domingo, 6 de setembro de 2009

OS OPERACIONAIS E O AR CONDICIONADO

Foto Ministério da Defesa

O tema foi pouco abordado na época e 35 anos mais tarde já quase ninguém lhe atribui a importância que teve. Refiro-me ao levantamento militar do 25 de Abril, preparado e levado até ao fim pelos chamados "operacionais" das forças armadas. Quem não esteve nas então províncias ultramarinas, nem cumpriu o serviço militar obrigatório, não faz ideia da fractura que, durante a guerra, se foi alargando entre a "tropa do terreno", os operacionais, e a "tropa do ar condicionado" os militares de gabinete. De tal forma que houve o 25 de Abril, liderado exclusivamente por capitães e majores, as patentes máximas "do terreno".
O mesmo acontece em qualquer organização minimamente complexa. Há sempre os do terreno e os dos escritórios. E quando estes começam a ser demasiado numeros e aqueles insuficientes, se a empresa é privada vai para a falência. Se depende directa ou indirectamente do orçamento do estado, entra em défice crónico e progressivo. Para não irmos mais longe, que o combustível está caro, Fábricas Mendes Godinho faliu, não por falta de clientes, mas por excesso de pessoal do ar condicionado e carência de operacionais. Outro tanto sucede actualmente com o município de Tomar, cuja dívida global à banca não pára de aumentar. Como o próprio executivo reconhece, no seu orçamento para este ano, "Pela primeira vez, o montante de despesas com pessoal, incluindo salários e outros encargos, deixou de ser o mais elevado, passando tal posição a ser preenchida pela rubrica económica de Aquisição de Bens e Serviços (aquisição de Serviços mais de 7,5 milhões de euros), a que não serão alheios a contratação de trabalho especializado, que o município não pode prover pelos seus meios." (página 15)
Por outras palavras, as despesas correntes com pessoal não foram reduzidas, o que mais tarde ou mais cedo terá de começar a ser feito. Foram apenas ultrapassadas pela aquisição de serviços especializados "que o município não pode prover pelos seus meios". Apesar de dispor de um funcionário municipal para cada 80 habitantes. Se isto não é um caso flagrante de excesso de "tropa de gabinete" e falta de "tropa operacional", então o que é?
Mas não fique o leitor surpreendido. Se reparar bem, em quase todos os serviços públicos, os funcionários, uma vez no quadro, vão sendo promovidos de forma praticamente automática, pois apenas se tem em conta o tempo e a qualidade do serviço prestado, sendo consensual que a classificação do serviço é, na esmagadora maioria dos casos,"bom". Sucede que, regra geral, uma vez promovido, o funcionário passa teoricamente a mandar noutros, exactamente como na tropa. Daqui resulta que, no caso do "ar condicionado", aproveita para se ir afastando cada vez dos cidadãos, pejorativamente designados por utentes. É ou não verdade que, em cada serviço público, os chefes intermédios são sempre os que estão nas secretárias mais longe dos cidadãos a atender, quando deveria ser exactamente o contrário? É ou não verdade que a importância de qualquer dirigente dos serviços públicos se afere pelo número de intermediários entre ele e os eleitores?
Perguntará o leitor -E daí? E daí ponha o cérebro a trabalhar e tire as suas próprias conclusões, que nós não queremos condicionar ninguém. Limitamo-nos a tentar mostrar a realidade conforme ela nos parece ser. E enquanto assim for... não vamos de certeza conseguir levantar a cabeça. Como tenho assim tanta certeza? Porque o Lavoisier afirmou há mais de dois séculos que "As mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos." E nunca foi desmentido. Aliás, o leitor pode não acreditar, mas se fizer a experiência seguinte, nunca mais se esquece: Bata com a cabeça na parede e aguarde. Vai aparecer um galo. Volte a bater com a cabeça na parede e aguarde. Vai aparecer outro galo. E assim sucessivamente.
No caso da triste e complicada situação local: É tempo perdido tentar resolver a crise com as mesmas ideias, os mesmos métodos e as mesmas pessoas que a originaram. Ou não será ?

5 comentários:

Anónimo disse...

Tomar tem um problema grave de descida no poder da corrente, o que desde há anos vem motivando queixas da população.
Essas perdas de poder eléctrico causam problemas às arcas frigoríficas, aos computadores e a outros sistemas.
Há serviços públicos onde os funcionários têm de começar mais cedo, ou saír mais tarde, segundo os Sindicatos, sem ganharem mais, porque os sistemas não têm capacidade.
Empresas privadas, como bancos e seguros, queixam-se do mesmo.
Este fim-de-semana ocorreram pequenas falhas nos sistemas informáticos locais.
Num hipermercado cartão que dá direito a descontos acusou falta de informações do seu proprietário, quando estas há muito que foram dadas.
Nos computadores privados ontem de manhã havia informações que ao longo de Sábado e Domingo desapareceram e só agora à noite voltaram.
Porquê?
Com estas fragilidades quem é que vem investir em Tomar, senão há segurança na manutenção das comunicações e dos dados?
Mas, o que é que isto interessa à autarquia?

Pensamentos soltos disse...

"uma vez no quadro, vão sendo promovidos de forma praticamente automática"
Está á distãncia de anos luz da realidade meu caro amigo, na verdade essa regra só existe para os diretores dos departamentos de estado, gràças o actual executivo governamental.Na verdade para seu conhecimento existe um novo quebra cabeças para os desgraçados que trabalham para esses primeiros que acima cítei, chamado de SIADAP.
PARA MAIS INFORMAÇÕES CONSULTE A NET.

Anónimo disse...

É só funcionários pùblicos.
Podem descansar que haverá outras medidas que acabarão com o carreirismo.
Isto se entretanto o Estado não se sentar na banca rota e não disser que não tem dinheiro para pagar a ninguém.

Anónimo disse...

Pensem primeiro nos que estão instalados a polir os acentos em belos cargos públicos, esses sim é de deitar abaixo e já muito rapidamente!

Anónimo disse...

Polir acentos???!!!