quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Falando com uma amiga...

Minha querida amiga:
Há tanto tempo! Ao ler o teu mail, as lágrimas vieram naturalmente. De alegria. Por saber que estás óptima, no outro lado do mundo. Quase 44 anos passados sobre aquele memorável dia de Maio de 1968. Ali, no amplo anfiteatro da Sorbonne. Compreendo que te sintas feliz na Austrália. Tanto quanto sei é gente despachada, aberta, fraterna, de raciocínio rápido, que vive e deixa viver. O comum entre os anglo-saxónicos, que apenas têm de quando em vez problemas com a cor da pele. Nós aqui continuamos como sempre. Fraternos com todos, mas cada vez mais complicados. E bastante perros, cerebralmente falando...
Tomar vai de mal a pior, num país em crise profunda, com os habitantes ainda convencidos de que o tempo das vacas gordas e outras facilidades vai voltar, não tardará muito. Eu bem vou procurando alertar no blogue, porém sem resultados visíveis.
A relativa maioria autárquica, agora amparada pelos IpT, continua a encanar a perna à rã, à razão de 200 euros por cabeça e por reunião do executivo. 7 x 200 = 1.400 euros = 280 contos. Devem ser os coveiros mais bem pagos do país, uma vez que o trio PSD ainda soma mais 3 x 3.000 = 9.000 euros mensais = 1800 contos + assessores + secretárias+ telemóveis+gasolina+ajudas de custo+despesas de representação. Um verdadeiro maná. Que os dois eleitos socialistas tiveram a coragem de abandonar em protesto, o qual não teve consequência até agora, uma vez que os independentes continuam muito confortáveis à sombra da bananeira, abstendo-se no essencial e protestando publicamente em áreas que não lhes dizem respeito. Como no caso do hospital, por exemplo.
Num processo ainda por esclarecer cabalmente, até os eleitos PSD se juntaram a uma recente Comissão de Saúde, criada na Assembleia Municipal, para atacar a política do governo PSD/CDS. Estranha unanimidade. Desde o início que se esfalfam a exigir a suspensão da reforma hospitalar em curso, sem contudo apresentarem qualquer alternativa. O  que leva a supor que procuram sobretudo emperrar o processo, ao mesmo tempo que constituem uma manobra de diversão, para que os tomarenses, assim entretidos com o hospital, se alheiem da triste situação da cidade e do concelho.
Agora que o problema hospitalar começa a ficar esgotado, políticos com muitas décadas de experiência resolveram lançar outra polémica para distrair o povo, naturalmente por intermédio de um subalterno que ninguém conhece, não vá dar-se o caso de a coisa falhar estrondosamente. Segundo dizem, o grande culpado de todas as desgraças dos tomarenses, incluindo a reforma do hospital, é o agora ministro Relvas, também presidente da Assembleia Municipal. Um malandro, uma peste, dizem alguns esquerdistas agora reformados. Descobriram entretanto, passados meses, que o homem não é ubíquo, pelo que não consegue estar ao mesmo tempo em Lisboa e em Tomar. Que grande novidade!
Mas tem mais. Como está naturalmente a favor da reforma hospitalar em curso, acha o PCP/CDU que deixou de ter dignidade para presidir à AMT. Temos assim que, para os comunistas, unanimidade=dignidade. E eu que estava convencido de que o socialismo real tinha acabado por implosão em 1989...
Cansado de tantas tropelias e indignidades, Relvas continua a dizer que gosta muito de presidir à AM de Tomar, que considera a sua terra, mas que tudo tem um limite. Como eu o compreendo! A  maior parte dos nossos conterrâneos infelizmente continua a agir exactamente como descreveu aquele viajante romano nos primeiros séculos da nossa era: "Não se sabem governar nem deixam que os governem." Até quando?
Caso Miguel Relvas venha a ser destituído da presidência da assembleia, é óbvio que por uma questão de dignidade também renunciará ao mandato. E irá para Lisboa ressentido e magoado com a inóspita atitude de alguns tomarenses. Perderemos assim um excelente embaixador na capital e no governo. Indispensável para abrir certas portas e agilizar determinados procedimentos, tudo coisas sem as quais os projectos, por mais sérios e excelentes que sejam, se perdem nos meandros da labiríntica burocracia lusa. 
Nesse caso, julgo que não valerá sequer a pena apresentar o meu projecto de desenvolvimento multifacetado para Tomar. Já estou demasiado velho para garotices e quem votar favoravelmente a destituição de Relvas, não passará afinal de um reles fedelho político, que não entende minimamente o mundo em que vive. Aqui fica o aviso solene.
Um grande beijo de amizade e desculpa tornar público este desabafo. Há coisas que me entristecem sobremaneira, obrigando-me a partilhá-las com alguém, como forma de alívio.

Abraça-te fraternalmente o "soixante-huitard de toujours",

António Rebelo

1 comentário:

Luis Ferreira disse...

Prof.Rebelo

Para sua informação os deputados municipais e os vereadores recebem por cada reunião em que estão presentes, da assembleia Municipal e da câmara Municipal, além de subsidio de deslocação, caso residam a mais de 5Km da sede do Municipio, uma senha de 68,68€

Esse valor é igual ao de todos os Municipios entre 10.000 e 40.000 eleitores.

Um Presidente de Câmara recebe cerca de 3400€ ilíquidos, sobre os quais incidem descontos e impostos, um vereador a tempo inteiro e exclusividade 3000€, um Presidente de Junta de Freguesia a tempo inteiro mais ou menos 2000€ (Santa Maria) e a meio tempo quase 1000€. (S.João e Casais), os outros recebem cerca de 190€.

Abraço
LF