quarta-feira, 25 de março de 2009

É MELHOR IR AVISANDO...

Nota prévia

Embora geralmente não pareça, há mais vida para além do futebol e do caso da grande penalidade no último Benfica-Sporting. Por vezes, essa vida é tão dramática para milhões de cidadãos europeus como nós, que nem sequer fazemos uma pálida ideia. Ora tenham a bondade de ler, com a máxima atenção possível, o que segue. É um bocadinho longo demais, mas garanto-vos que vale a pena. Porque, como reza o ditado bem conhecido "Quando vires as barbas dos vizinhos a arder, vai pondo as tuas de molho."
APESAR DA AJUDA INTERNACIONAL, A LETÓNIA LUTA PARA FUGIR DA FALÊNCIA
Professores e outros funcionários públicos entre as principais vítimas da crise
A Letónia, nosso parceiro na NATO e na União Europeia desde 2004, que não faz ainda parte da Zona Euro, é um dos países europeus mais atingidos pela crise. Uma professora de línguas e tradução simultânea na Universidade de Riga, a principal do país, resolveu colocar-se em ano sabático. "Desde o 1º de Janeiro passado cortaram-me metade do vencimento. Ofereceram-me a possibilidade de trabalhar mais e ganhar menos. Antes recebia 565 euros mensais por um horário completo; agora só querem pagar 283 euros." A professora não aceitou e agora faz traduções para ganhar a vida.
Uma outra, professora adjunta na mesma universidade, americana originária da Letónia, decidiu continuar a leccionar, apesar de já não lhe pagarem. O seu lugar foi extinto, por falta de cabimento orçamental. Para ela, "O drama da Letónia é a ausência total do sentido do bem comum. A política não passa de uma meio rápido para se chegar a milionário."
A Comissão Europeia, o FMI e vários governos europeus intervieram de forma maciça antes do Natal de 2008, com uma ajuda conjunta de 7,5 biliões de euros. Porém, o "apertar o cinto" daí resultante é dramático. Os vencimentos do sector público diminuiram 15% em média, como forma de começar a cumprir a promessa, feita ao FMI e restantes credores, de limitar o défice a 5% do PIB.
Um polícia com quem falámos já perdeu 35% do seu vencimento desde Janeiro. Muitas escolas vão ser encerradas e os respectivos professores despedidos. Assediada, a ministra da Educação tenta encontrar soluções de recurso: "Os professores podem ten
tar obter bolsas de formação, financiadas pelos fundos estruturais da União Europeia. É bom. Os professores também devem aprender a competir. Quanto aos mais antigos, podem pedir a aposentação. A pensão não é suficiente para viver, mas têm as hortas, que sempre podem dar uma boa ajuda, se bem cultivadas."
Entretanto, o novo primeiro-ministro, em funções desde o mês passado, acaba de aunciar novos cortes orçamentais. "Sem cortes substanciais, a Letónia terá de declarar falência." Como se isso não bastasse, a comunidade internacional já ameaçou suspender o pagamentos das prestações programadas, caso o país interrompa a aplicação do rigoroso plano de austeridade, tendente a reduzir o défice até aos acordados 5% do PIB.
"Neste momento, o slogan mais popular na Letónia é: aproveite a ocasião para mudar de vida, disse-nos um cidadão, que acrescentou -"é como durante a era soviética, que durou mais de 40 anos; vivia-se à espera de um futuro melhor. Para a prometida vitória final do comunismo, estávamos sempre prontos a aguentar tudo."
Um jovem professor de informática, que tenciona emigrar em breve para a Austrália, declarou-nos estar muito pessimista quanto ao futuro: "A violência urbana vai aumentar muito quando daqui a um ano o Estado deixar de poder pagar o subsídio de desemprego."
Olivier Truc, Le Monde de 25/03/09 - Traduzido e adaptado por A.R.
Perante o descrito, tudo indica que o melhor será continuarmos preocupados com o futebol, sobretudo com o caso da grande penalidade em que o árbitro errou. A política é muito chata e até uma actividade pouco recomendável para pessoas de bem. Sobretudo a nível local. Ou estarei a ver mal?
Depois não venham lastimar-se que ninguém vos avisou atempadamente...

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim mestre, já estamos avisados.