domingo, 25 de setembro de 2011

LEVADA: UMA TRISTE AVENTURA QUE SÓ PODE ACABAR MAL

Lagares da Levada nos finais do século XIX. Foto Silva Magalhães.
Vimos no post anterior que a visita guiada às obras da Levada não foi propriamente uma maravilha. Claro que terá havido gente muito satisfeita. Há sempre. Os madeirenses estão muito satisfeitos com o Alberto João. Pelo menos até que venham a saber o que os espera... Coisas que acontecem quando os senhores eleitos enveredam por peculiares percursos mentais.
Em Tomar, por exemplo, para tratar dos dentes vão ao dentista, para consertar os sapatos ao sapateiro, para comprar carne ao talho, para doenças ao médico e para comunicação aos especialistas dessa área. Para as visitas guiadas, porém, acham que qualquer um serve. Apesar de haver no país mais de dois milhares de guias  habilitados com a respectiva carteira profissional... Mistérios da democracia portuguesa.
Ainda assim, foi possível colher factos importantes -fundamentais mesmo- para prever a evolução (autant que faire se peut) do anunciado "Museu da Levada". De forma polida e muito diplomática, numa curta mas substantiva intervenção, o autor do projecto, arquitecto Chuva Gomes, mencionou os múltiplos e muito complexos constrangimentos do mesmo. Assinalou a inadequação de todas aquelas edificações para visitas guiadas, à luz  das normas nacionais, das normas europeias e das normas de segurança. Posteriormente, em conversa privada, da qual Tomar a dianteira teve conhecimento, lastimou-se por ter tentado, desde o tempo de António Paiva, mas até agora debalde, que a câmara lhe faculte uma ideia englobante, uma directriz estratégica, um texto estruturante ou, como também se usa agora, um normativo portador de futuro, onde "encaixar" o projecto da Levada.  Acessoriamente -como simples turista- assumiu que discordava do que está a ser feito junto ao Convento, pois o estacionamento deve ser sempre cá em baixo, fazendo os visitantes o restante percurso a pé, ou em transporte específico. Nunca de automóvel ou autocarro.
De tudo isto resulta -parece-me- que o projecto da Levada vai terminar como uma triste aventura, sem proveito para ninguém. Como quase sempre nas tragédias, por agora vai tudo muito bem. Trata-se apenas de demolir, picar, fazer as coberturas. O pior vem a seguir, com as diferentes redes de abastecimento, as especialidades, a compartimentação, os acabamentos e, finalmente, o calvário: os equipamentos e o recheio. Só para dar uma ideia: Visto  que as escavações arqueológicas não foram feitas em tempo oportuno (porque não havia verba para esse efeito), agora que apareceram os restos do lagar, exactamente no local previsto para a recepção aos visitantes e respectivas serviços técnicos e de apoio, QUE FAZER?
Outros óbices e de todo o tamanho: Na fundição, na central eléctrica e nas moagens, onde há máquinas em movimento e/ou actividades perigosas para visitantes desprotegidos, que dispositivos instalar, de forma a cumprir a exigentes normas de segurança em recintos abertos ao público? Na Moagem Nova, com os seus 5 pisos, como arranjar percursos de evacuação, imperativamente protegidos por portas corta-fogo? E escadas assaz largas, ou ascensores com suficiente capacidade, para grupos mínimos de cinco pessoas (4 visitantes+guia?) E corredores de visita sem se correr o risco de acidentes? Resolvido tudo isto, onde e como contratar especialistas de manutenção, administradores, guias e outro pessoal de apoio? E as dotações orçamentais para esse efeito?
Já se diz por aí ser desejável voltar a contratar alguns ex-trabalhadores da fundição-serralharia, por exemplo, para irem fazendo artefactos para venda. Não será melhor procurar saber antes quais as causas do encerramento da Fundição Tomarense? O tempo das vacas gordas já lá vai e não volta mais.
Sonhar é fácil. Todavia, do sonho à realidade... Por isso, parem enquanto é tempo. E pensem um bocadinho. O país e a cidade já não estão em estado de suportar mais aventureirismos, sem danos graves e irreversíveis. Quem vos avisa, vosso amigo é.

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