos

Anónimo disse...

Para anónimo das 16:18.
Vê-se no seu comentário muita influência do "plano Tecnológico", muito Zorrinho. Muita Fé. Sem se aperceber há, no entanto, um momento de dúvida: quando diz que temos de esperar 10/15 anos para "surpreender o mundo"!!!
Novas energias? Eólicas? Aquelas que o quilowatt fica pelo dobro do preço produzido pelo carvão ou o triplo do nuclear? Quanto mais eólica mais aumenta a factura de energia.