terça-feira, 31 de março de 2009

ANTI-CRISE OU PRÓ-CRISE?

Pessoal do PS/Tomar voltou a enviar aqui para o blogue o seu panfleto "Contra a crise a favor de Tomar", desta vez sem desmentir qualquer dos reparos feitos anteriormente, mas acrescentando "Não ofende quem quer." Por se tratar de uma grande verdade, pedimos licença para aconselhar os remetentes a irem mudando o verbo consoante o contexto: mentir, aldrabar, enganar, intrujar, ludibriar, abusar, fingir, etc. etc.
A iniciativa dos socialistas locais, que agradecemos, não nos surpreendeu, pois como é sabido, com o aproximar dos actos eleitorais, elegeram dois inimigos de estimação -Tomar a dianteira e os IpT. Sendo certo que "o ódio não é mais que uma forma de amor", estamos todos contentes com tamanha deferência, aproveitando para informar que, por estes lados do blogue, o pessoal já não alinha em certas patuscadas.
Indo ao nervo e ao tutano da questão, o que nos preocupa cada vez mais é haver dirigentes locais que, cuidando estar a fazer uma coisa, fazem sem querer exactamente o contrário. E não falamos da escolha dos candidatos, pois aí "mais tarde virá quem bons de nós fará". Cingimo-nos exclusivamente à esfera económica, iniciando com uma questão vocabular. Há, em macro-economia duas grandes áreas, a financeira e a da chamada economia real. A área financeira tem a ver exclusivamente com investimentos, lucros, perdas, opções, produtos estruturados, tudo sem ligação directa com mercadorias consumíveis. A área da economia real engloba todo o resto, compra, transformação, produção, marketing, venda, consumo, rendimentos, etc.
No caso concreto do PSD, dos IpT e do PS, arrastados pelo mimetismo em relação às acções do governo, resolveram apresentar medidas "soit-disant" contra a crise. Logo aqui cometeram todos erros de palmatória, dado que, se o governo dispõe de meios legais, materiais e internacionais, para tentar contrariar alguns efeitos da crise, a autarquia não tem qualquer deles, como é evidente, sem necessidade de mais explicações, julgamos nós. Noutra vertente, convém apurar, antes de adoptar quaisquer medidas, de que crise estamos a falar, sendo que isso ainda não foi feito, pelo menos a nível local. É muito mais fácil tentar insultar quem não concorda com certas bojardas...
No caso do PS/Tomar, há pelo menos consciência de que a presente situação local pouco tem a ver com a crise internacional, uma vez que, no tal panfleto, escrevem "...para reduzir os problemas existentes no concelho HÁ DIVERSOS ANOS." Mais ainda, Luís Ferreira, o ideólogo e principal mentor da casa a nível local, escreveu no seu blogue o seguinte: "Especial atenção merece quando um destes grupos (João Salvador) aponta, além da crise financeira internacional, o facto de o Município não honrar os compromissos financeiros que para com ele tem. ... ... A falência técnica da Câmara PSD é cada vez mais uma realidade, como sempre o PS disse. ... ...O problema da crise em Tomar, não é assim de hoje, como muito bem sabemos. ... ...Em Tomar o assunto (ajuda aos cidadãos para minorar os efeitos da crise) merecia especial ênfase em virtude de sucessivos anos de verdadeira RAPINA financeira feita pela Câmara aos seus cidadãos." (Precisamos em Tomar, de mudar!, vamosporaqui, 20/03/09)
Como se vê, o PS/Tomar proclama que a autarquia está falida, que a crise já é crónica e que a Câmara tem explorado excessivamente os munícipes (a tal rapina). Sendo assim, tendo em conta que o Município tomarense tem actualmente um pouco mais de 500 funcionários (tanto quanto foi possível apurar, pois os eleitos recusam-se obstinadamente, pelo menos até agora, a cumprir o disposto na Lei 46/07, designadamente no seu artigo 5º), o que dá a bagatela de um funcionário para 90 habitantes, parece urgente fazer algo de substantivo, de modo a sanear a sua situação económica, complicada desde há anos.
Como em qualquer outro sector, em economia não há milagres. Os recursos são por todo o lado limitados ("não há almoços grátis"), pelo que restam poucas hipóteses de inverter a grave situação. Quer queiram ou não, mais tarde ou mais cedo, e quanto mais tarde pior, os responsáveis terão de agir nas duas vertentes possíveis, em simultâneo, isoladamente ou em alternância.Essas duas vertentes são as receitas e as despesas, sendo que as hipóteses de medidas correctivas não são muitas. Ou aumentam as receitas, ou diminuem as despesas, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Em qualquer dos casos haverá consequências sociais e políticas graves, que nenhum partido quererá suportar isoladamente. Se decidirem aumentar as receitas, haverá protestos dos munícipes e mais alguns irão procurar paragens mais clementes, pelo que as receitas, em vez de aumentarem, diminuem. Como bem sabem os economistas, "demasiado imposto mata o imposto". Se, ao invés, resolverem diminuir as despesas, terá de haver redução de consumíveis, de ajudas de custo, de horas extraordinárias, redução de funcionários e, na medida do possível, despedimentos e/ou não-renovação de vínculos precários.
Como se vê, o futuro é sombrio, ganhe quem ganhar, governe quem governar, administre quem administrar. Quanto mais crédito pedirem, maiores são os encargos a assumir, o que, com as receitas a desabarem...
Pois foi neste contexto que conhecem tão bem, como já foi demonstrado acima, que os socialistas locais, bem como os independentes e o PSD, resolveram avançar com medidas ditas anti-crise e a favor de Tomar, mas na realidade tendentes a diminuar as receias e a aumentar as despesas do Município, em 2,6% no caso do PS, OU SEJA EXACTAMENTE O OPOSTO DO QUE DEVE SER FEITO, mas não dará votos, por motivos óbvios, igualmente elencados acima. Trata-se, por conseguinte, de pura demagogia, tendente a agravar a crise local a médio e longo prazo, a coberto de "esmolinhas" para angariar votos. Não sendo crime, delito ou contra-ordenação, trata-se inquestionavelmente de atitudes inaceitáveis no quadro de uma política honesta e responsável. A não ser que os dirigentes e outros eleitos locais ainda não se tivessem dado conta das implicações gravosas das medidas propostas, que em vez de minorarem iriam agravar a crise. É o que falta apurar.

3 comentários:

Unknown disse...

Fontes muito bem informadas dão conta de uma reunião na sede local do PSD onde, face à crescente contestação, o Presidente da Câmara resignou ao mandato.

A decisão será comunicada amanhã em conferência de imprensa a convocar para o efeito.

Sebastião Barros disse...

Pois, amigo Caiano! Muito agradecido pela notícia, realmente sensacional e em primeira mão. Só peca por um pequeno detalhe: Hoje é dia 1 de Abril, dia das mentiras!
Mas está bem engendrado, sim senhor! Parabéns.

Anónimo disse...

Assim fica o Carrão a comandar o barco naufragado!