sábado, 18 de setembro de 2010

ESTÁTUAS EVENTOS E LAMENTOS

Caso não chova, é provável que venham muitos visitantes para apreciar o Festival de Estátuas Vivas. A coisa foi bastante bem promovida, parece estar bem organizada e nunca teve lugar por estas bandas. Todavia, qualquer que venha a ser a afluência, os prejuízos para os contribuintes tomarenses, via orçamento municipal, são conhecidos de antemão -à roda de 40 mil euros, no total. Prejuízo certo porque se trata de despesas sem retorno, erroneamente confundidas com investimentos produtivos. O que significa que estamos na usual senda de organizar eventos para show off, sem cuidar de saber quem pagará a longo prazo.
Todos sabemos, uns melhor outros pior, que cada localidade tem os seus próprios recursos em cada área. Segue-se que depois há as que sabem utilizar tais recursos para gerar riqueza, e as que, inversamente, os usam para aumentar as despesas. No primeiro grupo temos, por exemplo, a Covilhã, Oeiras e Óbidos. No segundo grupo, os dois melhores exemplos são Santarém e Tomar.
Encravada no interior profundo, longe de tudo e de todos, com um clima agreste, uma topografia ingrata e tendo perdido a sua tradicional indústria de lanifícios para a Índia, a Covilhã foi contemplada pelo governo de então com o ensino superior politécnico, ao mesmo tempo que Tomar. Estávamos ainda no tempo da outra senhora. Paulatinamente, sem espavento nem gabarolices bacocas, ao contrário de Tomar, os covilhanenses souberam ultrapassar a cerrada oposição da capital de distrito e foram edificando pouco a pouco aquilo que é hoje a base da sua economia -a Universidade da Beira Interior, que até já tem uma Faculdade de Medicina. Inversamente, os tomarenses alcandoraram-se nos píncaros da sua herança templária, foram vencidos pela tenaz oposição escalabitana, enredaram-se no reino da cunha, pelo que temos hoje um modesto Politécnico, manifestamente em vias de extensão, por motivos cuja exposição seria demasiado longa para este post. Mas que urge levar a cabo.
Durante todo este tempo, Oeiras, cujo presidente até tem estado e está a contas com a justiça, conseguiu servir-se com excepcional êxito da sua localização em relação a Lisboa, constituindo hoje em dia um invejável exemplo de cidade científico-tecnológica, dotada de um excelente sector superior de serviços. Reconhecidos, os seus habitantes continuaram a votar no mesmo presidente, mesmo já condenado pelo tribunal e concorrendo como independente.
Mais afastada de Lisboa, mais pequena, mas com o incomparável recurso do seu núcleo histórico ainda rodeado de multi-seculares muralhas, Óbidos dotou-se de uma indispensável e sólida estrutura de organização de eventos, após o que tem sido vê-la progredir. Salvo num caso, em que as imprevistas intempéries levaram a melhor, todos os eventos têm proporcionado confortáveis receitas, as quais servem de "impulsores" para os seguintes.
Infelizmente para todos nós, quem nos governa a nível local continua agarrado a esquemas mentais da primeira metade do século passado. Quando praticamente ainda não havia automóveis e as estradas eram o que se sabe. Quando o comboio chegou finalmente a Tomar e se pensou que com ele viriam os turistas às catadupas. Até se edificou, à ilharga da estação, o "Grand Hotel", que mais tarde veio a ser o colégio Nun'Álvares e agora constitui um conjunto de habitações degradadas. Só assim se explica que realizações populares importantes, como a Festa dos Tabuleiros, o Congresso da Sopa, O Festival Bons Sons ou agora o Festival das Estátuas, dêem todos avultados prejuízos ou, se preferirem, avultadas despesas que nunca mais vêm a ser recuperadas.
Neste caso das Estátuas Vivas, chega-se ao cúmulo de tornar gratuitos serviços que antes eram pagos -o transporte e a entrada no Convento- em vez de se tentar angariar novas receitas. Tudo na esperança vã de atrair turistas que cá pernoitem. Porque o fariam? As estátuas vêem-se em menos de uma hora, os concertos previstos são de fugir, para a esmagadora maioria da população, o acolhimento é medíocre, as estruturas básicas escasseiam ou não existem mesmo (csanitários, por exemplo), as estradas são boas, os automóveis rápidos e confortáveis, a crise toca a todos e em casa fica tudo muito mais barato. Será preciso pôr mais na carta? Ou já perceberam tudo? Para o ano vamos todos contribuir para mais 40 mil ou 50 euros que hão-de permitir mais um festival de estátuas. Mais 40 para as sopas. Mais 200 mil para os tabuleiros, que são a nossa festa grande.
Tudo ninharias para uma câmara rica, que distribuiu pelo menos a alguns vereadores telemóveis a 370 euros por unidade. O que levou alguns a solicitarem logo a seguir computadores portáteis MacIntoch XP não sei quantos, a 3.500 euros cada um. Bem dizia o meu saudoso avô -"A ordem é rica, os frades são poucos e maus administradores..." Outros tempos. Ou não?

11 comentários:

Anónimo disse...

Professor Rebelo: Vou ser uma ouvinte atenta do debate logo à tarde.
Espero que nos traga ideias novas e soluções para os problemas que afectam realmente o Concelho.
Neste post, uma vez mais é crítico do evento das Estátuas. E a outros. E a todos, ao fim e ao cabo.Este também dá prejuízo...Pois dá! A cultura não dá lucro.Não é, infelizmente, um bem de consumo.E devia sê-lo .Contrariamente ao que diz, os eventos culturais são investimento. Para que sejam também conhecimento e este possa via a ser consumido.
E, este em concreto é bem interessante. O que não significa que não pudesse ser melhorado. Por exemplo do ponto de vista didactico: porque não foi organizada a participação activa das escolas(alunos e professores) no evento, uma forma de todos identificaram a relação histórica, das personagens com a cidade???
Muitos desses alunos (e até alguns professores) desconhecem-na.
Isto é cultura, é a História e a Arte. Para consumo público. Tem custos?? Tem, sim senhor.Mas aplicar aqui o princípio do utilizador / pagador ?? Eu acho que não.
Cumprimentos,
Alice Marques

Unknown disse...

Sra. Dª Alice:

Limitei-me a alinhar factos, procurando emitir opinião unicamente quando não podia deixar de o fazer.
Quer queiramos, quer não, neste mundo tudo se paga. Ou directamente, ou via impostos e orçamentos públicos, ou de uma maneira e de outra. Aquilo que sempre critiquei é que a autarquia dispõe de recursos e até sabe conseguir outros, como no caso presente, mas depois arma-se em socialista/castrista e vá de dar bodo aos pobres. À custa do dinheiro dos contribuintes...Como se fosse uma câmara rica.Na minha opinião está mal!

Anónimo disse...

Para quê um festival de estátuas numa terra em que todos são estátuas ?
Carlinhos

Anónimo disse...

D. Alice Marques, devia organizar-se a participação activa das escolas e dos professores? A sua sugestão só pode ser para rir, não? Até parece que os alunos não têm pais, nem os professores filhos. E os pais fazem o quê, ficam com o fim de semana para ir ao SPA, ou vão tomar conta da vida e dos filhos dos professores? Ele há cada uma, só faltava mesmo pedir às escolas a função de animadoras sócio culturais de fim de semana.
Laura Rocha

Anónimo disse...

Eu só me pergunto se estes investimentos serão para continuar. No tempo das vacas gordas, no primeiro mandato de António Paiva, aquilo até começou bem. Tivemos o Festival "Sete Sois, Sete Luas", que encheu literalmente as ruas de Tomar com milhares de pessoas. O que é que aconteceu? Era caro e outros aproveitaram a deixa, como Santa Maria da Feira.
Tivemos o Festival de Jazz que atraiu mais uns milhares. E puff! Foi-se!
Fomos ousados, aproveitando a beleza do conceito Fringe - Festival Internacional de Dança, que atraiu as atenções. Mas deixou-se de investir e... foi-se para outras paragens até que acabou por desaparecer.
Agora, temos o congresso da sopa que, ou é reinventado de alguma forma, ou naturalmente desaparecerá. Temos a Festa dos Tabuleiros que, coitada, é sempre humilde na sua apresentação pública. Só não o foi já para encher os bolsos a alguém e para servir de Feira das Vaidades. É vê-los passar de coche, a acenar à plebe. Se eu acho que deveria acabar? Não, de maneira nenhuma! Se há algo onde vale a pena investir dinheiro é naquilo que identifica um povo. E há centenas de pessoas já a trabalhar e a orgulharem-se da sua festa. Por esses, vale sempre a pena. Mas também ela terá que ser repensada para obter resultados turísticos, se não o futuro não será brilhante.
Quanto ao resto, aquilo que se pode perceber é que não há qualquer estratégia. Que públicos queremos atrair a Tomar? É com galas de acordeão, festivais de folclore e dias na aldeia que queremos atrair atenções. O único que escapa é o Bons Sons. Uma ideia original e bem organizada, ideal para o local onde é realizada. O resto são tretas.
Permita-me discordar também num ponto. Não achei que as Estátuas fossem bem promovidas. E dou-lhe um exemplo. Se for perguntar à grande maioria dos tomarenses se sabem que hoje têm música na Praça da República, mais de 90% nem desconfia. E se perguntar aos restantes 10% a que horas é, apenas 1% lhe responderá. Estas percentagens são dadas apenas como exemplo. Agora, quando não se sabe promover para dentro...
Mas, voltemos à continuidade dos eventos, porque é essa a grande questão. Estas estátuas, que agora dão os primeiros passos, já não se realizam para o ano, porque há a festa. Acha que em 2012 ainda haverá? Não acredito. Até lá estaremos todos arruinados e o politécnico, parceiro essencial nesta iniciativa, será apenas uma memória ou estará em vias disso. E lá se vão uns milhares gastos sem proveito futuro.
AS

Anónimo disse...

Turismo, onde?
Cultura? onde?
Estátuas?
Só para rir. Quantos autocarros estão às portas de Tomar para ver isso?
Não se vê ninguém.
Palermice. Toca mas é a aceitar os investimentos de fora que dão emprego e deixem-se de cantigas. Se é para preservar o ambiente deixem-nos investir mas cumprindo com isso. O resto é para esqueçer.
JSR

Anónimo disse...

Prof.Laura Rocha:
Abespinhou-se e, erradamente,pensou que eu estava a "sugerir"que os professores das escolas de Tomar deviam vir trabalhar este Sábado.!!!...Oh sublime abuso o meu! Os professores têm filhos !!! Não podem trabalhar ao Sábado!??? Então e as outras classes não têm?? Quando vai ao Modelo ao Domingo, por acaso pergunta à funcionária da Caixa, onde deixa os filhos??
Ah ! Então e os pais dos alunos vão para o SPA, é?? Por acaso os pais dos alunos das escolas Tomarenses, na sua maioria são gente de SPAs, pois são...
Desculpa esfarrapada sua...
No meu comentário não lê nada, que lhe permita tirar a ilacção de que os pais não têm o seu papel de educadores, e muito menos que esse papel é obrigação dos professores.
Como sabe, ensinar História às crianças e Jovens, não é tarefa fácil. Aproveitar estes eventos relacionados com a a matéria escolar, para os motivar e ensinar, é sim tarefa dos professores. Ainda para mais, relacionada com a sua cidade.É transmitir-lhes conhecimento e cultura.Era ssim que eu procederia se fosse professora.
Mas só sou "ensinadora" de Português,História e Literatura para os amigos, e sobretudo para os filhos dos amigos. Nas horas vagas, e como hobby. Apenas porque gosto.
Por razões que não vou aqui explicar, enveredei por outra profissão que não a de professora. Mas se estivesse a ensinar pode crer que esta oportunidade seria aproveitada para, de forma lúdica e descontraída, acompanhar os meus alunos e os pais para conhecerem melhor as personagens e as suas ligações à cidade.Que bela lição de História de Tomar, poderia dar..
Bem sei, que este procedimento não é normal. A "normalidade "do ensino hoje é outra. Como aliás bem demonstra a resposta que me deu!
Do que conheço, a normalidade é debitar ou ler o manual numa sala, e quem ouvir ouviu, quem não ouviu, ouvisse.
E depois, quem tem dinheiro que pague explicações. Quem não tem, não tem notas, e integra as turmas dos "Medíocres", que as outras são compostas pelos "meninos" das notas boas (que os professores e muitos paizinhos nem querem lá gente com Satisfaz--, quanto mais negativas...
Olhe Laura, eu não esperava de si, essa resposta, porque se há pessoa que sabe do que eu estou a falar é a Laura...
Os pais têm a obrigação de educar os filhos, mas a obrigação mestra de os ensinar no conhecimento das matérias é dos professores. Se não ficavam todos em casa, e não precisávamos de professores para nada.Só de amas. E ATLs. Os pais faziam o resto.
Uma posição extrema, mas que é igual à sua.
Tenha uma boa noite. Aproveite bem o Domingo. E alivie o stress.
Cumprimentos,
Alice Marques

Anónimo disse...

Tem rasão. O festival das estátuas vai "dar" um pouco mais de receita para a bilheteira da CP e para os cafés locais com a venda de mais umas laranjadas e sandes. Talvez algumas dormidas de jornalistas que prescindam da noite de Alfama. É isto a economia tomarense? É, segundo Luis Ferreira e Corvelo!
Assustador o que se ouviu da parte da Cãmara no debate de hoje.
Quanto a DªAlice (11:32), devia dizer a quem mandamos a conta da nossa existência a seu modo...
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Alguém me explica? È que eu não entendo. Ainda á pouco fui ao debate na blioteca e quando cheguei a casa, qual não é o meu espanto, quando ao vejo no fundo da rua vi no um sinal de transinto com 2 placas a dizer "parque pago" para o lado da cidade e o outra "parque estátuas vivas" isto passa-se no cruzamento que vem do Casal dos Frades com a rua Infante D. Fernando.
Se eu entendi se a pessoas não querem pagar tem de deixar o carro, cá em cima, isto para quem vem de fora e não conhece a cidade.
Mas Os 3 sinais que aqui faltam, isso não vêem, só o que não devem ou estão à espera de csa arrunbada trás à porta.
Caros srs. senão entenderam, eu explico, poseram esta rua num só sentido, com um só sinal de sentido único, mas quem vem de baixo ou de cima não é(bruxo)por isso faltam 2 sinais de proibido virar nessa direnção, e já agora um de proibido estacionar, para as pessoas que saíem desta rua verem quem vem de baixo(ou estão à espera de uma desgraça?).

Anónimo disse...

Pedro Miguel:
Bem sei que os tempos que correm, estão só para aqueles que têm "money". É assim em tudo!
Mas eu continuo a entender que, enquanto pagar impostos como pago, o Estado, no caso a Autarquia me deve alguns "serviços".. Mas isto sou eu a pensar, ingénuamente...claro.

Anónimo disse...

Mas a Covilhã tem um presidente da Câmara enquanto Tomar...