FESTA DOS TABULEIROS ANTES DE 1950

A FESTA GRANDE DE TOMAR, ANTES DE 1950, VISTA POR DUAS INGLESAS

Para os nossos leitores mais jovens e/ou para aqueles que aqui não nasceram nem cresceram, necessário se torna informar que a Festa dos Tabuleiros, ou Festa Grande de Tomar, cuja próxima edição terá lugar em 2011, salvo qualquer imprevisto, procura manter o formato que foi adoptado em 1950. Dirigida pelo então director da Fábrica de Fiação e erudito etnólogo, Eng. João Manuel dos Santos Simões, data de então a relativa mas obrigatória uniformidade básica dos tabuleiros e dos trajes. Anteriores a 1950, existem apenas algumas fotografias a preto e branco, de qualidade rudimentar. É, por isso, importante o testemunho presencial de duas ilustres turistas inglesas, Ann Bridge, esposa do embaixador britânico em Lisboa, arqueóloga e botânica amadora, e Susan Lowndes, especialista da história e da arquitectura do nosso país. A viagem de ambas através de Portugal ocorreu em 1948. Antes, por conseguinte, da Festa dos Tabuleiros de 1950, com as raparigas da fábrica tendo como ajudantes os soldados do 15.

As duas visitantes britânicas começaram por visitar o Convento, que descrevem em detalhe (página 177 do livro anteriormente indicado). Dado que seria fastidioso reproduzir aqui todo o texto, contentamo-nos com dois detalhes: 1 - "É necessário recordar que os guias têm de ser pressionados para mostrarem todo o conjunto, pois é de grandes dimensões." 2 - "O pequeno claustro de Santa Bárbara, próximo do claustro do Hospital (mais propriamente da Hospedaria), tem entrada pelo primeiro piso, sendo bem visível a assustadora e grotesca janela manuelina na extremidade ocidental da nave."

Vincada assim a extrema aversão ao manuelino de Tomar, convém ler o que escreveram sobre a Festa dos Tabuleiros, a que terão assistido, embora o não mencionem, por ser uma descrição muito mais amável. "Aproximadamente de cinco em cinco anos, ou sempre que há posses para isso, acontece a mais notável de todas estas procissões, a famosa Festa dos Tabuleiros, de Tomar. Os tabuleiros são pirâmides ou torres extremamente elaboradas, feitas de canas enfiadas em grandes pães frescos e profusamente decoradas com flores de papel, e as bonitas raparigas de Tomar transportam-nos em procissão sobre as cabeças, sendo cada uma delas apoiada por um pretendente, que as ajuda para que o tabuleiro não caia. Atrás delas, seguem os elementos do clero, que misteriosamente transportam coroas de prata sobre almofadas pretas; contudo, esses elementos estão presentes apenas para conferir uma aprovação cristã ao que é obviamente uma tradição muito mais antiga. Na verdade, os romanos quando chegaram à Lusitânia descobriram que esta procissão de Tomar já era um costume instituído. Atrás dos membros do clero segue uma banda de metais e depois, o mais surpreendente, vários bois castrados, com os cornos enfeitados e grinaldas sobre as cabeças. Estes animais são posteriormente mortos, não numa cerimónia, mas no matadouro municipal, e a sua carne, bem como o pão dos tabuleiros, são distribuídos gratuitamente a todos aqueles que o solicitem: de modo a que os pobres da terra possam beneficiar de um enorme festim de carne."

Era assim algures antes de 1950, mas há coisas que nunca mudam. Os guias do Convento, por exemplo.