quarta-feira, 30 de setembro de 2009

HOLANDESES VÃO TER DE "APERTAR O CINTO"

Com as recentes e sucessivas notícias sobre os diversos sinais positivos de ultrapassagem da crise, os portugueses até têm, à primeira vista, razões para crer que o pior já lá vai. Daí a julgar que um dia destes, mais cedo ou mais tarde, tudo voltará a ser como antes, o caminho não é longo. Nada mais errado, todavia. Basta lembrar que a Comissão Europeia, só uma vez realizadas as legislativas, anunciou a abertura de um procedimento contra Portugal e 13 outros países da UE, por défice excessivo (5,9% segundo o governo português, 6,2% segundo a Comissão Europeia). Não por acaso, as medidas constrangentes e obrigatórias a indicar pela UE, com o fim de reduzir o défice até menos de 3%, só deverão ser conhecidas em Novembro. Já com as autárquicas resolvidas e o novo governo em funções. Ele há coisas!

Neste contexto, poderá ser proveitoso ler com atenção o texto seguinte, traduzido do LE MONDE de 23 do corrente, página 8. Quanto mais não seja porque, de acordo com a lógica popular, "Quando vires as barbas do vizinho a arder, trata de pôr as tuas de molho." Quem ainda tiver barba, naturalmente...



"GOVERNO HOLANDÊS TENCIONA REDUZIR AS DESPESAS PÚBLICAS EM 20 %


A queda das exportações deteriorou as finanças da Holanda, cuja dívida pública poderá ser da ordem dos 66% do PIB [Nota do tradutor:71 % em Portugal]

Vai haver forte tempestade nos polders. A frase é do próprio primeiro-ministro do país dos polders - a Holanda. Defendendo perante os deputados um vasto e duro plano de austeridade, Balkenende admitiu recentemente, que nunca desde o final da segunda guerra mundial a Holanda foi submetida a um esforço de contenção tão considerável.
Os três partidos que constituem o governo (cristãos-democratas, trabalhistas e protestantes conservadores) pretendem reduzir em pelo menos 20% o total das despesas públicas. Quarenta biliões de euros terão assim de ser poupados anualmente, designadamente nas áreas da segurança social, da habitação social e dos abonos de família e outras ajudas. Ainda de acordo com o citado plano governamental de austeridade, a idade legal de reforma passará para 67 anos, os impostos serão revistos em alta, os aumentos de salário limitados e o sector financeiro, no qual o governo investiu 50 biliões de euros, deverá ser reordenado.
O primeiro-ministro tenciona igualmente limitar a imigração, designadamente através do endurecimento das condições de obtenção do direito ao reagrupamento familiar. O deputado populista Geert Wilders ousou até propôr que fosse aplicada um coima de mil euros a cada mulher que ostentasse um lenço islâmico na via pública...
O referido projecto governamental é "uma missão excepcional", porém nada impossível, se o país conseguir demonstrar "convicção" e "abertura à mudança", afirmou a Raínha Beatriz no seu discurso do trono, no passado dia 15. O primeiro-ministro e o ministro das finanças defenderam, imediatamente a seguir, a ideia segundo a qual é absolutamente imperativo reagir com um vigor excepcional, para conseguir reduzir e eliminar os efeitos da crise económica.
A crise atingiu de forma brutal um país sobretudo exportador, que tinha conseguido atingir o equilíbrio orçamental e uma situação de quase pleno emprego, antes de 2008. Em contrapartida, a economia holandesa deverá recuar cerca de 5%, o desemprego chegará aos 8% e a dívida pública aos 66% do PIB (+ 50% num ano), no final de 2009.
Sem contestar o diagnóstico governamental, muitos holandeses interrogam-se no entanto sobre o método escolhido pelo primeiro-ministro Balkenende. Afirmando que "o país está agora exactamente a meio da crise" pelo que é impensável consentir no eventual agravamento da situação, a coligação governamental adiou de facto para a primavera de 2010 o início da prevista fase de austeridade. Exactamente um ano antes das próximas eleições legislativas. Até lá, uma vintena de grupos de trabalho deverão encontrar os meios concretos tendentes a reduzir as despesas públicas e a diminuir o peso do estado. Um modo de agir que deixa muitas dúvidas: "Vai criar muita incerteza e esta não é nada boa", sublinhou Elmert Sterken, professor de economia em Groningue, que acrescentou "Que um governo responsável pense resolver uma tal crise deste modo, é uma verdadeira enormidade..."
Por seu lado, a oposição sublinha as contradições de uma coligação que, ainda há poucos meses, decidiu desbloquear 6 biliões de euros para ajudar empresas, estimular o consumo e lançar grandes obras públicas.
"Começar já a apertar não seria razoável. Considerem-se muito felizes por nós termos a coragem de reflectir durante algum tempo", respondeu o ministro das finanças aos seus críticos. Enquanto isto, o chefe de governo Balkenende pareceu algo hesitante quando chegou a hora de responder às perguntas da oposição sobre os aspectos concretos do anunciado plano. "Não me correu nada bem", admitiu ele no dia seguinte.
Os líderes da oposição justificaram a vivacidade das suas críticas com a evidente "falta de visão" e de "liderança" do primeiro-ministro. O presidente do Partido Liberal, Mark Rutte foi particularmente duro. Lançou em pleno parlamento um verdadeiro ultimato ao primeiro-ministro -"Governe ou vá-se embora !"
Jean-Pierre Stroobants - Le Monde
Nota prévia, nota intercalar, tradução e adaptação de António Rebelo

DOIS CASOS INSÓLITOS EXPLICADOS

Nada nos custa a acreditar na afirmação contida neste pequeno título da primeira página do Diário de Notícias de hoje.Os pedidos de emprego é que continuam a aumentar. Agora de desemprego... Afinal, o jornal refere-se mais precisamente aos pedidos de subsídio de desemprego. A língua que falamos está realmente cada vez mais traiçoeira. Agora até quem escreve em jornais ditos de referência vai tendo os seus deslizes...

Mão amiga trouxe-nos este desdobrável de propaganda eleitoral dos Independentes por Tomar, visivelmente boquiaberta com o documentado nas fotos acima. "Então o filho do arquitecto Lebre, que até tem tido participação activa na campanha do pai, afinal também concorre, mas pelos outros independentes? Que história é esta afinal? Onde está a coerência política?"
Conquanto nada obrigue a descendência a apoiar políticamente os progenitores, quem conhece bem a família e os valores que sempre defendeu, não podia deixar de ficar surpreendido. Indagação feita por Tomar a dianteira permitiu entender tudo muito rapidamente. Segundo o próprio nos declarou, o seu compromisso com o grupo independente liderado por Pedro Marques é anterior à decisão paterna de se candidatar. E a palavra dada é para ser respeitada, quaisquer que sejam as circunstâncias posteriores. Afinal, em certos aspectos e para certas pessoas, a tradição ainda é o que era.


UM EXCELENTE TRABALHO

Aspecto parcial de uma das faces da planta ontem apresentada, que por motivos técnicos fomos forçados a amputar.


António Rebelo

Um excelente trabalho e um resultado sumptuoso, eis o que mostra a nova planta turística, destinada sobretudo a quem nos visita. Andaram bem os Serviços Municipais de Turismo, liderados neste caso por Paulo Alcobia, licenciado em Turismo Cultural. A demonstrar que a formação continua a ser importante para o cabal exercício de qualquer função, numa sociedade cada vez mais complexa. Além de tecnicamente apetrechado, Alcobia soube ser humilde, rodeando-se de colaboradores igualmente credenciados, como por exemplo João Fiandeiro e a Associação Portuguesa de Turismo Cultural, da qual este é fundador e dinamizador. Foi igualmente modesto quanto baste para pedir a opinião de quem sabe umas coisinhas destes assuntos, (um saber de experiência feito), casos de Luis Pedrosa Graça e de Manuel Bento Baptista, tomarenses ilustres, de há muito sobejamente conhecidos, e acostumados a colaborar em prol do berço nabantino, sem esperar qualquer retorno monetário. Basta-lhes a satisfação do dever cumprido. E assim é que está bem! Ou estava, que agora os tempos são outros...
Tudo portanto pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis? Pois nem tanto, infelizmente. Quanto à requintada planta sobretudo para turistas, conseguimos saber que, nesta primeira edição, custará aos contribuintes 18 cêntimos cada uma.
Para os mais novos, uma ninharia. Para os mais velhos, porém, 18 cêntimos ainda são 36 escudos. E 36 escudos é dinheiro que até já deu para um bom almoço. Outros tempos... Isto para dizer que a autarquia faria bem em registar o seu produto (do qual sabemos que comprou os direitos de imagem) e dele fazer duas edições distintas: Uma promocional, gratuita para os profissionais do sector e a metade do preço para as escolas; outra para os visitantes, a um euro a unidade. Além de assim gerar receita, que nunca é demais, ajudaria a poupar papel, visto que as pessoas deitam fora o que lhes dão mas tendem a guardar aquilo que compram. Inculcaria também, nos alunos e até nalguns docentes, a ideia muito saudável e eficaz de que neste mundo nada é de borla, e deixaria mais sossegados os que, como o autor destas linhas, pensam ser uma anomalia continuar a subsidiar as férias dos outros (salvo em situações muito específicas, como por exemplo a terceira idade com fracos recursos documentados), quando o dinheiro faz tanta falta noutros sectores.
E finalmente o caso da noite. Apesar de o convite ter sido firmado pelo presidente da câmara, o único autarca presente foi o presidente da junta de freguesia de Santa Maria dos Olivais. Intrigados com tão estranhas ausências, foi-nos dito que membros da oposição, sobretudo do PS, terão tecido duras críticas de eleitoralismo, na sessão da assembleia municipal realizada anteriormente. Se assim foi, andaram mal tanto os críticos como os criticados. Aqueles, porque denota nítida falta de estaleca ignorar que, além de candidato, cada um dos actuais autarcas continua na plena posse dos seus direitos de cidadania, entre os quais o exercício pleno das funções para as quais foram eleitos em eleições livres e não contestadas. Têm até um excelente exemplo -sendo primeiro-ministro, José Sócrates nunca se inibiu de comparecer onde entendeu, ora como governante, ora como candidato, ora como secretário-geral do PS. E Fez muito bem. Os autarcas tomarenses porque, além terem cedido às críticas (o que levará os adversários de circunstância a considerar que têm razão), ao desertarem uma iniciativa organizada pela autarquia, que teve muito mérito, poderiam ter contribuído, se lá têm ido, para demonstrar que os verdadeiros tomarenses continuam a saber unir-se em torno das questões essenciais, nunca confundido luta política com questões pessoais. Ou estaremos a ver mal a questão ?
Diz-se além-fronteiras que quando a política partidária entra na sala por uma porta, o bom senso sai imediatamente pela outra. Eles lá sabem...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

NEM DE PROPÓSITO...

O TEMPLÁRIO, edição de 29 de Abril de 1967, página 1

Foi escrito, no texto anterior, que urge adaptar-se aos novos tempos, construir uma nova visão do mundo e outra mentalidade, mais arejada, sem o que não vamos certamente conseguir atravessar com êxito o cada vez mais caudaloso rio da crise local. Escreveu-se até, usando uma linguagem quiçá demasiado crua, que os turistas são as novas vacas leiteiras e só nos devem interessar nessa qualidade. Convidados entretanto para a cerimónia de apresentação de dois filmes amadores do século passado e de uma excelente e requintada planta da cidade e do convento, a ser oferecida aos turistas, foi-nos aí facultada documentação pacientemente recolhida pelo Dr. Paulo Alcobia, dos Serviços Municipais de Turismo, a quem agradecemos e cujo trabalho louvamos. Conforme se pode ler na reprodução que encima este comentário, já em 1967 os tomarenses padeciam da "velha teima de quererem ser mais hospitaleiros que o próprio hospício, o "portuguesinho" recebe bem o turista, adora-o, mas não sabe tirar dele rendimento económico."
Se passados mais de quarenta anos ainda estamos mais ou menos na mesma, como a lesma, será desta vez que vamos conseguir sacudir as nossas teias de aranha mentais ? Duvidamos. Mas lá que gostávamos, gostávamos. E muito !

DOIS ESCLARECIMENTOS E O RESTO...

Turistas e vendedores de recordações, alimentação e bebidas, vistos do alto da Torre de Pisa (15 euros e 200 degraus). A foto foi tirada às nove da manhã. Em finais de Setembro, quando as férias escolares já acabaram. Em Portugal, os monumentos abrem só às nove e meia da manhã.


As cidades pequenas, como Tomar, têm muitos inconvenientes, mas igualmente algumas vantagens. Uma delas é o "som de retorno" quase imediato, quando se escreve ou diz alguma coisa. Em relação ao nosso escrito sobre o projecto apresentado por José Lebre, cabeça de lista de Tomar em Primeiro Lugar, duas perguntas quase que ultrapassaram a barreira do som -que história é essa dos dois grupos de forças políticas, mais uma? qual a vossa opinião sobre o projecto do Lebre?
A história da divisão das forças políticas, por nós efectuada, destina-se apenas a facilitar a análise da situação em cada momento. Assim, no actual enquadramento, e tendo em conta aquilo que cada equipa candidata já mostrou, julgamos poder constituir três sectores. No primeiro, com propostas inovadoras, coerentes e adequadas ao actual contexto de crise persistente, com tendência a tornar-se crónica, há três forças concorrentes, os realistas -CDU, CDS e TPL. No segundo grupo, parece-nos lógico incluir os por nós chamados tradicionalistas. Aqueles que, praticamente, voltam a apresentar as suas propostas de há quatro anos, que o eleitorado só não rejeitou no caso da actual maioria autárquica. São eles o PSD (com toda a lógica, uma vez que em projecto que ganha, não se mexe), o PS e os IpT. No terceiro sector resta-nos, portanto, o BE, com as suas propostas, que em Tomar não são fracturantes, mas sobretudo bucólicas, poéticas e sonhadoras, o que, como diz o povo, "vai tudo dar ao mesmo". Se calhar não, mas enfim!
Sobre o projecto de José Lebre e todos os outros, cremos ser útil precisar que qualquer tentativa para ultrapassar positivamente a nossa cada vez mais grave crise terá de ter por base os recursos únicos de que dispomos, bem como começar a praticar modestamente uma gestão corrente digna desse nome e do nosso passado, designadamente em termos de limpeza, de manutenção e conservação, de relação com os eleitores e de mudança de mentalidade da maior parte dos funcionários, a qual terá de passar por adequada e continuada formação profissional.
Os recursos únicos de que dispomos são três e apenas três: o Convento, o Rio, a Festa dos Tabuleiros. Tudo o resto é secundário, embora deva igualmente ser tido em conta na devida altura. Em relação a esses três enormes trunfos, muito já foi dito e mais teremos ainda de ouvir, embora ninguém tenha ainda tido a coragem de afirmar o óbvio -os turistas são as novas vacas leiteiras e só interessam nessa qualidade. Não é uma formulação excessivamente elegante, mas parece-nos a mais indicada para poder ser entendia por um eleitorado mentalmente preguiçoso (e não só!). Partindo daqui, a pergunta óbvia é: Como ordenhar o melhor possível as novas vacas leiteiras?
José Lebre pensa que é atraindo-as para um museu da Festa do Tabuleiros, o PSD está convencido de que com o arranjo do velho acesso ao Convento através da Mata, o melhoramento da Cerrada dos Cães e os museus da Levada, vai ser trigo limpo. Para o PS, uma empresa municipal de turismo será o nosso veículo para um rápido acesso a um futuro bem mais risonho. O CDS propõe uma Escola Nacional de Turismo, a CDU a produção cultural a nível local e os IpT música, música e mais cultura. E temos igualmente o "turismo pedagógico", proposto pelo BE
Já aqui foi dito, mas repete-se com muito gosto -todas essas propostas e muitas outras são positivas e parecem-nos ter muito de aproveitável. Todavia, no seu estado actual, não passam de montes de peças. Falta agora quem saiba trabalhar com elas de forma a construir o tal veículo capaz de ultrapassar a crise e assegurar-nos a todos um futuro mais agradável.
Algum dos cabeças de lista ou dos respectivos acompanhantes saberá fazer isso? É óbvio que não. Por isso, e só por isso, estamos como estamos. Porque os tomarenses nem sabem, nem têm a humildade necessária para perguntar a quem sabe.
Temos assim uma curiosa situação: Ninguém aceitaria de bom grado ser tratado ou operado por alguém que não fosse médico, de preferência com prática e boa reputação profissional. Mas todos aceitam sem refilar que simples amadores nos governem e ditem sentenças que custam milhões aos cointribuintes, em matérias que nunca estudaram e muito menos praticaram. Será isto normal e aceitável em pleno século XXI? Resposta no próximo dia 11 de Outubro, a partir da 8 da noite. Até lá uma pergunta chã: e que tal um concurso internacional, com um prémio tentador, tendo como tema apenas quatro palavras -Um projecto para Tomar ?

FOTOS E CASOS

Perdida a 50 quilómetros de Florença e outros tantos de Pisa, a meia hora da estação de caminho de ferro mais próxima, S. Gimignano, uma pequena cidade de 7 mil habitantes, é Património da Humanidade e vive basicamente do turismo, do comércio e da agricultura. Mas os seus autarcas sabem fazer o necessário para cativar os visitantes. Além de boa sinalização turística e da total proibição do trânsito automóvel na parte antiga, colocaram um pouco por todo o lado avisos obrigando os moradores com cães a recolherem imediatamente os respectivos presentes, sob pena de pesadas coimas... Até parece que estamos em Tomar!



Já aqui se escreveu criticando os penicos suspensos da Tomarónia, contemporâneas réplicas dos famosos jardins suspensos da Babilónia. Na altura houve quem discordasse, alegando que eram muito bonitos. Lá isso eram! O pior é que os nossos autarcas só gostam de obras novas, vá lá saber-se porquê. Manutenção, conservação, cuidados permanentes, nem parecem saber o que isso é. Fará algum sentido ou dará algum prestígio, expor penicos suspensos com plantas secas, visivelmente por falta de atempada rega? E depois irritam-se quando alguém diz que os autarcas governantes são uma ganda seca?!

Se outros méritos não tivessem, as eleições autárquicas teriam pelo menos o de obrigar o alcaide a apresentar serviço. Neste caso mandando limpar uma parte da margem do rio, o que se aplaude com muito gosto. Pena é que as eleições sejam só de quatro em quatro anos, e que nos intervalos das corridas de cavalos...


O ESBANJAMENTO CONTINUA...


Deve ser sina daquela rua do casco antigo, que já foi da Calça Perra e depois se tornou de Pedro Dias. Alcouce da cidade até finais de 1962, as suas briosas profissionais vestiam de forma vistosa para a época, pois que a isso obrigava a sua função ganha-pão. Mais de quarenta anos volvidos, é agora a rua que querem tornar algo espampanante, instalando um pavimento bastante peculiar.
Bem sei que há múltiplas e variadas opções estéticas, e ainda bem! Outro tanto sucede com as formas de proteger e/ou valorizar o património, e ainda bem! Agora o que de todo não entendo é a escolha deliberada do esbanjamento de dinheiros para descaracterizar uma cidade cheia de história. A que propósito vêm aquelas caríssimas e espessas lages, numa rua humilde mas cheia de estilo, que nunca as teve? Para quê tanta grelha e tantas caixas de visita? Quem conhece e tem mundo, sabe bem que em lado algum se pode observar tamanha proliferação de tampas de toda a espécie no pavimento.
Há poucos meses, de forma corajosa e desinibida, o munícipe arquitecto José Lebre, cujas opções ideológicas estou longe de partilhar por inteiro, criticou asperamente a actual maioria autárquica, designadamente sobre o evidente abastardamento dos pavimentos urbanos da cidade antiga. Apesar disso, continuam os atentados ao bom senso. Apenas decidiram substituir o granito, que não é da zona, pelo calcáreo, que é. Está bem, mas longe de ser suficiente. Porque afinal qual é a intenção real? Uma ofensa à verdadeira pobreza? Um louvor à probreza de espírito? Mostrar dinheiro mal arrumado? Satisfazer tiques de novos-ricos? Caso não seja afinal nada de tudo isto, então porque não deixar as ruas (já não digo esta, para não estragar ainda mais fundos públicos, que tanta falta fazem alhures), como elas eram, com seixos rolados de ambos os lados e uma faixa central em cubos de calcáreo aparelhado? Custa assim tanto a perceber? Ou estamos outra vez com aquela mania do século passado, quando os prédios deixaram de ser caiados ou pintados de branco porque "o branco é a cor dos pobres"?
Cá por mim prefiro sempre um pobre com espírito a um pobre de espírito. E o leitor?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

JOSÉ LEBRE APRESENTA PROJECTO INOVADOR




José Lebre, cabeça de lista do Movimento Tomar em primeiro lugar, convocou a imprensa e alguns amigos para apresentar um projecto inovador, a implantar no mouchão da antiga fábrica de fiação, entre o actual Parque de Campismo e o Açude de Pedra. O citado empreendimento, se alguma vez chegar a ser implementado, englobará o Museu dos Tabuleiros, unidades hoteleiras, restaurantes, zonas verdes, as actuais hortas, um anfiteatro ao ar livre e uma via para bicicletas. Na respectiva memória descritiva e justificativa, pode ler-se, designadamente, que "Tomar vive na sombra do Conveno, olhando para cima, "vendo passar" quem para aí vai. Há muito que o povo de Tomar e o Convento vivem de costas voltadas. O que se passa lá em cima é lá com eles, o que se passa cá em baixo algumas vezes é connosco. Ou seja, nunca a populações de Tomar tiveram voz activa ou capacidade para determinar o que quer que fosse em relação ao Convento. Nunca quem manda lá em cima se preocupou em saber se a relação com a cidade é a relação certa e de interesse comum.
A crise recente em que mergulhámos fez com que nos apercebêssemos que o filão é tangente à cidade. Passa ao lado mas não entra..."
Ainda de acordo com José Lebre, o referido projecto é bastante ambicioso em termos de investimentos iniciais, podendo vir a ser levado à prática por uma entidade pública, por um consórcio misto, ou por privados. Em qualquer dos casos, deverá ser projectado por um arquitecto de renome internacional, tendo sido mencionado o nome de Souto Moura.
Com esta sua ideia, representada em "croquis" na ilustração supra, José Lebre reforça sua posição como elemento de um dos dois grupos de candidatos -o dos realistas, que têm em conta o actual contexto e apresentam propostas a ele adequadas. Há depois o grupo dos tradicionalistas, que no essencial voltam a apresentar as mesmas propostas de há quatro anos, e finalmente uma força política cujas bucólicas, poéticas e sonhadoras ideias são habituais, tanto a nível local como nacional. Cremos que os nossos pacientes leitores não terão qualquer dificuldade em identificar os integrantes de cada categoria. De qualquer modo, falamos naturalmente do estado actual das coisas em termos de compita eleitoral autárquica. Daqui até ao dia 11 muita coisa poderá ainda acontecer...

REGRESSO À TERRA TEMPLÁRIA




António Rebelo
Ora vivam e sejam felizes! Com o incremento da comunicação social electrónica, nas urbes pequenas e humanas como a nossa, cada vez mais a informação, a análise e a crítica, tendem a oscilar entre a partida de ténis e a partida de pénis. Desta nada mais direi, por razões óbvias, ainda que, mais adiante... Em relação àquela, começo por agradecer a amável referência da secção Pelourinho do TEMPLÁRIO, aproveitando para esclarecer, espero que de uma vez por todas, que não fui o Conde do Flecheiro, nem tão pouco sei quem tenha sido.
Durante uma semana deambulando por terras transalpinas, acabo de ler a imprensa local de forma rápida, tendo constatado que nada ocorreu de extraordinário cá no burgo. A não ser aquele assalto, seguido de roubo, ali na Rua Direita. Sinal dos tempos. Houve também a resolução do intrincado problema da Estalagem, de forma satisfatória se o que está noticiado for toda a verdade.
Sobre as terras transalpinas, apenas duas fotografias, por agora. Numa delas pode ver-se que já há tomarenses a treinar-se para endireitar a situação local. Sim, porque quem consegue endireitar a Torre de Pisa, em queda há mais de sete séculos... Na outra, em S. Gimignano, sete mil habitantes, Património da Humanidade, constata-se que já naquela época, entre os séculos XI e XVI, os senhores nobres tinham aquela curiosa mania segundo a qual "a minha é maior que a tua". Estamos a falar de torres, evidentemente. Mas como na altura ainda não se jogava ténis, a informação só podia assemelhar-se a uma partida de pénis. Ganhava quem mandava edificar a torre mais alta...

sábado, 19 de setembro de 2009

DIA 27 CONTRA A CRISE VOTAR ! VOTAR !


António Rebelo

Quando ainda estava convencido de que, com o agravar da crise, os tomarenses começariam a "dar o corpo à curva", prometi aqui mesmo que, no momento oportuno, revelaria o meu sentido de voto. Chegou a altura de cumprir o prometido, embora já esteja persuadido de que a esmagadora maioria dos tomarenses nada vai ligar ao que agora escrevo, pois como habitualmente são especialistas seja de que assunto for. E então em matéria de política, nem vale a pena tecer mais comentários. Vamos portanto ao âmago da questão.
No próximo dia 27, como em qualquer outra eleição, são múltiplas as hipóteses para os cidadãos responsáveis e respeitadores, que não se refugiam na pseudocomodidade da abstenção, na realidade uma forma encapotada de cobardia. Mais uma. Antes de mais, o cidadão eleitor deve ponderar bem o que pretende fazer e escolher uma de duas possibilidades basilares -Escolher ou protestar. Se optar pela escolha, terá depois de começar por caracterizar melhor o que deseja escolher -O seu partido habitual? O partido que na sua opinião vai vencer? O partido que quanto a si apresentou o melhor projecto para o país, que somos todos?
Se, pelo contrário, optou pelo protesto, então terá de escolher entre o voto branco, nulo, ou num dos pequenos partidos que você considere mais agressivos. O voto branco conta como voto para o apuramento das percentagens finais (o que não sucede com as abstenções), mas se desconfia que alguém poderá acrescentar-lhe depois uma cruz onde mais convier, não arrisque; vote nulo, inutilizando o seu boletim como melhor entender (uma cruz a todo o tamanho do papel, uma cruz em cada quadradinho, para ninguém ficar zangado, ou uma frase curta e saborosa à sua escolha). Além do voto branco e do voto nulo, há o voto nos chamados partidos de protesto ou partidos dos extremos.
Com implantação a nível nacional, há três partidos de protesto, dois na extrema esquerda -CDU e Bloco de Esquerda- e um na extrema direira -o CDS.
Tanto a CDU como o BE são excelentes para protestar e para obstar a que o governo, seja ele qual for, cometa demasiados abusos. Não têm, no entanto, qualquer hipótese de vir a formar governo. Nem essa é a sua intenção. Por isso mantêm nos seus programas respectivos, de forma directa ou subentendida, a nacionalização da banca e das principais empresas nacionais. Dado que o país não teria dinheiro para liquidar indemnizações justas, tal acto seria considerado uma confiscação, o que implicaria a nossa expulsão imediata da União Europeia, com a consequente retirada da zona euro e o inevitável regresso ao escudo, para já não falar da fuga de capitais e de pessoas de posses, como sucedeu em 1974/75/76.
É certamente por isso que o PCP -Partido Comunista de Chipre, está no governo daquela ilha há mais de dois anos, mas limita-se a praticar uma política moderada.
Outra hipótese de protesto consiste em votar à direita, no CDS. Paulo Portas é sem sombra de dúvida um homem inteligente, mas as suas constantes referências à segurança, às forças da ordem, às forças armadas e à necesidade de rever as condições de atribuição do Rendimento Mínimo de Inserção, são algo inquietantes para alguns que ainda não esquecram o passado sombrio. Por volta de 1930, um professor universitário ex-seminarista chegou ao governo para manter a ordem, restabelecer a segurança e equilibrar as contas públicas. Disse então a célebre frase "Sei muito bem o que quero e para onde vou." Tinha razão. Só abandonou a cadeira do poder quando esta se partiu, 38 anos mais tarde.
É claro que Paulo Portas nunca faria uma coisa dessas, acho eu. Em todo o caso, o outro andou no seminário e Portas concluiu a sua formação nos jesuítas, em Paris.
Restam-nos os dois grandes candidatos à liderança do próximo governo: o PS e o PSD. Para muitos eleitores, os socialistas cometeram muitos erros e devem por isso ser punidos. Não partilho de tal opinião, pois nunca conheci um governo que não cometesse erros graves e, também, porque quem está no poder tem quase sempre mais experiência do que a oposição. Houve e há a questão dos professores, mas trata-se de um conflito bem mais amplo do que parece e caracterizado por excessiva hipocrisia de parte a parte. Da parte do ministério, porque pretende avaliar os professores com algum rigor, mas não consente que estes façam outro tanto com os alunos. Da parte dos docentes, porque dizem sempre que querem ser avaliados, mas não ousam acrescentar "nas mesmas condições dos nossos alunos", o que significaria uma avaliação praticamente sem grandes consequências. Acontece que o governo não está, nem nunca estará, de acordo com tais pontos de vista, por duas razões fundamentais: 1 - Porque não quer desagradar aos pais e encarregados de educação; 2 - Porque não tem recursos que lhe permitam pagar a todos os professores mais tarde ou mais cedo no topo da carreira, de acordo com o anterior ECD, pelo que terá sempre de haver barreiras à progressão.
Pelas bandas do PSD, ainda não apresentaram qualquer alternativa credível. Têm-se limitado até agora o dizer que, se vierem a formar governo, anulam isto, rasgam aquilo, modificam assim, corrigem assado. Em pouco tempo, a sua presidente falou em suspender a democracia por seis meses, gabou a actuação do bronco Jardim e hostilizou escusadamente os espanhóis. São demasiadas asneiras em tão curto espaço. Para mais, vindas de quem, quando foi ministra da educação, instituiu o exame obrigatório de acesso ao 8º escalão (mais tarde anulado por Guterres) e proibiu os professores de falarem à comunicação social.
Usando uma linguagem de cariz burocrático, finalizo dizendo que, tudo visto e devidamente ponderado, não posso deixar de votar PS, no próximo dia 27. Que cada eleitor saiba assumir as suas responsabilidades, são os meus votos.

Nota final: "Tomar a dianteira" continuará à inteira disposição dos habituais leitores, mas interrompe aqui as suas publicações diárias. Tencionamos recomeçar no dia 27 de Setembro, ao fim da tarde. Muito obrigado pela vossa atenção.

OS COMPLEXOS DO ZÉ POVINHO

Para todos os que têm a amabilidade de nos ler e ficaram agastados por termos passado a impor a identificação (mesmo suposta) e a moderação prévia, a leitura do recorte supra pode ser proveitosa. Ficarão pelo menos a saber que fazem parte de uma camada há muito perfeitamente identificada da sociedade portuguesa, que provavelmente estará na origem de muitas das maleitas que nos afligem. Oxalá consigam entender e daí retirar as respectivas consequências. Porque no dia em que houver uma hipótese razoável de se conseguirem unicamente comentários publicáveis, abandonaremos a moderação prévia.
O excerto reproduzido acima é da autoria de Miguel Sousa Tavares e faz parte da sua crónica semanal, publicada na página 7 do EXPRESSO de hoje. Boa leitura e bom fim de semana!

MAIS DINHEIRO DEITADO À RUA


Agora foi nos Lagares e Moínhos da Ordem, ali na Levada. Mais um cartaz de grandes dimensões, naturalmente pago com o dinheiro dos contribuintes. Desta vez para anunciar seis-obras-seis, no valor de nove milhões de euros. Não é brincadeira nenhuma! E é cá cada obra! Quando todas estiverem prontas, o nível de vida dos tomarenses vai seguramente aumentar, e muito, tais são os retornos que se prevêem.
De todas essas empreitadas, a principal é sem contestação possível a adaptação de todo aquele conjunto de construções, que pertenceram em tempos ao grupo Mendes Godinho, a museus e respectivos serviços de apoio. O já divulgado "museu polinucleado" (ao que consta uma oportuna criação intelectual paivina) será na realidade um conjunto de cinco museus -museu da serralharia, museu da fundição, museu da electricidade, museu da moagem nova e museu da moagem velha. À excepção da velha central eléctrica, que poderá vir a proporcionar algum retorno SE..., os outros serão unicamente sorvedouros de dinheiros públicos.
Contas de papel é lápis levam-nos facilmente a um total de 40/5o novos funcionários para tudo aquilo, muitos deles qualificados. Teremos, por conseguinte, uma despesa mínima mensal de 30 a 40 mil euros, só com o pessoal. Acrescente-se água, electricidade, outros consumíveis correntes, bem como gastos de manutenção (telhados, paredes, portas...) e operacionalização. Digamos uma média de 50 mil euros por mês, o que nos dará 40.000 x 14 = 560.000 + 10.000 x 12 = 120.000, = total anual mínimo de 680 mil euros. Ou seja, 17 euros por ano e por eleitor. Como pelo menos metade não paga impostos, serão mais 34 euros anuais, pelo menos, a cada pagante. Valerá a pena ?
Carlos Carvalheiro, um tomarense virado para a cultura e com larga experiência nessa área, já escreveu que tudo aquilo será mais um elefante branco, um poço sem fundo. Entretanto o senhor vereador Carlos Carrão, que não é vereador da cultura (embora possa vir a ser...) já garantiu que o novo conjunto museológico será o novo tesouro dos templários. Investigações feitas, permitem-nos dizer que só se houver no tal poço sem fundo uma galeria perpendicular que conduza ao ambicionado tesouro. Quando é que, finalmente, os tomarenses resolvem adaptar-se à realidade envolvente ???

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

AS IMPROVISAÇÕES CONTINUAM


O nosso colega www.nabantia.blogspot.com foi o primeiro a levantar a lebre, insurgindo-se muito justamente contra o modo como estão a ser feitas as obras na Rua de Pedro Dias, com total falta de respeito pelos cidadãos, que sejam moradores ou não. Esta manhã a situação não tinha melhorado nada. Pelo contrário. Em dia de mercado, a entrada poente na já citada rua era a que as fotografias documentam. Muito prática. Sobretudo para pessoas de idade, ou com dificuldades de locomoção, como é o caso de vários residentes naquela artéria.
"Tomar a dianteira" chegou à fala com os trabalhadores, porque houve necessidade de indicar, outra vez, a localização das condutas de esgoto e da água. Ficou-se assim a saber que o patrão não deu quaisquer instruções sobre o modo de executar o trabalho, nem sobre a necessidade de ir deixando sempre uma passagem livre e fácil para as pessoas. Também ficou claro qure o empreiteiro anterior não deixou nenhuma representação gráfica que permita situar os diversos terminais (água, telefone, esgotos domésticos, esgotos pluviais). Ou se deixou, a mesma não foi entregue aos trabalhadores actuais. À hora da nossa conversa, os dois trabalhadores presentes andavam nitidamente "a encanar a perna à rã", enquanto aguardavam a chegada "dos gajos da câmara, para porem não sei bem o quê".
Mais pela tarde, o monte de serrisca, que se vê nas fotografias, foi espalhado na rua e uma reclamação do Restaurante Calça Perra foi atendida. Sinalizaram devidamente o trajecto entre a Rua da Graça e o restaurante, e cobriram o chão com brita, para não sujar tanto o calçado. Os vários moradores logo a seguir ao restaurante é que ficaram a chuchar no dedo. Ninguém os mandou ficar calados, que isto agora, quem não chora não mama. E quem não se sente, não é filho de boa gente.
Contactada posteriormente a anterior sociedade de construções, apenas se obteve um enigmático "trabalhar para aquecer, mais vale morrer com frio; faz-se obra e depois nunca mais se recebe; assim não dá."
Perante tais factos, tudo indica que a autarquia terá perdido alguma credibilidade junto dos empresários da zona, seja por não pagar a tempo e a horas, seja por apresentar projectos deficientes, seja ainda por não fornecer um adequado caderno de normas a cumprir, designadamente no que concerne às relações entre os trabalhadores e os cidadãos prejudicados.
Não se tratará portanto de erros deliberados. Apenas a continuação do improviso permanente como método de actuação. Triste sina, Severina !

APENAS MAIS UM CASO DE DESPREZO PELOS CIDADÃOS


António Rebelo

Recebi do meu querido amigo Fernando de Oliveira, a quem daqui envio um caloroso abraço, os dois documentos acima reproduzidos, que publico com todo o gosto e sem qualquer hesitação, tal como publicaria se fossem de alguém menos conhecido.
Para os mais novos e os mais distraídos, parece-me útil esclarecer que Fernando de Oliveira tem uma longa história de trabalho político em prol da liberdade, muito dele clandestino e anterior ao 25 de Abril, quando era extremamente difícil e perigoso ousar agir fora do rebanho, apontando na direcção oposta. Posteriormente foi um quadro regional importante do PCP, deputado municipal e, já no século XXI, co-fundador dos Independentes por Tomar, que veio a abandonar por motivo de doença prolongada.
Causa por isso uma profunda tristeza constatar que alguns daqueles que estiveram na mesma luta de Fernando de Oliveira, bem como outros que agora ocupam as cadeiras do poder graças à acção corajosa dele e de muitos outros cidadãos dedicados à causa pública, não tenham sequer tempo, vontade ou coragem para cumprir com decência as obrigações inerentes às funções para as quais foram eleitos. Junto portanto o meu veemente protesto ao de Fernando de Oliveira e concluo com um grito bem do fundo do coração -É UMA VERGONHA !!!
Quanto à imprensa local, acrescento apenas que não me surpreende a conduta dos seus dirigentes e profissionais. A vida é cada vez mais dura e todos temos necessidade de ganhar o nosso pão de todos os dias. Há, todavia, indignidades que deixam marcas para o resto da vida, daquelas que não se vêem, mas são as mais perigosas.

TURISMO E PATRIMÓNIO MUNDIAL EM FRANÇA

Ao fundo a Abadia do Monte S.Miguel, Património da Humanidade. No primeiro plano o dique/estrada mencionado na reportagem. À direita apercebem-se os automóveis estacionados num dos parques igualmente referidos na reportagem. A fotografia é de 1982.

Na parte de cima a Abadia antes referida (a mais de 2 quilómetros). No primeiro plano, uma das oito comportas em aço inoxidavel, geridas por um programa informático e encimadas por um passeio forrado a madeira (tipo deck paivino), para os turistas poderem admirar o panorama.

Nota prévia: A reportagem seguinte foi extraída do conceituado jornal LE MONDE, página 4 da edição datada de 17/09/09. É um texto bastante complexo, destinado sobretudo aos técnicos, aos eleitos e aos cidadãos em geral, habituados a reflectir e a planear em consequência, com gosto por essas actividades laboriosas. Os que não precisam de aprender, porque já sabem tudo desde há muito tempo, os que embirram com o LEMONDE e os que estão convencidos de que improvisando é muito mais fácil e vai praticamente dar ao mesmo, não devem perder tempo com a "minhoquice" que se segue.


O AÇUDE ELECTRÓNICO DO MONTE S. MIGUEL COMEÇA FINALMENTE A FUNCIONAR


"Reportagem -Monte S. Miguel - Província da Mancha - Costa norte da França - Maré baixa junto ao Monte S. Miguel. No longo areal, os visitantes fazem gincana entre as numerosas poças de água. Mas para quem o contempla a partir do fundo da baía, o célebre rochedo emerge acima de...um imenso tapete de vegetação rasteira. Por pouco tempo mais. "O restabelecimento do carácter marítimo do Monte S. Miguel já começou!", exclamou com alegria Laurent Beauvais, presidente (PS) da Região de Baixa Normandia et da Entidade Mista (Estado, Região, Província, autarquias, hoteleiros e similares, agentes de viagens, transportistas, guias,ambientalistas) Baía do Monte S. Miguel.
Esta entidade lidera uma operação fora do comum, que engloba a reconstituição de um ambiente natural que já existiu e a regulação turística de um local classificado Património Mundial da Humanidade. No Couesnon, o pachorrento rio que desagua na baía, o açude-ponte construído para dar força à corrente, de forma a arrastar para bem longe todos os sedimentos acumulados ao longo dos anos à volta do rochedo, termina a sua fase de ensaios. Primeira etapa da recolocação na água do célebre monumento, a entrada em serviço do açude está para breve. A cada nova maré enchente, os vários técnicos vão tentando aperfeiçoar o sistema de controle das oito comportas, cheias de sensores electrónicos.
Soou a hora! Sem qualquer ruído, uma espectacular maquinaria de varões e rodas dentadas começa a mover-se, para abrir as comportas em aço inoxidável. Perante o olhar intrigado de meia dúzia de mirones, a água retida no leito do Couesnon desde a maré alta corre a grande velocidade para a baía, leva os sedimentos, arrasta partes das margens cobertas de vegetação herbácea. E transporta para o largo os sucessivos aluviões que nem a maré vazante nem o calmo rio Couesnon tinham força para deslocar. Uma espécie de autoclismo, para usar linguagem simples..
Quinhentas vezes por ano, um milhão de metros cúbicos de água serão assim despejados na baía em poucas horas. Objectivo: provocar o desaparecimento de 4o hectares de vegetação rasteira, que transformaram ao longo dos anos este ecosistema originariamente marítimo, numa paisagem terrestre. E impedir a fixação de novos aluviões, pois 700.000 metros cúbicos de sedimentos entram na baía em cada ano que passa, ameaçando, se nada for feito entretanto, ligar definitivamente o Monte S. Miguel ao continente nos próximos 30 anos.
"Funciona que é uma verdadeira maravilha. Aquando das primeiras descargas viam-se os sedimentos a cair das margens em blocos consideráveis", sorri François-Xavier de Beaulaincourt, o director da Entidade Mista. O rio Couesnon serpenteia actualmente entre margens aluvionais de 4 metros de espessura. Se tudo acontecer como previsto, dentro de cinco anos teremos um horizonte de areia e de mar até ao afamado rochedo.
Essa é, aliás, a segunda função deste açude de linhas muito sóbrias, cujos pilares de betão, alinhados como uma sucessão de postes, são encimados por um largo passeio/varandim, naturalmente aberto ao público."Um dos grandes desafios era não reduzir a obra à sua função meramente técnica. Conseguimos. Temos um lugar de compreensão da paisagem; uma máquina para revelar o Monte", explicou-nos o arquitecto autor do projecto, Luc Weizmann.
Principal obra para restaurar o meio marítimo, o açude-ponte é, todavia, apenas o princípio do programa adoptado em 2006, após dez anos de concertação regional. O programa prevê 200 milhões de euros de investimentos até 2015, bem como a demolição da maior parte das construções existentes ao redor de um sítio que recebe três milhões de visitantes por ano, todos com visitas guiadas asseguradas.
"Todas as baías do mundo se enchem pouco a pouco de aluviões. Trata-se de um fenómeno natural. Não queremos ir contra a natureza, mas apenas desfazer as construções humanas que aceleraram o processo aluvionar", disse-nos o director da Entidade Mista.
Fora com o dique/estrada, feito no século XIX e que bloqueia as correntes e as marés. Adeus aos 15 hectares de parques de estacionamento pago, à volta das muralhas do rochedo. Será construído um passeio sobre pilares, só para peões, um vai-vem eléctrico e veículos de socorro urgente, o qual ligará o rochedo aos novos parques de estacionamento da zona de recepção aos visitantes, situada a 2,5 quilómetros do monumento.
Livre dos aluviões, o monumento estará inteiramente rodeado pelo mar cento e cinquenta dias por ano, em vez dos actuais cinquenta dias. Assim se poderá apreciar a magia insular, na maré alta, e a beleza do imenso areal, na maré baixa.
Este retorno ao mar, Audrey Hémon observa-o atentamente, na qualidade de responsável pelo ambiente na Entidade Mista da Baía. É a ela que compete certificar-se que a fauna marítima, terrestre ou anfíbia não virá a ser prejudicada, designadamente a passagem dos peixes através do açude-ponte. Ou que as focas e aves não decidiram migrar para paragens com menos mudanças bruscas.
"Efectuámos um levantamento exaustivo da fauna e da flora antes do iníco das obras", declarou-nos Audrey, que prosseguiu: "A deslocação dos limites entre a terra e o mar, água doce e água salgada, vai obrigar as espécies a adaptar-se às novas condições." Mas em caso algum se consentirá que as mudanças provocadas em nome do restabelecimento de paisagens naturais, possam vir a destruir os frágeis ecosistemas da baía."
Grégoire Allix - Le Monde


Nota final: Como se acabou de descrever, tudo muito simples, muito rápido e bastante barato. Assim às três pancadas, com muito improviso à mistura. Tal como em Portugal, em suma. Basta pensar que em Tomar, vão construir novos parques de estacionamento junto ao Convento e melhorar o existente, em vez de acabarem com a circulação automóvel na estrada de acesso, construída no século XIX. Feitios, diria o Solnado, que a sabia toda.

Foto a cores, nota prévia, tradução, adaptação e nota final de António Rebelo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL





Redacção de Tomar a dianteira
Colaboração PAPELARIA CLIPNETO
Esta semana temos muito gosto em abrir com "CIDADE DE TOMAR", uma edição rica em motivos de grande interesse. Logo na primeira página, dois títulos merecem atenção -"Multas por estacionamento no Agroal atingiram cerca de 150 veraneantes" e "Casa Vieira Guimarães registou 900 visitantes no mês de Julho".
No caso do Agroal, está-se mesmo a ver a lógica da questão. Com todas aquelas obras e com os impostos a diminuir, por causa da crise, se não for com as multas, onde é que o estado vai buscar dinheiro para mais obras públicas ? Já sobre os visitantes da Casa Vieira Guimarães, o assunto é mais complicado. À primeira vista deve querer dizer que ficaria ali bem bem um posto de atendimento turístico. Mas como já há um mesmo em frente... Outro ponto de vista consiste em interrogar-se acerca da relação existente entre a Vieira Guimarães e o Museu de Arte Moderna, que não fica longe. É que se a referida casa recebeu 900 visitantes, apesar de não ter nada digno de uma visita turística, aquele museu teve no mesmo período 940 entradas nas suas exposições e eventos. Surge a pergunta inevitável -Foi a Casa Vieira Guimarães que teve bastantes visitantes? Ou Museu de Arte Moderna que teve poucos? Obtida a resposta, é só comparar as despesas respectivas e tomar as decisões mais convenientes.
Além destes dois assuntos, o semanário dirigido por António Madureira inclui nesta edição bastante propaganda política, uma entrevista a Graça Costa, dos IpT, e outra a Luis Ferreira, do PS, bem como, sobretudo, duas peças subscritas pelo jornalista António Freitas. Na página 30, as já habituais "Conversas ajardinadas", desta feita com acidez quanto baste. Na página 12, uma opinião em forma de pequena reportagem, intitulada "Algumas diferenças entre a Câmara de Tomar e a de Ferreira do Zêzere". Trata-se tão só de um dos melhores textos (em termos de conteúdo e de coragem, que não de forma) lidos na imprensa local e regional nos últimos anos. Com muitos factos e pouca adjectivação, António Freitas descreve cabalmente um dos aspectos do cancro camarário tomarense: o cambalacho crónico como forma de actuação de alguns funcionários da autarquia. Diz o citado jornalista: "Falta de controle, programação é o que se sente e, depois uma grande empatia, ar de frete e penduranço para almoços pagos pelas juntas e horas extra. Tornou-se prática e não há volta a dar. Mudam-se os políticos, que elegemos para gerir, mas os "livros velhos" passam de mão em mão e é o deixa andar."
O que isto quer dizer, caro leitor, é que desde há anos e anos que a autarquia tomarense se encontra na realidade ao Deus dará. Criaram-se hábitos de cambalacho crónico com alguns contornos mafiosos, que podem configurar casos de extorsão, abuso de autoridade, peculato de uso, fuga ao fisco e assim sucessivamente. Tudo por falta de coragem política e de pulso forte perante determinados núcleos de pessoal que estão há anos em autogestão, no sentido pejorativo do termo, sem que haja quem ponha cobro a tal situação vergonhosa. O melhor, porém, será o leitor comprar o semanário e ler as duas referidas peças com atenção. Garantimos que não vai dar por mal empregue o seu tempo de leitura.
No Mirante desta semana, pouco ou nada de relevante em termos políticos, para a cidade ou para o concelho. Apenas noticiam coisas correntes, do tipo "Incêndio destrói apartamento e mata idosa", ou "Câmara de Tomar dá subsídios de estudo a alunos do primeiro ciclo". Igualmente o "Primeiro plano", na página 3, dedicado a Santa Cita, com foto e o título "Voltar a vestir a bata 40 anos mais tarde".
Concluímos com O TEMPLÁRIO, que noticia o incêndio, o caso Platex, a Cerâmica da Portela a saque, as apresentações de candidaturas, uma crónica de Sérgio Martins, identificado como Manuel Traquina, as percentagens de colocação de alunos no IPT (baixas, como já era esperado), várias fotografias da procissão de Santa Cita, a interessante secção Pelourinho e o habitual suplemento desportivo, agora com 6 páginas, em vez das antigas 8. A crise bate a todas as portas...

FOI HÁ VINTE ANOS...

Foto NouvelObs


Foi há exactamente 20 anos, na segunda quinzena de Setembro. Alemães de Leste conseguiram passar para a Hungria e daí para a Áustria. Dias depois já se passava livremente pelo Check point Charlie. Assim acabou um tenebroso pesadelo chamado Muro de Berlim. Um horror que em nome do auto-designado socialismo real dividiu bruscamente um país em dois, uma cidade em duas, ruas, rio, metropolitano, prédios, famílias.
Não estava lá nessa altura, mas atravessei o Check-point Charlie, (ponto de passagem e de controle entre a chamada zona aliada e o zona soviética), várias vezes, entre 1967 e 1970. Fiquei marcado até hoje. Foi há vinte anos. Parece que foi há uma eternidade, pois tudo mudou entretanto. Mas continuam nos cemitérios as centenas e centenas de alemães que foram abatidos quando tentavam chegar ao muro e galgá-lo, para chegar à Alemanha Ocidental. Foi há 20 anos e não consigo esquecer...

OS JAVARDOS DE SERVIÇO...

Tem sido um descanso. Estabelecida a necessária identificação prévia de cada comentador e accionada a moderação de comentários, os habituais javardos de serviço revelaram, mais uma vez, a sua real coragem, indo obrar para outras paragens, se as houver. Já se esperava que assim fosse, mas será certamente útil assinalar a confirmação.
Entretanto, houve amáveis correspondentes que não concordaram com o motivo invocado. Estão no seu pleno direito. Tal como nós estamos no nosso. Afinal é na aceitação imediata das opiniões contrárias que se demonstra a nossa tolerância. Acresce que o pretexto avançado não foi o único detonador da decisão. Existiram na verdade vários outros, entre os quais avultaram as ofensas gratuitas e boçais, as calúnias, os ataques despropositados à vida privada das pessoas. E sobretudo a péssima qualidade de tudo aquilo, tanto no fundo como na forma ou no tempo. Ao longo dos meses foi-se procurando, debalde, alguma coisa de útil, de interessante, com qualidade, com oportunidade. Para quê então continuar à mercê dos broncos? Por simples masoquismo? Para alardear uma extrema mas nefasta tolerância? Um comentarista chegou até a escrever que demos um tiro no pé. Como assim? "Tomar a dianteira" continua à inteira disposição de todos os internautas de boa vontade. Só dos internharros é que não.
Remetidos os labregos ao merecido silêncio, para que possam fazer os respectivos exames de consciência (se souberem realmente o que isso possa ser...), é agora tempo de meditar sobre a ou as forças políticas que nitidamente procuraram apoiar. Não por uma questão de rancor, represália ou vingança; apenas para, na altura própria, lembrar duas questões. A primeira é que "quem não se sente, não é filho de boa gente", pelo que aqueles que nunca recusaram ou denunciaram energicamente tais práticas e tais apoios, não merecem certamente o voto dos tomarenses honestos e respeitadores. A segunda tem igualmente a ver com os próprios candidatos. Todos aqueles que já exerceram funções no executivo camarário, mas ainda não reconheceram publicamente que cometeram muitos erros, uns involuntariamente, outros de propósito, visando servir determinados interesses menos legítimos, tão pouco merecem os nossos votos. Afinal, tudo aponta no sentido de que procuram apenas uma oportunidade para nos voltarem a enganar. Não é certamente por acaso que tanto a igreja como a justiça, ambas com muitos séculos de experiência, têm sempre em grande conta o arrependimento, como condição prévia fundamental para evitar a reincidência...
Dizia o grande e saudoso actor italiano Vitório de Sica que a Igreja manda perdoar aos nossos inimigos como se fossem nossos amigos, se calhar por saber que geralmente são os mesmos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

REALIDADE E PROGRAMAS ELEITORAIS

Como é natural, iniciada a campanha para as legislativas, a preparação das autárquicas passou para segundo plano, pelo menos em termos de comunicação social nacional. Convirá por isso tentar perceber em que ponto estamos, aqui pelas bandas do Nabão. Das sete forças políticas concorrentes, seis já apresentaram cada uma o seu programa eleitoral, no todo ou em parte. Falta portanto uma, exactamente a que neste momento ocupa o poder local, que já nas eleições anteriores se "esqueceu" de apresentar um programa consistente, contentando-se com frases bonitas e um candidato que, segundo as eleitoras, também não é nada de deitar fora. Está tudo dito e entendido.
Lidos com vagar e atenção todos os programas, ou excertos programáticos, já trazidos ao conhecimento dos eleitores, manda a verdade dizer que nenhum deles nos parece susceptível, no seu estado de elaboração actual, de poder vir a ser base de trabalho suficiente para começar a resolver a crise local. O que não significa de modo algum que sejam inúteis. Pelo contrário. Há em cada um deles, na nossa modesta opinião, material bastante útil para eventual uso futuro. Algum desse material possui até uma característica que não tem sido nada comum em programas eleitorais anteriores. Geralmente, todas as forças têm tendência para prometer as mesmas farturas, as mesmas maravilhas, as mesmas facilidades. Apenas se esquecem sempre de indicar como pensam financiar tudo isso.
Desta vez, porém, talvez por causa do acentuar da crise local, ou devido ao sensível aumento da contestação à actual maioria autárquica, parece haver muito mais realismo, pelo menos no estado actual das coisas. Acontece até, ignoramos se por mero acaso, se deliberadamente, que em vez de proporem todos as mesmas coisas, os agrupamentos concorrentes desta vez esmeraram-se. A maioria das propostas que lemos são não só diferentes, como até complementares e compatíveis nalguns aspectos.O mesmo é dizer que, no nosso entendimento, apontam na direcção correcta, conquanto estejam longe de constituir, por si sós, um adequado documento operacional, entendendo-se neste caso por operacional as instruções completas, não só para ler mas, sobretudo, para fazer.
Nesta altura do campeonato, não seria correcto da nossa parte divulgar tais propostas, pois isso iria quebrar a nossa propositada neutralidade, e provocaria a imediata cópia por todos os outros concorrentes. Assim sendo, que os eleitores tomarenses sosseguem um pouco. Há boas propostas em quase todas as listas, sendo que essas propostas, articuladas umas com as outras e adequadamente completadas, poderão vir a colocar-nos novamente na rampa do progresso. Cuidado porém! Nunca as coisas mudaram tão rapidamente à nossa volta, pelo que aquilo que agora é adequado, amanhã, dentro de uma semana, ou no próximo mês, poderá já estar irremediavelmente ultrapassado. Quer queiramos ou não, temos de aceitar que o tempo dos projectos com princípio, meio e fim, seguidos do tradicional repouso à sombra dos louros conquistados, esse tempo já foi. Agora é a evolução cada vez mais rápida e a forçada adaptação à realidade envolvente, numa constante caminhada rumo ao futuro. Sem escolha possível. Ou nos adaptamos constantemente, aperfeiçoando o que ainda for aperfeiçoável e abandonando o obsoleto, ou ficamos irremediavelmente para trás. Dado que o comboio do progresso nunca passa duas vezes na mesma estação, se nele não conseguirmos lugar quando passar, depois será o cabo dos trabalhos até que passe o próximo. E será, de qualquer modo, conveniente perceber quanto antes que a realidade envolvente nunca vai mudar de acordo com aquilo que nos convém. Nós é que temos de nos adaptar à realidade. E quanto mais tarde isso acontecer, pior!

FOTOGRAFIAS, ÉPOCAS E PESSOAS

Antes de mais, caro leitor, veja se consegue identificar esta obra de arte, elaborada com o seu (e o nosso) dinheiro. Apenas acrescentamos que se trata dos bicos de repuxo mais caros do centro do País.

Sem qualquer relação com a anterior, até porque os canos visíveis são outros, estes três homens armados figuram aqui numa fotografia tirada em 1959. Veja lá se consegue identificá-los. Numa terra como a nossa, onde todos sabem de tudo e nunca se enganam, julgamos que não deve ser tarefa difícil. Ou será?
Ao primeiro leitor que conseguir identificar correctamente a obra de arte e os três homens armados, oferecemos o livro de 250 páginas "Mudar de vida - Propostas para um País mais ético, justo e competitivo" de Luis Marques Mendes. Esse mesmo! O ex-presidente do PSD. E esta hein ?!
No próximo sábado publicaremos a solução, caso não haja vencedor antes.

PARA LER COM A URGÊNCIA POSSÍVEL

Quando já sabia que em breve ia partir para a viagem sem regresso que a todos nos aguarda, o ilustre pensador Eduardo Prado Coelho resolveu deixar-nos uma série de textos jornalísticos, assim em jeito de testamento político. "Precisa-se de matéria-prima para construir um País" faz parte dessa série. Vale a pena lê-lo quanto antes, sobretudo para aqueles que agora dispõem de mais tempo, por já não poderem vir despejar esterco cerebral aqui em "Tomar a dianteira". A peça escrita por Eduardo Prado Coelho pode ser lida em www.vamosporaqui.blogspot.com É o blogue do Luís Ferreira, mas não morde nem é contagioso. E de qualquer maneira está devidamente vacinado.

DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E ILUSÕES - 3

O actual inquilino de Belém declarou uma vez (e causou espanto) "Nunca me engano e raramente tenho dúvidas". Os tomarenses, tanto os de nascimento como os do coração, conseguem ainda melhor -Nunca se enganam e nunca têm dúvidas. Este texto é, portanto, apenas para aqueles que cá vivem há pouco tempo. Os outros sabem de tudo, da física nuclear à pintura japonesa, passando pela história da Papuásia.
No próximo dia 27, a sua palavra de ordem matinal deverá ser, caso seja um cidadão exemplar, "contra os calões, votar, votar!" Por isso, uma vez despachado das questões de higiene e de alimentação, comece por certificar-se de que leva consigo o bilhete de identidade e o cartão de eleitor. Sem eles, nada feito. Dirija-se ao local de voto e, se for uma freguesia com mais de 1000 eleitores inscritos, verifique nos editais qual a mesa em que deve votar, de acordo com o número do seu cartão de eleitor.
Apresente-se perante o presidente da mesa (é geralmente o que está por detrás da urna preta de voto) e entregue-lhe o BI e o cartão de eleitor. Vai ouvir o secretário da mesa dizer o seu número de eleitor e o seu nome. Imediatamente, o presidente da mesa dar-lhe-á um boletim de voto. Aceite-o e dirija-se para a cabine de voto (aquela espécie de biombo, próxima da mesa eleitoral) lá encontrará uma esferográfica (atada com uma guita, por causa das tentações)...e a sua consciência. No boletim de voto tem uma lista de partidos políticos. À frente de cada um deles está o respectivo emblema. Um pouco mais para a sua direita está um quadrado pequeno. É aí que terá de fazer uma cruz, se assim o entender.
A sós com a sua consciência e o boletim de voto, tem três possibilidades: 1 - A mais frequente, que consiste em colocar uma cruz no quadrado respectivo (à frente do emblema que escolheu) e do mesmo tamanho deste; 2 -Acha que é tudo uma malandragem e que embora boas pessoas, são todos iguais. Só querem é tacho. Se pensa assim, não escreva nada no boletim. 3 - Pensa realmente o que está em 2, mas não vai em cantigas de embalar. Está convencido de que se deixar o boletim em branco, "eles" aproveitam para fazer uma cruz no partido deles. Neste caso, inutilize o boletim, com uma cruz a todo o tamanho, uma frase alusiva (por exemplo "Vão mas é à missa) ou, para ficar de bem com todos, uma cruz à frente de cada emblema.
Depois de qualquer destas hipóteses, dobre o impresso em quatro e entregue-o na mesa. Cumpriu o seu dever de cidadania e ninguém ficará a saber qual a sua escolha. A não ser que resolva dizê-lo. Pelo contrário, no caso de não ter lá ido, ficava-se a saber que é um calaceirão, que não está para chatices, mesmo quando está em causa o futuro da sua comunidade.
Já instalado em frente ao televisor, ouvirá certamente os resultados. Se escolheu um partido e fez a cruz do tamanho do quadradinho, o seu voto estará entre os válidos; se apenas dobrou o papel em quatro, foi contado nos votos brancos; se, enfim, escreveu a tal frase, fez a cruz de todo o tamanho ou uma cruz para cada emblema, o seu voto está incluído nos nulos. Válidos, brancos ou nulos, todos os votos contam para estabelecer as percentagens finais, o que não acontece com a abstenção, que apenas conta para estabelecer a respectiva percentagem.
Boa sorte e coragem! Isto não vai nada bem, mas quando mal nunca pior!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E ILUSÕES - 2

Vimos anteriormente, em "Democracia, eleições e ilusões", que abster-se de votar é realmente uma atitude confortável mas condenável, uma vez que pode conduzir a resultados inesperados, pois as percentagens são calculadas em relação aos boletins de voto entrados nas urnas, e não ao total de eleitores.
Os portugueses com capacidade eleitoral que geralmente se abstêm, alegam desinteresse, incompreensão, inutilidade, e por aí adiante. Qualquer que seja a sua situação, leitora ou leitor, saiba que não é o único nesse caso, nem lá perto. Em recente artigo de opinião, o Prof. João César das Neves referia que os portugueses "Nas eleições menores, votam com o coração. Europeias e referendos é onde as razões ideológicas e de simpatia prevalecem e a abstenção e pequenos partidos sobem, porque o jogo é a feijões." Foi o que ocorreu recentemente, como já foi dito, mas de acordo com o mesmo analista "Não é provável que isto aconteça nas legislativas, onde a escolha é a sério. Aí todos se deixam de análises e doutrinas e votam com o bolso. É a isto que se chama "voto útil", escolhendo não quem governa melhor ou defende a ideologia preferida, mas o que menos estragos fará ao interesse particular. Por isso é que desta vez as coisas estão tão tensas e incertas: os eleitores acham que qualquer dos governos plausíveis fará bastante estrago."
Como se tal clima social pouco habitual não bastasse, a seguir virão as autárquicas, quaisquer que sejam os resultados das legislativas. César das Neves é peremptório: "Para além destes métodos de voto [com a cabeça, com o nariz, com o coração ou com o bolso], só existe mais um. Nas autárquicas fora dos grandes centros, as pessoas não votam com o nariz, a cabeça, o coração ou o bolso, mas com as tripas. Aí as lutas são renhidas e as paixões intensas, pois todos se conhecem e amam ou odeiam com ardor. Por isso é que as autárquicas são as únicas eleições a sério em Portugal, em que a verdadeira democracia ainda tem hipóteses." (Voto de tripas e coração, João César das Neves, naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt )
Agora só falta o ilustre professor universiário descobrir que aqui nas margens nabantinas há sete candidaturas em liça. E ainda está você, cara leitora, caro leitor, a pensar abster-se?! Vá mas é preparando a cabeça, o bolso, o coração, o nariz e as tripas e faça-se ao encapelado oceano eleitoral português, sem hesitações e sem medo. Afinal até já fomos um povo de grandes navegadores. (Onde isso já vai!)

PARA ALGUMA INTELIGÊNCIA LOCAL...

Para alguma inteligência local, que tem demonstrado ter uma tendência mórbida para confundir toalhas com panos de cozinha, e pensar que as andorinhas andam de avião quando ouvem dizer que voam, aqui fica esta reprodução parcial da página 10 do 24 Horas de hoje. Agora se calhar vão desculpar-se, alegando que o 24 Horas é pró-socialista...

DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E ILUSÕES

Foto El País
São de enorme importância as eleições que aí vêm, não só por causa da crise em que estamos mergulhados, mas igualmente para acabar com determinadas ilusões.
Se o leitor reparar com alguma atenção na fotografia supra, há grandes hipóteses de vir a reconhecer sem esforço os rapazes que nela figuram. São os célebres 4 de Liverpool, progenitores da melhor música moderna. Como pode ver, inicialmente eram adolescentes como quaisquer outros. Nem sequer usavam ainda os célebres cabelos compridos. Foi a fama mundial adquirida que os transformou e os levou à progressiva desagregação, seguida de separação definitiva.
Ocorre sensivelmente a mesma coisa com a democracia. Ao princípio "governo do povo pelo povo", tem vindo a degenerar (ou a aperfeiçoar-se, dirão os que dela vivem) até se transformar naquilo que temos hoje. Como se verificou na prática que não é possível "o povo" governar-se a si próprio, apareceu a necessidade de escolher delegados-representantes, os quais por sua vez escolhem quem governe e participam nesse governo.
No caso português, a própria escolha dos delegados-representantes está viciada, uma vez que os eleitores apenas são chamados a seleccionar uma lista de nomes que, na maior parte dos casos, nem conhecem, e que foram previamente indicados por um aparelho partidário ou por um grupo restrito de cidadãos. Não há, portanto, entre nós eleições primárias, nem eleições uninomimais, o que tende a desmotivar os eleitores, uma vez que antes de serem chamados a escolher já houve escolhas bem menos participadas, ou claras e justas.
Ainda assim, é uma obrigação importantíssima cumprir o dever de votar, apesar das evidentes imperfeições do sistema. Abster-se é o mesmo que estar-se nas tintas, acobardar-se, ser desleal para com os seus concidadãos. E resulta quase sempre em situações pouco conformes com a realidade, tal como ela é na verdade. Na actual campanha eleitoral há forças de extrema-esquerda, lideradas por pessoas aparentemente de elevado gabarito intelectual, as quais apesar disso (?) não hesitam em tentar ludibriar os eleitores, acenando-lhes com cenários à primeira vista sedutores, mas mortíferos se levados à prática.
A situação é, actualmente, esta: somos o único país da Europa onde, no mais recente escrutínio livre realizado, os dois partidos da extrema-esquerda obtiveram 25% de votos, o que corresponde a um em cada quatro. Lá fora, primeiro houve alguma surpresa e subsequente alarme. Porém, feitas as contas, tudo visto e ponderado, concluíram que era apenas uma ilusão de percentagens. Cá dentro, foi e continua a ser diferente. Os dirigentes de pelo menos uma dessas forças, entusiasmados em excesso com o inesperado resultado alcançado, começaram a "construir castelos em Espanha", mesmo antes de terem conquistado o país vizinho. Um deles afirma até convictamente, na televisão e nos comícios, que o seu partido está pronto a assumir responsabilidades governamentais. Só?! E todavia...
E todavia, o que aconteceu é bastante diferente, como se passa a tentar explicar. Em virtude do crescente desinteresse pela política, provocado por diversos factores, entre os quais está a crise, a cada vez maior complexidade do mundo, a importância do futebol e a manifesta falta de educação cívica, a que convém adicionar a gritante ignorância em relação aos assuntos europeus, muitos eleitores inscritos pensaram ser mais confortável, fácil, ou prático, não exercerem o seu direito de voto na Europeias. Para facilitar as coisas, digamos que andaram à roda de metade = 50%. Daqui resultou a tal ilusão das percentagens.
Geralmente muito mais motivados, até porque se trata de votos de protesto, de vingança e de inveja, e os deixados por conta da sociedade adoram essas atitudes, contados os votos, a referida extrema-esquerda obteve um em cada quatro. Contudo, se em vez de ter havido 50% de abstenções, a participação eleitoral tivesse sido igual a 100%, os mesmos resultados corresponderiam apenas a 12,5%, o que seria bem diferente e não teria provocado tantas afigurações. Mas não foi assim, dirá o leitor inflamado. Pois não; mas mostra bem que quando os eleitores resolvem não exercer o seu direito, depois também não têm qualquer autoridade ética para criticar, ou sequer estranhar, eventuais percentagens estrambóticas conseguidas por partidos situados nas margens do sistema. É só para prevenir, dado que eleitor prevenido...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ESCLARECIMENTO

Éramos o único blogue tomarense de acesso totalmente livre para qualquer internauta. A partir de hoje deixa de ser assim. Só aceitaremos comentários devidamente identificados, os quais só serão visíveis após leitura. Regredimos assim 35 anos, mas a isso fomos forçados. Interbroncos, micro-aprendizes de Maquiavel, aspirantes a caciquelhos e respectivos homens de mão, desde o início que tentavam transformar este espaço, em mictório, ejaculatório, vomitório ou defecatório, consoante os dias e as horas. A técnica é conhecida -de cada vez que alguém retira um esqueleto do armário, o melhor é arranjar imediatamente uma manobra de diversão. No caso presente, maioria e oposição, coligados de facto desde há vários anos, em vez de nos esclarecerem sobre a dívida real da câmara, a situação da estalagem e do Convento de Santa Iria, ou a terceira fase do Polis, entre vários outros assuntos, têm providenciado no sentido de atacar quem escreve, e mesmo tudo o que mexe. Até que esta tarde caiu a gota que fez transbordar o copo.
Quando aqui se esclareceu que Manuel Alegre aceitara fazer campanha ao lado de Sócrates, desde que tal lhe seja pedido, alguém que de homo sapiens só parece ter a designação genérica, foi lesto no comentário -"É um Alegre vira-casacas". Chamar uma coisa dessas a um homem com mais de 45 anos de actividade política em prol da liberdade, fundador e militante do PS deste então, só porque aceitou fazer campanha ao lado do actual secretário-geral do partido, é algo que só pode ofender os tomarenses inteligentes e que está muito para além da nossa modesta capacidade de entendimento e de tolerância.
Mais grave ainda: Os tais interbroncos, micro-aprendizes, aspirantes a caciquelhos e respectivos homens de mão, entre os quais sabemos que há vários candidatos, além de já terem provocado o desaparecimento do "Condado do Flecheiro", e motivado a moderação de comentários em todos os outros, incluindo o do TEMPLÁRIO, desde há pouco tempo, ainda tiveram a distinta lata de afirmar que, aqui em "Tomar a dianteira" nos considerávamos superiores aos outros mortais. Pois muito bem, senhores da sombra e do escuro. Agora identifiquem-se e vamos lá então debater de igual para igual, cara-a-cara, ideia contra ideia. Estão realmente interessados, ou o vosso edifício intelectual não é afinal assim tão robusto? O povo, sempre ele, com a sua experiência milenar, há muito que afirma ser mais rápido apanhar um aldrabão que um coxo. Concordam ou nem tanto assim?

HÁ ANÁLISES PARA TODOS OS GOSTOS


António Rebelo
Para todos aqueles que ainda não conseguiram habituar-se a viver numa democracia europeia, o que os leva a atacar-me, caluniar-me, odiar-me, suspeitar-me como capaz de tudo e mais
alguma coisa, como se eu fosse o responsável pela lúgubre situação tomarense, sempre corajosamente abrigados pelo anonimato, como convém a tão lídimos descendentes dos templários, certamente pela via do direito de pernada, para todos esses e igualmente para quem aprecia a tolerância, o pluralismo, a fraternidade, aqui fica mais este delito de opinião, dos nossos colegas do blogue lisboeta "enguiafresca". Agora não se esqueçam de mandar mais uns comentariozitos a garantir que, desta vez, estou a ajudar o PSD. Triste terra! Triste gente!

O PAÍS QUE SOMOS E A INFORMAÇÃO QUE TEMOS


António Rebelo
Disse, na peça anterior, ter ficado banzado ao ler na imprensa que Sócrates e Ferreira Leite empataram, pois pensava que o actual primeiro-ministro ganhara folgadamente. Ontem à noite, os diversos jornais televisivos vieram confirmar que houve empate e que, por conseguinte, estava a ver mal as coisas. Até o papa dos comentadores, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua análise semanal, reiterou e justificou o que já todos tínhamos lido e/ou ouvido -foi um empate, sem sombra de dúvida.
Sem sombra de dúvida? Pois nem tanto. Somos um país pequeno, com poucos jornais, poucos jornalistas/comentadores e poucos leitores/ouvintes realmente atentos. Basta que um ou dois dos chamados "profissionais alfa" se tenham "esquecido" de retirar os óculos partidários, neste caso as "lentes laranja", para que os outros sigam os alfas e sejamos confrontados com informação enviesada. Foi o que se passou, segundo tudo indica. Porque ninguém acredita que Sócrates tenha dado indicações, aos seus múltiplos assessores, no sentido de se evitar que a informação difundisse a ideia de que conseguiu uma vitória folgada, pois tal ideia poderia vir a desmobilizar o potencial eleitorado socialista. E daí...
A ilustração acima (clicar sobre ela para ampliar), difundida pelo Google mas só durante cerca de uma hora (depois foi retirada), não deixa margem para dúvidas. Consultada por telefone fixo imediatamente após o fim do debate, uma amostra representativa da população portuguesa com capacidade eleitoral proporcionou resultados incontroversos: À pergunta "quem ganhou o debate a que acaba de assistir" 45,6% responderam Sócrates, 30,2 Ferreira Leite e 24,2 ficaram-se pelo empate. Como se pode ver, os dois líderes estão muito afastados do chamado "empate técnico", difundido por outras sondagens, ou do empate visto pelos jornalistas/comentadores.
Nestas condições, uma pergunta não me sai da cabeça -porque será que esta peça esteve menos de uma hora visível no Google? É o país que somos e a informação que temos.

domingo, 13 de setembro de 2009

PSD NACIONAL E PSD LOCAL

António Rebelo
Fiquei banzado! Apesar de não gostar muito de Sócrates, assisti ao debate de ontem, porque tenciono votar no próximo dia 27. No final não tinha dúvidas -Sócrates vencera e vencera folgadamente. Até cheguei a ter pena de MFL, nalgumas fases mais duras. Pois esta manhã, tanto o PÚBLICO como o DIÁRIO DE NOTÍCIAS, os dois jornais de referência, proclamavam que, afinal, fora um empate. E os vários comentadores, citados por ambos os periódicos, afinavam pelo mesmo diapasão. Teremos todos visto o mesmo debate? As atitudes terão o mesmo significado em todo o país e para todos? As palavras cobrirão o mesmo campo semântico, qualquer que seja a região? É demasiado difícil retirar os óculos partidários? Ou será um caso evidente da chamada filosofia galega, segundo a qual "Deus é bom, mas o Diabo também não é mau" ?
Vitória nítida de Sócrates, ou alegado empate, o que na verdade mais me interessou foram os ataques de MFL à actual política keynesiana do governo PS. (Para quem anda longe destas coisas da economia, é favor digitar J. M. KEYNES no google e ler com atenção). Isto porque a presidente do PSD tem realmente razão, ao dizer que o país está de tal forma endividado que não permite ao governo lançar-se nos altos vôos do aeroporto e/ou do TGV, mas Sócrates também dispõe de excelentes argumentos na área económica, entre os quais avultam a criação de emprego, o "efeito de arrasto" e a célebre frase "quando a construção anda, tudo anda". A estes podemos acrescentar o aspecto político, que o actual primeiro-ministro teve a habilidade de condensar numa pergunta assassina: "Quer que o futuro terminal português do TGV seja em Badajoz, ou em Lisboa?"
Perguntarão alguns dos simpáticos leitores, (que gostam tanto de mim como os árabes de carne de porco), que tem tudo isso a ver com Tomar? Apenas isto -Manuela Ferreira Leite reprova a José Sócrates, a nível nacional, a sua política de obras públicas. Até já chegou a dizer que só servem para dar emprego a ucranianos, moldavos e outros. Mas nas margens do Nabão, a maioria PSD continua a implementar exactamente a mesma política keynesiana dos últimos 12 anos -pavilhões, parques de estacionamento, requalificações, paredões, etc. etc. E até já anunciou os museus da Levada, a ligação Cidade/Convento, pela Mata, o arranjo da Cerrada dos cães e a 3ª fase do Flecheiro. Com uma agravante: Sócrates sempre poderá alegar que está a contribuir para a criação de emprego e para a edificação de infraestruturas essenciais. Paiva e Corvêlo de Sousa nem isso poderão dizer, pois as grandes empresas de construção não são de Tomar, nem contratam cá ninguém, enquanto que as obras levadas a cabo não criam riqueza, significam mais encargos e são perfeitamente supérfluas em termos de prioridades. Exemplos? Havia alguma necessidade real de requalificar o Mouchão? A Várzea Pequena? A velha ponte de madeira? De escavacar o estádio, transformando-o num campo de treinos sem balneários? De fazer aquele paredão anticheias, que só ocorrem uma vez em cada 25 anos, na pior das hipóteses?
No meu tosco entendimento, é em função das respostas a estas e outras perguntas do mesmo estilo, que os tomarenses vão ter de votar em 11 de Outubro. A não ser que achem que vai tudo bem e que "Deus Nosso Senhor tem lá muito para nos dar".