terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quais eram os objectivos visados?

Já aqui referi que o recente Festival de Estátuas Vivas foi um sucesso em termos de organização, de promoção,de comunicação e de afluência. Fala-se agora em 120 mil visitantes, o que me parece largamente exagerado, como de resto é costume por estas paragens. Há tendência para hiperbolizar tudo. Até a competência própria, infelizmente.
Ignorando completamente quais os objectivos a alcançar que poderão ter sido definidos à partida, não me é fácil fazer um balanço da iniciativa. Há, porém, algumas certezas: A - O público não pagou; B - As despesas terão sido avultadas; C - Houve transportes gratuitos no trajecto cidade-Convento-cidade; D -Uma parte dos custos foi paga com verbas da União Europeia, via QREN- MAIS CENTRO, o que me parece bastante insólito, pois esses fundos visam exactamente criar bases para gerar riqueza e bens transaccionáveis, o que não foi o caso. Nestas condições, pode-se dizer desde já, seja qual for o gasto total da coisa, que se tratou de uma boa iniciativa, todavia levada a efeito de acordo com um modelo ultrapassado e totalmente inadequado aos tempos que correm. É claro que alguns comerciantes (cafés, restaurantes, alojamento) terão ficado satisfeitos. Convém no entanto nunca perder de vista que os seus lucros não serão susceptíveis, nem coisa parecida, de proporcionar uma arrecadação de impostos capaz de compensar a despesa feita. E aqui é que bate o ponto.
Uma autarquia que gasta anualmente, sem qualquer retorno negociável, 900 mil euros com instalações desportivas, 400 mil euros com os transportes, 400 mil euros com os dois parques de estacionamento, 200 mil euros com subsídios a colectividades várias, e assim sucessivamente, só por manifesta ignorância da nova realidade económica em que estamos mergulhados, quer queiramos quer não,  pode levar a efeito um evento que custa ao erário público dezenas de milhares de euros, sabendo-se à partida que não facultará qualquer riqueza transaccionável. Há, é certo, a promoção política, no que concerne à imagem. Mas até nesse aspecto, ou muito me engano, ou as coisas vão correr mal. Dificilmente o festival ou o congresso da sopa poderão ser repetidos nos mesmos moldes em 2012. E em 2013 -logo quando mais interessava- então nem pensar nisso é bom! Não haverá disponibilidade orçamental, nem qualquer hipótese de a conseguir. A menos que hotéis, restaurantes, cafés e outros, façam uma vaquinha. Serão capazes disso? Tenho muitas dúvidas.
Caso contrário, será necessário enveredar pela tal mercadização, já mencionada em post anterior. Mas aí surgirá uma nova problemática assaz complexa, que me abstenho por agora de esmiuçar.
Quando souberem que as entradas são pagas, no mínimo para cobrir os custos, a maior parte dos visitantes deixará de cá pôr os pés, que a vida está cada vez mais difícil. Mas, por outro lado, será então possível saber quantos é que pagam mesmo para participar num dado evento. Pense-se no Congresso da Sopa, que apesar das entradas pagas...
Têm dúvidas em relação ao que aqui é dito? Então façam o favor de considerar que a nossa autarquia já não consegue obter dinheiro da banca a menos de 9%, quando a Alemanha apenas paga 2% e a Itália 5,7%, o que já se considera alarmante. Tenham em conta igualmente que Sócrates pediu a ajuda da troika e convocou eleições que perdeu, quando os juros nalguns prazos andavam pelos 9%, enquanto íamos de sucesso em sucesso, segundo o primeiro-ministro de então. Estão a ver aonde pretendo chegar? Depois não se lastimem que ninguém vos preveniu.

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