São de enorme importância as eleições que aí vêm, não só por causa da crise em que estamos mergulhados, mas igualmente para acabar com determinadas ilusões.
Se o leitor reparar com alguma atenção na fotografia supra, há grandes hipóteses de vir a reconhecer sem esforço os rapazes que nela figuram. São os célebres 4 de Liverpool, progenitores da melhor música moderna. Como pode ver, inicialmente eram adolescentes como quaisquer outros. Nem sequer usavam ainda os célebres cabelos compridos. Foi a fama mundial adquirida que os transformou e os levou à progressiva desagregação, seguida de separação definitiva.
Ocorre sensivelmente a mesma coisa com a democracia. Ao princípio "governo do povo pelo povo", tem vindo a degenerar (ou a aperfeiçoar-se, dirão os que dela vivem) até se transformar naquilo que temos hoje. Como se verificou na prática que não é possível "o povo" governar-se a si próprio, apareceu a necessidade de escolher delegados-representantes, os quais por sua vez escolhem quem governe e participam nesse governo.
No caso português, a própria escolha dos delegados-representantes está viciada, uma vez que os eleitores apenas são chamados a seleccionar uma lista de nomes que, na maior parte dos casos, nem conhecem, e que foram previamente indicados por um aparelho partidário ou por um grupo restrito de cidadãos. Não há, portanto, entre nós eleições primárias, nem eleições uninomimais, o que tende a desmotivar os eleitores, uma vez que antes de serem chamados a escolher já houve escolhas bem menos participadas, ou claras e justas.
Ainda assim, é uma obrigação importantíssima cumprir o dever de votar, apesar das evidentes imperfeições do sistema. Abster-se é o mesmo que estar-se nas tintas, acobardar-se, ser desleal para com os seus concidadãos. E resulta quase sempre em situações pouco conformes com a realidade, tal como ela é na verdade. Na actual campanha eleitoral há forças de extrema-esquerda, lideradas por pessoas aparentemente de elevado gabarito intelectual, as quais apesar disso (?) não hesitam em tentar ludibriar os eleitores, acenando-lhes com cenários à primeira vista sedutores, mas mortíferos se levados à prática.
A situação é, actualmente, esta: somos o único país da Europa onde, no mais recente escrutínio livre realizado, os dois partidos da extrema-esquerda obtiveram 25% de votos, o que corresponde a um em cada quatro. Lá fora, primeiro houve alguma surpresa e subsequente alarme. Porém, feitas as contas, tudo visto e ponderado, concluíram que era apenas uma ilusão de percentagens. Cá dentro, foi e continua a ser diferente. Os dirigentes de pelo menos uma dessas forças, entusiasmados em excesso com o inesperado resultado alcançado, começaram a "construir castelos em Espanha", mesmo antes de terem conquistado o país vizinho. Um deles afirma até convictamente, na televisão e nos comícios, que o seu partido está pronto a assumir responsabilidades governamentais. Só?! E todavia...
E todavia, o que aconteceu é bastante diferente, como se passa a tentar explicar. Em virtude do crescente desinteresse pela política, provocado por diversos factores, entre os quais está a crise, a cada vez maior complexidade do mundo, a importância do futebol e a manifesta falta de educação cívica, a que convém adicionar a gritante ignorância em relação aos assuntos europeus, muitos eleitores inscritos pensaram ser mais confortável, fácil, ou prático, não exercerem o seu direito de voto na Europeias. Para facilitar as coisas, digamos que andaram à roda de metade = 50%. Daqui resultou a tal ilusão das percentagens.
Geralmente muito mais motivados, até porque se trata de votos de protesto, de vingança e de inveja, e os deixados por conta da sociedade adoram essas atitudes, contados os votos, a referida extrema-esquerda obteve um em cada quatro. Contudo, se em vez de ter havido 50% de abstenções, a participação eleitoral tivesse sido igual a 100%, os mesmos resultados corresponderiam apenas a 12,5%, o que seria bem diferente e não teria provocado tantas afigurações. Mas não foi assim, dirá o leitor inflamado. Pois não; mas mostra bem que quando os eleitores resolvem não exercer o seu direito, depois também não têm qualquer autoridade ética para criticar, ou sequer estranhar, eventuais percentagens estrambóticas conseguidas por partidos situados nas margens do sistema. É só para prevenir, dado que eleitor prevenido...
3 comentários:
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Foi a fama mundial adquirida que os transformou e os levou à progressiva desagregação, seguida de separação definitiva.
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Deduzimos que se "não tivessem adquirido a fama" ainda estariam a tocar juntos...
BEATLES FOR EVER!
A cantar (músicas destas ) é que a gente se entende!
E o resto são cantigas!
."No caso português, a própria escolha dos delegados-representantes está viciada, uma vez que os eleitores apenas são chamados a seleccionar uma lista de nomes que, na maior parte dos casos, nem conhecem, e que foram previamente indicados por um aparelho partidário ou por um grupo restrito de cidadãos".
Concordo plenamente e acrescento, no caso das eleições legislativas, conhece-se o cabeça de lista(candidato vísivel) nas não o resto dos membros que poderão formar o governo caso seja eleito, isto por ex., do caso de Sócrates dizer que pode mudar os ministros, tudo bem mas quais? Não sabemos, só depois da votação do candidato.
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