terça-feira, 20 de setembro de 2011

Câmaras invertidas

Cada vez que aqui se criticam de forma fundamentada os ilustres senhores autarcas tomarenses, estes ficam muito enchicharados, como se enquanto eleitos passassem a fazer parte de uma casta superior, acima de qualquer suspeita, quanto mais agora de erros ou malversões. Como não dispõem de argumentação susceptível de anular os factos avançados, recorrem em geral à arma dos reles e ignorantes -caluniam, tentam apoucar e desculpam-se com a má-língua e a inveja de quem ousa criticar.
A crónica que a seguir se transcreve demonstra que, se considerarmos que as críticas de Tomar a dianteira são apenas inveja, ignorância e má-língua, então estamos perante uma tendência que vai alastrando em todo o país. Com os eleitores cada vez mais conscientes de que o labor dos senhores eleitos não tem como principal objectivo resolver problemas da população, mas apenas satisfazer compromissos anteriores inconfessáveis. Em Tomar, por exemplo, onde abundam as obras inúteis, só ainda não percebeu o busilis da questão quem nisso não está interessado. Porque lhe convém.
 Na infeliz cidade nabantina, não só as obras são em geral inúteis, mal concebidas e desinseridas de qualquer estratégia, como as empresas, os trabalhadores e os materiais para elas vêm sempre de alhures. Um fiasco completo, por conseguinte, com os tomarenses cada vez em maiores dificuldades, enquanto a autarquia continua a fingir de rica. Por pouco mais tempo, que mesmo os calotes têm um limite. Mas enquanto dura...

"As câmara municipais ficam muito caras aos cidadãos. Cada português paga em média cerca de mil euros por ano de impostos para a sua autarquia, ou seja, quatro mil euros para uma família de média dimensão. E para quê? Para muitos autarcas andarem a adjudicar negócios aos financiadores de campanhas eleitorais e a garantir empregos aos apaniguados do partido.
As autarquias esqueceram, ou até inverteram, a missão que lhes está atribuída. Deveriam, em primeiro lugar, gerir, com qualidade, o espaço público. Mas as ruas e passeios estão em péssimo estado, pela total ausência de um sistema de manutenção. A via pública está suja, resultado de uma limpeza urbana ineficaz. Rareiam os parques infantis, não há infra-estruturas de apoio, o espaço público está abandonado à sua sorte.
Competiria também aos municípios garantir o ordenamento do território, através dos seus pelouros de urbanismo. Mas estes transformaram-se muitas vezes em centros de troca de favores entre autarcas, dirigentes e promotores imobiliários. De tudo lá se passa. Valorização ilegítima de terrenos, um tráfico de influências generalizado... tudo, menos a organização adequada do território e a procura de qualidade de vida para os cidadãos. Mas se as câmaras não cumprem a missão que lhes está conferida, para onde são afinal canalizados os recursos? Onde são derretidos os muitos milhares de milhões de euros, a começar pelos mil milhões de orçamento da câmara de Lisboa e a acabar na mais pequena das autarquias?
Não será difícil adivinhar para onde vão todos estes recursos. Cerca de metade vai para alimentar uma máquina de pessoal gigantesca, que vem sendo alimentada com a entrada em catadupa de boys partidários. Este fenómeno agravou-se ainda mais na última década, com o advento das empresas municipais. O restante orçamento é destinado maioritariamente à adjudicação de empreitadas aos empresários que financiam as campanhas eleitorais.
No final, pode ser que, por coincidência ou engano, se faça alguma coisa de jeito, se construa uma ou outra obra necessária. Mas são apenas excepções que confirmam a regra.
Em vésperas de alterações da legislação autárquica, é crucial recordar que o maior problema das câmaras não é o seu organograma, mas o seu orçamento."

Paulo Morais, Professor universitário, Correio da Manhã, 20/09/2011, página 2

No que se refere a Tomar, se houvesse adjudicações apenas para retribuir financiamentos de campanhas eleitorais, já não seria mau de todo. O pior é que a máquina está montada e é cada vez mais voraz...


1 comentário:

Anónimo disse...

Temos maus governantes a todos os níveis, Dr. Rebelo. Isto está uma desgraça. E eu que tanta esperança tinha nas novas gerações. Durante os últimos 25 anos contrariava o pessimismo dos meus amigos à mesa do restaurante ao almoço, dizendo: Portugal dentro de 10 anos vai ser um dos países com mais sucesso na Europa. Só precisamos que entrem em cena as novas gerações partidárias. Dizia-o imbuído mesmo dessa certeza.

E veja só, a entrevista de PPCoelho terminou há cerca de duas horas e já o

WALL STREET JOURNAL PUBLICA ESTA NOTÌCIA:

"LISBON (Dow Jones)--Portugal's prime minister said late Tuesday that should Greece default, it is possible Portugal could need a second round of aid from its European peers and the International Monetary Fund.

"If something really negative happens in Europe, particularly in Greece, it is necessary that [Portugal] is fulfilling and even surpassing all the demands made by the troika," Prime Minister Pedro Passos Coelho said in a televised interview. ..."


Num momento em que os êxitos dos governos de José Sócrates nos primeiros 8 meses do ano vêm sendo revelados, a mostrar que o PEC IV é que era bom (controle do defice, cobrança de impostos, especialmente às empresas e IRC,

este farsolas sai-se com esta na televisão, como toda a gente ouviu, para além de dizer que até era capaz de vender empresas a 1 dólar.

O resultado está à vista.

Só me dá vontade é de chorar.

O meu Zézito era mesmo outra loiça.