quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma tragédia anunciada


Calçada de S. Tiago: Dois aspectos de um suporte de fixação para um candeeiro de iluminação pública. Sólido e esteticamente muito conseguido,  sem dúvida alguma..

Quando em 2001 António Paiva conseguiu maioria absoluta folgada, com um total superior a 15 mil votos, era praticamente um recém-chegado, conquanto já com alguma experiência autárquica. O êxito alcançado não resultou portanto do seu trabalho político em Tomar. Limitou-se a beneficiar do descalabro que fora o mandato anterior, designadamente um PDM cheio de costuras tortas e mal alinhavadas, bem como um falatório que era tudo menos abonatório. Problemas típicos de quem entrou na política pela janela do último piso...
Seguiram-se dois mandatos de forte liderança e ideias claras, ainda que nem sempre as melhores, mas por assim dizer em roda livre. Só já tarde apareceu alguma oposição à altura, que de resto acabou por desistir, ou por doença, ou por ter alcançado o objectivo que pretendia, ou por simples acomodação. Ida a ave para vôos mais altos e mais longos, a consulta eleitoral de 2009 terá sido tudo menos esclarecedora. Os observadores atentos apenas ficaram com a certeza de que nenhuma das forças em presença tinha qualquer projecto estruturante, ou coisa parecida. O habitual por estas paragens.
Anunciada uma coligação de interesses e sem programa, depressa se constatou termos um executivo apenas para ocupar os lugares e arrecadar os respectivos proventos. Um dos seus membros que procurou inovar, embora com os excessos próprios dos neófitos, logo foi posto na ordem. Graças a um pretexto muito oportuno e conveniente, retiraram-lhe os pelouros mais propícios a brilhar. E as abóboras bípedes locais rejubilaram. Tinha sido afastado um arrivista que não é do serralho mas do povo raso. Uma afronta, nesta terra dos que se julgam descendentes de templários e de navegadores, quando afinal não passam de herdeiros de militares subalternos e/ou de operários/agricultores a meio tempo.
E eis-nos em 2011, a meio mandato. Sem ideias, sem vontade, sem projecto e sem rumo. Com obras cuja utilidade futura não é nada evidente. Nas da Estrada do Convento, além do imbróglio causado pelo alambor, que está por resolver, começa a aflorar a ideia de que a empresa adjudicatária nunca se viu envolvida em semelhante camisa de onze varas. Pode até acontecer que acabe por abandonar a obra, para a qual manifestamente não estava preparada nem parece ter envergadura ou know-how, pelo menos no que concerne à organização do trabalho. Aquilo mais parece um campo de férias de adolescentes em autogestão.
Na Levada, o Elefante Branco está cada vez mais paquidérmico. O que não surpreende. De forma arbitrária, resolveu-se algures, sem grande debate prévio, que seria um museu polinucleado, com três sectores: fundição, electricidade, moagem. E avançou-se, sem mais estudos ou outras delongas, a tentar demonstrar que é andando que se prova o movimento. Esqueceram-se só de que durante séculos não houve ali nem fundição, nem electricidade nem moagem. Apenas lagares e mais tarde moinhos. Da Ordem e depois del Rei. De forma que agora a história vingou-se. E temos mais uma embrulhada de todo o tamanho, pois o aparecimento (para já!) de oito lajes escorredouras vai obrigar a dolorosas revisões em termos de afectação final.
Tal como no caso do Convento de Santa Iria, a relativa maioria é uma vez mais vítima da sua falta de humildade, de apego ao trabalho, de falta de vontade de aprender, do culto do segredo e do quero, posso e mando. Vamos aguardar os próximos episódios desta tragédia tomarense anunciada. Tragam lenços, que vai haver muitas lágrimas. Umas sinceras, outras de crocodilo. O último a rir...

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