segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

LISBOA FUNCHAL TOMAR = DOIS TIPOS DE POLÍTICA



Nota prévia: Para que o amigo FERROMA não me venha acusar outra vez de "fazer caixinha", eis a base científica da substância do texto seguinte. É em francês, traduzido do inglês/USA. Não conheço a tradução portuguesa, se alguma vez foi publicada.

Lisboa, Funchal, Tomar = dois tipos de política, que o mesmo é escrever PP Coelho, Jardim e Carrão = política racional versus política emocional. Em linguagem mais corrente, o governo continua contra ventos e marés a implementar uma política impopular, mas corajosa e racional, com objectivos bem definidos à partida, não pelos seus membros mas pela Troika, em nome dos credores externos. Comete erros? Alguns, como é inevitável. Mas segue um caminho, delimitado por prévias decisões racionais: diminuir as despesas públicas, reduzir o défice, dar garantias aos credores externos.
Num outro eixo, Funchal e Tomar = Jardim e Carrão optaram por uma política de fantasia, de faz de conta, de depois logo se vê. Não por acaso, ainda ontem o patusco madeirense apareceu na TV a tentar virar o bico ao prego. Manifestou a intenção de convidar a senhora Merkel a visitar a Madeira, insinuando que a chanceler alemã foi infeliz por ignorância, ao acusar a Madeira de excesso de obras públicas e falta de competitividade. Sabedor de que a governante alemã não ligará nenhuma ao que dela dizem no Funchal para consumo interno, o manhoso Jardim procura manter o seu eleitorado tradicional convencido da bondade da sua política emocional. Por isso fingiu não perceber  a evidente metáfora merkeliana, que obviamente se referia a todo o país e não apenas a uma ilhazita de 200 e poucos mil habitantes, a mais de 3 mil quilómetros de Berlim.
O que a líder efectiva da Europa pretendeu dizer, julgo eu, foi que desaparecidas as condições que possibilitaram o desenvolvimento europeu (ascendente político e cultural, matérias primas baratas, reconstrução, mão de obra qualificada...) deixou de ser possível confundir despesa com investimento e objectivos racionais com realizações emocionais. Tipo escolas sim, estádios do euro não. Tornou-se indispensável que cada governo e cada entidade dependente do orçamento de Estado, alimentado pelos contribuintes, faça tudo o que estiver ao seu alcance para viver com aquilo que tem, recorrendo aos empréstimos unicamente para investimentos cujos retornos os permitam pagar. Isto por ser impensável que se possa aumentar ainda mais a já excessivamente pesada carga fiscal na generalidade dos países europeus.
No caso português, o governo PSD/CDS, conquanto ainda no bom caminho da razão, já começou a perder oportunidades que dificilmente voltará a ter. Está, por exemplo, a protelar a reforma autárquica, com a inevitável supressão de freguesias e de concelhos, procurando alcançar algo impossível: o acordo das respectivas associações nacionais, que logicamente pretendem mudar apenas alguma coisinha, para que tudo
possa continuar na mesma.
No meu tosco entendimento, seria bem mais eficaz confrontar desde já os respeitáveis autarcas com aquela velha máxima do Grouxo Marx: "Vocês vão ser cozinhados e comidos. Por isso façam o favor de escolher  o modo de cozedura e o molho." Talvez assim entendessem que o objectivo final da reforma autárquica não consiste em suprimir por sadismo, ou prejudicar por mesquinha vingança política. Apenas conseguir, numa fase posterior, a eliminação de cerca de 20% da função pública autárquica.
O perigo virá da inépcia, como já se está a ver no caso grego. A troika exigiu há dois anos a supressão de muitas autarquias e a redução de 50 mil funcionários. Dado que esse objectivo ainda não foi conseguido, agora colocam como condição prévia para desbloquear o segundo resgate o despedimento imediato de 15 mil funcionários, de um total de 150 mil em três anos. É algo assim que se pretende para Portugal? Ou mais vale procurar cumprir logo à primeira o exigente caderno FMI/BCE/CE?
Resta o caso tomarense, homólogo do madeirense, como já se disse em post anterior. Agindo emocionalmente, sem planos nem vontade de os conseguir, quanto mais agora de os implementar, os integrantes da relativa maioria vão procurando iludir o provinciano eleitorado tomarense. Três exemplos: As obras da estrada do Convento são para concluir em 8 meses, mas ninguém sabe quando vão recomeçar. O Elefante Branco da Levada vai-se arrastando, porque ninguém sabe o que fazer após os telhados e o reboco das paredes exteriores. Os TUT continuam a custar aos contribuintes 400 mil euros = 80 mil contos por ano. O presidente em exercício veio agora anunciar putativas poupanças de 750/800 mil euros anuais, como se isso fosse exequível, numa casa sem rei nem roque, praticamente em auto-gestão há longos anos,  acostumada à fartura e ao desperdício.
Tal como na Madeira, o principal problema nem é, a bem dizer, a ilusão emocional (somos os escolhidos, temos uma missão a cumprir, a população apoia-nos, não podemos abandonar...), mas um facto singelo, cada vez mais claro: A cada dia que passa o défice vai aumentando, pois a autarquia já nem sequer consegue contentar-se com as verbas de que dispõe, sendo obrigada a ferrar calotes e a pedir dinheiro aos bancos para honrar compromissos de gestão corrente. Por tal caminho, se nada for feito entretanto, como estaremos em finais de 2013?
Os sentimentos são uma coisa muito bonita, mas as sardinhas compram-se com euros, conseguidos em actividades racionais e lucrativas. Com ou sem bons sentimentos.

3 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

OLHEM SÓ PARA ESTA PAIXÃO POR ESTE GOVERNO!...

Para o Dr. Rebelo com amizade -
O que, perdendo-se, estacou no meio da floresta...

Foi naquela famosa entrevista?... Ou em conversas moles preliminares e posteriores à mesma? É que o entrevistado tem artes de estancar a fluidez de um diálogo, paralizar o bom raciocínio, baralhar a razão, fazer tropeçar as palavras, inverter a lógica das coisas e encavalitar as frases para que não lhe topem a manha - mas ela escorre sempre no final, em cinzento sujo. "Toda a gente sabe...", costuma o bestunto rematar. Mas sabe o quê?!

A Clara Ferreira Alves, na Revista do "Expresso", sábado passado, sabe, e dá um público contributo. É de ler! (bem que merecia aqui ser citada).

Porque o Dr. Rebelo é um tomarense com problemas de identidade, entre a francofonia e a lusofonia, que tomava o "Café" (ou "café au lait") no "Luxembourg"(?) e dali ia ao cinéma (algumas vezes o vi fazer esse itinerário com a sua companheira), dedico-lhe algumas citações, em franciú, pois parece ter lido pouco os clássicos franceses, ou, o mais provável, tê-los esquecido, dando alta primazia à bestunta pessoa a que acima, por portas travessas, me refiro.

Ma seconde maxime était d'être le plus ferme et le plus résolu em mes actions que je pourrais, et de ne suivre pas moins constamment les opinions les plus douteuses, lorsque je m'y saurais une fois determiné, que si elles eussent été très assurées". A primeira máxima era "d'obéir aus lois et aux coutumes de mon pays".

O Dr. Rebelo, o Homem Bom tomarense, deixou-se enganar e ficou à deriva "au milieu de la forêt" Lusitana.

"Imitant en ceci les voyageurs qui, se trouvant égarés en quelque forêt, ne doivent pas errer en tournoyant, tantôt d'un coté, tantôt d'un autre, ni encore moins s'arrêter en une place, mais marcher toujours le plus droit, qu'ils peuvent vers un même côté, et ne le changer point pour de faibles raizons (...), car, par ce moyen s'ils ne vont justement où ils désirent, ils arriveront au moins à la fin quelque part, où vraisemblablement ils seront mieux que dans le milieu d'une forêt"

A adesão do Dr. Rebelo a este governo, depois daquela fatal entrevista, leva a citar a universal frase do autor destas citações:

"Le bon sens est la chose du monde la mieux partagée".

Não concorda?
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PS: Citei em francês por não ter a obra em português, e para que só o Dr. Rebelo... as compreenda - também por uma questão de "Méthode".

jccorreia disse...

O sr. Cantoneiro tem-se em alta conta e excede-se , resvalando para a grosseria.
Parece apenas para génios ou bisonhas mas dóceis correias de transmissao deduzir dos milhares de textos do Professor Rebelo ilações do tipo das que o comentador se permitiu afirmar: o velho socialista virou apoiante do governo doPSD e prestou pouca atenção aos clássicos!
O sr. cantoneiro parece escrever para si próprio,com evidente deleite. Para os leitores, verdadeiramente,apenas uns generosos pingos do frasquinho de cultura.
Que sensaboria.

Anónimo disse...

Meu caro Cantoneiro:
Obrigado pelos conselhos, se calhar já um pouco atrasados, sobretudo tendo em conta que "burro velho não aprende línguas".
Ao invés do que afirmas, não tenho qualquer paixão pelo governo ou por algum dos seus membros. Era o faltava! Limito-me a constatar que exercem o poder num contexto extremamente difícil, fazendo o que deve ser feito, por ser indispensável ao nosso futuro colectivo.
Bem sei que como homem de extrema-esquerda, mais tarde transferido para o PS "do meu Zèzito", achas que as coisas iriam melhor com mais Estado, mais funcionários, mais despesa pública de "investimento", aumento do ordenado mínimo,melhoria das pensões e por aí adiante. Foi chão que já deu uvas, meu velho. Olha para a tua terra, enterrada em dívidas e em asneiras. Olha para o teu país, que sem auxílio europeu já nem consegue pagar sequer os juros da dívida. E tudo isso para quê?
Cada um é livre de fantasiar como entender. A democracia também serve para isso. Não vale é apontar os outros como culpados de "crime" que não cometeram.
Aproveito para te assinalar que além da longa estada em Paris, onde trabalhei como salariado e estudei, também já tive ocasião de visitar todos os países ainda de governo comunista, excepto dois -Chipre e a Coreia do Norte. Por conseguinte, quando critico determinadas actuações políticas, baseio-me designadamente naquilo que vi em Cuba, no Vietnam, na China e no Laos. Disponho até de alguns milhares de fotografias, que um dia te poderei mostrar.
O que politicamente nos separa, meu estimado amigo e conterrâneo é nomeadamente aquela anedota que me foi contada por um cubano: O regime castrista conseguiu três grandes êxitos -o desporto, o ensino e a saúde- mas regista também três grandes falhanços -o pequeno almoço, o almoço e o jantar.
Quando se tem a barriga cheia vêem-se as coisas de um modo; quando repetidamente se tem fome,a realidade é outra...