"Como diz Henrique Neto, Sócrates era um homem profundamente impreparado para a função de primeiro-ministro. O modo como foi negada a crise de 2008 até ao limite do colapso do País, é aí que se vê a preparação de um homem para enfrentar circunstâncias extraordinariamente difíceis.
Ao contrário do que muitas vezes se ouve dizer -que a determinação é que é importante- eu penso que depende: se é uma determinação de pura teimosia, de não ser capaz de ouvir os outros, isso traduz em geral é medo, impreparação.
José Sócrates era teimoso ou tinha medo?
No essencial, ele não se sentia seguro. Era uma pessoa que não estava segura das suas opções e adoptou um conjunto de dogmas. Só ouvia algumas pessoas. É um erro. Não sei se não está a repetir-se hoje o mesmo erro, que é fechar muito a leitura da realidade e achar-se que a bondade de uma política depende da determinação. A determinação na asneira é gravíssima e Sócrates foi também determinado na asneira. Parece que é uma receita que continua a fazer bastante sucesso em Portugal.
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Há muita gente de olhos fechados, muitos sonâmbulos, pouca lucidez e realismo na política portuguesa. Pouco conhecimento também..."
São declarações de Manuel Maria Carrilho, Ministro da Cultura no governo de Guterres, numa entrevista conduzida por Paulo Pinto Mascarenhas, hoje publicada no Correio da Manhã. Resolvi citá-las porque, substituindo o nome do ex-primeiro-ministro pelo de eleitos tomarenses, obtém-se uma descrição assaz completa da triste realidade local. Também nas margens do Nabão impera a teimosia, a obstinação, a negação da envolvência. Também nas margens do Nabão há muita insegurança, muita falta de preparação, muita ignorância. Também nas margens do Nabão só se ouvem algumas pessoas. As que dizem aquilo que se gosta de ouvir. Os do costume.
Desde o início do actual mandato que venho alertando para o cada vez mais grave e rápido afundamento do concelho, causado pela falta de um projecto sólido e adequado, por obras insensatas, por orçamentos megalómanos e pela óbvia incapacidade de gestão da actual maioria relativa. Infelizmente sem qualquer resultado até agora. Com os visados a negarem sistematicamente a evidência, e a alcunharem de maledicência o que mais não é afinal do que advertência e descrição da desagradável realidade.
Escudam-se também na desculpa velha e relha da inveja e da luta política. Puro engano! Nunca me movi nem movo pela inveja e não estou na luta política, uma vez que desligado de qualquer grupo e não almejando qualquer cargo, benesse ou facilidade. Limito-me a tentar evitar, na modesta medida das minhas fracas capacidades, aquilo a que se pode chamar o desastre terminal. A hecatombe final. A maleita mortal e sem remédio, porque atacada demasiado tarde.
Ando por essas ruas, oiço as pessoas, leio, medito, empreendo mentalmente, e cada vez estou mais convencido de que, caso o actual mandato vá até ao fim, com as mesmas práticas usadas até agora, muito dificilmente a antiga capital templária e dos Cavaleiros de Cristo alguma vez voltará a recuperar o esplendor que já conheceu. Posso estar a ver mal e oxalá assim seja. Mas sendo indubitável que apenas podemos ir para o futuro, mesmo com os conterrâneos de olhos fixos no passado; aonde quer que consigamos chegar, já estaremos outra vez atrasados. Demasiado atrasados. Como sempre, desde o século XVI. A inteligência não se ensina nem se aprende. E faz tanta falta!
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