domingo, 4 de setembro de 2011

A cidade dos muros e os indiferentes...













Em Tomar, ao princípio não era o verbo. Eram as muralhas do castelo e as da torre de defesa de Santa Maria. Quatro séculos depois foi o muro da Cerca Conventual, hoje Mata dos Sete Montes. E assim se manteve durante séculos. Vieram os dinheiros europeus e foi a desgraça. Os muros de betão brotaram da terra, como cogumelos após as chuvas primaveris. Há-os para todos os gostos. ;Dos mais estrambóticos aos mais inúteis; dos mais feios aos mais inadequados. Todos bem à vista dos tomarenses, que continuam indiferentes. 
Convém por isso contar-lhes, ou recordar-lhes, aos tomarenses, bem entendido, que os muros não percebem os humanos, a clássica história, neste caso adaptada: Primeiro levaram os judeus, que controlavam o dinheiro e a riqueza. Como eu não era judeu, mantive-me indiferente. Depois levaram os ciganos, gente sem eira nem beira, nem profissão conhecida. Como eu não era cigano, mantive-me indiferente.  Mais tarde foram os aleijados, tudo gente incapaz de ganhar a vida. Como eu não era aleijado, mantive-me indiferente.Seguiram-se os homossexuais, gente de duvidosa moralidade. Como eu não era homossexual, mantive-me indiferente. Chegou então a vez dos loucos, pesados encargos para as respectivas famílias e para o estado. Como eu não era louco, mantive-me indiferente. Anarquistas e comunistas foram embarcados a seguir, por não concordarem com a ordem social vigente. Como eu não era anarquista nem comunista, mantive-me indiferente. Chegou finalmente a vez dos indiferentes, cada um deles mais útil transformado em sabão do que como cidadão. Tentei reagir fugindo, mas era demasiado tarde...

1 comentário:

João Gomes disse...

Bem, se a grande maioria dos tomarenses permanece indiferente a tanto muro e a tanto dislate cometido quer por acção, quer por omissão, pela estranha coligação que governa o município, então poderá dizer-se que este povo passivo e inerte merece integralmente todos os danos e malefícios perpetrados a Tomar pelos detentores das gamelas.
E não se duvide que nas próximas eleições autárquicas os nabantinos voltarão a eleger os mesmos de sempre; está garantida a vitória daquele que todos sabem que será o cabeça de lista pelo PSD.
Ele ganhará, porque construiu ao longo de muitos anos toda uma teia de laços de vassalagem e de relações de dependência servil, que lhe permite levar pela trela muita gente em Tomar, das mais variadas áreas do tecido social e económico tomarense.
Ele ganhará, porquanto, ao limitar os seus actos de gestão à organização de almoçaradas e passeatas (e idas ao Campo Pequeno, em Lisboa) custeadas pelos erário público, é aquele candidato que satisfaz plenamente os caninos e limitados anseios de toda esta população indiferente: a vontade de que tudo fique na mesma, que não haja progresso nem mudança.
Mudar e evoluir é algo que deixa o rebanho amedrontado; e sobretudo o que a malta quer é que não acabem os almoçinhos e os passeios da idiotia, fornecidos por D. Carlos, o supremo detentor (e distribuidor) das gamelas em Tomar.