sábado, 5 de setembro de 2009

CADA CABEÇA SUA SENTENÇA


Nos anos sessenta do século passado esteve em grande voga, sobretudo após os acontecimentos de Maio de 68, em Paris, "O homem unidimensional", do pensador e professor americano Herbert Marcuse. Nele se dissecava o novo tipo de cidadão: conformista, virado para o desfrute e para o consumo, individualista e egoísta. Sem nos darmos conta, estamos agora nessa mesma categoria, salvo honrosas excepções, tanto no país como, sobretudo, aqui em Tomar. É cada um para si e Deus para todos. E os outros que se preocupem, se quiserem, com os problemas do país e da urbe nabantina.
Esta atitude conformista assume entre nós contornos muito mais graves e perigosos, porque se agrega quase sempre a uma tradição de intolerância (afinal as fogueiras da inquisição acabaram só no século XIX). De tal forma que quem ousa discordar, "urinar contra o vento, ou fora do penico", é olhado com desconfiança e está tramado em termos de inserção plena na sociedade. E no entanto...
As opiniões divergentes são absolutamente naturais e até indispensáveis nas sociedades abertas. É graças às divergências, e até às dissidências, em todos os sectores, "que o mundo pula e avança", como escreveu Gedeão. É tempo de aceitar esta realidade aqui pelas margens do Nabão, onde quem arrisca "urinar contra o vento" sabe de antemão que vai quase de certeza molhar as calças.
Procurando demonstrar aos leitores que afinal a divergência é a norma e o conformismo a excepção, pega-se num assunto sagrado entre os tomarenses -a Janela do Capítulo, como obra-prima do manuelino e de uma beleza e originalidade insuperáveis. Pois acontece, caros concidadãos que se alguns estrangeiros também assim pensam, outros há que cantam outra música. É o que vamos ver.
No "Guide do Routard - Portugal, 2008" pode ler-se: "Admirar longamente e em silêncio uma janela, pensando que é a mais bela do mundo. Acontece no Convento de Cristo, em Tomar" (pág. 13) "É a mais fascinante das esculturas manuelinas em Portugal. Contruída entre 1510 e 1523, resume e concentra de maneira perfeita toda essa arte, ponto culminante do delírio vegetal... Somos incapazes de explicar todas as metáforas contidas na obra, mas repare ainda assim no simbolismo estranho das algas enroladas numa Jarreteira..." (Pág. 342).
Mais comedido, o clássico "Guia Verde Michelin -Portugal" é da mesma opinião e não poupa nem na emoção nem na adjectivação: "A janela manuelina** é a mais espantosa realização da decoração manuelina em Portugal. A partir das raízes de um sobreiro, sustentado pelo busto de um marinheiro, a decoração sobre ao longo de dois mastros..." (página 130)
Pois apesar de referências tão laudatórias, escritas por quem sabe daquilo que fala, no livro acima ilustrado, as duas autoras inglesas (uma delas casada com um português) não hesitaram em dar a sua opinião, bastante divergente: "Algum do manuelino tardio é, de facto, terrivelmente feio, e pode ser honestamente reconhecido como tal... uma das autoras deste livro, quando confrontada pela primeira vez com o exterior monstruoso da janela ocidental da Igreja de Cristo, em Tomar, com os seus loucos entrelaçamentos simbólicos de âncoras e polvos, sentiu-se agoniada, tendo de se afastar e sentar-se algures longe da vista daquela insanidade em pedra e ser reavivada com um brandy! Mas nem tudo é feio, ainda que tudo seja estranho...e a paciência e simpatia do viajante é invocada não em proveito do Manuelino, que não se importa com isso, mas em proveito do próprio viajante." (pág. 23)
O mais curioso de tudo isto, além da constatação de que os ingleses nunca deixam de ser britânicos, mesmo quando vivem longos anos no estrangeiro, é que sabemos agora, quase 60 anos mais tarde, o que aconteceu à ilustre visitante da nossa janela. Foi vítima da "síndrome de Stendhal", uma perturbação psíquica de alguns turistas quando apreciam obras-primas. Acontece algumas vezes em Florença, Veneza, Roma, Paris, Jerusalém... e afinal também em Tomar. Há até uma consulta especializada num dos muitos hospitais públicos parisienses...
Se o leitor, viajante ou não, alguma vez necessitar, já sabe!

31 comentários:

Anónimo disse...

Tudo o que diz repeito ao Cristianismo, aos Templários, à Ordem de Cristo, aos Descobrimentos e à Arte é sempre complexo.
O complexo assusta as almas simples. O que é muito visível nas aldeias e na província. Daí "o sindroma de Stendhal".
O Convento de Cristo, todo ele é extremamente simbólico, o que perturba os tomarenses. A Janela do Capítulo, como o Manuelino, misturam os motivos marítimos com os terrestres e os humanos, não é por acaso. É a Esfera Armilar e a Obra Silvestre do Rei. Que Rei?
É compreensível que alguns estrangeiros, em especial anglo-saxónicos, brancos, não entendam a obras de latinos, negróides. Eles julgam-se superiores, mas não o são.
Os portugueses, e os tomarenses, também não entendem o significado do Convento, nem o encontro de culturas que ele defende. Porque é que Umberto Eco escreveu o pêndulo de Foucault, com a maior parte ligada ao Convento de Crisro e à Cabala?
Porque é que Jesus, O Cristo, disse para o Apóstolo Pedro: "Afasta-te de mim Santanás!"
Por que é que o Pr. dos EUA, Obama, escolheu um cão-de-água português?
Tudo isto é semióptica. Simbolismo. Um drama para quem apenas sabe ler letras, mas não os símbolos.

SAMURAI

Anónimo disse...

Estes comentários nestes guias são, muitas vezes, desprovidos de conteúdo educativo minimo.

O objectivo destes guias é informar a localização dos pontos importantes, dos pontos a não perder.

A Janela do Capitulo é um ponto a visitar, e estes guias indicam-no, e bem.

Já os comentários que referiu, são de quem não perdeu tempo a fazer o trabalho de casa: não têm o devido enquadramento histórico minimo.

Servem bem para quem faça turismo de consumo (cheguei, fotografei e bazei).

Quem se interesse por aprender realmente sobre os locais que visita, procura informação que permita o correcto enquadramento dos monumentos que visita.

A questão do que é belo, é relativo. O que não é relativo é a grandiosidade de uma obra.
À parte do enquadramento histórico, o trabalho de escultura é impressionante.

Doutor Rebelo, nós já percebemos que você come a palha toda que vem dos franceses. E pelos vistos dos ingleses também.

Anónimo disse...

O que falta na janela do Capitulo é uma limpezazita... que está a ser invadida por liquens. daqui a uns tempos tem tanta terra em cima que até lhe começam a crecer raízes de sobreiro em cima, como consta no tal guia.

Anónimo disse...

Para "Samurai"

Tanta sapiência e erudição, e diria mesmo arrogância!, e não sabe que não é semióptica, meia óptica?, mas sim semiótica, o mesmo que semiologia

Anónimo disse...

Limpezazita, precisam vocês mas é à cabeça.

Líquenes e não liquens.

Anónimo disse...

Limpeza à cabeça é o que o Dr. Rebelo nos tenta fazer a todos.

Não fosse ele tão incoerente, e talvez até conseguisse a alguns.

Vem aqui falar da necessidade e benefício da divergência de opiniões, quando ele aqui no blog mostra tão fraca receptividade às opiniões que destoam da sua.

Anónimo disse...

Chama a isso "ideias"?

Passo aqui todos os dias e nos comentários tenho visto muita coisa, ideias, que me lembre, poucas ou nenhumas.

Anónimo disse...

Pelas amostras aí em Tomar, que nós aqui na aldeia somos seres inferiores, não é Samurai?, não se aproveitam dois.

Sebastião Barros disse...

Para 12:48

Todos têm aqui guarida, desde que respeitem a educação, a língua, o contexto. E não mintam!
Sabe muito bem que aquilo que escreveu não é, em parte, verdade. Nunca aqui se apagou uma opinião divergente, a não ser que contenha palavrões despropositados ou esteja fora de contexto. Os leitores sabem bem que assim é.

Sebastião Barros disse...

Para 12:09

Como habitualmente, a ignorância é atrevida. O tal guia, e todos os outros, falam dos sobreiros porque eles lá estão realmente, sendo certo que, apesar do tamanho, a maior parte dos visitantes não os consegue ver. Inconvenientes da falta de visitas guiadas, com guias competentes. E que dizer então do cão e do gato, que também lá estão na janela?

Anónimo disse...

Ele fala, fala, fala e nada diz. Sabe lá ele do gato e do cão. Nunca viu a Janela pois que era muito trabalho ir "lá acima" ver "aquela porcaria" e nem entende porque razão há gente que fica extasiado quando vê tal maravilha, que para ele não passa de um monte de pedras velhas, "ainda que aproveitassem aquilo para hotel" ou para parque infantil.

Anónimo disse...

Para 13:18

Perdoa-lhe Pai. Eles não sabem o que dizem. Faço-te este pedido por causa daquele dito popular, segundo o qual "Vozes de burro não chegam ao Céu".

Anónimo disse...

(Foi vítima da "síndrome de Stendhal", uma perturbação psíquica de alguns turistas quando apreciam obras-primas. ... Há até uma consulta especializada num dos muitos hospitais públicos parisienses...)


Não sonhe com essa consulta especializada por estas bandas... até porque no Hospital de Tomar desaparecem as especialidades, voam para Abrantes, quanto mais aparecerem novas consultas.

Mas essa consulta, de que fala, é capaz de não fazer falta por cá. Deve ter sido um caso isolado, de sensibilidade extrema por parte de essa senhora.

Sabe porquê? Porque se essa inglesa se recuperou de tal choque com um brandy,
melhor teria sido que tivesse ido apreciar a beleza das pipas da casa das ratas, em vez da Janela do Capitulo.

Diria mais, esse síndrome não deve ter sido bem diagnosticado nessa inglesa.
Constatada a rápida eficácia do tratamento aplicado, tratar-se-ía provavelmente de um síndrome de abstinência.

Anónimo disse...

"escritas por quem sabe daquilo que fala, no livro acima ilustrado, as duas autoras inglesas"

Como é que você sabe que elas sabem do que falam?

Têm formação específica em História da Arte?

Com estas afirmações e com outras deste tipo, é que o Dr. Rebelo cai no descrédito.

Só porque escreveram um livro, e foi publicado, é que sabem do que falam?

Ou porque são inglesas?

Anónimo disse...

E tendo formação específica em História de Arte, dedicaram-se profundamente à análise do estilo Manuelino?

Anónimo disse...

Agradeço a correção, aquele p estava amais.
A arrogância é própria dos poderosos. Só eles é que podem arrogar a autoridade para... Arrogância sem autoridade é fraqueza.
Não foi por acaso que o pseudónimo de Samurai foi escolhido. Entendeu?

Anónimo disse...

Conhecia o ditado que diz que "presunção e água-benta cada um toma a que quer", vejo que agora que parvoeira também, ó Samurai.

Sebastião Barros disse...

Para 13:46

Nem uma coisa nem outra. Apenas porque uma era especialista em geografia e em botânica, enquanto a outra era arqueóloga e especialista em arte portuguesa. E olhe que na altura não havia assim tantos especialistas como há hoje...
Quando tiver tempo, talvez não seja má ideia ampliar a reprodução da contra-capa do livro e ler o que lá está. Andamos sempre a aprender, não é?

Anónimo disse...

Escrevi:"Um drama para quem apenas sabe ler letras, mas não os símbolos"
Escrevi: "semióptica", errada e propositadamente. Corrigiram-me. Agradeci, o "p" estava a mais.
Mas não viram o "n" a mais em "Santanás", quando devia ser Satanás.
"saber ler letras, mas não os símbolos"
Nada disseram sobre os símbolos, do passado e do presente.
Por que é que o Obama arranjou um cão-se-água português?
Tem a ver com a situação política mundial.
Presunção, parvoeira. Eu já esperava esta reacção. Vulgar. Habitual quando faltam argumentos.
Um bom caso de estudo psicológico para mim.

SAMURAI

Anónimo disse...

Reles palermita.
Como se alguém acreditasse numa só palavra quando dizes que erraste propositadamente.

Também escreveste "Convento de Crisro" e claro que deixamos passar à conta de um possível lapso ou erro de digitação. Agora aquela de semióptica é mesmo de nharro! Nunca de Samurai.
Deves pensar que és um grande vendedor de banha da cobra mas nem um caracol vales. Se tivesses um pouco, pouquito mesmo que fosse, de vergonha na cara estavas mas era caladinho e ias com os teus símbolos pastar que é coisa que sabes e estás habituado a fazer.

Anónimo disse...

Querem ver que "cão-se-água" também foi propositado. É um estudo psicológico do c*******.

Anónimo disse...

Por favor, não insultem o Samurai, que será certamente da família dos Sá Morais, uma grande família portuguesa. Com quintas no Douro e tudo. É verdade que nem sabem para onde fica o Japão, mas continuam a ser Sá Morais. Pelo menos enquanto não resolverem fazer "hara-kiri".

Anónimo disse...

Janela do Capítulo em Tomar? Não houve já um dito iluminado deputado do P.S. que quis vender a referida Janela? P*enso que era um deputado que "vendia" aulas de matemática e por sinal muito mal, na Jácome Ratton...

Anónimo disse...

Para os diabólicos comentadores.
Escrevi"Um drama para quem apenas sabe ler letras, mas não os símbolos".
Muito à portuguesa, os diabólicos comentadores atacaram de forma primária, não reflectida.
Deviam ter dito:"mas as letras também são símbolos". Que o são. Não entenderam nada, e caíram na manipulação, na experiência laboratorial.
Eles rejeitam, de forma violenta, os símbolos. Será que também rejeitam as letras? Defendem o analfabetismo? Querem regressar ao passado?
Desde sempre que os símbolos fazem parte da vida da Humanidade. Hoje há uma grande guerra cultural/ideológica através dos símbolos. Ele é a Cruz contra o Crescente. O Oriente contra o Ocidente. As claques no futebol. As Marcas umas contra as outras.
Vem hoje num grande jornal nacional uma entrevista com um francês, especializado em Marcas, contratado como Administrador por um grande grupo nacional, com a missão de o reorganizar e preparar para o futuro de guerra através das Marcas, dos símbolos.
Um símbolo vale mais que mil palavras.
Se tivessem sido meus alunos não pensariam assim de forma tão primária.
Queria agradecer-vos a vossa diabólica opinião e o material que elas dão para os meus trabalhos de investigação sobre Comportamento e Mudança.
Diz um dos opositores: "se tivesses vergonha...". Isto é coacção, muito própria da província e dos meios pequenos, onde todos querem a igualdade dos cemitérios, e não aceitam que haja o direito à diferença e se aspire a ser e a ver mais. Se tivermos vergonha o mundo não pula nem avança. Este hábito de coacção coloca Portugal e Tomar fora da globalização, onde os símbolos dominam o quotidiano.
Na homília de hoje, Cristo curou um surdo... linguagem simbólica.
Sempre disposto a evangelizar-vos.

SAMURAI

Anónimo disse...

E a Janela do Capítulo em Tomar? Não houve já um dito iluminado deputado do P.S. que quis vender a referida Janela? Penso que era um deputado que "vendia" aulas de matemática e por sinal muito mal, na Jácome Ratton...
Bolas ainda bem que nunca fui aluno dele, senão andava agora a tentar vender a Janela do Capítulo!!!

Anónimo disse...

Não foi isso! O cromo em questão caiu numa mentira do 1º de Abril. Foi gozado em plenos Passos Perdidos e deixou Tomar ainda mais mal visto.

Anónimo disse...

E o que será feito deste cromo? Ainda andará a "vender" aulas de Matemática? Mas que mau professor ele era... Ou andará por aí nos "tachos" da política? Também deverá ser um bom (???) político!!!

Anónimo disse...

Desde que ande longe de Tomar está muito bem onde está, a fazer o que estiver a fazer.
E Deus Nosso Senhor o conserve por lá muitoas e bons anos...

Anónimo disse...

Boa, plenamente de acordo.

Anónimo disse...

Os debates na Radio Hertz para as freguesias estão a correr muito mal aos candidatos do PSD, o que é revelador da falta de comfiança e de liderança das suas hostes.

No debate da Pedreira o Candidato da CDU cilindrou o do PSD.

Nos debates da Alviobeira e Beselga os candidatos do PSD revelaram-se muito mal preparados e nervosos.

E o debate da freguesia da Junceira, o Américo Pereira dos Ipt simplesmente esmagou o candidato do PSD que não disse duas para a caixa. É desolador o PSD que tem tido bons autarcas na Junceira apresentar um candidato deste nível.

Isto tb está a correr mal para o PSD nas freguesias. A liderança frouxa que tem está a ter reflexos imediatos na equipa.

Anónimo disse...

O cromo está nos cartazes do PS. Procurem que encontrarão.