quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Maneiras de defender Tomar

Nas comunidades praticamente sem lastro democrático, como é o caso da tomarense, resulta fácil confundir pessoas e realidades, ou até manipular, tendo em vista objectivos estratégicos tarde ou nunca explicitados. No caso da reforma em curso no CHMT, constatada alguma adesão popular numa primeira manifestação, convocada de forma clandestina, tem sido um ver se te avias. Sucederam-se outras concentrações, já com menos participação, bem como vários debates onde -como é habitual- ninguém debateu nada. Esta noite está marcada nova sessão, desta vez com deputados municipais, utentes e funcionários do hospital.
Nas sociedades democráticas, tais encontros são sempre extremamente úteis, apesar de geralmente improdutivos no que concerne ao tema em discussão. Funcionam como válvula de escape em panela de pressão. Sem eles, aumentaria muito consideravelmente a conflitualidade social, tanto em frequência como em intensidade. Além de que, em termos de saúde mental, desempenham a mesma função das terapias de grupo em psiquiatria, das consultas de psicanálise, ou das reuniões dos "Alcoólicos Anónimos".
Não tenhamos, porém, qualquer ilusão. Tais ajuntamentos para "serrar presunto", "partir pedra" e "vender bacalhau a pataco" tendo, como acabado de constatar uma inquestionável utilidade sociológica, não servem para defender Tomar nem o hospital. Não servem para defender a cidade porque agora e doravante, tendo em conta a problemática envolvência nacional e internacional, os concelhos já não podem ser defendidos exigindo benesses do Estado, ou pretendendo manter contra todas as evidências serviços com custos inaceitáveis para o erário público. Daqui para a frente, a melhor defesa de Tomar será o ataque e a eliminação tão rápida quanto possível das asneiras recorrentes que nos trouxeram para onde agora estamos. A principal das quais é uma autarquia que ao longo dos anos tem feito tudo para enxotar os investidores e a iniciativa privada. Nomeadamente tardando meses e anos para tomar uma decisão, em casos que noutros concelhos se resolvem em semanas. E sem iniciativa privada, não são os serviços públicos de um Estado praticamente falido e por isso compelido a cortar por todo o lado que nos vão poder valer. A ideia peregrina de que a Festa dos Tabuleiros -que custa ao erário mais de 300 mil euros = 60 mil contos- é para defender Tomar, deixou de ter pernas para andar. Os tempos agora são outros.
Quanto ao CHMT e particularmente à sua unidade de Tomar, não adianta insistir, tentando vender gato por lebre. Se há um dolorosa reforma estrutural em curso é porque a situação anterior não era sã nem aceitável, pois ia aumentando um passivo que já atingira 160 milhões de euros = 32 milhões de contos. É óbvio que nenhum governo resultante de eleições livres gosta de prejudicar deliberadamente qualquer grupo de eleitores, sabendo bem que as pessoas geralmente esquecem depressa o bem que lhes fazem, mas nunca o mal. Logo, se há mudanças dolorosas para populações e funcionários, será porque são inevitáveis. Sabedores disto, alguns mentores políticos ditos de esquerda e até de extrema esquerda, recorreram ao que de pior tem a sociedade tomarense: o boato, a calúnia, a atoarda, o subentendido, a insinuação... Tudo para tentar inculcar a ideia de que estaria em curso uma cavilosa operação clandestina, tendo como objectivo principal vender, privatizar ou encerrar o hospital, provocando despedimentos às centenas. Mas quando se lhes pede que fundamentem, que mostrem documentos oficiais ou outros, moita carrasco! Triste gente!
Além disso, ignoram situações assaz peculiares, que duraram anos e em relação às quais nunca protestaram. Peguemos por exemplo no caso da ortopedia, valência que agora foi transferida para Abrantes. Apesar de existirem no Hospital de Tomar, segundo julgo saber, cinco blocos operatórios dos mais modernos do país, os cidadãos que recorriam a tal serviço e necessitavam de próteses ou outras intervenções pesadas eram sempre confrontados com uma imensa lista de espera, superior a um ano. Mas informavam-nos logo que no privado -pagando, claro está- o problema se resolvia numa ou duas semanas, se tanto. Obtida a concordância do utente, que assim passava a cliente, era vê-los a andar para o Entroncamento, onde eram intervencionados pelos mesmos clínicos de hospitais públicos, assoberbados com uma gigantesca lista de espera, embora sempre com blocos operatórios livres. Será isto moralmente aceitável? Afinal,  os funcionários em geral são servidores do Estado? Ou sacadores do Estado? Então porque será que nas manifestações e nos debates nunca se fala destas coisas, nem das horas extraordinárias, nem do registo biométrico pela porta da frente, com saída logo a seguir pela de trás?
Costuma dizer o povo, baseado numa experiência milenar, "É por estas e por outras que as cabras marram umas nas outras". Os tomarenses, porém, não há meio de aprenderem que "isto está tudo ligado". Tanto para o bem como para o mal...

6 comentários:

Tomar Tótó disse...

A questão é que ninguem tem confiança em ninguem: no governo que faz o contrário do que disse; no administradores (dos plásticos) que não esclarecem os fundamentos das propostas; na racionalização que significa sempre sair de Tomar. As camas em Abrantes são mais baratas? Em Abrantes há mais população? O Hospital é mais moderno, ou precisa de obras? Os médicos fora de Tomar já não aldrabam o ponto?
Fala em atoardas. Então as manobras em Portugal a favor de grupos de interesses são novidade?
Não há dinheiro. Mas o Estado meteu ontem no BPN não 100, nem 200, nem 500 como previsto, mas 600 milhões de euros (um seis com oito zeros à direita). Banco vendido ao professor perdigoto e amigos angolanos por ...45 milhões.
Depois queixem-se que voltaram os bolcheviques

Tomar Tótó disse...

Não é por nada, mas não gosto de ser tótó. E talvez os tomarenses acabem de perceber que andaram anos a fazer deles tótós. Virá a tempo um possível reviralho?

Luís Carlos Cardoso disse...

"O motorista do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, tem um contrato que prevê o pagamento de 73 mil euros num prazo de três anos, noticia o "Correio da Manhã".

O funcionário vai receber 2448,22 euros por mês, o que equivale a 1300 euros líquidos, mais do que o motorista do primeiro-ministro, que aufere 1047 euros mensais.

O motorista de Relvas já trabalhou para o grupo parlamentar do PSD e foi transferido para o gabinete do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares através de um contrato de prestação de serviços por ajuste direto, acrescenta o jornal."


Professor Rebelo o senhor concorda com isto? Acho que parece mentira pois o Dr. Relvas é um homem decente ou não é?

Anónimo disse...

Conquanto não se enquadre no âmbito de Tomar a dianteira,que só trata de assuntos políticos locais, tenho seguido essa querela do motorista de Miguel Relvas e do seu elevado ordenado. Segundo o governante, a situação à primeira vista injusta tem a sua explicação: O citado condutor não ganha horas extraordinários, mesmo quando tem de as fazer, o que acontece quase todos os dias.
Não é como alguns médicos e enfermeiros do CHMT, que ganham 2.500€ ou 1.500€ de ordenado + 5 ou 6 mil euros de horas extraordinárias. E parece que até já há casos de chantagem, com o intuito de manter tais privilégios apesar da recente reforma estrutural...

joseccorreia disse...

Os meus cumprimentos.
Finalmente alguém teve a coragem de tocar na Misericórdia do Entroncamento a propósito das relações escuras com o H.Nossa Senhora da Graça!
Provedor idoso dominado por um enfermeiro hábil que tem no bolso o oftalmologista que faz de d.clinico.
Muito para revelar. Infelizmente.

joseccorreia disse...

Realmente caro Professor isto parece um filme.

Hoje ouvi o Sr.Engenheiro Bruno, homem de inteligência ,mérito e experiência política reconhecidas,numa intervenção magoada,desconfiada,lançando suspeitas sobre cavilosas negociatas(ainda o piso 5 ou 6 ,conforme der jeito). Enfim,contribuindo para a confusão.

E dentro de 1 mês o que vão dizer?
E se com estas manobras contribuirem para um efectivo encerramento do nosso Hospital?
Quem paga a factura ?