quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DEMOCRACIA, ELEIÇÕES E ILUSÕES - 3

O actual inquilino de Belém declarou uma vez (e causou espanto) "Nunca me engano e raramente tenho dúvidas". Os tomarenses, tanto os de nascimento como os do coração, conseguem ainda melhor -Nunca se enganam e nunca têm dúvidas. Este texto é, portanto, apenas para aqueles que cá vivem há pouco tempo. Os outros sabem de tudo, da física nuclear à pintura japonesa, passando pela história da Papuásia.
No próximo dia 27, a sua palavra de ordem matinal deverá ser, caso seja um cidadão exemplar, "contra os calões, votar, votar!" Por isso, uma vez despachado das questões de higiene e de alimentação, comece por certificar-se de que leva consigo o bilhete de identidade e o cartão de eleitor. Sem eles, nada feito. Dirija-se ao local de voto e, se for uma freguesia com mais de 1000 eleitores inscritos, verifique nos editais qual a mesa em que deve votar, de acordo com o número do seu cartão de eleitor.
Apresente-se perante o presidente da mesa (é geralmente o que está por detrás da urna preta de voto) e entregue-lhe o BI e o cartão de eleitor. Vai ouvir o secretário da mesa dizer o seu número de eleitor e o seu nome. Imediatamente, o presidente da mesa dar-lhe-á um boletim de voto. Aceite-o e dirija-se para a cabine de voto (aquela espécie de biombo, próxima da mesa eleitoral) lá encontrará uma esferográfica (atada com uma guita, por causa das tentações)...e a sua consciência. No boletim de voto tem uma lista de partidos políticos. À frente de cada um deles está o respectivo emblema. Um pouco mais para a sua direita está um quadrado pequeno. É aí que terá de fazer uma cruz, se assim o entender.
A sós com a sua consciência e o boletim de voto, tem três possibilidades: 1 - A mais frequente, que consiste em colocar uma cruz no quadrado respectivo (à frente do emblema que escolheu) e do mesmo tamanho deste; 2 -Acha que é tudo uma malandragem e que embora boas pessoas, são todos iguais. Só querem é tacho. Se pensa assim, não escreva nada no boletim. 3 - Pensa realmente o que está em 2, mas não vai em cantigas de embalar. Está convencido de que se deixar o boletim em branco, "eles" aproveitam para fazer uma cruz no partido deles. Neste caso, inutilize o boletim, com uma cruz a todo o tamanho, uma frase alusiva (por exemplo "Vão mas é à missa) ou, para ficar de bem com todos, uma cruz à frente de cada emblema.
Depois de qualquer destas hipóteses, dobre o impresso em quatro e entregue-o na mesa. Cumpriu o seu dever de cidadania e ninguém ficará a saber qual a sua escolha. A não ser que resolva dizê-lo. Pelo contrário, no caso de não ter lá ido, ficava-se a saber que é um calaceirão, que não está para chatices, mesmo quando está em causa o futuro da sua comunidade.
Já instalado em frente ao televisor, ouvirá certamente os resultados. Se escolheu um partido e fez a cruz do tamanho do quadradinho, o seu voto estará entre os válidos; se apenas dobrou o papel em quatro, foi contado nos votos brancos; se, enfim, escreveu a tal frase, fez a cruz de todo o tamanho ou uma cruz para cada emblema, o seu voto está incluído nos nulos. Válidos, brancos ou nulos, todos os votos contam para estabelecer as percentagens finais, o que não acontece com a abstenção, que apenas conta para estabelecer a respectiva percentagem.
Boa sorte e coragem! Isto não vai nada bem, mas quando mal nunca pior!

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