segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Acabou mal a caçada aos fundos europeus. E agora?!

Tendo em conta o costumeiro mimetismo político ibérico, a actualidade aponta no sentido da concessão de um resgate colectivo aos pupilos do senhor Ruas, ou seja praticamente à totalidade dos municípios portugueses. Em Espanha, o governo Rajoy acaba de ceder nesse sentido aos municípios e às autonomias, de forma que na ocidental praia lusitana a coisa não deve tardar. Até já se ouve por todo o país o suave ruído do esfregar de mãos, tal o contentamento antecipado. O pior é o mais mau. Cometerá um erro monumental o governo PP Coelho, caso ceda sem conseguir obter previamente garantias substantivas de que não se repetirão os erros, as azelhices e as golpadas que conduziram à triste e delicada situação actual. Embora noutra escala, exactamente o mesmo que a tia Merkel e os seus parceiros parcimoniosos, a Holanda e a Finlândia, tentam de forma denodada conseguir dos gregos. E que obtiveram dos portugueses e dos irlandeses -a garantia firme de que jamais voltarão à caça desenfreada aos dinheiros de Bruxelas. Salvo, bem entendido, quando se trate de investimentos rapidamente reprodutivos.
Na Grécia, as coisas estão como todos sabemos. Com tanto banzé, tanta aselhice, tanta golpada e tanto faz de conta, até um ministro da senhora Merkel já declarou à revista semanal Der Spiegel que a melhor solução para a zona euro é subsidiar a Grécia para que ela saia. Apesar do segundo resgate de 130 mil milhões de euros e do perdão de mais 106 mil milhões. Um verdadeiro poço sem fundo, como disse aquele ministro alemão das Finanças, imobilizado das pernas mas não da cabeça.
Em Portugal, as coisas parecem no bom caminho, havendo porém dois obstáculos de muito difícil transposição: a caduca esquerda portuguesa (não é certamente por mero acaso que na Europa Ocidental o partido comunista com mais expressão eleitoral é o português), que não se cansa de reclamar medidas de tipo keinesiano, como se houvesse dinheiro disponível para isso e a situação melhorasse pelo aumento do consumo; e a terrível seita dos presidentes de câmara, todos partidários de reformas estruturais e de mudanças radicais, desde que tudo possa continuar na mesma. Desde que possam continuar o saque a Bruxelas e a Lisboa, entidades canalizadoras dos impostos que todos pagamos, para obras de fachada que apenas a ânsia de protagonismo e a reeleição justificam.
No que concerne a Tomar, não é preciso fazer um desenho nem escrever longas frases. A população já percebeu -julgo eu- que quando se vota sem saber bem em quem nem porquê, depois pagam-se as favas. E de que maneira! Nestas condições e à cautela, uma vez que o senhor Carrão acaba de anunciar a sua entrada em campanha para Outubro de 2013 (ver post anterior), convém enumerar desde já as principais tarefas do futuro executivo, seja ele proveniente de eleições intercalares ou definitivas: 1 - Mudar a mentalidade dos funcionários municipais, de maneira a conseguir que percebam e se comportem em conformidade com uma evidência -são eles que estão ao serviço dos cidadãos, e não o inverso, como agora sucede; 2 - Dizer claramente às chefias de todos os níveis que na autarquia e em todos os domínios quem lidera gere e manda, em primeiro lugar e acima de todos os outros, são os eleitos do executivo; 3 - Acabar definitivamente com as adjudicações do tipo "concepção-execução", por razões que os interessados bem conhecem; 4 - Instruir as chefias superiores no sentido de apresentarem para cada problema que lhes é submetido pelo executivo no mínimo duas soluções distintas; 5 - Adjudicar unicamente empreitadas com detalhado plano de exploração e amortização, salvo excepções por motivos de força maior, devidamente elencados por escrito (acidente, calamidade...).
É óbvio que tudo isto implica a prévia elaboração de um plano a curto, médio e longo prazo, a apresentar aos cidadãos antes ou durante a campanha eleitoral, de forma a que possam votar informados e a que a formação vencedora possa implementar o projecto sufragado sem mais delongas, uma vez que para isso foi eleita. Sem tudo isto, nunca mais saímos da cepa torta.

2 comentários:

joseccorreia disse...

Um programa de uma radio local reúne 3 senhoras para falarem de tudo o que lhes apetecer,preferencialmente para comentarem questões que estejam na ordem do dia ,na nossa aldeia política. Mas já tive o azar de as ouvir perorar sobre tudo o que mexe, pouco ou muito. No ultimo programa a representante do PSD, com a elegância de um elefante numa loja de porcelanas lá deu, sem querer e sem dar por isso(deve ser mesmo assim) uma paulada no seu PSD.Santa ingenuidade! Da senhora e dos ditos lideres locais qua a deixam abrir a boca como representante
do partido.
A representante dos Independentes na mesma de sempre mas levando muito a peito o seu papel e parecendo ter interiorizado o projecto pessoal do chefe. Há gente para tudo , felizmente.
A líder do PS, bem preparada mas farta daquelas companhias que só a diminuem,anunciou a suspensão da sua intervenção no programa e classificou bem o mandato do Dr. Fernando Corvelo de Sousa, homem culto e bom,excelente jurista mas sem estômago nem perfil para estas tretas políticas numa cidade a agonizar.

Anónimo disse...

Meu caro prof., estando em sintonia com a sua observação quanto aos desvarios dos nossos autarcas ( eu também já fui autarca e sei o que passei para não gastar dinheiro mal gasto ), mas sem esquecer que "o Povo tem aquilo que merece", afinal os votos são de livre arbítrio...acho que para o meu caro, meia palavra basta.

Quero no entanto chamar-lhe a atenção para uma frase curiosa no seu "post":
(não é certamente por mero acaso que na Europa Ocidental o partido comunista com mais expressão eleitoral é o português)
Já se terá certamente interrogado porquê. Não imagino a que conclusões chegou, mas eu tenho uma "teoria", sustentada nalguns indicadores que vou lendo aqui e ali e lá vai:
Nos países em que isso acontece, é onde as populações vivem pior e trabalham mais!
Veja os países da Europa do norte, onde os trabalhadores participam, por quase "imposição" do patronato, na gestão das empresas, comprometendo-os com os resultados, tornando-os solidários em torno de resultados que sendo bons para o empresário, os beneficiarão a eles também. Vive-se ou não bem aí? são os países do "triple A", onde curiosamente o Estado tem muito mais peso que em Portugal em todas as actividades. Veja Singapura, onde os moldes são quase os mesmos e o nível de vida que aquele povo tem. Haverá imensos exemplos do que afirmo, portanto a "culpa" não será dos comunistas, será antes, na minha opinião, daqueles que têm seguido políticas erradas e erráticas de governação dos Estados e das empresas, esquecendo que havendo comprometimento e distribuição justa de resultados, os povos e os trabalhadores serão mais felizes, produzirão mais e estarão seguramente mais empenhados.

Serve isto apenas para lhe dizer que eu até posso "passar-me" para o PP, por exemplo, se com um governo PP estiverem garantidas as necessidades mais básicas, minhas e dos meus concidadãos, que o país crie riqueza, que o Povo colha frutos dessa riqueza que empenhadamente teria contribuido para criar. A questão não está na cor, está na forma e enquanto as desigualdades continuarem a ser gritantes, não se admire que a coisa até aumente.