quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Correm turvas as aguas deste rio...

É de Luís de Camões, que era zarolho e poetou há mais de 400 anos, o título desta crónica. Escreveu ele: "Correm turvas as águas deste rio/Que as do céu e as do monte as enturbaram/Os campos florescidos se secaram/Intratável se fez o vale, e frio."
"Passou o Verão, passou o ardente Estio/Umas coisas por outras se trocaram/Os fementidos Fados já deixaram/Do mundo, o regimento ou desvario."
Pois é exactamente o que acaba de acontecer ali pelas bandas dos Lagares da Ordem de Cristo. Outra vez Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/Tomando sempre novas qualidades."
Houve necessidade de abater algumas árvores, cujas raízes já danificaram gravemente as paredes dos lagares. Como habitualmente, a operação foi mal preparada, mal comunicada à população, mal orientada e mal fiscalizada. Resultado: os cidadãos estão chocados, porque acham que foram cortadas árvores a mais. Segundo a Rádio Hertz o assunto vai causar alguma polémica, pois elementos do Grupo Ambientalista Aqua tencionam comparecer hoje na reunião do executivo, para protestar contra o abate indiscriminado, a destruição de ovos e de um ninho de cegonha preta. Uma espécie protegida, tão rara no país e no Vale do Nabão como os autarcas competentes.
Esta reacção dos defensores do ambiente e da população em geral parece indiciar que o usual elo de confiança entre eleitores e eleitos foi quebrado de forma irremediável por um executivo cada vez mais a funcionar em circuito fechado, à revelia de quem os elegeu e da nova realidade envolvente. A continuarem assim -e todos os indícios apontam para nesse sentido- aquando das próximas autárquicas dificilmente surgirá quem seja realmente competente para liderar o concelho. Estaremos uma vez mais limitados à escolha entre vários oportunistas, apenas interessados pelas benesses dos cargos aos quais se candidatam. Infelizmente.

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