sábado, 9 de fevereiro de 2013

O erro dos descartes

Quem por lá andou, sabe bem como as coisas funcionavam no defunto bloco de leste. Havia os do partido, que dominavam e viviam bem, e os outros que nem tanto. Eram sempre descartados dos melhores lugares. Sabe-se como aquilo acabou. Por essa mesma época, aqui neste jardim da extremidade ocidental da Europa, vegetavam os da situação, que se governavam assaz bem, e os da oposição, que eram sempre descartados dos melhores empregos.
Quando o 25 de Abril dos militares forçou a mudança política, cuidou-se que a era dos descartes ia finalmente acabar. Erro crasso. Primeiro foram os saneamentos; depois, pouco a pouco, vieram os partidos e os respectivos aparelhistas. A nossa variedade de salafistas. Perto de quarenta anos mais tarde, estamos como se sabe, tanto a nível nacional como local. E com tendência para um sério agravamento. Como se nada fora, agora que tocou a preparar as autárquicas de Outubro próximo, ouve-se a mesma música em todas as agremiações políticas: este não, que é assim; aquele também não interessa porque; a outra nem pensar, devido a. O erro dos descartes continua e acentua-se, como forma de garantir os lugares aos incapazes do costume, especialistas em obediência à voz do dono, seja ele quem for.
Talvez vá sendo tempo, penso eu, de ter em conta as sábias palavras do falecido dirigente chinês Deng Xiau Ping: "Não interessa a cor, o peso ou a idade do gato. Apenas se é bom a caçar ratos." Mas também percebo que seja muito difícil seguir tal preceito aqui nas margens do Nabão, terra onde há cada vez mais ratos por todo a lado, devido à cada vez maior escassez de gatos. Sobretudo de gatos obedientes, daqueles que nunca arranham os donos...

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