terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Até quando calhar, se calhar

Após 3020 textos originais e 408.297 visualizações de páginas, Tomar a dianteira fica em pousio por tempo indeterminado. Qualquer explicação detalhada sobre esta decisão seria forçosamente desagradável, pelo que se optou por não justificar.
Se por acaso não houver novo contacto com os leitores antes das próximas autárquicas, aqui fica desde já a nossa orientação: com os candidatos anunciados, só há uma opção limpa: ABSTENÇÃO. Por não haver escolha.

Ânimo, saúde e alegria para todos, são os votos de Tomar a dianteira.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Descrédito político e baixos salários

O evidente e cada vez mais acentuado descrédito da classe política resulta, penso eu, de dois factores principais: a óbvia inépcia de muitos eleitos, como é o caso dos nossos sete magníficos, há muito a nadar em potes de iogurte, e o irrealismo de muitas das acusações que a oposição cavernícula faz ao governo. Destas, uma das mais insistentes sustenta que, a mando da troika, PSD e CDS tudo fazem para implementar uma política de baixos salários, com o pretexto de aumentar a nossa competitividade. Vai-se a ver e as coisas não são bem como conviria a essa esquerda que fossem:


Primeira constatação, considerando baixos salários os inferiores a dois terços do salário horário nacional médio, a percentagem geral na UE é de 17%. Quanto a Portugal (à direita) temos 22,1% de mulheres e 10,2% de homens, a auferir baixos salários. Sensivelmente as mesmas percentagens que em Espanha ou no Luxemburgo. Melhor do que na Áustria, no que concerne à mulheres.


Tendo por base a remuneração horária mínima, Portugal aparece em 16º lugar, com 3,4 euros/hora, tendo atrás de si  nove outros países, por acaso todos com uma herança de mais de meio século de socialismo científico.


Aqui temos a confirmação. Os ex-países socialistas são, conjuntamente com Alemanha, Holanda, Inglaterra, Irlanda,  Malta e Chipre, aqueles em que há maior percentagem de baixos salários. E assim cai por terra mais uma daquelas acusações de carregar pela boca. Conclusão: O governo é mauzito, porque está a ir-me ao bolso e de que maneira. Mas com as oposições que temos também não vamos a lado algum. É triste, é duro, mas é assim.

Barómetro europeu, com dados do Eurostat, Le Monde, Géo & Politique, 18/02/2013, página 7

Socialistas?!

Está marcada para a próxima quarta-feira mais uma missa laica do PS local, desta vez com José Junqueiro como celebrante-visitante. Mesmo sabendo que há apoiantes para tudo, confesso ainda não ter entendido bem qual a utilidade de tal tipo de eventos, em que um maioral vem dissertar sobre assuntos que em geral pouco ou nada têm a ver com Tomar, localidade que alguns prelectores nem saberiam onde fica no mapa, não fora a necessidade de vir amparar candidatos. Mas enfim, conquanto de pertinência muito questionável, tal tipo de missa também não faz mal a ninguém. Apenas pode contribuir para alimentar ilusões.
Pior, muito pior me parece a mais recente iniciativa do vereador Luís Ferreira aqui. Reproduzir tal tipo de prosa, que tem tanto de asqueroso como de despropositado, ultrapassa tudo aquilo de que eu julgava capaz este meu conterrâneo, que se proclama "homem livre e de bons costumes". Será de homem realmente livre e de costumes aceitáveis difundir uma prosa nauseabunda, que cheira a inquisição medieva e enxovalha um cidadão que se limitou a dizer publicamente aquilo que pensa? Mesmo para quem, como eu, não costuma ir à missa todos os domingos, um desabafo se impõe -Deus nos livre de socialistas assim!!!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma funesta sucessão

Quem conviva diariamente com tomarenses, não pode deixar de reparar num sensível aumento de angústia, motivado pela ausência de esperança no que se refere à política. Raro é o nabantino que, durante uma larga troca de propósitos, não acaba por queixar-se da clara ausência de escolha em Outubro. Importa por isso perceber qual ou quais as causas de tal situação.
Ainda que o PSD Tomar seja agora a única formação presente no executivo que ainda não apresentou oficialmente o seu cabeça de lista, a verdade é que já há mais de seis meses observadores bem informados garantiam que seria Carlos Carrão, em vez do escolhido pela Comissão Política local. 
Para desautorizar a estrutura tomarense, a instância nacional laranja invocou uma norma que, bem vistas as coisas, nem sequer se aplica. Segundo essa norma, o partido deverá candidatar de novo o presidente de câmara, casa este não esteja legalmente impedido. Sucede que em Tomar Carlos Carrão nunca foi nem é presidente de câmara, mas apenas substituto do dito até ao fim do mandato. O que faz toda a diferença. Um presidente já encabeçou uma lista e já venceu pelo menos uma eleição, pelo que se sabe aproximadamente qual o seu peso eleitoral. Em relação a Carrão, nada disso sucedeu ainda, ignorando-se portanto o que possa valer em termos de votação. E se em 2009, com um candidato de outro patamar político, social e cultural, os social-democratas perderam a maioria absoluta, tendo sido praticamente forçados a coligar-se, desta feita, com a estrutura local dividida, não será preciso fazer um desenho para imaginar o que poderá acontecer-lhes na próxima consulta eleitoral.
Em todo o caso, as outras duas formações da trempe executiva não parece que tenham dúvidas. O PS e os IpT já apresentaram os seus cabeças de lista, que tanto num caso como no outro parecem indicar que consideram ser Carlos Carrão o candidato mais fácil de vencer. Se assim não fosse, decerto que o PS não avançaria com Anabela Freitas, fortemente conotada com Sócrates e, a nível local, com quem bem sabemos, enquanto Pedro Marques não teria ousado servir aos eleitores o mesmo prato, requentado pela terceira vez.
Agora que nesta primeira fase les jeux sont faits, o PSD é o único a poder ainda emendar o erro sem dar muito nas vistas, uma vez que as estruturas competentes não apresentaram formalmente qualquer candidato. Os outros dois agrupamentos estão já amarrados e até confrontados com uma situação curiosa. Ambos estão a ter dificuldades para completar as listas respectivas, nuns casos porque os sondados têm medo de perder, noutros porque têm medo de vencer. O que, convenhamos, se percebe perfeitamente. Nas actuais circunstâncias, sem ideias e sem programa, quem quer correr o risco de perder e ficar mal visto, ou de ganhar e ter de desistir, por não aguentar a pressão popular? Os tempos em que era possível limitar-se a despachar os assuntos correntes já foram. Agora há que apresentar projectos e depois trabalhar a sério. Quer queiram, quer não, os actuais sete magníficos são os últimos abencerragens. Felizmente!

Istéqué progresso!


Ora aqui temos um claro exemplo de progresso. Há oitocentos anos, os pobres coitados dos templários, para evitar a derrocada da torre gémea da agora chamada de Dª Catarina, deixaram-lhe uma saliência em terra batida, em talude, depois protegida por uma simples camada de calcário, ora aconchegado com massa de saibro e cal, ora a seco. É o que se vê ao centro -o pomposamente designado alambor. (Que os tomarenses são pretensiosos até no vocabulário. Entre sapata e alambor, que são sinónimos, preferem sempre o que consideram mais culto, porque menos explícito. Adiante.)
Mais de oito séculos volvidos, para a mesma função -evitar o desabamento do talude- usaram centenas de quilos de heliaço armado, mais umas toneladas de betão, a que se seguirá o revestimento do paredão (os senhores técnicos vão falar de paramentação, como se aquilo fosse um ministro do culto), com mosaicos de calcário de face rústica. Conforme já foi feito nos outros troços do paredão.
Tudo trabalho escusado, pois teria bastado voltar a pôr à vista a primitiva sapata, até à parede que se vê em cima. Estaria o problema resolvido na quase totalidade, de modo muito mais económico e mais consentâneo com o local. Mas quê!? Já para evitar o desaparecimento do que resta do alambor, foi uma trabalheira dos diabos, que até meteu a visita do SEC Viegas, por obra e graça do Espírito Santo...de orelha, em tempo oportuno. Agora resta deixar concluir a aberração, para depois, algures no futuro, se possível, repor o aspecto primitivo, ou seja: destruir os incôngruos e inúteis paredões, que ali estão sobretudo porque as campanhas eleitorais custam cada vez mais caro e a corrupção está pelas ruas da amargura. O que implica obras cada vez mais dispendiosas, independentemente da sua utilidade, beleza, adequação ou oportunidade. O fundamental é sacar...os fundos europeus e dos contribuintes. Bom proveito, mas cuidado com as indigestões tardias! Que neste país, tanto na natureza como na política, "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."

Só para francófonos...





Só para francófonos que saibam e gostem de ler francês. (Posso desenrascar um, emprestando-lhe o meu exemplar. Interessa FERROMA?). Os outros farão o favor de ler a obra sobre o mesmo tema, mas em português, de José Luís Peixoto. Não se assustem que é só um volume de 237 páginas, acima ilustrado com e sem "jaqueta" para leitura intensa.
O assunto? Um jornal de viagem de dois fabianos gauleses de meia idade. Um armado em turista, outro a fingir de agente de viagens, porque na sua qualidade de jornalista não poderia  ter obtido o indispensável visto. O título? "Aletria fria em Pyongyang". Dois curtos excertos: "Folheei três ou quatro destes livrinhos azuis, à venda por todo o lado a um euro cada. Eis alguns princípios dessa filosofia que é indispensável repetir para se convencer: "O homem é o ser mais poderoso do mundo e o único capaz de o transformar. As massas constroem a história da sociedade. A história da Humanidade é a historia da luta de massas. A prioridade é a transformação ideológica." (Página 146)
"Até agora, o pai, o filho e amanhã o neto têm trabalhado bastante bem, mesmo se o big bazar deles vacila, abana e mostra estragos por todo o lado. Capítulo após capítulo, escribas de nuca  rapada continuam a fornecer este pseudo-pensamento que pretende reger todos os domínios: revolução, como já foi referido, economia, educação, estratégia, engenharia, ciências, cinema, ópera, música, dança e mesmo a maquilhagem. E gostam de reiterar: "ninguém é tão sincero ou ama a vida tão ardentemente como um comunista. As suas emoções são mais humanas e mais profundas que as dos outros, E assim, em todo o lado onde aumenta o número de comunistas de um novo tipo, a vida é sempre vigorosa, vibrante, de um imenso optimismo revolucionário e rico..." (Página 150)
Julgo que doravante ninguém vai ousar acusar-me de não ler bons livros...

Jean-Luc Coatalem, Nouilles froides à Pyongyang, Grasset, 237 páginas, Paris, Dezembro de 2012, 17€60 (disponível a 15 euros + portes em amazon-fr)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Até que enfim!


Custou mas foi! Após meses e meses de espera, os calceteiros da autarquia lá acabaram por vir fazer aquilo que se impunha. Resta o outro problema -o dos pastéis de cão e afins. Tendo em conta o que somos e como somos, é pouco provável que os serviços de limpeza da câmara alguma vez consigam vir a resolver essa chaga. No estrangeiro há brigadas específicas para  a dita tarefa; mas isso é além fronteiras. Por estas bandas ninguém ousaria candidatar-se a um emprego de apanha-merda, mesmo que fosse bastante bem pago. Os portugueses têm a sua dignidade! Viver à custa do próximo por intermédio do orçamento de Estado, tudo bem. Agora trabalhos sujos nunca! Como apregoa uma conhecida central sindical: "Queremos emprego com direitos!" Incluindo, pelos vistos, o de não se baixar nem lidar com matérias fecais caninas e felinas.
Uma vez que, por outro lado, os donos dos cães e dos gatos também não vão deixar de ser porcos e mal comportados assim do pé para a mão, só os moradores incomodados com a situação recorrente podem implementar uma solução em três tempos: 1 - Reunir-se e debater o assunto mal cheiroso e perigoso para os sapatos; 2 - Instituir discretos postos de vigilância; 3 - Recolher os dejectos e ir depositá-los na soleira da porta de cada um dos infractores. Em princípio deverá ser remédio santo. Vamos a isso?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Lembrar Camões...

Era para redigir mais uma coisita sobre a política local. De súbito, porém, veio-me à memória aquele dito popular segundo o qual "Em terra de cegos, quem tem um olho é rei". Vai daí, sabedor de que vivemos agora em República, busquei um zarolho do tempo da monarquia. Apareceu-me Camões, que só não foi rei porque não nasceu em terra de cegos. Azar dele? Ou sorte? Em qualquer caso, excelente ocasião para relembrar este soneto que, no meu modesto entendimento, merecia ser mais conhecido e tido em conta por estas paragens. Sobretudo na área política e depois de 2008, por óbvios motivos. Mas quê!

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal, ficam as mágoas na lembrança;
Do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de maior espanto,
Que não muda já como ocorria."

Luís Vaz de Camões (1524 - 1580), Sonetos


Crescimento e redução

Dado vivermos num país de futebol, onde alguns duelos mais importantes até têm a honra de abrir o notíciário da RTP 1, talvez seja melhor começar assim: É dos livros do futebol que a melhor defesa é um bom ataque. Da mesma forma, na área económica, a melhor maneira de incrementar o crescimento consiste na implementação de medidas de redução. É básico que se entenda isto, numa altura em que, tanto a nível nacional como local, os porta-vozes da oposição não se cansam de apelar ao governo e à Europa, para que tomem medidas de crescimento. Fazem-no, claro está, guiados pela cartilha de Lord Keynes, que infelizmente na Europa já deu o que tinha a dar. Referem-se, por conseguinte, ao aumento do investimento público, dos fundos europeus, das PPP, bem como do emprego no Estado e nas autarquias. Compreende-se; o Estado é o maior empregador do país e em cada concelho, sendo que os funcionários são igualmente o essencial dos eleitores dos partidos todos, com destaque para a esquerda.
Sucede que, como mostra a experiência recente, designadamente na Europa do norte, as únicas medidas que realmente facilitam o crescimento, são paradoxalmente medidas de redução: redução de impostos, redução de taxas, redução de taxas de juro, mas também e sobretudo redução da burocracia, redução da despesa do Estado e das autarquias, redução de funcionários, redução de serviços, redução de prazos, redução de regulamentações absurdas, redução de eleitos, redução de dirigentes, redução de assessores, redução de fomalidades, redução de constrangimentos vários, redução de prosápia...
Talvez vá sendo tempo de os políticos que temos começarem a pensar no assunto a sério. Em vez de proporem a criação de novos serviços, não será melhor advogar a supressão de alguns já existentes? É impopular e rouba votos? Pois é! Mas conhecem alguma intervenção cirúrgica pesada que se possa fazer sem dor? Por enquanto, que se saiba, ainda não é possível lavar-se sem se molhar, haja ou não água aquecida.  Mas se preferem andar sujos...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Análise sucinta da imprensa local




Havendo por estas bandas cada vez mais gente a tentar dar música ao pessoal, o melhor é começar por aí. Para os apreciadores, O Mirante publica uma entrevista de duas páginas com os tomarenses "Quinta do Bill". Dada a informação, vamos ao grande tema da semana -a profanação de um jazigo no cemitério de S. Pedro, manchete dos dois jornais da cidade, chamada de primeira página no outro. "Nem os mortos podem estar em paz", titula O Templário, "Desconhecido roubam crânio de uma mulher sepultada há 19 anos", escreve Cidade de Tomar. Sobre a motivação do crime macabro correm na urbe três versões: 1 - Foi gente ligada a rituais de magia negra; 2 - Foi para sacarem os dentes de ouro, que rendem bom dinheiro; 3 - A senhora não tinha dentes de ouro, mas sim uma prótese de platina na cabeça, um metal caríssimo.
 O Carnaval de Tomar e da Linhaceira é o outro grande tema de ambos os semanários nabantinos. Cidade de Tomar publica na página 4 um curto comunicado da TomarIniciativas, no qual se lê que "Os visitantes que assistiram fizeram frente ao frio e mesmo à chuva que caiu antes e já perto do final, não arredando pé, comprovando o sucesso da iniciativa. A TomarIniciativas... congratula-se pelos diversos parabéns endereçados em mais esta organização, que estendemos a todos os envolvidos."
Antes deste carnaval já se sabia na cidade gualdina que o União de Tomar é um sucesso, o Politécnico é um sucesso, o Convento de Cristo é um sucesso, a tenda do mercado é um sucesso, o acampamento cigano é um sucesso, o executivo camarário é um sucesso, os cabeças de lista já conhecidos são um sucesso, o museu da Levada é um sucesso, as obras do ex-estádio são um sucesso, e assim sucessivamente. Agora é-se forçado a acrescentar o Carnaval de Tomar que também é um sucesso. Conclusão: O único falhanço conhecido foi o da minha senhora mãe, que em vez de me parir longe daqui, acabou por dar à luz ali no velho hospital da Rua da Graça. Infelizmente para mim, infelizmente para muitos tomarenses, alérgicos à crítica e à inovação, mas sem dúvida alguma um sucesso. Basta reparar no estado em que se encontra a cidade e o concelho.

Para amadores de história pátria



A dada altura, a coroa portuguesa decidiu negociar com os mouros e abandonar  a praça forte de Mazagão, actualmente El Jadida, em Marrocos.  Estávamos em 1769, reinava em Lisboa o senhor D. José I e governava Sebastião José de Carvalho e Melo, mais tarde Marquês de Pombal. Este livro relata em detalhe a odisseia dos 2 mil portugueses transferidos para a Amazónia, via Lisboa e Belém do Pará. Entre eles alguns "cavaleiros do hábito de Cristo", mais de dois séculos após a reforma da ordem do mesmo nome, que a transformou de ordem de cavalaria em congregação de frades de cógula. Mas os direitos hereditários...
Dez anos depois do abandono de Mazagão, algumas famílias ainda não estavam instaladas na Nova Mazagão. Então como agora, as coisas levavam o seu tempo...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Para os teimosos crónicos


Fotos Diogo Pinto/CM

Para os teimosos crónicos = para a esmagadora maioria dos tomarenses, transcreve-se do Correio da Manhã de hoje, para que não restem dúvidas: A tentativa de reabilitar o carnaval em Tomar, à custa dos contribuintes, não passa de mais uma monumental estupidez nas actuais circunstâncias.

"Festa - RECEITAS DE BILHETEIRA SÃO INFERIORES AO ESPERADO

Folia não apaga prejuízos

Estarreja e Mealhada voltam a festejar o Carnaval no próximo domingo para tentar recuperar as perdas provocadas pelo mau tempo."

"Os desfiles de Carnaval voltaram ontem à rua, depois de no último domingo milhares de foliões de Ovar, Mealhada, Samora Correia, Sesimbra e Estarreja terem sido obrigados a cancelar as festividades devido ao mau tempo. Apesar da alegria dos figurantes, que por um dia esqueceram o frio de inverno, os prejuízos são reais e pouco animadores.
"Não recuperámos os prejuízos de 60 mil euros. Vamos tentar reverter a situação no próximo domingo, com um novo desfile às 14H30", garantiu Marques Tavares, da Associação do Carnaval de Estarreja, cujo investimento rondou os 136 mil euros.
Na Mealhada, o cenário, com menos espectadores do que o habitual, é idêntico. "O corso volta a sair no domingo, não para recuperar o prejuízo de 40 mil euros, mas para compensar o trabalho das companhias da Mealhada", disse Fernando Saldanha, presidente da organização.
Em Ovar, a reorganização logística e de bilheteira, provocada pelo cancelamento da festa mais cara deste ano, no valor de 450 mil euros, terá custado à autarquia perdas de 20 mil euros, a mesma soma que em Samora Correia. "As receitas foram muito inferiores ao esperado. Hoje (ontem) melhorou consideravelmente, mas não é o suficiente para recuperar totalmente os prejuízos, revelou fonte da organização, que investiu 35 mil euros.
Já folia em Sesimbra, orçada em 60 mil euros, foi rica em calor humano (ver foto), mas humilde em visitantes. "O número de visitantes ficou aquém do que é habitual. O nosso esforço não foi pago em bilhetes. Por isso, os prejuízos das escolas de samba e dos hoteleiros terão de ser suportados pelos próprios", lamentou Filipe Pessanha, do Centro de Animação Cultural da Câmara de Sesimbra."

Joana Nogueira, com BCF/AP, Correio da Manhã, 13/02/2013, página 24
 Os  destaques são de Tomar a dianteira.

Felizmente em Tomar, mesmo sem subsídio camarário, como sempre deve ser, o desfile de domingo, ainda que pindérico, tendo em conta as condições, foi um grande sucesso, segundo noticiou a Rádio Hertz. Só é pena que mais ninguém tenha dado por isso. Mas atrás de tempo, tempo vem. Para o ano haverá mais? Ou cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém?


Humor negro...

Falta de "cabeças"


Segundo o portal Rádio Cidade de Tomar, em menos de uma semana já é o segundo assalto com roubo de crânios no cemitério de S. Pedro. Algo tão insólito que o Correio da Manhã até publica na última página.
Mas não me admira. Com a aproximação das eleições autárquicas e a evidente falta de "cabeças" credíveis que por aí há, que remédio senão ir roubá-las aos jazigos. Quem houvera de dizer que nem os defuntos escapariam à crise política local. Mais a mais num concelho com um lugar chamado Cabeças. De alho chocho?

Emigração: Oportunidade ou necessidade?

A autora no Cairo, em 26 de Janeiro passado. Foto Magali Courouge/Le Monde


"Atribulações de uma chinesa no Cairo" - 2

Yitong Chen, uma jovem chinesa de 24 anos a estudar no Cairo (Egipto), conta a sua vida. (Ver texto anterior).

"Ás vezes não uso calças mas uma saia comprida com um véu. Chateiam-me menos na rua. As pessoas continuam a berrar "sini, sini!" mas já estou habituada. Um dia destes, um comerciante da zona seguiu-me. Agarrou-me, mas eu gritei e esperneei. Os vizinhos acudiram-me e perguntaram-me -"O que é que tu queres que a gente lhe faça? Queres bater-lhe?" Dei-lhe um estalo e gritei-lhe: -"Também gostavas que fizessem o mesmo à tua irmã num país estrangeiro?" Continuo bastante nervosa. -"Queres dar-lhe outra bofetada?" perguntam os vizinhos. Foi o que fiz.
Já dou explicações de francês e de chinês, e também tomo conta de crianças. Assim o meu pai já não me manda dinheiro. Mas o que eu mais gosto aqui é das pessoas. Por vezes o padeiro dá-me um croissant: -"Toma; é um presente." Uma vez, num taxi, não tinha troco e o motorista disse-me logo: -"Deixa lá, pagas para a próxima". Mal uma pessoa se perde ou parece desorientada, vem logo alguém oferecer ajuda. De graça! Durante o mês do ramadão as pessoas distribuem a comida, que têm em cima de grandes mesas, na rua, a quem passa e aos pobres. São atitudes tocantes que ninguém imagina na China.
Em Julho de 2010, a minha prima veio ter comigo ao Cairo. Estou contentíssima. Fui eu que a convenci: "Vais ver, é muito melhor que na China." Semanas mais tarde, estava eu na faculdade quando ela me ligou. Soluçava tanto que mal a percebi. Um homem seguiu-a, conseguiu fugir dele até ao apartamento e barricar-se lá dentro, mas ele arrombou a porta e começou a tentar violá-la. O dono da casa acorreu e o assaltante acabou por fugir com todo o dinheiro que nós tínhamos. Ligo ao tal rapaz, que é o único homem egípcio que conheço. Veio logo. Fomos à polícia. Na comunidade chinesa corre a notícia de que outras raparigas tiveram os mesmos problemas. A embaixada envia-nos regularmente avisos recomendando cautela. A minha prima está muito envergonhada e eu sinto-me um pouco culpada. Resolvemos não falar no assunto a ninguém. Nem à família. Alguns dias mais tarde uma outra chinesa foi agredida. Agora no apartamento dormimos duas em cada quarto.
Uma manhã deixamos de ter rede de telemóvel e Net. Ficamos em sobressalto quando ouvimos tiros e helicópteros. Pela janela vemos blindados e ouve-se gritar "Começou a revolução!" Estamos a 25 de Janeiro de 2011. Fechámo-nos no apartamento, colocámos os móveis a trancar a porta e puzemos a jeito tudo o que pode servir como arma de defesa: facas. martelos, sprays anti-roubo. Isoladas dos mundo, estabelecemos regras para aguentar quanto mais tempo melhor: 1 - É obrigatório deslocar-se sem barulho, de forma a dar a ideia que o apartamento está vazio; 2 - É proibido usar os gás; 3 - Para poupar os mantimentos, só comemos ao pequeno almoço e ao jantar, todos ao mesmo tempo e a parte de cada uma é distribuída pela mais velha.
Os homens do prédio arranjaram armas e organizam turnos de sentinela para que ninguém entre. A embaixada da China enviou aviões para nos repatriar. Decidi não ir. Há três anos que estudo aqui, não posso abandonar agora tudo. Tenho de conseguir o diploma. As outras são da mesma opinião.
Ninguém regressa à China.
Uma semana depois voltamos a ter Internet. O telemóvel volta a tocar. Saímos em grupo, escoltadas por um chinês. No supermercado as prateleiras estão vazias. Recomeçam as aulas e exigem a demissão do reitor. A bem dizer, exigem a demissão de todos os dirigentes, desde que Mubarak abandonou o poder. A vida muda cada vez mais rapidamente. Nas aulas agora só se fala de política. É novidade, mesmo para os professores. Dizem-nos para fazermos uma relação dos elementos que conduziram à revolução e aparece sempre o mesmo factor em primeiro lugar: os jovens não têm empregos. Os egípcios contam-nos o que acontece nas ruas: "Vamos ter finalmente um novo Egipto." Mas vê-se bem que estão inquietos e percebe-se que o povo está desorientado.
Há manifestações todos as sextas-feiras, dia feriado para os muçulmanos, mas eu nunca lá vou. É perigoso. É o tipo de evento em que aproveitam logo para te apalpar. Desde o início da revolução, a população tranca-se em casa, como medo dos ladrões.
Agora, quando saio, algo começa logo a funcionar na minha cabeça. Ponho os fones do meu iPod com canções francesas, chinesas, inglesas e árabes, calmas mas muito altas. Não quero ouvir "sini,sini!". Não quero ver o olhar das pessoas. Admiro o céu egípcio, sempre tão belo.
Apesar de tudo, gosto da vida aqui. O Egipto será para sempre a minha segunda pátria. Acabo de obter o meu diploma: poucos estrangeiros o conseguiram e eu até abtive a menção "Bom". Papá está muito orgulhoso. Até já me disse que me vai dar um presente."

Yitong Chen, Le Monde, 11/02/2013, página 16

Esclarecimento

Este texto foi publicado na habitual secção "Décryptages" - "Témoignage" do Le Monde, com a indicação "M ACADÉMIE", o que indica que Yitong Chen concorreu e foi seleccionada para frequentar a escola de jornalismo patrocinada pelo Le Monde. Integra assim um grupo de cinquenta estagiários que têm direito a uma formação paga de um ano, em Paris. Nada mau.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Emigração: oportunidade ou necessidade?

Numa altura em que muitos compatriotas se mostram incomodados com a nova vaga de emigração, desta vez muito menos complicada do que nos anos 60-70 do século passado, quando se era forçado a atravessar a fronteira "a salto", parece útil divulgar um caso de emigração, relatado na primeira pessoa.

"Atribulações de uma chinesa no Cairo"- 1

"Chamo-me Yitong Shen e tenho 24 anos. Sou chinesa e moro no Cairo (Egipto). Quando saí da China menti aos meus pais pela primeira vez. O meu sonho era aprender francês. Há um liceu especial, bastante caro, na cidade de Changchun, no nordeste da China, junto à fronteira russa, onde ensinam línguas estrangeiras. A minha família vendeu a nossa casa e mudámo-nos, para eu poder inscrever-me nesse liceu. Foi um esforço muito grande. O meu pai é empregado de escritório e a minha mãe trabalha numa farmácia.
Mais tarde, a embaixada de França na China recusou-me o visto de estudante quando pretendi continuar os estudos em Paris. No Egipto há uma universidade francesa reputada, cujo processo de inscrição demora dois dias. Era quase tudo o que eu sabia então sobre este país onde agora habito. Quando mostrei o passaporte ao meu pai, ele não percebeu. Dado que só lê o chinês, julgou que era um visto para França. Na China é assim. Queremos vencer na vida. Atiramo-nos facilmente para a emigração.
Tomei o avião para o Cairo em 29 de Fevereiro de 2008, três anos antes da revolução. No aeroporto tinha um amigo à espera. Tinhamo-nos relacionado na Net. Ele aprende chinês, tal como muitos outros egípcios, desde há cinco ou seis anos. Tratou de alugar-me um apartamento na Praça Guizé, um bairro popular. Não quer que eu saia à rua sem ele e, como não conheço mais ninguém, obedeço-lhe. Quando estou acompanhada por ele, vai tudo bem. Se estiver sozinha os que se cruzam comigo na rua começam a gritar "Sini, sini!", que quer dizer chinesa. Os homens olham para mim com um ar estranho, como se estivesse nua. Fico logo nervosa, cheia de medo.
Fico à varanda, a olhar para o Cairo que me parece um enorme contentor de lixo. Oiço o barulho da cidade, todo o dia e toda a noite. As apitadelas, os autocarros sem portas, onde as pessoas se agarram conforme podem, os apelos à oração que ao princípio confundi com um alarme de incêndio.
O meu conhecido vem quase todos os dias. Ajuda-me, traz-me géneros alimentícios que não consigo cozinhar. Damos passeios pela avenida marginal. Sinto-me na prisão mas, se perco este amigo, de certeza que não vou conseguir sobreviver aqui. Aproxima-se a data de abertura do ano lectivo e a faculdade ainda não aceitou a minha inscrição. Já aqui estou há oito meses e tenho a impressão de ter falhado tudo. Telefono ao meu pai para voltar para a China.
Em casa, a minha mãe preparou carne de vaca com feijão verde. Choro sem parar e sem sequer poder falar. A família olha-me como um problema. Falhei. Mas o Egipto ficou-me na memória. Pouco dias mais tarde recebo uma mensagem da universidade do Cairo: aceitam a minha inscrição. O meu pai encoraja-me a tentar de novo, para não perder tudo. Tenho medo, mas volto a partir.
Na faculdade a minha vida muda. Os estudantes são egipcios, a maior parte cristãos coptas. Há também uma dezena de estrangeiros: gaboneses, senegaleses, guineenses e um camaronês. Entre nós falamos de tudo, menos de política ou do presidente Mubarak. Mas falamos muito de Deus, que está em todo o lado, mesmo na língua que falamos. Os egipcios acreditam que existe mesmo, que nos vai proteger e resolver tudo, incluindo a nossa subsistência. Na China há crentes e ateus, mas para toda a gente é o trabalho que assegura a subsistência.
No metropolitano do Cairo há compartimentos só para mulheres. Os homens colam-se aos vidros a olhar para elas, mas ao menos não se esfregam contra nós, como acontece nos autocarros. Um dia destes, com outros estudantes, entrei no compartimento misto, onde facto só viajam homens. Fui logo rodeada por um magote masculino, a apalpar-me as nádegas, os seios e sei lá mais o quê. Até me faltou o ar e comecei a soluçar sem barulho.
Já cá estou há mais de um ano e começo a desenrascar-me. Até já vou aos supermercados, onde se pode fazer compras sem falar com ninguém. Ando a aprender árabe e continuo a conversar com o tal meu amigo, que não gosta da minha nova vida.Um dia discutimos, zangámo-nos e deixou de aparecer. De repente senti-me livre, mas ao mesmo tempo triste, obrigada a crescer num ápice.
Em Fevereiro de 2009 encontrei uma outra chinesa num casamento e foi como um sonho feliz: introduziu-me no mundo dos chineses do Cairo. Só então me dei conta de que a nossa comunidade afinal é muito importante, com restaurantes, médicos e até vários jornais. Produzir no Egipto pode mesmo ser mais barato que na China, pelo que as nossas indústrias começam a implantar-se.
Estou agora instalada num apartamento com mais sete chinesas, entre os 23 e os 35 anos. Deixei de estar sozinha! Quase todas são originárias das regiões muçulmanas da China, mas há duas convertidas. Vieram para aprender árabe ou teologia e tencionam vir a ser intérpretes de negócios, uma profissão que permite ganhar bom dinheiro." (Continua)

Le Monde, 11/02/2013, página 16

O Papa e os políticos nabantinos

A inesperada renúncia de BentoXVI constitui para todos os cidadãos conscientes um extraordinário acto de realismo e de humildade. Vértice do mundo católico, líder de centenas de milhões de fiéis em todo o mundo, o Sumo Pontífice teve a coragem de assumir que a sua natureza humana lhe não permite ir mais além, no exercício do ministério que lhe foi confiado pelos seus pares cardeais. ´
É uma pena que os políticos nabantinos -tanto os já instalados como outros- não tenham a coragem necessária para seguir o exemplo do Papa, deixando de prejudicar os tomarenses ao ocuparem funções para as quais estão sempre a demonstrar não terem quaisquer condições. Ou candidatando-se amparados apenas na basófia. Tomemos como exemplo o actual presidente da câmara. Qual a sua obra nos quatro mandatos que já leva? Que projectos tem? Candidata-se porquê? Para quê? Acha possível mais quatro anos a encanar a perna à rã? Tem consciência sequer do mísero estado em que se encontra a cidade e o concelho? Considera que a situação vai melhorar com mais umas passeatas/comezaina/tintol/bailarico, à custa dos contribuintes?
Alguns militantes da autoproclamada esquerda de confiança vão aproveitar para perguntar "Então e a nível nacional?" Pois lamento ter de repetir-me: o governo está a fazer aquilo a que os representantes dos credores o obrigam. É muito desagradável para todos? É sim senhor. E daí? Já alguém, ou alguma instituição, apresentou uma alternativa simultaneamente eficaz, aceite pela troika e menos dolorosa? O alongamento dos prazos? Não me façam rir. Mesmo que os representantes dos credores aceitassem, o que não parece nada provável no estado actual das coisas, com um défice anual correspondente a 5% do PIB e a dívida pública já a 123% do dito, um prolongamento de mais dez anos obrigaria os portugueses a desembolsar mais quantos por cento ao mês? Porque os défices têm de ser financiados de alguma maneira e, que se saiba, ainda não há dinheiro gratuito nos mercados.
Não seria melhor a esquerda deixar-se de balelas, adoptando finalmente o realismo e abandonando de vez as acusações infundadas ao governo e as propostas demagógicas? Dado que os eleitores em geral já dispõem de muito mais informação e preparação, prometer mundos e maravilhas sem especificar com que recursos e quando, só pode contribuir para desacreditar ainda mais a política. Tanto a nível nacional como local. Basta olhar para a Europa com alguma atenção para perceber...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Lá como cá

"Como reconstruir o futuro

As instituições existentes não enfrentam com eficácia a grave crise política em Espanha. EL PAÍS propõe dez reformas e pactos para defender a democracia e o progresso económico.

... ... ... Os espanhóis interrogam-se com razão sobre o que é necessário fazer. A resposta não é difícil, ao contrário da implementação dessa medidas. Eis um decálogo de tarefas que podem e devem ajudar a resgatar o sistema político, oriundo da Transição, das ameaças que pendem sobre ele. São naturalmente propostas discutíveis, mas não se deve duvidar de que os problemas apresentados são inequívocos. Se não os enfrentarmos quanto antes, o afastamento dos cidadãos em relação ao sistema político acabará por nos passar a respectiva factura.

1 - Lei dos Partidos

Que garanta a democracia interna e a transparência das formações políticas, com normas democráticas de funcionamento interno. Deve impor um modo de financiamento transparente, bem como um controlo eficaz e independente das suas contas, com periodicidade anual, incluindo sanções que possam ir até à respectiva dissolução em caso de incumprimento reiterado. A norma deve ter em conta as disposições da Lei de Transparência e permitir que os cidadãos possam solicitar a um partido documentos sobre o seu funcionamento. Os dirigentes partidários arguidos em processos judiciais devem ser suspensos das suas funções até ao esclarecimento final.

2 - Lei Eleitoral

É necessário substituir o actual sistema de listas fechadas e bloqueadas, por outro que permita aos eleitores negar o seu voto a candidatos concretos que não considerem dignos de confiança. Há que rever o princípio constitucional que determina a província como distrito eleitoral. ... A distribuição de lugares deve potenciar a proporcionalidade do sistema, de modo a que cada deputado eleito represente um número equiparável de eleitores. Deve regulamentar-se de forma transparente o financiamento das campanhas eleitorais, reduzindo a sua actual duração, desnecessária numa sociedade com tantos e tão variados meios de comunicação e definir critérios claros e eficazes para a adequada utilização das redes sociais em período eleitoral.

3 - Reforma da Administração Pública

Uma reforma modernizadora da administração pública que deve eliminar duplicações de estruturas e de funções, de forma a adaptar o tamanho do Estado e a despesa pública aos novos perfis da sociedade de bem-estar e às características da organização territorial de Espanha e da União Europeia. É necessário reduzir o número de municípios, recorrer a gestores tecnocratas onde convier, regulamentar o vencimento dos autarcas, fiscalizar os orçamentos de modo independente, rever o modelo de concursos e de corpos dos funcionários. O Estatuto da Função Pública deve contribuir para profissionalizar a direcção da gestão, limitando a a designação política de altos cargos para os proteger de interferências. Ao invés do que agora sucede, deve garantir-se a todos um acesso adequado à informação sobre a gestão dos serviços, que facilite a prestação de contas pelos administradores e um juízo crítico dos administrados.

10 - Revisão constitucional

Este programa de recuperação da nossa vida política exige em muitos aspectos uma revisão constitucional. A revisão não constitui um objectivo. Apenas um instrumento para enfrentar as novas realidades. ... ... ...A melhor forma de começar a pôr em ordem a actual confusão é adaptar a nossa Carta Magna aos tempos presentes e vindouros, simplificando a sua redacção, despojando-a de ataduras do passado e incorporando questões relativas à nova sociedade global e digital, que não existia ainda quando foi aprovada. ... ... .."

El País, 10/02/2013, página 35

E pronto. Aqui fica este modesto contributo cívico. Bem sei que em Portugal vai tudo bem, tal como em Tomar. Todavia, como costumam dizer nuestros hermanos: por se acaso...

Os destaques são de Tomar a dianteira.

Política impressionista...

Como é geralmente sabido, a Escola Impressionista teve a sua origem em Paris e os seus seguidores pintavam aquilo que viam, da maneira como o viam -uma impressão pessoal, portanto. A maior e melhor colecção de pintura impressionista está patente no Museu Hermitage (antigo Palácio de Inverno), em S. Petersburgo (Rússia). Também o querido amigo e vereador Luís Ferreira parece ter adoptado o estilo dos impressionistas para escrever sobre a saúde em Tomar. No seu blogue, recorre ao actual "estilo PS", de acordo com o qual nada do que o governo faz está certo. É só para sacrificar os portugueses em prol da opção liberal. E vá de citar parcialmente a OCDE, que disse ter Portugal cortado na saúde o dobro do exigido pela troika
Alargando  porém a análise, fica-se afinal a saber que as coisas não são bem como Luís Ferreira as pinta:


 "Barómetro europeu - Primeira redução das despesas de saúde desde 1975"

                                     

Evolução das despesas de saúde na UE em percentagem do PIB. Menos 0,6% entre 2009 e 2010. Menos 3% na medicina preventiva. 2.470 €/ano/habitante, em 2010, dos quais 73% a cargo do Estado.


Taxa de crescimento anual das despesas de saúde, em %. A azul claro de 2000 a 2009, a azul escuro de 2009 a 2010. Como se pode constatar, melhor do que nós, só a França e a Alemanha, com a Polónia em igualdade, mas a um nível geral bem inferior ao nosso (ver quadro seguinte).


Despesas totais de saúde na União Europeia, em percentagem do PIB em 2010. Nos ex-países do Bloco de Leste, aquela gente deve ter uma saúde de ferro. Na maior parte deles, não chegam a gastar por pessoa metade do que Portugal gasta. Ele há coisas!

Ilustrações copiadas de LE MONDE - Géo & Politique, 10/02/2013, página 7

Ainda sobre o falhanço pindérico

Além do já dito anteriormente:

Diário de Notícias, 11/02/2013, última página

Para que não fiquem com a usual ideia "É o gajo que não nos grama!"

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Mais um falhanço


Foi um falhanço pindérico o corso carnavalesco "espontâneo" que esta tarde desfilou em Tomar. Poucos carros, fraca ornamentação, raros foliões, modesta assistência local, evidente falta de qualidade. Indo ao princípio. Apesar de estarmos em pleno inverno, havia hoje em todo o país quase uma centena de desfiles carnavalescos. Neste contexto, tentar realizar em Tomar um corso de carnaval que não nos envergonhe aos olhos dos forasteiros, parece-me  relevar mais da presunção, da obstinação e da inveja, que do simples bom-senso. Como de resto bem demonstra a inscrição supra na fachada dos Paços do Concelho, assim como o carro dos "7 magníficos", com a enumeração dos subsídios atribuídos pela autarquia a outros eventos.
Qualquer cidadão, normalmente equipado em termos de massa cinzenta e sem óculos partidários a toldar-lhe a visão, terá já concluído que o governo Passos Coelho castiga os portugueses com impostos quase incomportáveis e outras medidas de austeridade, mesmo em ano eleitoral, não por sadismo ou opção ideológica, mas simplesmente porque a isso é forçado pelos representantes dos credores. Sob pena de nos fecharem a torneira do crédito, sem o qual teríamos de passar fome, entre outras amenidades. Na mesma linha, se a câmara de Tomar, presidida por um especialista em compra diferida de votos (passeios/comezaina/tintol/bailarico, tudo à custa dos contribuintes), mesmo em ano de autárquicas, não aceitou subsidiar a Tomar iniciativas, terá sido porque de todo não podia, por falta de fundos. Não há volta a dar-lhe! Pois se até a Festa dos Tabuleiros de 2011 ainda está à espera de metade do subsídio em tempos concedido...
Sabe-se que em geral os tomarenses são impermeáveis às ideias alheias. Só aquilo que julgam é que está certo. Mesmo assim, seria bom que começassem a aceitar alguns contornos da nova realidade, o principal dos quais é a morte da tradicional "vaca leiteira", vulgo orçamento público, que nunca mais voltará a ter disponibilidade para subsidiar as caturrices de cada um. Seja qual for a evolução da crise ou o vencedor das próximas autárquicas, doravante a norma terá de ser forçosamente que cada instituição pode organizar aquilo que entender, desde que respeite um módico de qualidade -para não envergonhar os tomarenses, abandalhando ainda mais a já muito depauperada reputação nabantina- e não conte à partida com qualquer ajuda monetária da autarquia. É muito duro, mas vai ter de ser assim.
E não adianta vir com falácias várias. É evidente que nada tenho contra os tomarenses, sejam eles quem forem, façam o que fizerem, digam o que disserem. O que tenho, isso sim, é a obrigação cidadã, o dever cívico de tentar convencer os meus conterrãneos a acompanhar a evolução dos tempos. A dar o corpo à curva, sob pena de virem a ser projectados pela borda fora. Sobretudo os  militantes partidários que andam por aí a apregoar a necessidade urgente de medidas de crescimento. Que medidas? Com que recursos?

Estamos bem arranjados!

Foto algures aqui

Político tomarense procurando ideias novas para elaborar o futuro programa eleitoral.

Cá as fazemos, cá as pagamos!

... ... ..."Porque desqualificámos a política e os políticos, porque deixámos que o seu desempenho se limitasse quase aos que para mais nada servem e aos raros que ainda acreditam que a política pode ser uma actividade nobre, e porque, a fazer fé numa sondagem europeia, apenas 25% dos portugueses têm confiança na democracia, hoje estamos cativos do triste cardápio que os partidos nos servem. Numa eventual sondagem que perguntasse aos portugueses "para primeiro-ministro prefere Passos Coelho, António José Seguro ou outro", o outro ganharia esmagadoramente. Só que o outro não existe: matámo-lo.
Não devemos admirar-nos então se o "liberal" Passos Coelho liquidou a economia com impostos e só sobre o cadáver dela se lembrou de que devia antes cortar na despesa do Estado. Ou se Seguro consegue afirmar, em tom de estadista, que defende o "crescimento" sem baixar os impostos nem explicar onde vai então buscar o dinheiro, e defende o "Estado Social" que existe sem subir impostos nem cortar na despesa. Não devemos admirar-nos se o CDS defende o limite dos mandatos de presidente da Câmara para todo o país menos para Lisboa, ou se ontem se indignava com o BPN e hoje acha aceitável que um ex-administrador do banco integre o governo de que faz parte. Não devemos admirar-nos com nada porque os políticos que hoje nos servem já só se preocupam em vencer e não em convencer.
Mas a verdade também é que temos aquilo que fomos exigindo aos poucos: uma política feita de mentiras, adiamentos, hipocrisias. Uma política refém das corporações e dos lóbis de interesses, determinada pela demagogia e pela crença, por todos alimentada, de que se pode viver sem ter de fazer escolhas. É um círculo vicioso: para servir tal política só podemos ter maus políticos; e, porque eles são maus, o resultado das suas políticas é o que é. Era fatal que chegássemos aqui. Agora, só nos resta confiar no slogan do palhaço Tiririca: "Vote em mim -pior do que está não fica".

Miguel Sousa Tavares, O vazio da política, Expresso, 09/02/13, página 9

O destaque é de Tomar a dianteira.
Comentário de Tomar a dianteira

Infelizmente, no que a Tomar (cidade e concelho) se refere, o slogan do Tiririca citado por Sousa Tavares não é de todo adequado. Por estas bandas as coisas vão piorar e bastante. Com os candidatos já conhecidos e com provas dadas, qualquer que venha a ser o resultado das eleições de Outubro, a situação económica e social só pode deteriorar-se muito rapidamente. Todos eles reconhecidamente sem quaisquer planos susceptíveis de pôr fim à continua degradação das nossas condições de vida, é até cada vez mais plausível que o próximo mandato não possa chegar ao fim com a composição inicial.
Basta atentar na nossa cada vez mais triste situação. A actividade económica local vive de quê? Praticamente dos pensionistas e do funcionalismo público. Tal como no Alentejo profundo e paupérrimo, Educação, Justiça e Município são de longe os maiores empregadores do concelho. Uma situação insustentável, por funcionar cada vez pior e em circuito fechado.
Acresce que em Tomar, essencialmente devido à prolongada ausência de uma adequada e indispensável visão estratégica, há várias instituições locais que estão por assim dizer condenadas. Até Novembro, tudo bem. Há eleições legislativas na Alemanha e autárquicas em Portugal. Avisadamente, o governo de Passos Coelho levantou o pé do acelerador. Mas depois?
Depois são inevitáveis mais medidas de austeridade, mais restrições, mais supressões de serviços públicos. IpT, RI15, Tribunal de Trabalho e Entidade de Turismo estão já na linha de partida. Seguir-se-à PSP ou GNR. Tudo por razões óbvias. Numa terra a mirrar de dia para dia, há cada vez mais estruturas injustificáveis...

Boa jogada sim senhor!!!



Com tomarenses assim, haja esperança!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ronda de fim de semana


Na habitual ronda de fim de semana às infelizes e praticamente inúteis obras da Envolvente ao Convento  a Calçada de S. Tiago surgiu-me com este aspecto. A falta que fazem umas chibinhas ou uns mémés...

 Numa terra de teimosos obstinados estava-se mesmo a ver que o coitado do alambor templário ia ficar mais uns tempos parcialmente enterrado. De nada valeu ter aqui proclamado várias vezes que as escavação arqueológica devia ir até à parede da fachada norte do ex-Hospital Militar.

O que é preciso inventar para justificar orçamentos fortemente empolados! Há oito séculos, para segurar a ribanceira, agora designada por talude, bastaram algumas pedras e mão-de-obra habilitada. Oitocentos anos mais tarde, para o mesmo fim é necessária toda esta tralha, que mais parece a preparação para o cerco ao castelo. Que tempos estes! Se o Gualdim cá pudesse voltar, morria logo de susto!


Escreveu-se aqui na passada semana que o muro de suporte da cafetaria cedera conforme documentado, por falta de escoamento adequado...

Pois os responsáveis da obra decidiram mandar escavar o local e acrescentar uma cinta em betão armado. Para quê, senhores? Não bastava um sumidouro e uma conduta de escoamento?

Mais para poente, a norte da fachada norte, o aspecto é agora este. Procede-se à consolidação das fundações do futuro parque de estacionamento para autocarros de turismo. À ilharga do monumento!

Em Alcobaça, cujos autarcas não consta que sejam menos inteligentes que os de Tomar, há anos que se adoptou a norma europeia, a qual determina que o trânsito e o estacionamento deve ser afastado  dos monumentos. Sobretudo os pesados de passageiros. O que implicou a transformação do jardim e parque de estacionamento....

 ...no terreiro primitivo,  cujo aspecto é agora este. A faixa onde passeiam as pessoas do lado esquerdo já foi em tempos a estrada nacional 8. 
Quem terá razão? Alcobaça ou Tomar? Têm a palavra os eleitores. O mais tardar em Outubro próximo.

Começa a ser opinião geral...

"Esqueçam o que a ciência política tem dito sobre declínio da participação política em Portugal. Ao contrário do que se pensa, há por aí um vigor militante que opera subterraneamente. A crer no jornal i, desde as últimas legislativas, os partidos não têm parado de conquistar militantes. Todos viram aumentar  número de filiados, mas o que mais impressiona são os  valores para PSD e PS. Com a vitória de Passos Coelho, juntaram-se ao PSD 9.900 novos militantes, um valor que, ainda assim, compara mal cm os 19.552 que se filiaram no PS no último ano e meio.
É interessante procurar saber o que motivou estes milhares de portugueses, numa altura em que a imagem dos partidos anda pelas ruas da amargura. Em todo o caso, esta pujança militante talvez seja, no essencial, importante para revelar como se estrutura hoje o poder partidário.
A ideia de que há uma lógica de reprodução de poder nos aparelhos dos partidos, independente do sentimento dos cidadãos não é nova. Pode mesmo ser vista como uma lei de ferro do funcionamento dos partidos: estes, para subsistirem, precisam de garantir níveis de coesão interna que requerem algum tipo de fechamento. A questão é, contudo, de grau.
No passado, umas vezes melhor outras pior, os partidos portugueses foram encontrando formas de se sintonizarem com a sociedade e com os grupos sociais que representavam. Hoje alguma coisa está a mudar. A sensação com que se fica é que o militante de base, em lugar de estar sintonizado com a sociedade, passou a estar em sintonia com o presidente da concelhia à qual pertence, criando-se assim uma bolha que separa sindicatos de voto e caciques locais do conjunto dos portugueses.
O fenómeno é particularmente visível quando pensamos no poder autárquico... ... ..."

Pedro Adão e Silva, A revolta dos Paradas, Expresso, 09/02/13, página 48

Nota final

Outro que, tal como Woody Allen, visivelmente esteve em Tomar há pouco tempo.

Os destaques são de Tomar a dianteira.

O erro dos descartes

Quem por lá andou, sabe bem como as coisas funcionavam no defunto bloco de leste. Havia os do partido, que dominavam e viviam bem, e os outros que nem tanto. Eram sempre descartados dos melhores lugares. Sabe-se como aquilo acabou. Por essa mesma época, aqui neste jardim da extremidade ocidental da Europa, vegetavam os da situação, que se governavam assaz bem, e os da oposição, que eram sempre descartados dos melhores empregos.
Quando o 25 de Abril dos militares forçou a mudança política, cuidou-se que a era dos descartes ia finalmente acabar. Erro crasso. Primeiro foram os saneamentos; depois, pouco a pouco, vieram os partidos e os respectivos aparelhistas. A nossa variedade de salafistas. Perto de quarenta anos mais tarde, estamos como se sabe, tanto a nível nacional como local. E com tendência para um sério agravamento. Como se nada fora, agora que tocou a preparar as autárquicas de Outubro próximo, ouve-se a mesma música em todas as agremiações políticas: este não, que é assim; aquele também não interessa porque; a outra nem pensar, devido a. O erro dos descartes continua e acentua-se, como forma de garantir os lugares aos incapazes do costume, especialistas em obediência à voz do dono, seja ele quem for.
Talvez vá sendo tempo, penso eu, de ter em conta as sábias palavras do falecido dirigente chinês Deng Xiau Ping: "Não interessa a cor, o peso ou a idade do gato. Apenas se é bom a caçar ratos." Mas também percebo que seja muito difícil seguir tal preceito aqui nas margens do Nabão, terra onde há cada vez mais ratos por todo a lado, devido à cada vez maior escassez de gatos. Sobretudo de gatos obedientes, daqueles que nunca arranham os donos...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Liderança e projecto

A braços com sérias dificuldades nas suas empresas, os directores de ambos os semanários locais optaram pela melhor defesa que, como bem sabem todos os adeptos deste país de futebol, é um bom ataque. Conforme já referido no escrito anterior, constituíram-se finalmente como porta-vozes das angústias da comunidade tomarense. Fizeram bem. Sejam bem-vindos! Oxalá nunca vos falte a gana de continuar.  Tomar bem precisa.
Mais percutante, Isabel Miliciano advoga no seu editorial a necessidade absoluta de uma liderança forte. Tem toda a razão. Na actual envolvência, sem carisma e sem grande capacidade de liderança, mais vale manter-se sossegado no seu cantinho. O problema é conseguir que os nossos políticos, incipientes mas megalómanos e com afigurações, se abstenham de aventuras quixotescas.
Sendo o carisma e a forte capacidade de liderança capacidades absolutamente indispensáveis nesta altura grave da nossa vida colectiva, para conseguirmos sair do atoleiro no qual nos afundamos pouco a pouco, mas a ritmo cada vez mais acelerado, não são contudo suficientes. Basta reflectir sobre o caso António Paiva. Charmoso, bem parecido, dotado de enorme carisma e de excepcional capacidade de liderança, conquistou sem grande dificuldade confortáveis maiorias absolutas, sobretudo graças ao eleitorado feminino, mas não só. No entanto, falhou em quase toda a linha, arrastando-nos para a crise com que nos debatemos agora. "Erros meus, má fortuna, amor ardente...", escreveu o poeta.
Paiva espalhou-se ao comprido e espatifou milhões em obras questionáveis, ou até prejudiciais, como no caso do ex-estádio municipal, não por má vontade mas porque apenas dispunha de um péssimo projecto mal enjorcado,"Tomar 2015 - Uma nova agenda urbana", de seu nome. Afinal uma mera listagem de obras a fazer, como se o maná estatal e europeu fossem continuar indefinidamente. A crise cedo veio esbandalhar tais quimeras. Estamos no início de 2013 e o dito esboço já está ultrapassado.
Temos assim que, além de carisma e grande capacidade de liderança -atributos que todos os candidatos  em liça já demonstraram não possuir- é indispensável dispor de um projecto robusto, adequado e realista, bem como de estatuto pessoal e político para o implementar. Sem esquecer inteligência ágil, prática e criadora, coisa que a experiência mostra não abundar por estas bandas nabantinas. Desgraçadamente.
Conquanto não o diga claramente, se calhar devido ao seu usual estilo mais recatado, António Madureira também assim pensa: "Estou certo que os políticos tomarenses apresentarão as suas propostas fundamentadas e com ligação à realidade. Senão, será mais do mesmo."
Oxalá!

(O destaque é de Tomar a dianteira)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Análise sucinta da imprensa local de hoje






Jornal de Leiria, 07/02/2013, última página.

Comecemos com um lamento/esclarecimento: publica-se o rosto d'O Mirante tão só por uma questão de cortesia e saudade. Nostalgia de um semanário que já foi um bom órgão de informação no que a Tomar se refere, mas que agora, decerto a braços com a crise, praticamente nada inclui que possa interessar aos nabantinos. É pena.
Interessante mesmo é o "pórtico" do Jornal de Leiria. Eu não sabia que o célebre actor/realizador americano Woody Allen esteve em Tomar há pouco tempo, mas só pode. Caso contrário, como poderia ter chegado a semelhante conclusão? Exagero? Olhe que não! Olhe que não! Desde há meses que nestas colunas se procura alertar os leitores para a nossa triste situação: as autárquicas de Outubro próximo, que em qualquer outro país europeu permitiriam encontrar uma solução sólida para o futuro do concelho, aqui em Tomar transformaram-se no nosso maior problema.
De tal forma assim é que Tomar a dianteira já não se sente só, a pregar no deserto. Pela primeira vez em muitos meses, Cidade de Tomar e O Templário publicam editoriais que deixam transparecer as profundas preocupações dos respectivos autores/directores, António Madureira e Isabel Miliciano. Ambos pedem aos políticos que nos saíram nas rifas partidárias seriedade, responsabilidade, sinceridade e frontalidade. Posições que se saúdam por serem assaz raras, mas salutares para a nossa democracia.
O director de Cidade de Tomar dá mesmo a entender que terá sido pressionado no sentido de silenciar uma ou outra voz incómoda, à boa maneira de antigamente. Mesmo após quase quatro décadas passadas sobre o 25 de Abril, há almas penadas tomarudas que ainda se não habituaram a viver e deixar viver. Estou à vontade para o dizer, pois de certeza que não terei sido eu o visado, tendo em conta que a minha prosa é sempre muito consensual. (Se calhar estou a ver mal...)
Além dos dois directores referidos e deste vosso humilde escriba, também António Cupertino -um ex-putativo candidato a cabeça de lista do PSD- resolveu despejar o saco, escrevendo o que lhe vai na alma. Exactamente o mesmo problema que atormenta António Madureira, Isabel Miliciano, António Rebelo e tantos outros: a evidente fraca qualidade dos candidatos já conhecidos, cujo nivelamento por baixo impede qualquer escolha real, uma vez que todos fazem já parte dos actuais eleitos de má memória e irão certamente prometer todos as mesmas maravilhas. Desde que os elejam, claro está. Há até -vejam bem!- dois outros pontos comuns a todos eles: A - Estão abertos a coligações; B - Desde que os outros aceitem ser seus lacaios. Por isso assumem que está tudo em aberto, menos um ponto -à cabeça vou eu! Pois boa viagem e que o Senhor vos acompanhe! (O texto de A. Cupertino está na página 12 de Cidade de Tomar).
Há quatro anos, com o governo PS já em crise, os resultados em Tomar foram PSD > 35%, PS > 21%, IpT > 20 % e os eleitores apenas 59% dos inscritos. Temo que em Outubro próximo, salvo imponderáveis daqui até lá, haja ainda maior nivelamento por baixo e uma participação inferior a 50%, o que certamente dará que pensar em Lisboa. Sobretudo no PSD, que se com um candidato culturalmente e socialmente conceituado não foi além dos 35%, desta vez, com um cabeça de lista bem mais rústico,  (e incompleto, escreve Cupertino), uma herança autárquica local para esquecer e um governo PSD bastante impopular, quanto irá conseguir?
Para já, a opinião que parece dominante na cidade garante que PSD, PS e CDS não ganham de certeza e  oxalá não ganhem os IpT. Reina o optimismo, como se vê. Entretanto, no seu blogue Vamos por aqui, o vereador Luís Ferreira, -o "puxa-cordéis do PS" segundo alguns militantes- assevera que "Rir é sempre o melhor remédio". Logo veremos se após as autárquicas ainda terá a mesma opinião...
Dizia-me um amigo esta manhã que cada povo tem os seus problemas. Os tunisinos têm os salafistas, os tomarenses têm os aparelhistas, entre os quais os pedristas. Já é azar!

Assim somos...


Sei bem que, ao publicar este texto, vou chocar alguns leitores. Pois que tenham paciência. Li o livro, pensei, repensei e concluí que não ficaria com a consciência em paz caso enveredasse pela via mais fácil -calar-me. Isto porque, além da biografia de um grande soldado, grande homem e português firme, que teve a coragem e o desassombro das suas opiniões, tanto antes do 25 de Abril -quando tantos outros, que meteram o rabo entre as pernas, agora se proclamam oposicionistas de sempre- como durante e após o movimento vitorioso; além de biografia, escrevia eu, trata-se também de um excelente livro, escrito por um ex-militar comando, depois emigrante e professor universitário de literatura, na Alemanha e em Portugal. Biografia de um guerreiro e um grande livro, porque  é igualmente um fresco, admirável de concisão e requinte, sobre a nossa acção militar em Angola, em Moçambique e no então chamado Estado da Índia. Uma obra cujo autor teve a humildade de ouvir os que, como ele, por lá andaram na dura faina da guerra.
Quero igualmente destacar uma situação paradoxal, que muito me chocou. A reles atitude daqueles que a dada altura, com Jaime Neves já na reserva, resolveram infernizar-lhe a vida, a ele e à sua família, indo de forma sistemática, pela calada da noite, fazer barulho junto da sua casa, na margem sul. A tal ponto que houve necessidade de a mandar guardar pela polícia, bem como de afastar os filhos para um colégio, como medida de segurança. Certamente gente da mesma categoria dos que há pouco, em plena Assembleia da República, recusaram  juntar-se a um voto de pesar pela morte do grande militar, quer se concorde ou não com todas as suas opções políticas, que o mundo nunca foi nem é a preto e branco. Criaram assim uma situação paradoxal: Jaime Neves, o militar-guerreiro-brutamontes que perdeu dois irmãos de armas no 25 de Novembro, ameaçou matar centenas em retaliação. Chamado à razão pelos seus camaradas castrenses -nomeadamente por Ramalho Eanes- nunca disse que perdoava, mas também nunca procurou matar ninguém, o que equivale a perdoar de facto. Já a autoproclamada esquerda pura e dura e de confiança, nem depois de morto lhe perdoou. Assim somos: gente geralmente videirinha e invejosa. Que considerá o ódio cego uma mera opção política. De esquerda, ainda por cima!
Permitam-me dois pequenos excertos, para terem uma pálida ideia do estilo da obra:
"Aqui as profissionais do sexo são as prostitutas dos templos, como as de Mangueixa ou Maredol (Goa). As devadasis trabalham deitadas com grande descontracção, conversando com os familiares que estão a alguns metros, por detrás de tabiques, de paredes meias ou de cortinas. Tal como as corridas de táxis, estas mulheres são quase grátis. Para os jovens militares é o tempo do sexo como desporto fácil e prazenteiro. Um prazer inocente. Nem o prazer porco e blasfemo de Sade, nem o prazer sagrado, embora não religioso, de Bataille. O clima sexual geral é bem diferente do da metrópole. Ao pudor sexual das europeias contrapõe-se uma ética de prazer do corpo das indianas, que torna os arabescos do Kamasutra naturais, no que se opõe às acrobacias dos palhaços sexuais da pornografia ocidental.
A tabela de preços que vigora é a de meia rupia para o soldado, uma rupia para o sargento e rupia e meia para o oficial. Tudo isto "sem tirar o sari" porque, neste caso, é mais uma rupia. Também é mais uma rupia para "chupá no carailhoô". (Página 58)
"Depois de guerrear pelo Império, Jaime Neves luta contra o regime que já só se sustenta por arames.Começa a virar-se contra ele quando, nos dois ou três primeiros anos da década de 70, se apercebe da degradação acelerada do exército. Há já soldados que embarcam para Moçambique sem terem dado um tiro sequer. No norte da província, os víveres são agora transportados por helicópteros, devido às minas. Há companhias sem qualquer oficial ou sargento do Quadro Permanente. Chega-se ao ponto de, em toda a Região Militar de Moçambique, haver apenas dois oficiais do Quadro Permanente ...a comandar companhias no mato. Está-se na fase em que os rapazes do povo servem de "enchidos para canhão" e os filhos das elites se ficam pela Marinha..." 
(Página 134)

Rui de Azevedo Teixeira, Homem de Guerra e Boémio - Jaime Neves, Bertrand Editora, 207 páginas, Lisboa, Novembro de 2012.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Audiência de Tomar a dianteira

Há por aí uns encrencas bem conhecidos que se esfalfam propalando que este blogue está a perder audiência, porque não sei quê, não sei quantos e não sei que mais. Cada um pode sonhar, imaginar, inventar, arquitectar o que melhor entender; não deve é confundir os seus devaneios com a realidade. Para que não subsistam dúvidas, seguem alguns dados estatísticos sobre Tomar a dianteira, obtidos no contador independente do motor de busca Google:
Seguidores do blogue > 86
Visitas registadas ontem > 482
Visitas em Janeiro > 14.016
Visitas desde o início da contagem (Abril 2009) > 403.304

Textos mais visitados de sempre
O comboio do pessoal da CP, 17DEZ10 > 3.795
Simplesmente lamentável, 21AGO11 > 1.026
Mais um percalço para Carrão, 26ABR12 > 684
Cartas de amor, 14ABR10 > 660
Sacanice refinada, 26JUL12 > 566

Textos mais visitados no último mês
Partidos desacreditados > 100
Um arboricídio anunciado > 94
Câmara dá autocarro > 64
Cartas de amor > 60
A palavra a um da casa > 56

Aproveita-se para agradecer a todos, incluindo os supracitados encrencas, a preferência demonstrada. Continuará a fazer-se o melhor possível para merecer a confiança dos leitores. Incluindo aqueles que garantem nunca visitar Tomar a dianteira.

E os moradores que se lixem!





Aqui em Tomar sempre tivemos um feitio muito peculiar. Durante anos, fomos indo arrastados para o futuro, numa marcha tipo caranguejo, sempre virados para o passado. Pois apesar disso, nunca os maiorais desta terrinha repararam que, no tempo das cavalgaduras e da tracção hipo, cada qual dispunha de abrigo para os seus animais e carretas -as chamadas cocheiras.
Vieram os veículos a motor e essa obrigação desapareceu. Por falta de regulamentação autárquica, pois claro. Nos nossos dias, cada urbe com autarcas pouco capazes, como sucede por aqui, está transformada num gigantesco museu de latas ao ar livre, um inferno para os visitantes -que não sabem onde estacionar- e para os serviços municipais de limpeza, que deixam grande parte das artérias por varrer. E depois há também aqueles casos, mais raros mas mais perigosos, em que ambulâncias com doentes urgentes têm de aguardar que se desviem ao empurrão veículos mal estacionados. Já aconteceu com o autor destas linhas, morador na cidade antiga, que, transportado prontamente pelo INEM, só chegou ao hospital de Tomar quase meia hora depois. Se calha a ser mesmo um caso de vida ou de morte, lá teriam ficado os senhores autarcas nabantinos sem a sua leitura preferida -o muito querido Tomar a dianteira.
As fotos supra dispensam longos comentários. Ruas atascadas de carros, moradores com grandes dificuldades para sair e/ou entrar, automobilistas oportunistas, que confundem a comunidade com uma vaca leiteira, de tal forma que até têm a distinta data de reservar o "seu" lugar de estacionamento, junto à fachada de um prédio, que não lhes pertence e onde nem são moradores. Entretanto, há dois parques municipais de estacionamento, um de cada lado do rio, que custaram quase nove milhões de euros e estão praticamente às moscas.
Irresponsabilidade e ganância dos automobilistas locais? Também haverá casos. Mas os grandes responsáveis são os reles autarcas que temos, sem coragem para tomar as medidas urgentes que se impõem, sempre com medo de desagradar aos cidadãos, por causa dos votos. Neste caso concreto, proibir o estacionamento em todo o casco urbano, da Av. General Tamagnini de Abreu ao Largo do Pelourinho, se necessário concedendo tarifa especial para os moradores.
Enquanto tal não sucede, na situação actual há apenas uma vantagem: com tanta dificuldade para entrar e sair dos prédios, praticamente não existe perigo de assaltos. Só se os meliantes forem idiotas chapados. O que não consta. Se assim fosse estariam na política.